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S. Francisco Xavier – Apóstolo das Índias

(Fotografia recente, amavelmente cedida por E. O.)

Desacreditada com a última leva de santos que JP2 criou em doses industriais, como nos aviários se produzem frangos, e descoroçoada com a falta de originalidade dos milagres, virou-se a ICAR para santos antigos, de sólido prestígio, reconhecimento público e clientela fiel.

Francisco Xavier é uma dessas reputações sem mácula, um jesuíta da primeira hora, nascido em Espanha, amigo e discípulo de Loiola, que estudou em França e partiu, ao serviço de D. João III (o Piedoso), para o Oriente.

Evangelizou na Índia, Malaca, Molucas e Japão, ímpios que converteu à única religião verdadeira e, assim, os resgatou do limbo, dando-lhes o passaporte para o Paraíso onde certamente ainda residem as almas por falta de acordos bilaterais de extradição com o Inferno.

Francisco Xavier era tão santo que o corpo ficou incorrupto, prova de santidade e fonte de receitas para a Igreja cujo culto mórbido por cadáveres é uma verdadeira obsessão.

Há cerca de cinquenta anos as relíquias (fragmentos de cadáver em bom estado de conservação) vieram de Goa e viajaram por este velho Portugal para gáudio e pasmo das populações rurais que acorriam a ver a mão do santo, tendo como brinde a missa, um sermão do padre Pinto Carneiro e uma procissão.

A mão comoveu crentes e resistiu à viagem, às homilias e às procissões, dentro de um relicário cujo vidro a defendia dos devotos que a contemplavam com ar bovino.

Perdido o Império colonial, que começou a ruir na Índia, lá ficou o cadáver na velha Goa, na Basílica do Bom Jesus, onde o santo jaz morto e apodrecido.

Um cadáver que gozou de excelente estado de conservação durante séculos está agora, por falta de orações, no estado deplorável que a imagem documenta.

Faz no próximo dia 7 de Abril 500 anos que nasceu o santo. A ICAR prepara a festa, mas deixou apodrecer as relíquias.