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Por que rezam os que sofrem?

O sudoeste asiático foi hoje assolado por um violento sismo, seguido de gigantescos maremotos que já mataram mais de 4 mil pessoas.

Faz hoje um ano que um terramoto devastou a cidade iraniana de Bam que provocou, oficialmente, a morte de 31.884 pessoas e fez cerca de 18 mil feridos, muitos deles estropiados, e cinco mil órfãos.

Todos os dias as catástrofes assolam a humanidade, umas vezes por causas naturais, muitas outras pela incúria dos homens, pelo modelo de desenvolvimento errado e pela explosão demográfica.

É preciso não ter sentimentos para viver indiferente aos dramas que diariamente afligem a humanidade, ser completamente insensível para ignorar as tragédias que se abatem sobre o Planeta, quase sempre sobre os mais pobres e tementes a Deus. Só um egoísmo feroz permite alhear as pessoas das soluções que possam minorar os horrores que batem à porta de milhões de desgraçados que, segundo o cinismo eclesiástico, são a vontade de Deus.

É com respeito e revolta que vejo hoje as imagens dos sobreviventes do terramoto de Bam, dos infelizes que, todos os dias, por todo o mundo, choram a tragédia que lhes bateu à porta e permanecem em longas orações a um Deus cruel e vingativo, como quem agradece o mal que lhe fizeram, como quem teme que lhes faça ainda pior.

O negro que esconde os corpos que sofrem, os corpos dobrados, os joelhos magoados, os rostos doridos, são uma dolorosa metáfora de quem se cansou de olhar para o Céu e vê como único destino da sua pobre condição prostrar-se de joelhos, rojar-se no chão, debitar orações e continuar refém do constrangimento social e do poder do clero que em todas as religiões se alimenta do medo, da ignorância e do sofrimento.

Às vezes penso que a oração é a blasfémia dos cobardes e a blasfémia a oração de quem não teme a liberdade.

Apostila – (17H00). Já estão contabilizados mais de 8.000 mortos, incluindo dois portugueses.