3 de Fevereiro, 2006 jvasco
Liberdade de Expressão
É engraçada a forma como esta imagem traduz bem a polémica que causou
É engraçada a forma como esta imagem traduz bem a polémica que causou
A transferência do direito divino para a soberania popular foi um pequeno passo para a democracia e uma grande decepção para o clero.
A liberdade é um bem cada vez mais escasso. Devassada pela insegurança dos Estados, ameaçada pelo medo e tolhida pelo fanatismo religioso, a liberdade precisa de quem a defenda contra tudo e contra todos.
A publicação destas caricaturas de Maomé desencadeou a ira do islão e os desacatos, ameaças e violências dos fanáticos do pastor de camelos. Amanhã seriam os cristão a combater esta alusão ao calvário de Cristo e a liberdade de expressão regressava às mãos dos padres e coronéis que na ditadura exerciam a censura à imprensa.
Temos na memória o trauma das perseguições da inquisição, a celeuma recente de um aconselhável preservativo colocado em sítio menos óbvio – o nariz de João Paulo II -, pelo cartoonista António e o assassinato de um médico por um pastor evangélico, na sequência da prática de um aborto, nos EUA.
Temos o direito de caricaturar Deus, como afirmava intemerato o jornal France Soir «OUI, on a le droit de caricaturer Dieu».
Se nos deixarmos tolher pelo medo, não tarda que o poder seja de novo confiscado pelo clero, que sempre reivindicou procuração divina, e que sejam postos em causa direitos, liberdades e garantias arduamente conquistados ao longo dos séculos.
Dar publicidade aos testemunhos de irreverência, humor e heresia não é provocação aos crentes, é um acto de cidadania em defesa da liberdade de criação, uma ousadia contra a chantagem, uma advertência de quem resiste ao medo, à violência e à chantagem.
Este artigo, publicado em simultâneo no Diário Ateísta e no Ponte Europa, é um acto de solidariedade para com todos os criadores artísticos, órgãos de comunicação social que os acolhem e países que não se vergam à histeria da fé e ao fascismo religioso.
É também uma forma de homenagear Salman Rushdie cuja condenação à morte nunca foi censurada pelo Vaticano.
Não faltam cobardes a dizer que «deve haver um certo cuidado» e que «talvez não tenha sido sensato». A pusilanimidade não conhece limites.
«O cardeal húngaro Laszlo Paskai, antigo arcebispo de Esztergom e de Budapeste, trabalhou para os serviços secretos comunistas nos anos 1960 e 1970, escreve esta quinta-feira o semanário húngaro Elet es Irodalom».
Trata-se mais de um agente duplo do que propriamente de um espião da União Soviética. Não se pode dizer que trabalhava para Deus e para o Diabo.
O KGB e o Vaticano eram duas centrais de intoxicação internacional.
Graças à confissão, o bondoso cardeal podia prestar um excelente serviço às duas multinacionais da repressão.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.