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Dia: 12 de Julho, 2006

12 de Julho, 2006 Palmira Silva

Ataque terrorista na Índia

Mais de 180 pessoas foram mortas e cerca de 700 ficaram feridas na sequência de um ataque terrorista coordenado a comboios suburbanos que transportavam trabalhadores para a cidade de Bombaim.

A polícia indiana investiga o bárbaro atentado, que ainda não foi reinvidicado. As primeiras suspeitas cairam sobre grupos separatistas (da Caxemira indiana) ligados ao Paquistão Lashkar-e Toiba (LeT) e Jaish-e-Mohammad (JeM), cujos líderes negam qualquer envolvimento com o caso.

O grau de sofisticação do atentado e as semelhança com os que se verificaram em Madrid e Londres proporcionam algumas especulações sobre o envolvimento da Al-Qaeda nos mesmos.

12 de Julho, 2006 Palmira Silva

O verdadeiro ecumenismo: actualização

A tolerância ecuménica atingiu o seu zénite com a distribuição de panfletos nos bairros ortodoxos de Israel em que são prometidos 20 mil shekels novos (3.700 euros) a quem matar homossexuais e lésbicas que participem na Parada Internacional do Orgulho Gay.

Os métodos recomendados são os preconizados no livro «sagrado», o apedrejamento, ou em alternativa, uma concessão aos tempos modernos, cocktails molotov que o panfleto ensina a fazer em casa.

Os protestos inconvincentes à polícia dos líderes ortodoxos sobre a sua inocência na autoria do panfleto, que atribuem … à comunidade gay (?!), são negados pelo aviso dos rabis ultra-ortodoxos de Jerusalém sobre o banho de sangue que a realização do evento significaria. Uma declaração oficial contra o evento, assinado por estes dignitários exorta «Todos os com capacidade para tal, têm o dever de fazer tudo ao seu alcance para esmagar as mandíbulas do mal de qualquer forma que consigam».

De igual forma, o sheik Ibrahim Sarsur, deputado do Knesset, avisou o mundo que «se os gays se atreverem a aproximar o monte do Templo durante a parada fá-lo-ão por cima dos nossos cadáveres».

Já o arcebispo Antonio Franco, o embaixador do Vaticano em Israel, foi mais moderado nos termos em que condenou o evento, que para o dignitário católico, que não faz a mínima ideia do que significa pluralismo, democracia e tolerância -palavras ausente do léxico das religiões do livro- corresponde à «imposição da vontade de alguns sobre a maioria».

Considerando o que se passou na Polónia em que os homofóbicos (e anti-semitas) membros do partido ultra-nacionalista – muito apoiados pela Igreja católica – ameaçaram esperar os gays participantes na parada local com clavas, e o que se passou recentemente em Moscovo na mesma iniciativa, não é extemporâneo pensar que alguns fundamentalistas cristãos se juntariam aos seus análogos das outras religiões do livro para punir «adequadamente» os «pecadores».

12 de Julho, 2006 Palmira Silva

O verdadeiro ecumenismo

O grande Rabi de Israel, Shlomo Amar (sefardita), enviou uma carta a Bento XVI pedindo a condenação da Parada Internacional do Orgulho Gay, programada para 10 de Agosto, em Jerusalém. Segundo diversas fontes, na carta Amar pede ao Papa que «condene de forma inequívoca e enérgica este terrível fenómeno, com a esperança de despertar um protesto geral por parte de diferentes dignitários religiosos». O Rabi pede ainda a Bento XVI: «Ajude-nos a impedir a Parada Mundial Gay, programada para o mês de Agosto, em Jerusalém, pois ela ‘viola e humilha’ a Cidade Santa».

Na realidade os dignitários de todas as religiões do livro e suas variantes são uníssonos na condenação do evento, como seria apenas expectável. Os muçulmanos de Israel esqueceram o conflito israelo-árabe e juntaram as suas às vozes judaicas e cristãs de diferentes denominações -incluindo a Igreja Ortodoxa – que exigem do Parlamento a proibição do desfile.

O núncio apostólico em Jerusalém, monsenhor Pietro Sambi, advertiu que a Parada Gay «não seria apenas uma ofensa, mas uma provocação para os judeus, cristãos e muçulmanos de Jerusalém e do mundo inteiro».

Já o sheik Abed Al Salam Menasra, adjunto do mufti de Jerusalém, pediu para que não provoquem «a cólera com uma celebração ímpia e profanadora», que pode levar «à perda da cidade santa».

A «imundície», nas palavras de Nissim Zeev, deputado do Partido ultra-ortodoxo Shas, conseguiu algo inaudito na história do Knesset: representantes muçulmanos e das alas judaicas mais à direita (isto é, religiosas) uniram-se em torno de uma causa comum: a imposição a todos dos preconceitos neolíticos sobre sexualidade do «livro».

Até de Moscovo vieram vozes de protesto: Yona Metzger, o Rabi-chefe aschenazi, que participa do encontro inter-religioso promovido pelo Patriarcado Ortodoxo, pede que se «cancele a parada gay na Cidade Santa de Jerusalém» justificando:

«Como todos sabem Jerusalém é o berço no qual nasceram as três religiões monoteístas. Devemos estar unidos para preservar sua histórica santidade, e os valores de pureza e moralidade que a caracterizam».

No encontro, que inclui representantes de 40 países, incluindo a Síria, Irão e Arábia Saudita, Metzger afirmou que se deviam esquecer as disputas políticas e que «todos os países dever-se-iam unir em torno da sua crença num Deus único».

Ou seja, para o rabi os fundamentalistas das respectivas religiões dever-se-iam unir contra não só os que não acreditam em resquícios neolíticos da evolução humana, mantidos anacronicamente pela imiscuição religião-estado que obriga ou permite a doutrinação religiosa desde o berço, como contra os que não seguem os ditames, muito semelhantes, das religiões do Livro. De facto, todas elas são contra a abominação que constituem os direitos do homem, principalmente a liberdade de opinião e expressão, e especialmente são contra a abominação mor que é a igualdade de direitos para as mulheres. Todas elas reclamam que o Direito dos países respectivos deve ser regido por esses ditames!

As últimas notícias indicam que esta união inédita de políticos e dignitários de todas as religiões do livro já deu resultados: é quase certo que a Parada Mundial Gay se realizará não em Jerusalém mas sim em Tel Aviv, por razões de segurança.

De facto, considerando que os fundamentalistas das religiões do livro não são exactamente conhecidos pela tolerância mas mais pela violência «veemência» com que protestam os insultos à sua fé – dos quais o insulto máximo é o facto de o Direito não obrigar todos a seguirem os seus ditames anacrónicos – a Polícia de Jerusalém, que tem de lidar com a possibilidade de atentados bombistas suicidas numa base diária, considera difícil garantir a segurança dos participantes no evento!

Acho deveras significativo que todos estes piedosos dignitários religiosos, que rapidamente se uniram nesta «causa» comum – como se uniram no passado para condenar o reconhecimento dos direitos da mulher – sejam incapazes de se unir numa causa essa sim meritória: um apelo à paz, emitido com a mesma veemência com que debitaram este, apelo à paz que na nossa época é equivalente a um apelo ao fim da violência em nome de Deus!