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Dia: 14 de Março, 2006

14 de Março, 2006 Palmira Silva

Isaac Hayes deixa South Park

Isaac Hayes a voz do «Chefe» em South Park abandonou a série por, alegadamente, já não aguentar as sátiras à religião que abundam nesta série satírica.

Hayes, que personifica o cozinheiro da escola desde 1997, justificou a sua saída porque «As crenças religiosas são sagradas para as pessoas e devem ser sempre respeitadas e honradas». Estranhamente Hayes, um devoto cientologista e crente em Xenu, «thetan’s» e demais delírios do escritor de ficção científica L. Ron Hubbard que inventou a religião há cerca de meio século, nunca protestou as muitas sátiras devotadas a outras religiões. Os pruridos de Hayes apenas se manifestaram depois de um episódio de South Park (entretanto banido depois de Tom Cruise ter ameaçado processar a Paramount se o episódio fosse emitido outra vez), «Trapped in the Closet», ter satirizado a Igreja da Cientologia e as celebridades que acreditam nos disparates extra terrestres sortidos desta religião.

Matt Stone, co-criador de South Park, afirmou ontem à Associated Press que «Isto tem 100% a ver com a sua fé na Cientologia… Ele não tem problemas – e recebeu montes de cheques – em que o nosso programa satirize cristãos» acrescentando que «Ele quer um padrão diferente para as outras religiões e para a sua e, para mim, é aí que a intolerância começa».

Embora o «Chefe» fosse um personagem que de certa forma normalizava o mundo disfuncional de South Park numa nota optimista pode ser que agora possamos ver um episódio de «Bullshit! on Scientology»!

14 de Março, 2006 Carlos Esperança

A Cúria Romana pode abandonar o Vaticano

«Bento XVI afirmou que a África deve ser uma prioridade para a Igreja Católica.

Num encontro de oração com jovens universitários da Europa e do continente africano, que decorreu no último sábado, o Papa sublinhou a necessidade de impulsionar o humanismo cristão como via de cooperação entre o continente europeu e o africano» – afirma a Agência Ecclesia, órgão oficial da seita.

Há grande euforia nos meios ateístas europeus, com a possibilidade de a Cúria Romana se transferir para o Burkina Faso, um país da região do Sahel, para contrariar aí a influência do islão telecomandado da Arábia Saudita.

Se a auspiciosa previsão se confirmar, a Bielorússia ficará como a derradeira ditadura do espaço europeu
14 de Março, 2006 Palmira Silva

Cristanianismo vs islamismo

Não é apenas o Vaticano que explora os medos da modernidade despoletados pelo terrorismo islâmico para passar a mensagem que apenas o fundamentalismo cristão pode derrotar a ameaça do fundamentalismo islâmico.

Depois de Ratzinger, que expressou repetidamente as suas preocupações sobre o futuro de uma Europa sob a ameaça da laicidade e do Islão, em que a primeira, ou seja, a exclusão de Deus da vida pública, impede a única resposta que dará conta da ameaça islâmica, a assunção inequívoca e firme da superioridade do cristianismo é a vez dos dignitários anglicanos usarem o terrorismo islâmico como forma de coacção psicológica para angariar clientela!

No passado domingo os membros da congregação da Catedral de Lincoln foram avisados por um dos seus responsáveis, Alan Nugent, que, a não ser que os ingleses (assumidos pelo dignitário como cristãos por omissão) levem a sua fé a sério, a Inglaterra tornar-se-á a breve trecho uma nação islâmica.

Para Nugent é significativo que, embora menos difundido pelos media, nas manifestações integrantes da guerra dos cartoons, para além dos posters «brutais e violentos», esses sim muito reproduzidos na imprensa, muitos posters dos manifestantes avisavam que em breve a Inglaterra seria uma nação islâmica. «Não há dúvida que o Islão é uma fé missionária e a conversão de incréus um factor decisivo na sua difusão. Não é assim surpreendente que muitos muçulmanos possam ter a esperança que este país se converta à fé do profeta- especialmente quando encontram frequentemente uma fé cristã que é incerta e em declínio».

Não é muito difícil prever que esta será uma tecla muito utilizada no futuro próximo por parte de todas as confissões cristãs, a necessidade de combater fogo com fogo, isto é, combater o fundamentalismo islâmico com fundamentalismo cristão. Face aos prevísiveis ataques aos valores em que assenta a nossa civilização por parte das religiões, cristã e islâmica, é necessário que todos os que não querem regressar ao obscurantismo das Cruzadas afirmem a laicidade e a defesa dos direitos humanos consagrados como a única forma de ultrapassar a actual crise!

14 de Março, 2006 Palmira Silva

Uma entrevista com Daniel Dennett

O autor de «Breaking the Spell: Religion as a Natural Phenomenon», o livro que tenta explicar o como e o porquê de os homens terem inventado os deuses e um dos proponentes do termo «bright» para designar livre-pensadores em geral foi entrevistado pelo Guardian.

Vale a pena ler a entrevista (e esta outra) em que o cientista, que colaborou com Dawkins na extensão para o pensamento do mecanismo dos genes egoístas ou memes, compara neste seu novo livro a religião a um pequeno parasita, o verme Dicrocoelium dendriticum (lancet fluke), «um pequeno verme cerebral» que altera o comportamento de formigas de forma a ser engolido por uma ovelha ou vaca para se poder reproduzir nas entranhas destes animais. Dennett afirma que «memes são ideias contagiosas. Elas alastram de pessoa para pessoa. Há milhões de pessoas neste mundo que vivem de propagar memes. Todos os que trabalham em publicidade, todos em relações públicas e todos em religião».

Acusado pelos seus detractores de ser um «fundamentalista de Darwin», no sentido em que acredita que não existe uma área da vida que não possa ser passível de explicação em termos de selecção natural ( eu acrescentaria também deriva genética para dar conta de bizarrias nas mitologias religiosas de algumas comunidades isoladas), um rótulo que aceita alegremente, Dennett devotou a sua vida a mostrar como os ideais que consideramos mais sagrados, autodeterminação, individualismo, justiça, a alma, tudo o que se refere ao «Eu» pode (e deve) ser explicado em termos de preservação genética.

Eu não poderia estar mais de acordo com Dennett! Especialmente com a sua acepção que o mundo do futuro vai estar polarizado entre racionalidade e irracionalidade, isto é, crença.