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Dia: 22 de Abril, 2005

22 de Abril, 2005 Carlos Esperança

Bento XVI – papa da Contra-Reforma

Consta que o conclave, donde saiu o novo Papa, só não elegeu o Prefeito da Sagrada Congregação da Fé (ex- Santo Ofício) à primeira votação, pelo mau aspecto que poderia provocar e para não deixar mal colocado o Divino Espírito Santo a quem se reconhece dificuldade e lentidão a iluminar cardeais.

O novo monarca absoluto e vitalício, regedor do bairro de 44 hectares, sede do catolicismo político, só desagradou a alguns católicos ingénuos convencidos de que a sua religião é compatível com a liberdade e a democracia, que se compadece com a modernidade e se preocupa com a explosão demográfica ou com o flagelo da SIDA que ameaça dizimar a África e provoca tragédias em todos os continentes.

Os católicos fundamentalistas, que sempre digeriram mal essa aventura liberal que deu pelo nome de Vaticano II, exultam com o jovem Papa. Os muçulmanos estão de acordo com ele. A sua religião (a de cada um deles) é a única que conduz à salvação, convicção igualmente perfilhada por judeus ortodoxos. Todos têm instruções do seu Deus para converter os outros à verdadeira fé, através dos meios necessários.

Em vez de Bento XVI podia aparecer um papa defensor da democracia, arauto da liberdade, adversário da pena de morte, inimigo da censura, entusiasta do pluralismo. Esse perigo foi esconjurado. Este papa é contra a «ditadura do relativismo», a favor da democracia da verdade única, pois sabe e apregoa que «não há salvação fora da ICAR».

Ainda antes de ser infalível, atributo que desde Pio IX detêm os papas romanos, já tinha identificado as grandes ameaças do catolicismo: «O marxismo, o liberalismo, a libertinagem, o colectivismo, o individualismo radical, o ateísmo e o vago misticismo religioso» e alertado para a necessidade de haver limites à «liberdade de opinião».

A Alemanha, o país que ficou associado à Reforma, tornou-se agora a pátria do profeta da Contra-Reforma, Joseph Ratzinger, sob o pseudónimo de Bento XVI. Desde Adriano VI (1522/23) que a defesa da fé católica não era confiada a um pastor alemão.

A Europa está de parabéns. A secularização conteve a agressividade papal, agora há razões para cultivar a teofobia que a emancipe definitivamente do poder clerical. E há uma razão acrescida para reforçar a laicidade do Estado, para que a lepra do islão político não corroa a liberdade cujas malhas foram tecidas pela Revolução Francesa.

22 de Abril, 2005 Carlos Esperança

Pastor alemão mostra os dentes

O Papa Bento XVI, avatar de Torquemada sentado no trono pontifício, iniciou a ingerência nos assuntos internos de países soberanos e a luta contra decisões legítimas de países democráticos. É o início da luta contra a «ditadura do relativismo», uma pia boçalidade papal para designar o pluralismo democrático.

O defunto João Paulo II, num dos momentos de maior desvario e rancor, pediu aos advogados católicos para manifestarem objecção de consciência e não patrocinarem casos de divórcio. Foi o espírito reaccionário do velho déspota na sua apoteose.

Agora é o supremo inquisidor que confunde a Espanha dos reis católicos, Fernando e Isabel, com a Espanha laica e democrática que as circunstâncias da história devolveram à monarquia mas não tornaram refém do despotismo. Bento XVI acaba de incitar os espanhóis à insurreição civil, convidando ao funcionários públicos à desobediência às leis, instigando-os a negarem-se a celebrar casamentos entre homossexuais.

O casamento, anterior à religião católica, é o contrato entre duas pessoas para a administração de bens comuns e outros fins que a lei define, sem a interferência divina nem a chantagem dos seus padres. A intromissão de Bento XVI nos assuntos internos da Espanha democrática é a desforra da Igreja que considerou o ditador Franco um enviado da Providência, que silenciou milhares de assassinatos, que conviveu com os carrascos espanhóis durante décadas.

Há um apelo urgente e necessário a fazer aos funcionários públicos que processam os vencimentos dos professores de religião católica, à custa do erário público. Cancelem os pagamentos dos veículos litúrgicos que atropelam a Constituição e traem a democracia. A Espanha, onde dezenas de facínoras que apoiaram Franco foram canonizados por João Paulo II, não é um protectorado do Vaticano. É um país livre e democrático onde os dentes do pastor alemão Bento XVI não podem transmitir a raiva.

22 de Abril, 2005 jvasco

Brasil – batalhas pela Fé

O Brasil é o país com mais católicos no mundo inteiro. No entanto, é palco de uma enorme batalha de «marketing religioso» que a ICAR está a perder.

Em 1991, 83% dos brasileiros eram católicos. Em 2000, a percentagem era de 73.5%.
Pode parecer pouco, mas temos de ver a dimensão do mercado em jogo: se a ICAR tivesse conseguido manter a proporção de crentes desde 1991, teria hoje mais de 16 milhões de fiéis.
No entanto, a ICAR aumentou o número absoluto de crentes em 0.3%, enquanto os evangélicos aumentaram 8%.
A dinâmica actual está longe de favorecer a ICAR…
Vejam este artigo, que relata esta situação em maior pormenor.

Pessoalmente não acho a perda de influência da ICAR para os evangélicos nada desejável…
Será que o novo Papa vai alterar esta dinâmica? Será que as suas posições dogmáticas, radicais e medievais vão fazer com que a ICAR compita com os evangélicos pelo mesmo «mercado» (pessoas menos instruídas), estancando o crescimento das Igrejas evangélicas, mas perdendo fiéis para o ateísmo e para as não-crenças? Será que o panorama da crença no Brasil vai mudar bastante?
Ou será que o novo Papa vai acentuar esta dinâmica? Com as suas posições contra a música nas Igrejas, contra um envolvimento sério na luta contra a pobreza (e é nas zonas mais pobres que as Igrejas evangélicas mais crescem), ele vai «empurrar» cada vez mais crentes católicos para as Igrejas evangélicas?

Aconteça o que acontecer, vale a pena estar atento a tudo o que vai acontecer no Brasil nos próximos tempos.