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Dia: 24 de Abril, 2005

24 de Abril, 2005 Carlos Esperança

Viva o 25 de Abril

O Diário Ateísta saúda todos os que se bateram pela liberdade e tornaram possível a democracia.

O Diário Ateísta presta uma sentida homenagem a todos os que arriscaram a vida para que a censura, as prisões políticas, o degredo e a tortura tenham sido abolidos.

Sem o 25 de Abril não seriam respeitados os direitos, liberdades e garantias que a Constituição da República Portuguesa assegura, nem o fim da discriminação a que a mulher foi sujeita com a cumplicidade da Igreja católica.

Sem o 25 de Abril não seria tão marcada a «crise de vocações sacerdotais» nem tão amplo o espaço de liberdade que a sociedade conquistou ao poder despótico da religião e da ditadura.

Por tudo o que Portugal sofreu e pelo muito que a Revolução de Abril fez pela paz, progresso e liberdade, prestamos aos capitães de Abril a nossa grata e comovida homenagem.

Viva o 25 de Abril. SEMPRE.

24 de Abril, 2005 pfontela

Contra a homofobia

Face às violências clericais, e não só, sobre a população LGBT no Ocidente e fora deste (a situação em alguns países toma proporções que eu descreveria como apocalípticas) é cada vez mais importante o combate à discriminação. É esse o objectivo desta iniciativa que visa a criação de um dia internacional contra a homofobia. Para os leitores que estiverem interessados fica o convite para assinarem a petição.

Aproveito a oportunidade para aclarar um pouco as águas na questão do ateísmo e da homofobia. Um ateu por definição rejeita a existência de Deus(es) e esta premissa, por si só, não acarreta consequência alguma para o seu posicionamento em qualquer questão social, política ou económica. Como tal, o facto de alguém ser ateu não implica necessariamente que não seja homófobo, mas são maiores as probabilidades de um crente ser homófobo do que um ateu – porque, em princípio, o ateu desmontou toda a “cangalhada” que vem por arrasto com a religião. Quando isto não acontece temos um caso de crenças secularizadas que, na minha opinião, conseguem ser ainda mais perniciosas do que as que permanecem associadas à religião.

24 de Abril, 2005 Carlos Esperança

Bento XVI foi entronizado

O Papa Ratzinger foi hoje aclamado por cerca de 300 mil pessoas, depois de ter tomado conta do Vaticano e se ter adornado com os símbolos do poder absoluto para o exercício vitalício das funções: o pálio e o Anel do Pescador.

Os suspeitos habituais aplaudiram-no entusiasticamente na primeira viagem triunfal à volta da Praça de S. Pedro. Os que gostavam do antecessor já se sabia que ficariam maravilhados com o sucessor. Este é o mistério da fé que faz de um indivíduo pouco recomendável um Santo Padre.

É interessante comparar os 4 milhões de peregrinos que se deslocaram para ver o cadáver de JP2 com os 300 mil que se incomodaram a saudar em apoteose o novo Papa.

Os católicos preferem um papa morto a um vivo. A vida é a morte da virtude e a morte é o alimento da fé.

24 de Abril, 2005 Palmira Silva

Relatividades e pontos de vista

«A permanência é uma ilusão. Somente a mudança é real. É impossível pisar duas vezes o mesmo rio.»
Heraclitus (540-475 a.C.)

Especialmente depois da eleição de Bento XVI o termo relativismo entrou definitivamente no léxico do quotidiano, normalmente empregue em termos pejorativos, como tive ocasião de confirmar quando assistia à emissão em directo do congresso do CDS, marcada por referências constantes aos dois Papas do século XXI e a este suposto flagelo da Humanidade. É extremamente curioso que a maior parte dos que o utilizam não se apercebam do tiro no pé que tal recurso semântico constitui.

Na realidade a relatividade, entendida como «tudo é relativo» por aqueles que ou não sabem Física ou ficam bloqueados pelo complexo formalismo matemático da teoria, é conceptualmente muito simples e assenta na invariância das leis da Física. Ou seja, a teoria da relatividade (restrita) diz simplesmente que as leis físicas são as mesmas para todos os observadores inerciais ou em todos os referenciais de inércia. Os observadores, «presos» aos respectivos referenciais, observam comportamentos «desviantes» de objectos apenas porque estes se movem relativamente a outro referencial de inércia. Mas na realidade estes comportamentos são «normais» no respectivo referencial. Extrapolando para a sociedade a razão porque alguns comportamentos parecem «desviantes» das leis sociais ou morais reflecte simplesmente os pontos de vista – os referenciais, na linguagem da relatividade – de cada observador.

Como escreve o meu amigo Jorge Dias de Deus no livro «Viagens no Espaço-Tempo» da colecção Ciência Aberta da Gradiva «A relatividade, que desde o início fascinou o grande público, foi, por outro lado, quase sempre mal entendida. A frase «tudo é relativo», resumindo, segundo muitos, as ideias de Einstein, seria uma espécie de machadada na objectividade e no realismo científico. Nada, porém, estava mais longe do pensamento de Einstein.(…) Realmente, o que Einstein procurava era, não o relativo, mas o invariante. Para ele seriam as invariâncias da física que dariam sentido à relatividade das descrições. Que características dos acontecimentos permaneciam invariantes, independentes da descrição, do referencial?»

Tal como na Física o que devemos procurar são as características sociais que permanecem invariantes independentemente do ponto de vista ou referencial de cada um, o que de facto são (ou deveriam ser) as «leis» absolutas da Humanidade ou o que chamo de ética consensual. Nomeadamente o Direito de cada Estado deve reflectir esta ética consensual e não deve impôr um determinado referencial. O que é o grande objectivo da Igreja de Roma: a imposição do seu referencial medieval (com resquícios de neolítico) a todos, tornando crime tudo o que considera pecado.

24 de Abril, 2005 Mariana de Oliveira

Je vous salue, Bento

No passado dia 21, a Assembleia da República aprovou por maioria um voto de saudação ao novo Papa, Bento XVI, anteriormente conhecido por Ratzinger.

Na declaração de voto lê-se o seguinte: «a Assembleia da República, representando a pluralidade da expressão política do povo português, e tendo em consideração o princípio constitucional da liberdade religiosa e a Concordata celebrada entre o Estado português e a Santa Sé, saúda o novo Papa». Mais uma vez, temos a República Portuguesa a prostrar-se face à ICAR, especialmente quando se menciona a Concordata, que é manifestamente inconstitucional já que viola o princípio da laicidade.

Os deputados ainda expressaram o seu desejo de que o reinado de Bento XVI «corresponda às aspirações dos portugueses, da Europa e do Mundo, a um frutífero diálogo inter-religioso e com os não crentes», sendo esta última aspiração algo quimérica vinda de um Papa que, no passado, se manifestou contra a laicidade, a emancipação das mulheres, os direitos dos homossexuais e que escreveu a declaração «Dominus Iesus».

Temos muito que festejar.