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Dia: 7 de Novembro, 2005

7 de Novembro, 2005 fburnay

Momento Zen de Segunda-Feira

João César das Neves presenteou-nos novamente com um número literário.
Escreve João César das Neves no DN de hoje:

«[…] eu sei que é difícil, mas suponha por momentos que Cristo não está vivo. Suponha por um instante que Jesus não ressuscitou, que não é o filho de Deus […]»

Não sei porquê mas não me parece lá muito difícil. Porque difícil, mesmo difícil, é acreditar que:

1) Jesus é filho de Deus e Deus ao mesmo tempo;
2) Jesus morreu e ressuscitou três dias depois, tendo subido para o céu onde sobreviveu em carne e osso mais de dois mil anos;
3) Jesus ressuscitou mortos, curou leprosos, cegos, paralíticos, multiplicou pães e peixes e transformou água em vinho;
4) A mãe dele deu à luz sem ter tido relações sexuais, morreu há dois mil anos e não obstante apareceu umas tantas vezes empoleirada em azinheiras ali para os lados da Cova da Iria;
5) A hóstia e o vinho transubstanciam-se no corpo e sangue de Jesus;
6) A Bíblia faz sentido;
7) A ICAR é uma instituição benemérita;
8) O cidadão Joseph Ratzinger é infalível e representa o criador do Universo.

Mas que grande sapo…

7 de Novembro, 2005 Ricardo Alves

Tentai evangelizar-me e eu vos responderei à letra

Caros católicos que tão devotamente ledes o Diário Ateísta,
chamo-vos a atenção para a prova gritante de «secularismo agressivo e intolerante» que os meios de comunicação social, inclusivamente os estatais, nos deram no passado fim de semana, e que ameaça repetir-se nos próximos dias. Efectivamente, nos espaços de emissão confessionais e nos programas noticiosos ou temáticos, nos intervalos e até, quiçá, nos programas de desporto ou de culinária, tem sido promovida uma campanha católica de proselitismo agressivo e fanático denominada «Congresso Internacional para a Nova Evangelização». O monopólio ateísta é de tal modo forte que os media, mesmo os estatais, não têm dado (nem se prevê que venham a dar) qualquer espaço para que os ateus ou agnósticos exerçam o direito ao contraditório que é reconhecido em todas as áreas à excepção da religião.
Esta operação de propaganda, para além de ser apoiada pelos mesmos media que daqui a uma semana voltarão a promover programas «imorais» e «desavergonhados», é apoiada por pelo menos duas autarquias locais de um Estado supostamente laico (a de Lisboa e a da Amadora), e promete importunar os cidadãos incautos em todo e qualquer espaço público da cidade de Lisboa, incluindo as praças principais e os centros comerciais mais frequentados, pressionando-os a voltarem a frequentar um culto que abandonaram de livre vontade, ou que jamais frequentaram.
Evidentemente, estou ciente de que os católicos, assim como as testemunhas de jeová e os seguidores da cientologia, têm legalmente o direito de ir pela rua fora tentando convencer as pessoas a mudarem as ideias religiosas que têm. Todos temos esse direito, aliás, embora eu e outros ateus prescindamos habitualmente de o exercer. Porém, já avisei publicamente aqui neste blogue, há mais de um ano, que sou ateu e que tenciono continuar a sê-lo até ao ocaso da minha consciência. Se me quiserdes bater à porta ou abordar na rua, ficais desde já prevenidos que vos convidarei a abandonar a vossa religião, que farei troça das aldrabices de Fátima e que criticarei o apoio público de que o vosso proselitismo, escandalosamente, beneficia.
7 de Novembro, 2005 Carlos Esperança

Naquele tempo…

Naquele tempo, Deus não era ainda o mito. Era apenas um mitómano a gabar-se de ter feito o Mundo em seis dias, há quatro mil anos, nem mais, nem menos, e ter descansado ao sétimo.

Era um celibatário inveterado que inadvertidamente criara Adão e Eva no Paraíso, onde vivia e tinha a oficina. Fez o homem à sua imagem e semelhança e a mulher a partir de uma costela do primeiro.

Preveniu-os de que não se aproximassem da árvore do conhecimento, advertência que a Eva logo desprezou, tentada por um demónio que por ali andava. O senhor Deus logo os expulsou do Paraíso, recriminando a malvada e com pena do imbecil que se deixou tentar.

Entretanto, na Terra, local de exílio, o primeiro e único casal logo descobriu um novo e divertido método de reprodução que amofinou o Senhor e multiplicou a espécie.

Deus era bastante sedentário mas as queixas que lhe chegaram pelos anjos, um exército de vassalos hierarquizados, levaram-no a deslocar-se ao Monte Sinai onde ditou a Moisés as suas vontades. Ensandecido pelo isolamento e pela castidade veio exigir obediência e submissão aos homens e fazer ameaças.

Após algum tempo, vieram profetas – vagabundos que prediziam o futuro -, lançando o boato de que o velho, tolhido pelo reumático, enviaria o filho para salvar o Mundo. Foi tal a ansiedade entre as tribos que alguns viram no filho da mulher de um carpinteiro de Nazaré o Messias anunciado.

Com a falta de emprego, algum pó e líquidos capitosos à mistura, inventaram a história do nascimento do pregador com jeito para milagres e parábolas.

Puseram a correr que Maria fora avisada pelo anjo Gabriel, um alcoviteiro de Deus, de que, sem ter fornicado, estava prenhe de uma pomba chamada Espírito Santo.

Nascido o puto, que nunca mijou, usou fraldas, fez birras ou fornicou, cedo se dedicou aos milagres e à pregação falando no pai e na obrigação de todos irem e ensinarem as sandices que debitava. Acabou mal e deitaram as culpas aos judeus, desde então os suspeitos do costume. Claro que JC também era judeu mas isso não quer dizer nada.

Sabe-se que foi circuncidado, que era um monoglota exímio em aramaico, língua em que discutiu com Pôncio Pilatos, que só sabia latim, sem necessidade de intermediário.

Quando se lixou, crucificado, esteve três dias provisoriamente morto e, depois, subiu ao Céu levando o prepúcio que tantas discussões teológicas havia de gerar. Os judeus ainda hoje são odiados porque o mataram mas há quem diga que isso foi uma calúnia dos que se estabeleceram com a nova religião e queriam substituir a antiga.