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Dilúvio da modernidade

Por mais que a comunicação social se esforce por explicar cientificamente como se forma um maremoto e por mais difícil que seja, para quem tem parcos conhecimentos na matéria, compreender o fenómeno, que se revela tão devastador, não passa pela cabeça de um cidadão equilibrado que a tragédia recente, ocorrida em países do Índico, possa ser da responsabilidade de um deus facínora, vingativo e cruel.

Todavia, em Marrocos, movimentos islamistas com representação parlamentar acreditam, e obrigam a acreditar, que Deus enviou o maremoto como castigo e até conhecem as motivações divinas: o turismo sexual. Não importa que a devastação tenha chegado a lugares onde tal turismo não exista, são efeitos colaterais de um advertência divina contra os pecados humanos que Deus não abdica de castigar.

O aproveitamento da ignorância e a exploração do medo é um hábito ancestral do clero que a humanidade, na sua difícil e penosa caminhada para o espírito científico, tem sabido combater. Desde o dilúvio às pragas, dos terramotos às epidemias, da lepra à guerra, das doenças à condenação ao inferno, o castigo divino é uma arma que as religiões usam para transformar os homens num bando de beatos, tímidos e assassinos.

Nada há mais irracional do que o julgamento religioso, mais violento do que o critério divino interpretado pelos seus padres, mais sórdido do que os castigos infligidos para agradar a Deus. Ontem matavam-se judeus por causa da usura, as bruxas pelo mau olhado, os infiéis pelo falsidade da sua religião. Já em Sodoma e Gomorra, Deus não suportou a felicidade dos seus habitantes e arrasou as cidades. Hoje os seus clérigos viram as populações analfabetas e crédulas contra as prostitutas, os homossexuais e quaisquer outros onde a violência possa exercer-se para fazer catarse do sofrimento e da miséria.

A religião é uma pandemia planetária, cruel, perversa e mentirosa.