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Dia: 4 de Novembro, 2006

4 de Novembro, 2006 dsottomaior

Pastor resolve problema da aviação

Os muitos cultos cristãos do Brasil seguem à risca o mandamento de levar o evangelho a toda criatura, nem que para isso tenham que ganhar milhões. A Igreja Internacional da Graça de Deus, por exemplo, aluga diariamente sessenta minutos de horário nobre da TV Bandeirantes, uma das maiores do país, a um custo da ordem de dez milhões de dólares. Embora Deus seja onipotente, Ele se recusa terminantemente a fazer o dinheiro surgir espontaneamente em prol de tão boa causa, de maneira que são os fiéis, provenientes em sua maioria das camadas mais pobre do país, que sustentam a campanha. Mas essa é uma digressão.

Em seu programa “Show da fé” de 18 de setembro, o fundador da igreja, R. R. Soares, sem dúvida em contato direto com o Homem, nos brindou com uma curiosa informação sobre o mundo natural: “um avião só pode cair se não houver nehum justo dentro dele”.

De imediato percebi que qualquer pessoa de boa fé deveria ficar indignada ao máximo. Afinal, poucas semanas atrás sucedeu trágico acidente aéreo com um Boeing da Gol em que morreram todos os seus 154 ocupantes. E agora nos vem o missionário dizer uma coisa dessas? Como
é possível? Por que as autoridades não tomam uma providência? É muito claro que as famílias dos mortos nesse acidente e em todos os demais da história da aviação foram ultrajadas com o que é não somente uma enorme falta de respeito, como também, possivelmente, um crime.
Afinal, as companhias aéreas poderiam evitar todos os acidentes caso embarcassem ao menos um justo em cada vôo, para não se sujeitarem ao maligno acaso de que só pecadores comprem bilhetes — perigo tanto maior nestes dias de tribulação. Companhias ainda mais ciosas da segurança de seus passageiros contratariam dois justos, para o caso de um deles ter fornicado no dia anterior (ou coisa pior), sem que o sistema de vericação de justeza da companhia tenha descoberto.

As famílias em luto e todos aqueles que viajam de avião devem agradecer contritamente a informação do missionário, que não nos estaria disponível se não fosse por sua revelação direta, sem interesse pessoal ou financeiro algum. Creio que tanto cristãos quanto não cristãos podem perceber claramente a grandeza do gesto de Soares, motivo pelo qual insto nossos leitores, de todas as tendências religiosas e eventualmente arreligiosas, a mandarem suas opiniões à Igreja através do endereço http://www.ongrace.com/faleconosco/faleconosco.php.

4 de Novembro, 2006 Palmira Silva

Sexo só depois dos trinta

Evolução do orçamento federal americano em programas de abstinência até ao casamento. Clique para aumentar

A recomendação do governo americano aos cidadãos e cidadãs solteiros pode reduzir-se a uma linha ou casam ou então sexo só depois dos trinta anos!

A mui cristã (e completamente inútil) directiva do governo Bush pretende gastar 207 milhões de dólares dos contribuintes a ensinar aos americanos que:

  • um bom cidadão deve abster-se de actividade sexual fora do casamento
  • uma relação (heterossexual) monogâmica no âmbito do casamento é o padrão desejável da actividade sexual humana
  • actividade sexual fora do casamento tem grande probabilidade de causar danos físicos e psicológicos
  • filhos fora do casamento – mesmo numa relação estável mas não abençoada por um mito – tem muito provavelmente consequências danosas para a criança, para os pais e para a sociedade!

Assim as directivas permitem a quem quiser gastar dinheiro federal – e apostaria que muitos grupos cristãos vão agarrar o financiamento – identificar «as pessoas entre as idades 12 e 29 anos» que «tenham mais probabilidade de ter filhos fora do casamento» e usar de todos os métodos para os convencer a «adiar a actividade sexual até ao casamento».

Porque será que todos os teocratas cristãos advogam menos estado quando se trata de actividade económica e muito estado a controlar e refrear as liberdades individuais?

Seria interessante ainda saber quantos dos «iluminados» cristãos que tanto se preocupam com a vida sexual alheia apresentam em privado comportamentos como os de Ted Haggard, Jim West ou Mark Foley

4 de Novembro, 2006 Palmira Silva

Tony Blair defende ensino do criacionismo

O devoto Tony Blair, que já confessou serem de inspiração cristã a maioria das suas decisões políticas, tal como a invasão do Iraque, defendeu numa entrevista à New Scientist o ensino do criacionismo em escolas públicas.

Tony Blair afirmou que as preocupações dos que questionam o ensino do criacionismo em algumas escolas inglesas (e o ensino em todas do criacionismo e da IDiotia a par do evolucionismo é encorajado no curriculum de biologia introduzido pela Opus Dei Ruth Kelly) são grandemente exageradas!

Numa entrevista em que Blair se declara um adepto da ciência evangélico e renascido (born again em inglês, um termo utilizado para descrever os mais alucinados cristãos fundamentalistas) – uma mui bizarra escolha de palavras para descrever a posição de alguém em relação à ciência – este afirma que os cientistas deviam preocupar-se com temas mais importantes, como sejam o aquecimento global ou organismos geneticamente modificados, OGMs, em vez de com o «inocente» criacionismo!

Aliás, afirmou que uma visita a uma escola em que o criacionismo é ensinado aos pobres alunos, lhe permitiu a opinião:

«Na realidade o que eles asseguram, o que é muito mais importante, é o primeiro ensino disciplinado e de elevada qualidade que a maioria destes alunos alguma vez tiveram».

Ou seja, não interessa que estas crianças sejam ensinadas patetadas como ter a Terra 6 000 anos, sejam instruídas sobre a inenarrância da Bíblia, mais concretamente do Genesis, e mimoseadas com dissertações surreais sobre supostas provas «científicas» que suportam o criacionismo, acreditem piamente no grande dilúvio e na arca de Noé ou que a evolução seja descrita como uma «invenção» de inspiração demoníaca!

O importante é que aprendam a ser bons carneirinhos disciplinados que engolem sem pestanejar todas as palermices que os «mestres» lhes ministrem!

Num completo contrasenso, Blair, que reconhece ser a ciência o motor do desenvolvimento de qualquer país, afirma ainda que:

«Se eu reparar que o criacionismo começa a ser ensinado maioritariamente no sistema educacional deste país, aí sim, penso que é altura de nos começarmos a preocupar».

Ou seja, a estratégia daqueles que regem pela religião as suas decisões políticas é sempre a mesma: primeiro afirmar em relação a algo religioso que é contestado, seja o ensino do criacionismo seja a existência de crucifixos nas salas de aulas, que há problemas mais importantes com que as pessoas que os contestam se deviam preocupar. Depois, menorizar o problema dizendo que a sua dimensão é reduzida: há poucas escolas que ensinam criacionismo – ou exibem cruzetas – é fanatismo laico/ateu preocupar-se com o assunto quando há tantos problemas relamente importantes para resolver. Embora reconheçam que no dia em que for generalizado aí sem é um problema mas enquanto estiver circunscrito só mesmo os fanáticos laicos o invocam! Isto é, devagarinho, ponto por ponto, protestando a «inocência» e a «bondade» das alterações aumentar o poder da religião no quotidiano!

Claro que as desculpas dos fundamentalistas religiosos só enganam os crentes e ignoram as lições da História: quando se reconhece que algo pode vir a ser um problema deve-se envidar todos os esforços para o solucionar antes que esse algo assuma dimensões catastróficas. Especialmente quando esse algo tem a ver com religião.

Por outro lado, como espera Blair – que indica as alterações climáticas despoletadas pela acção humana, a investigação em células estaminais e os OGMs como os problemas em que a comunidade científica devia centrar esforços de explicação para o público – que alguém que foi condicionado na escola a desconfiar dos ateus e demoníacos cientistas acredite nestes quando eles falam sobre outros assuntos?

Ou como explicar que é necessário alterar comportamentos para evitar catástrofes ambientais a crentes que acham que Deus «providenciará»? Ou a crentes que consideram serem estas e outras catástrofes bem-vindas já que prenunciam a volta do «salvador»?

Recentemente a propósito de mais um aviso da comunidade científica de que a vida marinha desaparecerá em meados do século se algo não for feito , no forum sobre o tema da BBC um devoto muçulmano afirmava que Allah fez o Mundo e como tal é apenas falta de fé dos cientistas a razão do aviso: Allah protegerá os mares da poluição e da pesca excessiva! Estou certa que este tipo de pensamento irresponsável não se restringe aos muçulmanos!