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Dia: 29 de Agosto, 2006

29 de Agosto, 2006 Carlos Esperança

Religiões e liberdade

Quando julgamos que a religião que nos oprime é a pior há sempre a possibilidade de encontrar outra mais opressora.

A intolerância do catolicismo, as mentiras metódica e sistematicamente difundidas e a aliança com o poder, por mais cruel e abjecto que pudesse ser, não são um paradigma da fé sedeada no antro do Vaticano, são uma constante do clero dos vários monoteísmos.

Mesmo que não acreditem, os clérigos empenham-se em convencer os incautos de que Deus agarrou um apóstolo e lhe ditou as suas vontades. Por muito absurdas que sejam, por mais perversa que se afigurem, é difícil rever as parvoíces e os desígnios que lhe atribuíram os homens e se tornaram o ganha-pão dos sacerdotes.

Nenhuma religião dispensa os rituais iniciáticos nos filhos dos crentes avençados.

A circuncisão ou o baptismo são a nódoa que mancha os primeiros passos de um neófito como o ferro em brasa de uma ganadaria marca o gado.

A apostasia é a emancipação de um livre-pensador do dogma e das piruetas litúrgicas, a afirmação da liberdade perante as litanias do clero e dos seus satélites que, não raro, se converte em risco de perseguição e morte.

É preciso conhecer a demência do protestantismo evangélico, a estupidez cruel do Islão ou as idiotices do judaísmo ortodoxo para nos darmos conta do imenso capital de tolice e maldade que encerram as religiões reveladas, plágios sucessivos cada vez mais cruéis.

Deus podia ter sido um mito divertido mas converteu-se, por vontade dos autores, num biltre incapaz de se submeter às regras da urbanidade e da democracia, numa perversão apocalíptica que espalha o terror e imbeciliza os crentes.

29 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Síndrome de Estocolmo: Natasha Kampusch e Edgardo Mortara

Quando há uns tempos escrevi o post sobre o rapto de Edgardo Mortara pelo «último monarca absoluto da Europa», Pio IX, então reinando despoticamente nos Estados Pontificais, não faltou a defesa de mais um criminoso que a ICAR quer beatificar pelo nosso apologeta de serviço, o Bernardo.

Em defesa do crime do papa que inventou o dogma da infabilidade papal, o Bernardo invocou o testemunho de Mortara, então com dezanove anos, ou seja após 13 anos de clausura. O devoto do Comunhão e Libertação – que disse que na posição de Pio IX, se tivesse a sua…coragem(!?) faria o mesmo – apoia-se nesse depoimento para afirmar, já que «Estas palavras poderiam dar que pensar a certas cabeças, se porventura estas não acreditassem em contos de fadas acerca de ‘lavagens cerebrais’…» , que «Pio IX viu naquela criança algo de diferente» e por isso a raptou! Uma acção meritória que o testemunho do próprio Mortara após 13 anos de emprisionamento confirma!

Estou certa que Wolfgang Priklopil, o austríaco que raptou Natasha Kampusch quando esta tinha 10 anos (mais 4 anos que Mortara) e a manteve em cativeiro por 8 anos, sujeita a tortura psicológica e muito provavelmente abuso sexual, também viu «naquela criança algo de diferente». E, tal como Mortara, também Natasha defende o seu raptor e rejeita a família.

A única diferença é que Wolfgang Priklopil não é considerado um exemplo a seguir, como supostamente é o beato Pio IX. E ninguém, excepto Natasha, por enquanto pelo menos, alguma vez defenderá o seu crime, muito menos o reconhecerá como «um modelo de santidade»!

29 de Agosto, 2006 Carlos Esperança

Laicidade e tolerância

É interessante verificar que os muçulmanos franceses são mais tolerantes do que os seus vizinhos europeus e que em muito maior número consideram a identidade nacional mais importante do que a religião.

Segundo a sondagem, de acordo com o «Le Monde», em França 78% dos muçulmanos pensam que a sua comunidade deseja adoptar as tradições francesas enquanto apenas 41% em Inglaterra e 30% na Alemanha acreditam no desejo de integração.

Após a polémica da proibição do véu islâmico nas escolas públicas e as críticas à França (com a única Constituição europeia que expressamente impõe a laicidade) morrem os argumentos que tinham por objectivo aumentar a influência política das religiões.

Uma vez mais se digladiam duas concepções antagónicas, a defesa do comunitarismo e a supremacia da cidadania.

Não se pode combater a segregação mantendo-a e acabar com o «multiculturalismo» político mantendo o multiconfessionalismo do sistema educativo.

Como escrevia, há dias, Ricardo Alves, dirigente da Associação República e Laicidade:

«Enquanto o sistema escolar britânico não deixar de ser baseado em escolas segregadas religiosamente, problemas como o da Irlanda do Norte ou do 7 de Julho de 2005 não serão de resolução ou prevenção fácil».

Os factos acabam por desmentir a presunção.