Loading

Richard Dawkins e os fundamentalistas II


Deepak Chopra, o guru new ager adepto de curas «quânticas», que escreveu, entre mais de 40 conjuntos de disparates, as barbaridades agrupadas no «Life After Death: The Burden of Proof» – um livro que pretende existir «conhecimento validado pela ciência» que «prova» a existência de vida depois da morte – é outro dos IDiotas criacionistas que se sentiu pessoalmente atacado pelo livro «The God Delusion» de Richard Dawkins.

Chopra – que confirma exercer a mecânica quântica um fascínio especial em todos os charlatães e cujas inanidades quânticas, nomeadamente as referidas «curas quânticas» e afins, lhe mereceram um prémio IG Nobel da Fisíca em 1998 -, ataca Dawkins em dois artigos, tão imbecis que tenho dificuldade em escolher qual deles o pior!

Dawkins, recentemente escolhido pela Salon como o homem mais sexy do mundo, é acusado por Chopra no primeiro artigo de «espremer Deus num canto» já que apresenta a crença na existência de Deus como «um tema nós versus eles. Ou se é pela ciência (isto é, razão progresso, modernismo, optimismo em relação ao futuro) ou se é pela religião (isto é, irracionalidade, resistência reaccionária ao progresso e constatação que há mistérios que só Deus sabe)».

O que é extremamente injusto, já que segundo Chopra, existem homens de ciência – como o próprio Chopra que explica «quanticamente» milagres e demais disparates sobrenaturais – que são ou foram profundamente religiosos, citando explicitamente Newton e Einstein.

Claro que meter no mesmo saco Einstein e Newton é já de si um disparate, uma vez que o «Deus» de Einstein, um ateu ou pelo menos panteista, não tem nada a ver com o Deus de Newton. Mas a falácia que Chopra subentende neste primeiro artigo, isto é, que estes físicos revolucionários que todos conhecem, «produziram» conhecimento inspirado «religiosamente» é um disparate total!

De facto, Chopra brame angustiadamente «A ciência é o único caminho para o conhecimento? Obviamente que não [caso contrário acaba o negócio multi milionário de Chopra que vende patetadas místicas como sendo ciência]».

E para explicar que existem «vibrações» quânticas iluminadas por Deus para se chegar ao conhecimento, descreve o ser do homem, isto é, as características que nos distinguem dos outros animais – que devemos à evolução única do nosso cérebro – como sendo provas irrefutáveis da existência de Deus!

De facto, Chopra não se sabe bem como – aparentemente nunca leu, ou se leu não percebeu uma vírgula de sequer um livro de Dawkins – afirma que Dawkins nega a existência do amor, arte, altruismo (explicado no Gene Egoísta), beleza, verdade, etc..

O primeiro artigo batendo em Dawkins é assim um conjunto de disparates em que Chopra esgrime um conjunto assombroso de falácias para afirmar que a religião produz conhecimento (científico?) mas não dá um único exemplo de grandes descobertas produzido pelo pensamento religioso – que não há, obviamente!

No segundo artigo Chopra pega na constatação de um facto por Dawkins:

«Deus é desnecessário. A ciência pode explicar a Natureza sem qualquer ajuda de causas sobrenaturais como o é Deus. Não há necessidade de um criador»

sobre o qual não há quaisquer dúvidas – causas sobrenaturais estão nos antípodas de ciência – para balir novamente que Dawkins encurrala os crentes num «nós versus eles», que ignora muitos crentes num Deus impessoal – e volta a tirar Einstein da manga para ilustrar este Deus impessoal. Chopra brame que Dawkins reduz o conceito de Deus ao Deus cristão do catequismo, que criou o mundo em 6 dias e descansou ao sétimo:

«Ou acreditamos que há um Deus pessoal, um criador sobrehumano que criou o mundo de acordo com o Genesis ou somos crentes racionais no método científico».

Como é óbvio para todos os que de facto leram o livro, Dawkins não apresenta esta dicotomia. Na realidade, logo no início do livro Dawkins distingue entre o Deus metafórico ou panteísta e impessoal de Einstein da ilusão de Deus de que trata o livro e afirma que «Confundir deliberadamente os dois é, na minha opinião, um acto de alta traição intelectual».

Claro que honestidade intelectual é completamente incompatível com os «produtos quânticos» que Chopra vende aos mais incautos. Para o sucesso do negócio e para a saúde «quântica» da conta bancária de Chopra – que afirma desdenhar Dawkins da possibilidade da existência de «cientistas religiosos», o que não é verdade Dawkins apenas explicita que ninguém faz ciência por iluminação divina ou via «verdades reveladas»- é necessário que a resposta dos seus clientes à pergunta absurda com que o charlatão termina o artigo seja negativa:

«A ciência tem de excluir Deus em qualquer forma?»

Cuja resposta é obviamente afirmativa: se a ciência incluir causas sobrenaturais deixa de ser ciência e passa a ser religião! Causas sobrenaturais não têm qualquer lugar em ciência! Por muito que isso custe aos fanáticos de qualquer religião, Deus não é um argumento científico. Deus é uma construção humana que é aceite pela fé, que, por definição, dispensa qualquer prova científica, lógica ou racional!