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Dia: 31 de Maio, 2004

31 de Maio, 2004 André Esteves

O kitsch religioso da semana

Estava eu a passear por um bric-a-brac chinês, quando encontrei as últimas tentativas chinesas de entrada no mercado português da memorabilia religiosa católica, como podem ver à vossa esquerda. Na base deste engraçado boneco, encontramos o nome de Santo Exposito (não creio que haja um santo com esse nome, mas que se trata de um dos mártires antes da época de Constantino, dado o fato militar romano).

Para quem olhar de relance, aparenta que estamos a ver um brinquedo.

Quem olhar com mais cuidado, vê o santo despido do peso da percepção e código estético do catolicismo.

O traço e desenho seguem os códigos do Manga japonês, que hoje influencia várias gerações de artistas na Ásia.

As marcas da santidade na iconografia religiosa além de um valor cultural seguem códigos e regras estéticas que são definidas na ortodoxia. Os fiéis encontram aí a familiaridade e reconhecimento da sua revelação, que julgam especial, particular e pessoal. Fá-los, através do condicionamento, invocar os estados de espírito que associam ao sagrado: paz, união mística com algo maior, medo, culpa, contrição, etc.

Mas quando os mesmos são vistos e revistos pelos «óculos coloridos» de outra cultura, nada de sagrado encontramos na volta.

Só ficam os heróis de banda desenhada.

O que fariam os autores deste kitsch se por exemplo, se inspirassem nas visões de Fátima de 1917? Em que a nossa senhora aparecia a Lúcia de saia acima dos joelhos e sem sapatos? Algum Shunga ou Hentai? Confesso que fico curioso…

Glossário de termos de Manga e Anime (em inglês)

31 de Maio, 2004 Carlos Esperança

Ponte Europa foi aberta ao trânsito

Com a presença do Dr. Durão Barroso, único especialista português vivo a rubricar concordatas e do pio edil Carlos Encarnação, danado para missas, hóstias e alcunhas (crismou a ponte de Rainha Santa Isabel), teve lugar ontem a inauguração da ponte Europa, em Coimbra.

Houve bandeiras, possíveis bandalhos, força pública, público à força, numerosos figurantes, alguns figurões e um bispo contratado para benzer a obra de arte.

O bispo, D. Albino Cleto, farol da diocese de Coimbra, exorcista, especialista em bênçãos, utilizador experiente do hissope, habituado a aspergir imóveis, envergou vestes talares para dar mais vigor à benzedura e brilho à festa, não esquecendo uma enorme cruz para que quase lhe faltava o peito.

Os engenheiros da obra desconhecem a eficácia da água benta no reforço das fundações e os bombeiros não se pronunciaram sobre a prevenção de acidentes graças à divina guarda cuja protecção D. Albino foi contratado para intermediar.

As pessoas de Coimbra ficaram muito contentes com a alcunha da ponte Europa, mas as promessas de percorrer de joelhos a nova ligação do Mondego estão desaconselhadas por causa da circulação automóvel.

Um sexagenário com ar jacobino avisou uma devota, que se preparava para percorrer a nova ponte de joelhos, que aquilo era uma rodovia e não um piedoso joelhódromo.

31 de Maio, 2004 Ricardo Alves

Por uma Constituição europeia laica

A Associação República e Laicidade lamenta e repudia a exigência da diplomacia governamental portuguesa, expressa numa carta enviada pela ministra dos Negócios Estrangeiros à presidência da União Europeia e reiterada durante a reunião de 24 de maio da União Europeia, de que o preâmbulo da Constituição europeia faça uma referência às “raízes cristãs da Europa”. A Associação República e Laicidade recorda que uma constituição moderna deve ser proclamada em nome dos povos e dos cidadãos a quem se destina, independentemente das suas crenças religiosas ou convicções filosóficas, e não em nome de “Deus” ou de qualquer religião. Uma referência ao cristianismo, para além de menosprezar a riqueza da diversidade cultural e religiosa europeia, só poderia alienar os numerosos cidadãos europeus que se reclamam de outras fés ou de nenhuma. A forma actual do preâmbulo, que nos parece equilibrada e inclusiva, deve ser mantida.

A Associação República e Laicidade reafirma que o artigo I-51 do actual projecto de Constituição europeia é inaceitável, tanto por obrigar a UE a um diálogo regular com as igrejas e comunidades religiosas, reconhecendo assim um direito de ingerência destas no exercício dos poderes públicos europeus, como por impedir que o direito europeu afecte os privilégios adquiridos no âmbito nacional pelas instituições religiosas. A diplomacia governamental portuguesa deveria honrar a separação constitucional entre o Estado e as confissões religiosas, exigindo a eliminação do artigo I-51 do projecto de Constituição para a Europa e contribuindo assim para a necessária laicidade da construção europeia.

Ricardo Alves

(Secretário da Direcção)

Comunicado da Associação República e Laicidade (26-5-2004)

31 de Maio, 2004 André Esteves

Onde arranjar boas esposas…

Opus Dei – A única instituição no mundo, que consegue transformar uma física nuclear numa boa dona de casa.