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24 de Agosto, 2025 Carlos Silva

“Deus está morto”

Imagem: Internet

Muita gente terá questionado o que realmente pretendia Nietzsche dizer com a célebre frase do seu Livro III Gaia Ciência…

Deus está Morto” 

“Deus não morre porque é eterno e todo-poderoso…” -comentam alguns crentes.

“Se Deus não existe, logo não pode morrer!…” -comentam alguns descrentes.

Pensando no que eventualmente Nietzsche teria pensado…

Penso que simplesmente previa o princípio da morte abstrata de “deus”.

Penso que simplesmente previa o princípio do fim da religião, em particular o Cristianismo, pelo facto de analisar, raciocinar e percecionar que a religião está a perder o lugar de destaque na cultura ocidental e a entrar num irreversível espiral de declínio.

No passado “Deus” era praticamente o “centro do mundo”!

No presente, a cada dia que passa, cada vez mais, deixa de ser o centro cultural do mundo e sobretudo o centro do ser humano.

No futuro apenas uma recordação de alguém… depois, não será absolutamente nada!

Cada vez mais precocemente o homem se liberta da sua prisão mental…

Cada vez mais “a ciência, a filosofia, a literatura, a arte, a música, a educação… e a vida social quotidiana…” se libertam da religião…

Cada vez mais o poder estatal, seu milenar aliado, se separa da religião…

Cada vez mais o cidadão comum rejeita ou simplesmente ignora a “religião” para evitar cair no ridículo de justificar o injustificável, observar e invisível, ou concluir o inconclusivo.

Ainda existem milhões de pessoas em todo o mundo que são profundamente religiosas fruto da constante doutrinação… -é um facto!

Muitas delas acreditam piamente que o seu Deus está realmente vivo.

Grande parte não sabe, não lê, não percebe… e nem sequer pensa ou questiona se o seu “deus” estará realmente morto!… -apenas acredita que existe porque tem fé… como se a sua fé o fizesse existir.

A tradicional imagem que cada ser em particular tem de “deus”, e o Cristianismo em geral (movido pelo ideal de poder, de domínio e sobretudo ganância económica), sempre fez parte do quotidiano e do pensamento filosófico humano; praticamente todos os sistemas educacionais e sociais eram geridos pela religião ao ponto de ainda hoje quase toda a gente ser “batizada, casada ou sepultada pela igreja, frequentando-a com alguma regularidade durante toda a vida”.

O que tem realmente causado a “morte de deus” é o pensamento racional!…

O que tem realmente causado a “morte de deus” é a explosão do conhecimento… a liberdade da literatura e de tantos génios como Nietzsche…

A globalização e a revolução científica têm vindo a permitir a explicação objetiva de inúmeros fenómenos naturais que acabam por deitar por terra as escrituras e dogmas religiosos que, em alguns casos, serviam de lei ou de inquestionáveis mandamentos.

O iluminismo do séc. XVIII, com a ideia de “razão” em detrimento de “tradição”, a Revolução Industrial do séc. XIX, com o crescente poder tecnológico e económico desencadeado pela ciência, a evolução da medicina, a melhoraria significativa das condições de vida da maioria da população mundial, também foram fatores determinantes para o declínio da ideia de “deus”.

Durante milhares de anos, reinou a “suprema ideia de Deus”.

O omnipotente, o omnisciente, omnipresente era o criador da terra e do céu… o pai; o fiel amigo; a moral; a lei fundamental… a base de todo o pensamento humano; o determinante do comportamento dos fiéis, a eternidade… o limiar do paraíso… ou inferno -a punição de todos os que ousassem não seguir o seu caminho.

“Deus está morto!” -afirmou Nietzsche…

Talvez se trate mesmo de um processo de extinção simples e natural… afinal, todos os conceitos acabam por expirar na consciência de todas as civilizações porque na realidade apenas existem na mente de quem neles crê.

Simples espectadores como eu…

Pensadores, escritores, artistas…

Apenas voam em liberdade…

Apenas observam e descrevem a realidade!

Deus está morto! -subscrevo-o obviamente.

Podem até pensar que esteja louco por também o afirmar ainda no presente!

Talvez também tenha estado por aqui cedo demais e não seja este ainda o meu tempo.

Talvez a maior parte só o entenda um pouco mais à frente…

Talvez até nunca o entenda…

Afinal, tudo precisa de tempo para ser observado… provado e comprovado!

.

Nota:

Curiosamente, em países como Portugal ainda hoje se realizam Jornadas Mundiais de Juventude católicas, cujo maior “embaixador” é um presidente católico duma República laica! Ah… e (quase) todos acreditam que “deus está vivo”!


AGORA ATEU (I), 2023-11-14 Carlos Silva

19 de Agosto, 2025 Carlos Silva

“Desintoxicação religiosa”

Imagem: Internet

Perguntava o Rui Batista numa das suas publicações…

“COMO COMEÇAR O PROCESSO DE DESINTOXICAÇÃO DA CRENÇA RELIGIOSA?”

E o próprio respondeu…

“A crença religiosa não é algo que se “desligue” de um momento para o outro.

Eu próprio levei anos.

Há vários pontos importantes que contribuem para nos libertarmos dessa fantasia que se torna parte de nós desde tenra idade.

Primeiro, e talvez o mais importante, é perceber que NÃO TEMOS RESPOSTAS PARA TUDO, E ISSO NÃO É MAU.

Ou seja, por vezes, a resposta para algo é “NÃO SABEMOS” e isso não é vergonhoso. Vergonhoso é não saber, mas dizer que se sabe, e usar uma desculpa qualquer para justificar aquilo que, realmente, não se sabe.

Ler sobre vários temas é importante, pois existem ligações (por vezes não imediatamente claras) entre temas que parecem não ter relação. Por exemplo, o comportamento religioso está relacionado com a socialização, com a procura de aceitação e confirmação no seio de uma sociedade (uma família, um grupo de amigos, a cidade onde se vive, o país em que se vive, etc.), com a autojustificação de princípios que se tomam como certos, com aspetos da psicologia humana (como o viés de confirmação, a confusão entre casualidade e causalidade, etc.), com a dificuldade de aceitação de que se investiu tempo e recursos em algo que se tem medo de abdicar, com dissonâncias cognitivas, etc.

Portanto, ler sobre psicologia, antropologia, sociologia, história, cosmologia, etc., é importante. Já a filosofia é uma área com tantas ramificações que pode dar para ambos os lados, pois a filosofia é ótima para fazer perguntas, mas não particularmente boa a dar respostas, portanto pode ser usada como tentativa de se justificar aquilo que se pretende acreditar, através do processo de levantar mais dúvidas do que oferecer respostas.

Outra coisa importante é questionar, pesquisar e não ficar satisfeito com os primeiros dados que se obtém e, acima de tudo, não aceitar apenas aqueles dados que parecem confirmar o que já tomamos como certo e descartar aqueles que contrariam aquilo que queremos acreditar. Fundamentalmente, procurar o maior número de dados sobre algo, cruzar e filtrar esses dados, e apenas reter aqueles que são sólidos e que se corroboram entre si e que cujas fontes são fidedignas.

Também importante é perceber que a avaliação pessoal baseada em senso comum é altamente insegura, e pode ser influenciada por inúmeros fatores que irão distorcer a apreensão e avaliação seja do que for. Acima de tudo, usar a “navalha de Occam”, que postula que entre duas ou mais explicações para um facto, a mais simples é usualmente a correta. E, uma explicação natural é sempre mais simples do que uma explicação que exige que se recorra a magia, esoterismo, sobrenatural (basicamente, que exija que se aceitem coisas que nem sequer podem ser comprovadas).

Basicamente, seguindo estes princípios será um excelente caminho para deixar de se acreditar em algo que não é real, nunca foi, e nunca será, pois quando se estuda o suficiente, ficamos a saber que a religião foi apenas o primeiro esforço humano de tentar arranjar explicações para o que não compreendia. Um esforço digno, louvável, mas extremamente pueril e baseado em fantasia, ignorância e superstição.

E isto leva-nos à máxima mais importante que é preciso seguir para largar a religião:

SABER É MAIS IMPORTANTE QUE ACREDITAR.”

*

Impulsivamente, tal como outros, acabaria também por responder à sua questão com um pequeno comentário…

“COMO COMEÇAR O PROCESSO DE DESINTOXICAÇÃO DA CRENÇA RELIGIOSA?”

Para dar início a um “processo de desintoxicação da crença religiosa” é necessário reunir um grupo de pessoas que estejam dispostas a lutar por um objetivo comum que pode ser fundamental para o futuro de muitos jovens e sobretudo das gerações vindouras.

Será certamente um trabalho contínuo, longo e árduo… -nunca é demais recordar que, no passado, muitos heróis improváveis e anónimos sacrificaram a própria vida para salvar milhares de crianças de seitas religiosas, da guerra, da fome e da miséria.

O primeiro passo será, pois, reunir esse grupo de pessoas…

O segundo, conversar, definir estratégias, objetivos e ações concretas que possam ser materializadas e traduzidas em resultados reais.

É de louvar a “luta diária” do Rui com todos os seus “amigos crentes” … -um trabalho realmente árduo!… -já lhe disse uma vez, que é preciso muita paciência para responder/argumentar com todos… por vezes fico cansado (sorriso) só de ver!

Despertar/desvendar/desmascarar dogmas religiosos…. sim, porque não, usando da “navalha de Occam”?…

Após estabelecer as diretrizes, o terceiro passo é passar à ação!

Fazer parte de um grupo ou associação ateísta é fundamental. É no âmbito dessa união que residirá a força!

A Associação Ateísta Portuguesa e a Associação República e Laicidade, são exemplos pioneiros dessa ação pacífica em Portugal. Embora existam há alguns anos, conheci-as há pouco através da comunicação social onde surgiram a contestar as “Jornadas da Juventude Religiosa”. São dois magníficos exemplos de heróis que escolheram viver sem a religião que lhe querem impor… que assumiram defender a laicidade do Estado e lutar contra a doutrinação/chantagem religiosa sobre as sociedades livres e democráticas.

O meu elogio para todos os seus membros!

O meu orgulho por também agora ser um deles!

(…)

VAMOS COMEÇAR!


AGORA ATEU (I), 2023-07-01 Carlos Silva

14 de Agosto, 2025 Carlos Silva

Feriado (15 agosto)

Imagem: Internet

Muita gente, crente e descrente, hoje questionará certamente…

Porque se celebra o 15 de agosto?!
Porque é que é feriado nacional?!

Será este dogma da Igreja Católica tão importante ao ponto de fazer dele mais um feriado nacional?
Sabe-se que em 1950, o Papa Pio XII determinou que na “Constituição Apostólica” constasse que a “Imaculada Mãe de Deus, a Virgem Maria, terminaria o seu curso de vida terrestre e subiria de corpo e alma à glória celestial.”
À luz desta brilhante determinação, a Igreja Católica, decretaria que o 15 de agosto passasse a ser feriado nacional em todos os países ditos católicos, e consequentemente, dia de “santo descanso”.
Embalado nesta mesma luz, dois anos depois, o Primeiro-Ministro, António de Oliveira Salazar, em nome do Estado português, ratificaria a determinação do Papa, decretando o 15 de agosto feriado nacional.
Foi a partir dessa data que no calendário religioso português se passaria a celebrar a “Assunção de Nossa Senhora”, que é como quem diz, o fim da vida terrena e a sua subida ao céu.

Subida ao céu? Mas qual céu!? -questionarão alguns…
Que local é esse para onde ela foi? Onde é que fica?! -questionarão outros…
Terá ido de avião, de foguetão, ou apenas de corpo e alma?! -questionarão os mais céticos.
Se realmente a “Senhora” decidiu subir ao céu a 15 de agosto de 1950, porque é que não o teria feito nos últimos dois mil anos?!
Porque é que a Igreja Católica e os anteriores Papas não se lembraram disto antes!?
Sempre poderiam ter gozado mais uns feriados!

Se é importante ou não, dirá o povo, não importa!
O que realmente importa é que hoje é feriado e dia de “santo descanso”!

AGORA ATEU (I), 2023-08-15 Carlos Silva

9 de Agosto, 2025 Carlos Silva

“Peregrinação das crianças”

Imagem: ECCLESIA

“FÁTIMA RECEBE MILHARES DE CRIANÇAS EM PEREGRINAÇÃO APÓS 2 ANOS DE PAUSA”

“Gostei muito de ver Nosso Senhor”, uma frase do vidente de Fátima, Francisco Marto, é o tema da peregrinação, para a qual os serviços do Santuário esperam grande afluência, tendo em conta que este momento concentra, nalguns anos, um número de participantes maior do que o registado na Peregrinação Aniversaria de 12 e 13 de outubro.
As cerimónias da Peregrinação das Crianças serão presididas pelo bispo de Leiria-Fátima, José Ornelas, e o programa começa na noite de quinta-feira, com uma vigília de oração, às 21:00, na Basílica da Santíssima Trindade, onde, na manhã do dia seguinte, terá lugar uma encenação relativa ao tema da peregrinação, a partir das 09:30.
Após a recitação do rosário, às 10:00, na Capelinha das Aparições, segue-se a celebração da missa às 11:00, no recinto de oração. O dia terminará com a repetição da encenação da manhã, às 15:00, na Basílica da Santíssima Trindade, à qual se seguirá a celebração de despedida.
Os grupos de crianças presentes terão um lugar reservado no recinto de oração, durante a missa da peregrinação e, no final, como é tradição, receberão uma surpresa que ficará a assinalar a sua presença na Cova da Iria neste dia.
O tema da peregrinação remete para “a experiência do encontro íntimo, pessoal e transformador com Cristo”, segundo informação do Santuário de Fátima.
“Em Fátima, três crianças — Lúcia, Francisco e Jacinta – tornaram-se testemunhas de um encontro profundo com Cristo Ressuscitado. (…) A intimidade da amizade com Jesus, que viram naquela luz, transformou o coração e o olhar dos três. Cada um, a seu modo, passou a ver tudo e todos com a mesma compaixão de Jesus. E as suas vidas tornaram-se sinal luminoso desse amor”, refere a apresentação desta peregrinação, que tem o objetivo de despertar as crianças em grupos de catequese para a mensagem de Fátima e dar-lhes a conhecer a vida e a espiritualidade dos santos Francisco e Jacinta Marto.
07/06/22 LUSA


Em pleno século XXI, é impossível a qualquer mente minimamente sensível e racional, assistir a este contínuo massacre de crianças indefesas e ficar absolutamente indiferente!
A doutrinação religiosa de crianças é uma flagrante violação de liberdade e personalidade!
A doutrinação religiosa de crianças tem que ser objeto de um amplo debate público para esclarecer as suas reais causas e sobretudo denunciar as suas nefastas consequências!
Nenhuma criança nasce devota de imagens de pedra, madeira ou gesso!
São influenciadas para acreditarem piamente em seres imaginários!
Pela envolvência simbólica do cenário e sofreguidão do discurso apresentado, certamente que muitas destas crianças idealizarão o seu “Senhor” e a maioria ficará plenamente convicta que realmente ali o viu!
É um assunto demasiado grave para não ser levado a sério!
Não se trata de transmitir inofensivas mentiras a inocentes crianças!…
Trata-se de transformar mentiras em verdades inquestionáveis com o vil propósito de manter acesa a chama da religião… até se tornarem adultas… úteis e rentáveis aos doutrinadores!
Trata-se de incutir mentiras em inocentes antes de alcançarem discernimento racional ou terem acesso a informação fatual, o que lhes pode acarretar graves consequências para o futuro.
A maioria destas crianças, ao chegar à idade adulta, acreditará incondicionalmente nestas falsidades e deixará de ter capacidade crítica para as questionar.
Cegarão… não terão sequer consciência da cegueira que as condenará a uma dependência e subserviência total aos doutrinadores, ocultos sobre o manto de entidades supremas e divinas.

“Gostei muito de ver Nosso Senhor”…
(…)
“Em Fátima, três crianças (Lúcia, Francisco e Jacinta), tornaram-se testemunhas de um encontro profundo com Cristo Ressuscitado. (…)

No caso acima apresentado pela LUSA, o objeto de doutrinação infantil é precisamente a “visão” de uma pobre criança de 9 anos, um dos “videntes”, usado e exorbitado na construção da mentira que agora se pode obviamente constatar.

O objetivo da doutrinação infantil?!
Neste caso em concreto, obviamente prolongar no tempo a mentira de Fátima, também ela sustentada sem o mínimo pudor na inocência de três pobres crianças… hoje principal fonte de rendimento da Igreja em Portugal e fundamental para a sua sobrevivência.

O objetivo geral da doutrinação de Fátima?!
João Ilharco revelou-o (denunciou-o) melhor que ninguém:

“O sobrenatural de Fátima foi obra de um pequeno grupo de eclesiásticos, inteligentes e ousados, que tinham contra o regime republicano, implantado em 1910, grandes ressentimentos.
A República reduzira a importância social do clero e os seus rendimentos, e isso levou os padres a hostilizarem abertamente o novo regime, tanto no púlpito como fora dele.
E se eclodisse em Portugal um fenómeno sobrenatural, capaz de causar alguns engulhos a republicanos e livres-pensadores?
Usando de prudência e de absoluto sigilo, dois ou três eclesiásticos começaram a estudar um plano de atuação -e desses conciliábulos nasceram as aparições da Cova da Iria, na freguesia de Fátima, distrito de Santarém.
Os autores do sobrenatural de Fátima pretendiam alcançar três objetivos imediatos:
– Tentar a fundação de uma nova Lourdes, que conservava então o primeiro lugar entre os centros de peregrinação do mundo católico.
– Arranjar uma copiosa fonte de receita para a propaganda católica.
– Fazer de Fátima uma arma contra o regime republicano, implantado em Portugal em outubro de 1910.”

O fim último desta doutrinação é obviamente o lucro. O autêntico “deus”: O DINHEIRO!
Uma ilusão fundamental à continuidade e à sobrevivência da religião!
Criar, perpetuar e explorar uma ilusão até ao limite… até que o povo finalmente abra os olhos e desperte para a realidade dos factos. Há custa de muito sofrimento… é inegável!
Enquanto o interesse do estado/clero continuar a prevalecer sobre o interesse destas inocentes crianças, que ainda não têm capacidade para distinguir a fantasia da realidade…
A doutrinação continuará…
A mentira perdurará…
É evidente que não basta apenas ler e entender os factos… não basta apenas ficar indignado…
É preciso agir em defesa dos doutrinados, dos que realmente sofrem as trágicas consequências desta doutrinação infantil…

As crianças!
Afinal, “o futuro são as crianças!”


AGORA ATEU (I), 2022-06-29 Carlos Silva


Nota: Peregrinação das crianças 2025

Imagem: Santuário de Fátima

7 de Agosto, 2025 João Monteiro

Sobre “A hóstia do questionamento”

Ricardo Correia, um jovem ateu, contactou-nos com uma ideia: “e se promovêssemos o ceticismo e a cultura portuguesa num registo descontraído e acessível”? E logo de seguida concretizou: a ideia passaria por “rancho folclórico cético”, que combinasse a estética tradicional dos ranchos folclóricos portugueses com letras que promovessem o pensamento crítico e o humor cético.

Estava lançado o mote que logo concretizou na sua página do facebook e que, com a devida permissão, aqui partilhamos:

Hóstia do Questionamento

(Instrumental tradicional – acordeão abre, toque alegre e animado)

Verso 1:

No terreiro da aldeia, o povo a dançar,
Mas o vinho que eu trago é pra mente acordar.
Não quero promessas, nem dogma a mandar,
Só hóstia de dúvida pra nos alimentar.

Refrão:

Adega cética, filhos da razão,
Bebo o vinho da dúvida, não sigo o sermão.
Com acordeão e palito, vou questionar,
No rancho da verdade, vamos todos cantar!

Verso 2:

O padre e a missa, a festa tradicional,
Mas o santo que eu venero é o meu pensamento racional.
No meio da dança, uma risada solta,
É a ética que muda, a fé que não volta.

Refrão:

Adega cética, filhos da razão,
Bebo o vinho da dúvida, não sigo o sermão.
Com acordeão e palito, vou questionar,
No rancho da verdade, vamos todos cantar!

Ponte:

E se o mundo acabar, antes da próxima festa,
Que eu morra cético, e com alegria na testa!
Nada de mentiras, nem conto do vigário,
Só a luz do conhecimento, o nosso sagrado relicário.

Refrão final:

Adega cética, filhos da razão,
Bebo o vinho da dúvida, não sigo o sermão.
Com acordeão e palito, vou questionar,
No rancho da verdade, vamos todos cantar!

Foto que acompanha o poema na conta do Facebook do Ricardo. Créditos: Vítor Neno, Jornal de Cá.

5 de Agosto, 2025 João Monteiro

Cartazes das “Jornadas” retirados de Hospital

Pedido da Associação Ateísta Portuguesa (AAP) para retirada dos cartazes alusivos às Jornadas Mundiais da Juventude Católica (JMJ) foi ouvido pela administração do Hospital S. José, em Lisboa. Os cartazes foram removidos. Este pequeno gesto ilustra como a AAP consegue amplificar a voz dos seus associados.

Muro de um Hospital público com um cartaz alusivo às Jornadas Mundiais da Juventude.
Cartaz das Jornadas Mundiais da Juventude Católica num muro do Hospital S. José, em 2024.

O que está em causa?

No ano passado, 2024, um dos nossos associados escreveu-nos a informar que no Hospital S. José, que é uma instituição pública, ainda se encontravam alguns cartazes das Jornadas Mundiais da Juventude, evento que teve lugar em 2023.

Abreviando uma história com vários passos: acompanhámos a situação, visitámos o local e escrevemos um e-mail aos dirigentes da instituição. Nesse contacto mostrámos alguma compreensão pelo facto de aquele cartaz ter tido, eventualmente, alguma utilidade informativa durante o decorrer do evento, mas que, após mais de um ano se ter passado, seria apenas propaganda religiosa num edifício público. Lembrámos que, vivendo num Estado laico, nenhuma religião deveria ser privilegiada. Acontecia, porém, que aqueles cartazes publicitavam um evento da Igreja Católica, o que promovia essa religião em particular face às demais. É possível que os cartazes lá tenham ficado por esquecimento ou inércia, mas solicitámos a sua remoção.

Hoje, ao conversar com o nosso associado que nos contactou, obtivemos a informação que os cartazes foram removidos.

Esta notícia mostra uma pequeníssima vitória para a AAP em defesa do cumprimento constitucional da Laicidade. Mas ilustra, acima de tudo, que a mobilização dos nossos associados é consequente e que, juntamente com a AAP, é possível ter um impacto positivo na sociedade!

3 de Agosto, 2025 Carlos Silva

“Santuário de Fátima envia Imagem (“Virgem Peregrina”) para a Ucrânia”

Imagem: RTP

“Santuário de Fátima envia Imagem (“Virgem Peregrina”) para a Ucrânia”

O envio é justificado como o “esforço pastoral de oração pela paz no mundo”.

RTP1


Confesso que se não visse não acreditava!

Como é possível, em pleno Séc. XXI, este tipo de notícia (se é que assim se pode chamar) na televisão pública portuguesa?

Como é possível um contribuinte ter obrigatoriamente que pagar na sua fatura de energia elétrica uma taxa adicional de um “serviço religioso” a que chamam “público”?

Como é possível, ainda hoje, observar este tipo de notícia na televisão pública portuguesa quando a autêntica notícia é o drama do povo ucraniano que sofre e morre às mãos de mais um louco ditador?

Neste momento de aflição o povo da Ucrânia não precisa de “orações” nem “esforços pastorais”, mas sim de ações!

O povo da Ucrânia precisa de alimentos e dinheiro para comprar os bens essências à sua sobrevivência!

Em vez de “orações” a Igreja Católica deveria abrir os “cofres do Vaticano” e apoiar os que mais precisam; mas, em vez de o fazer, ainda se aproveita da situação e procura retirar benefícios da pobreza e desgraça alheia!

O envio de uma figura de barro ou gesso para o local de conflito armado é uma ação absurda e completamente inútil. Fazer crer aos mais pobres e desfavorecidos que tal terá alguma influência ou implicará o termo do conflito é uma autêntica falácia repleta de puro cinismo.

Com esta notícia da RTP, amplamente divulgada e partilhada nas redes sociais, a Igreja Católica, mais uma vez, está apenas a fazer publicidade à sua milagrosa galinha dos ovos de ouro (“Santuário de Fátima”).

Estão descaradamente a fazer publicidade a uma das maiores e mais embaraçosas mentiras da Religião Católica portuguesa: “O milagre do Sol” … ou, por outras palavras, a presumida aparição de uma “Virgem Santa” a três inocentes crianças que, entre inúmeros milagres e profecias, previra o fim da Primeira Guerra Mundial nesse célebre 13 de outubro de 1917, o que acabaria por não se concretizar.

Em Portugal, após a implementação da República, a Igreja Católica passaria por grandes dificuldades com a perda de inúmeras regalias herdadas da Monarquia, agravadas com a eclosão da 1ª Grande Guerra Mundial, que deixaria a maioria dos seus “fiéis” na fome e na miséria, privando-a, assim, das suas principais fontes de rendimento.

Apoiou-se então na ditadura do Estado Novo que também precisava do seu apoio para “abençoar” os governantes e a guerra nas ex-colónias portuguesas.

Com a ajuda do Papa João Paulo II e do “milagre” da sua sobrevivência ao atentado, o “espírito de Fátima” voltaria a reacender…

Com a pandemia, tal como toda a economia, o “Santuário de Fátima” sofreria outro grande revés… a enorme crise obrigaria ao despedimento de alguns dos seus “funcionários” …

É preciso, agora, recuperar…

Só falta mesmo o fim desta Guerra passar a ser o quarto segredo de Fátima!

Mais um milagre de Fátima!

Mas, pior do que publicidade, é estarem a fazer uso do sofrimento dum povo e de todos os horrores desta guerra… uma guerra da qual, como sempre, a religião colhe os seus louros!

Segundo a própria RTP, a “Guerra na Ucrânia está a desencadear também um conflito religioso. A Igreja Ortodoxa de Moscovo apoia a Rússia, enquanto as duas Igrejas Ortodoxas da Ucrânia estão divididas.”

Agora só faltaria mesmo mais um conflito provocado pela Igreja Católica.

Continuamos ciclicamente a repetir os mesmos erros do passado e não aprendemos a lição…

Continuamos ciclicamente a acomodar à preguiça de não pensar…

A humanidade precisa, de uma vez por todas, de se libertar dos seus “Deuses e Demónios”; admitir e reconhecer o que realmente os seus olhos vêm na realidade; nesta guerra, tal como em todas as guerras, são os homens que fazem todo o bem e todo o mal.

O povo da Ucrânia merece respeito!


Nota: Passados mais de 3 anos, a guerra na Ucrânia continua… o “esforço pastoral de oração pela paz no mundo” promovido pela Igreja Católica (“Senhora de Fátima”), foi, obviamente, mais uma vez, completmente inútil.


AGORA ATEU (I), 2022-03-15 Carlos Silva

29 de Julho, 2025 Carlos Silva

A Bíblia

Imagem: Internet

Eventualmente o livro de ficção mais absurdo que alguma vez já tentei ler… e refiro “tentei” porque não o consegui terminar. Acabaria por fechá-lo, tal o repúdio que senti…
Um livro repleto de erros científicos, de citações verdadeiramente absurdas sobre geografia, botânica, biologia, zoologia, astronomia… por entre um aglomerado de “milagres” e fenómenos sobrenaturais que nunca ninguém constatou ou verificou.
Um livro repleto de profecias que nunca se explicaram ou realizaram, de contradições estúpidas e anedóticas.
O que mais fere a sensibilidade de qualquer leitor minimamente pensante são os inúmeros episódios de estrema crueldade… a própria imagem do “sacrífico divino”, é, em si, um verdadeiro ato de barbárie, de sofrimento atroz, absolutamente intolerável em qualquer sociedade atual.
Torturas, enforcamentos, apedrejamentos, queimas de seres humanos em praça pública, racismo, xenofobia, incesto, prostituição, adultério, poligamia… são alguns entre tantos episódios recorrentes que se podem facilmente identificar, outrora tidos como perfeitamente normais e ainda hoje toleráveis por alguns dos seus mais fiéis seguidores.
O suposto ator principal deste autêntico best-seller, o “divino espírito santo”, é único e absoluto e não tolera os seus semelhantes; aliás sempre procurou aniquilá-los, subjugando e punindo todos os que não o seguem ou não pensam como ele.
É uma entidade que fomenta o ódio, que discrimina género e raça, que gera guerras e genocídios, ordenando o assassínio de crianças e descrentes.
É uma entidade que gosta do poder, que pede dinheiro aos fiéis para sustentar os pastores e o seu vasto império.
É uma entidade que proclama o bem e estimula o amor, mas que na prática, faz o mal e proíbe o amor entre os seus membros.
É uma entidade (“divindade”) que se apropriou do bem e do mal, do “céu e do inferno”, da doença e da cura, da vida e da morte… de tudo… até do próprio ser humano que lhe dá corpo e alma divina!
Eventualmente a maior mentira da humanidade!

AGORA ATEU (I), 2020-05-30 Carlos Silva

28 de Julho, 2025 Onofre Varela

A FOME COMO ARMA DE GUERRA

Há dias foi divulgado que “Reino Unido, França e Alemanha pediram ao governo israelita que suspenda imediatamente as restrições à distribuição de ajuda e permita urgentemente que a ONU e as ONGs humanitárias realizem o seu trabalho de combate à fome. A declaração dos três governos lembrou a Israel que deve cumprir as suas obrigações segundo o Direito Internacional Humanitário”. Parece que parte do mundo [a Europa civilizada] acordou para a realidade e reivindicou o fim da guerra genocida. 

Netanyahu comete atrocidades em Gaza de acordo com um plano que idealizou no sentido de promover a fome naquela região da Palestina, não permitindo a distribuição de comida ao povo nos lugares onde está, estabelecendo três centros distribuidores de água e alimento perto da fronteira do Egipto, obrigando à deslocação dos palestinos esfomeados que, assim, deixam o território deserto à mercê da ocupação facilitada dos israelitas, para que possam concretizar mais facilmente a terraplanagem de acordo com o projecto de transformação daquela faixa em estância balnear para ricos. Penso que tal intenção imobiliária não será concretizada porque, ao fazê-lo, Israel desrespeitaria a propriedade territorial da Palestina, o que será ilegal à luz do Direito Internacional. 

IMAGEM GERADA POR IA.

Neste momento Israel promove uma guerra com o apoio de Trump, negando todos os direitos dos palestinos espezinhados por um exército de malfeitores instruídos por Netanyahu para destruírem e matarem indiscriminadamente, incluindo o assassínio de povo indefeso que pede comida. A fome que Netanyahu decretou na Palestina é usada para tentar eliminar o povo palestino num genocídio idêntico ao que Hitler usou com os judeus, mas substituindo as câmaras de gás por fome, levando crianças à morte por inanição. 

Os colonos israelitas radicais dispersos pela Cisjordânia ajudam no arrasar da Palestina. A atrocidade de se reter alimento e água – incluindo comida para bebés – com a intenção de se deixar a população palestina morrer à fome, faz parte do projecto genocida de Netanyahu. 

O jornalista israelita Gadi Algazi conta no jornal El País (20/7/2025) que o plano genocida foi iniciado há pouco tempo e os resultados já são dramáticos. Todo o mundo já viu fotos de “esqueletos com pele” que são as crianças desnutridas. Gadi Algazi, que é historiador israelita, fundador do grupo de jovens soldados que se negaram a prestar serviço militar nos territórios ocupados – pelo que foi condenado a um ano de cadeia – diz que Israel aproveitou as atrocidades do grupo Hamas, a 7 de Julho de 2023, para ter a oportunidade de pôr em prática dois grandes projectos: 

“O primeiro é imperialista, no sentido de conseguir a hegemonia regional, do qual fazem parte os ataques militares ao Líbano, à Síria e ao Irão. O segundo é um projecto colonialista contra os palestinos, não só os de Gaza, mas também os que vivem na Cisjordânia debaixo da ocupação militar israelita que protege os colonos, transformando os palestinos em cidadãos de segunda classe mediante a erosão dos seus direitos civis”.

E o mundo assiste a este horror… e deixa!

20 de Julho, 2025 Onofre Varela

Moral, Ética e destruição de barracas

O nosso comportamento social deve obedecer a uma moral e a uma ética. A Moral reúne valores e costumes de uma cultura, para orientação comportamental dos indivíduos; a Ética é a reflexão filosófica sobre a Moral, procurando princípios universais na avaliação do nosso comportamento.

Daqui se conclui que muitas atitudes políticas (e também religiosas) podem ser “morais” perante a moralidade da lei vigente, mas não serão “éticas” (como é exemplo a destruição das barracas de quem não tem tecto… o que, para a autarquia que assim actua, poderá ser legal; mas não há quem, em qualquer lugar do mundo, garanta ser uma atitude moral e ética).

Não haverá sociedade sem um sentimento religioso entendido como normalizador do pensamento colectivo. Entre nós, essa “normalização” pertence ao Cristianismo na versão Católica que toma conta das mentes religiosas. Se ao Cristianismo retirarmos os preceitos puramente de fé (como Jesus ter sido clonado por Deus num útero de empréstimo, e em criança ter dado lições a doutores, e depois ter transformado água em vinho, curado leprosos, ressuscitado mortos e a si próprio)… o que sobra desta crença é o amor (o respeito) devido aos outros; e por aí, o que encontramos é filosofia ateísta pura.

A ética religiosa nem sempre é validada pela moral universal e laica. Por exemplo: no Alcorão (III, 157) a ética religiosa muçulmana manda matar os descrentes (segundo alguma interpretação da “Jihad”). No Catolicismo a ética cristã manda adorar a Deus sobre todas as coisas… o que quer dizer que, no tão humano Cristianismo, os nossos semelhantes estão a um nível inferior na escala do respeito; primeiro há que considerar um mito, só depois será observada a real existência das pessoas nossas iguais!…

Fonte: Sapo

Sendo a fé fruto de um pensamento colectivo, ela é, também, uma opção pessoal. Cada qual terá a sua; e a minha, que considero ter muitíssima importância, na verdade é tão estapafúrdia como a tua que para mim não tem valor algum, mas que para ti é a razão do teu viver.

Um dos males que consomem a Humanidade poderá ser o de se dar demasiada importância à crença num deus fictício, permitindo-se a exploração de mentes menos avisadas, e ao mesmo tempo se desrespeite o semelhante. Desrespeito que leva a guerras, matando gente e destruindo tanto património, só porque um líder vaidoso e malvado quer que seja assim e tem armamento bastante para se sentir seguro da “sua vitória”, por muito injusta que (sendo conseguida) ela venha a ser reconhecida pela História.

O filósofo espanhol Fernando Savater, num dos seus textos, lembra Immanuel Kant para dizer que o mestre “acreditava já ser chegada a hora de a Humanidade abandonar a sua menoridade intelectual”. É esta “menoridade intelectual” que, mais de 200 anos depois de Kant, impede o Humanismo que faria do “Homo” um verdadeiro “sapiens” sem invadir países vizinhos nem destruir barracas antes de se dar habitação digna a quem em tais casebres tem o seu lar.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)