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Dia: 25 de Dezembro, 2005

25 de Dezembro, 2005 Palmira Silva

Humor católico

O governo espanhol chamou o seu enviado ao Vaticano devido a uma «partida» feita por um jornalista de uma rádio da delegação espanhola da Igreja de Roma. Certamente foi coincidência a Igreja Católica estar empenhada numa guerra de vale-tudo contra Zapatero e o seu governo e sem dúvida também por coincidência o director do programa La Mañana que perpetrou a «partida», Federico Jiménez Losantos, é um dos mais acérrimos críticos de Zapatero.

Em directo aos microfones da rádio COPE, propriedade da Igreja Católica, e fazendo-se passar por Zapatero, um jornalista da equipa telefonou a Evo Morales, depois das eleições do passado fim de semana o líder da Bolívia, dando-lhe os parabéns por ter integrado o «eixo cubano-venezuelano» e instigando-o a fazer de Espanha a sua primeira visita oficial como presidente da Bolívia.

Jose Luis Rodriguez Zapatero mal soube da manifestação do que passa por humor católico telefonou a Evo Morales, parabenizando-o pela sua vitória eleitoral e pedindo desculpas pela «partida inaceitável» da emissora católica de que fora vítima.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Bolívia, Armando Loayza, entregou ao embaixador espanhol em La Paz, Francisco Montalban, uma carta oficial de protesto dando voz à indignação do governo boliviano em relação à deplorável piada católica, que consideram «uma afronta aos cidadãos bolivianos» e um sinal de «carácter racista e colonialista» .

O governo espanhol na voz do secretário de estado da Comunicação, Fernando Moraleda, exigiu um pedido de desculpas formal da COPE ao presidente eleito da Bolívia.

Não obstante Moraleda ter falado com o presidente do conselho de administração da COPE, Bernardo Herráez, e com o porta voz da Conferência Episcopal Espanhola – proprietária da emissora – Juan Antonio Martínez Camino, que achou inaceitável o que se passou, até agora nenhum pedido de desculpas oficial quer da emissora quer da hierarquia católica de Espanha foi oferecido aos dois estadistas envolvidos. Isto é, o director-geral da COPE, Genaro González del Hierro, enviou uma nota ao embaixador boliviano em Madrid, Álvaro del Pozo, pedindo desculpa pelos «problemas que a partida poderá ter causado» e informou que já tinha comunicado aos humoristas católicos «a inconveniência deste tipo de acções».

Tal como o ministro da Justiça espanhol, Juan Fernando López Aguilar, que prometeu investigar o caso, considero que a mui católica partida denota «prepotência e arrogância» (algo a que a Aguilar já devia estar habituado já que são as imagens de marca da Igreja de Roma) e que é «moralmente reprovável, politicamente censurável e exige um pedido de desculpas». Mas suponho ser difícil vermos um pedido de desculpas formal da Conferência Episcopal Espanhola a Zapatero…

25 de Dezembro, 2005 Palmira Silva

Virgem dentro de preservativo

Uma das primeiras acções de Ratzinger como Bento XVI foi forçar a demissão do editor do periódico jesuíta «America», o padre Thomas Reese, com quem mantinha um historial de discórdia enquanto Ratzinger. Na realidade o então zelador pela pureza da fé católica discordava veementemente da opção de Reese em apresentar sobre todos os ângulos assuntos «fracturantes» como o uso profiláctico do preservativo , a ordenação de padres (publicamente) homossexuais, a posição dos católicos pró-escolha na ICAR, o secretismo nas medidas de disciplina na Igreja e outros assuntos que Ratzinger não queria discutidos.

Agora com outro editor a revista continua a merecer protestos dos meios católicos devido a um «escândalo» que «chocou» católicos no mundo inteiro, a publicação nesta revista de um anúncio a uma estátua do artista britânico Steve Rosenthal, que oferecia aos leitores a oportunidade de comprar «uma espantosa estátua de 22 cm da Virgem Maria em cima de uma serpente, usando um véu delicado de látex».

O editor da revista pediu prontamente desculpas aos seus leitores pela publicação do anúncio a esta «obra de arte religiosa contemporânea», que afirmou ter sido aceite pelo facto de o autor só ter enviado uma prova a preto e branco que tornava difícil apreciar que o véu de látex era de facto um preservativo e a serpente um espermatozóide…

O artista afirmou recentemente que tinha orquestrado o seu trabalho de forma à publicação do anúncio coincidir com o Dia Mundial de Combate à Sida a 1 de Dezembro, e que esta foi uma forma de protesto contra a posição do Vaticano em relação ao uso profiláctico do preservativo.

25 de Dezembro, 2005 Palmira Silva

Fim do multiculturalismo: a burka na Holanda

Mulher afegã usando uma burka

Depois de proibido em algumas cidades europeias, por exemplo Como no norte de Itália, Antuérpia e Ghent na Bélgica, o uso da burka parece prestes a ser banido na Holanda, que seria assim o primeiro país europeu a legislar sobre o tema. De facto, uma proposta visando a proibição do uso da burka em público na Holanda tem o apoio da maioria dos deputados no Parlamento holandês e, como tudo indica, será formalizada em Janeiro próximo, o que tem causado uma longa controvérsia neste país.

Rita Verdonk, a dama de ferro que tem a pasta da Integração, comprometeu-se a investigar onde e quando pode a burka ser banida dos locais públicos. Considerando que a ministra tem seguido uma linha dura com os grupos muçulmanos extremistas, não contemporizando com atitudes até há pouco tempo «desculpadas» em nome do multiculturalismo, por exemplo cancelou uma reunião com líderes muçulmanos que se recusavam a cumprimentá-la por ser uma inferior mulher, parece muito provável que esta «tradição» de vestuário, em minha opinião inaceitável, tenha os dias contados na Holanda.

Na Indonésia, pelo contrário, os fundamentalistas islâmicos, especialmente na província de Aceh, usam todos os meios para obrigar as mulheres a usarem os trajes «tradicionais» que as cobrem dos pés à cabeça, criando inclusive uma polícia especial, a Wilayatul Hisbah (ou Brigada de Controle) que procura entusiasticamente mulheres que se atrevam a desviar um milímetro da Sharia para as humilhar publicamente.

Porque, como vocifera Marluddin Jalil, um juiz fundamentalista, o tsunami que fustigou a área há um ano foi castigo de Deus pelos comportamentos «imorais» das mulheres da zona: «O tsunami aconteceu por causa dos pecados das pessoas de Aceh», indicando que com pessoas se estava a referir apenas às mulheres continuando «O sagrado Corão diz que se as mulheres forem boas então o país está bem».