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As religiões ainda resistem

As religiões vivem, no estertor, uma orgia de ódio conduzida pela demência do clero. Deus anda por aí, em sonhos místicos dos crentes e na raiva que a liberdade acorda.

Há um velho demente a quem chamam Jeová à espera de ser internado numa clínica do Paraíso, um Cristo ressuscitado, em corpo e alma, a precisar de casa e da companhia de Madalena e um defunto pastor de camelos a aguardar que lhe montem a tenda e que os proxenetas se ocupem de lhe fornecer virgens em vez de se dedicarem ao suicídio.

Os livros sagrados são excelentes para equilibrar uma mesa a que se partiu a perna, para nivelar um sofá em chão oblíquo ou fornecer folhas para acudir a um incréu que as salmonelas puseram em apuros. Também os salmos e os versículos podem ser úteis para introduzir nos sapatos, durante o Verão, para evitar que se deformem.

Infelizmente há profissionais que têm por missão, ler, divulgar e impor aqueles textos, que podiam ter feito o prestígio de uma pitonisa ou inspirado romances de cavalaria, como se fossem verdade reveladas por entes superiores.

Nas igrejas poisam virgens de porcelana, ricamente ataviadas e com coroas de ouro a segurar-lhe a testa, como aros nas aduelas em barris de vinho. Os santos jazem em peanhas nos templos desertos onde abundam Cristos dependurados em cruzes de ferro ou de madeira com ar de terem pertencido à Máfia. As velas dão um ar lúgubre ao local e os templos parecem salas de anatomia de uma universidade extinta.

É deprimente o abandono dos ícones, que passaram de objectos de adoração em imponentes catedrais para mercadorias em saldo, abandonadas em amplos espaços que parecem lojas dos trezentos. Cada vez há menos gente a entrar nas igrejas, substituídas pelas discotecas onde a piedade dá lugar à música, à dança e ao despertar dos sentidos.

No Islão, Deus ainda vive, ligado à máquina da fé pela violência dos clérigos e o medo dos crentes, alimentado pela miséria e a ociosidade que a explosão demográfica produz, perpetuado pelo nacionalismo e pelo ódio.

Deus é uma herança a que urge renunciar para que a paz seja possível.