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8 de Setembro, 2014 Carlos Esperança

Bruxaria, exorcismos e chalados perigosos

No catolicismo vão longe os tempos em que as bruxas eram cotejadas com uma bíblia gigante e que, dada a insustentável leveza, um peso menor era o diagnóstico diferencial que provava a sua qualidade.

Santos doutores e papas, que não eram ainda infalíveis, acreditavam na sua existência e na incineração como terapia inquisitorial. Mulheres magras, por fome ou constituição, acabaram no churrasco pio por serem mais leves do que a bíblia que servia de bitola. A bruxaria era apanágio feminino que alimentava fogueiras e medos coletivos.

Aproveitavam a calada da noite para os conciliábulos e a vassoura para transporte até às encruzilhadas dos caminhos onde afluíam fantasmas e se rogavam pragas. Era aí que a tradição judaico-cristã domiciliava a origem das desgraças que semeavam o pânico na população e a loucura nos inquisidores.

Faleceram há muito Jaime I e Inocêncio VIII. O rei inglês mandava pagar prémios, em dinheiro, a delatores de suspeitos de bruxaria e o papa mandava inquisidores a descobrir e eliminar bruxas, incumbência que desempenhavam com denodo.

Dessa época só restam demónios, mais para manter postos de trabalho aos exorcistas do que por convicção. O padre Gabriel Amorth, exorcista oficial do Vaticano, desde 1986, obteve do papa Francisco o reconhecimento da Associação Internacional de Exorcistas, com profissionais calejados em pelejas contra o demo. Com 89 anos ainda exerce.

Agora é o Estado Islâmico, com predileção por decapitações, que se dedica a eliminar pessoas por serem «infiéis, ateus e praticarem bruxaria». Em Mossul, norte do Iraque, decapitaram em público, numa praça central, sete pessoas acusadas dos 3 crimes.

O cronista desta página, irrevogavelmente infiel e ateu, só não se dedica à bruxaria, e se não for torturado, altura em que atestará a bondade dos cinco pilares desses chalados.

Como detesto ser decapitado, execro o furor pio de que esses dementes estão possessos, aceitando, neste caso, que qualquer país os exorcize. É urgente e um ato de clemência.

7 de Setembro, 2014 Carlos Esperança

Durante o trabalho

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Profissionais fardadas em plena atividade laboral.

7 de Setembro, 2014 Carlos Esperança

PROPONHO A AMPUTAÇÃO DO DEDO MÍNIMO…

Por

João Pedro Moura

O ensaísta francês Roger Caillois (1913-1978) publicou, em 1939, a obra “O Homem e o Sagrado”, editada há uma trintena de anos em Portugal pelas Edições 70.

Nessa obra antropológica, o autor, entre outras coisas, procurou discernir a correlação entre as súplicas à divindade, nas diversas religiões passadas e presentes, e o sacrifício que as pessoas entendiam e entendem fazer para obterem uma benesse divina ou aplacarem a “ira” dos deuses, quando as pessoas prevaricavam…

O esquema, basicamente, é simples: se uma benesse divina é uma coisa colossal e extraordinária, o “pagamento” da mesma deve ser efetuado com um esforço e sofrimento proporcionais…

O assunto tem a sua complexidade e não se esgota em explicações simples…

Refiro a obra de Caillois, apenas, para quem quiser aprofundar estudos sobre antropologia religiosa, psicologia de massas, etc.

Serve esta introdução para tratar da questão do sacrifício dos peregrinos fatimistas: marcham 100, 200 kms, rastejam centenas de metros, marcham de joelhos na mesma distância… etc.

É sempre a mesma coisa, ano após ano, desde 1917…

…Para só referir Fátima…

Mas essa gente casmurra e mentecapta não sabe praticar outros sacrifícios???!!!…

A que propósito entendem que a chamada “Nossa Senhora de Fátima” se compraz em observar tais comportamentos???!!!…

Pronto, querem fazer sacrifícios para agradecer à “Virgem Santíssima”?! Seja!

Por exemplo:

Que tal regressarem à escola para tentarem fazer, pelo menos, o 9º ano ou o 12º???!!!…

Seria um belíssimo sacrifício ver esse povo na escola, alguns mal sabendo ler, retomarem os estudos onde os deixaram, quando tiveram que ir trabalhar, ou porque os pais os obrigaram, ou porque desistiram por inépcia…

E quem diz o ensino básico… diz o superior…!…

Era ver o povo dos sacrifícios a caminho da escola, nos cursos noturnos, depois de um dia de trabalho extenuante, a esforçarem-se estrenuamente para assimilarem aquelas matérias de Ciências Naturais e de Físico-Químicas, de História, de Línguas Estrangeiras, de Geografia e demais disciplinas do cardápio escolar…

Era ver o sr. António debruçado sobre as leis da termodinâmica, a dona Augusta, com olhar grave, observando a eletrólise da água, o Marcolino, circunspeto, a estudar a Reforma Protestante, do séc. XVI, a dona Ermelinda conjugando o verbo “to be” e a senhora Maximiana ouvindo, radiante, o prof. de Geografia a descrever aspetos essenciais da economia agrícola de Portugal: ouvir falar das boas terras de Cebolais de Cima, Freixo de Espada à Cinta, Alguidais de Bota-Arriba, Lentiscais de Cacamijo e Cabeçais de Metralhadora à Coxa…

Enfim, isso é que seriam grandes sacrifícios, com uma grande vantagem: o povo ia aprendendo, ia raciocinando, ia acumulando saber, para o futuro e para o melhor desempenho profissional…

Mas, por que é que o povo não se lembra destes sacrifícios???!!!…

Enfim, admitamos que o povo religionário não se virará para a ciência… e recalcitrará no sacrifício puramente físico…

Mas então, proponho que, para não irem todos os anos a Fátima, como alguns fazem, em renovação de promessas, deveriam arranjar um sacrifício que fosse permanente, uma espécie de estigma ostentatório, que servisse de agradecimento e pagamento “ad eternum”…

…Proponho a amputação dum dedo mínimo! Nem mais!

Vejam a máfia japonesa – a Yakuza! Eles cortam, pelo menos, um dos dedos mínimos, como ritual de lealdade e de sacrifício! Aquilo é que é um caso sério e radical de devoção à causa!…

Comparados com a Yakuza, os peregrinos pedestres portugueses e outros mais parecem ovelhas perambulando pelos campos, cansadas e conformistas…

A amputação digital, não! É radical! É irreversível! Exprime um sacrifício e uma dedicação perpétuas! Mesmo que haja defeções, fica o estigma permanente!…

Agora, a nossa mansuetude ovelhum!…

Por isso, entendo que os mais dedicados à causa das promessas e seus pagamentos, sacrifícios e peregrinações anuais, deverão refletir sobre as vantagens da amputação digital e sua correlação com a benesse divina…

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5 de Setembro, 2014 Carlos Esperança

A fé, o pescoço e a civilização

A demência da fé tem fortes motivos que a agravam. Não se ignoram as circunstâncias de natureza económica, social e política que agravam a patologia, mas não podem servir de álibi as maldades de que se foi alvo quando se exerce nos jornalistas a vingança e se recorre à decapitação como método.

Não é aceitável a prática do terror como instrumento diplomático nem a crueldade como punição e, muito menos, executar quem cumpre um dever profissional e não é parte no ódio que se cultiva e na represália que se exerce.

O Estado Islâmico é a execrável esquizofrenia onde uma teia de cumplicidades encontra o fanatismo mais primário reunido ao mais primitivo dos instintos, em feras à solta.

Há quem ambicione a morte e odeie a vida, única e irrepetível, e quem pense no prémio de um ser hipotético, desprezando os elementares deveres de humanidade. As feras que surgiram, ansiosas de um califado, são um bando anacrónico de terroristas, beatos de um credo maldito, que investem com a cegueira do touro e a sensibilidade de um réptil.

É preciso pará-los. Está em causa a civilização.

4 de Setembro, 2014 Carlos Esperança

A PERSIGNAÇÃO DOS FUTEBOLISTAS

Por

João Pedro Moura

Desde há uns 20 e tal anos, que um grande número de futebolistas, em Portugal e no estrangeiro, se persignam durante o jogo, mormente quando marcam golos.

Esse gesto impetratório de bênção, por parte dos futebolistas, até está mal feito, pois que, oficialmente, a persignação consta dum ato mais prolongado, em simultâneo com a prolação duma ladainha, que, obviamente, os futebolistas não cumprem, dada a rapidez com que se persignam…

E alguns persignam-se duas e três vezes seguidas, olhando para o céu com dedos em riste, quiçá, tentando vislumbrar algum sinal divinal…

Antes da revolução do “25 de abril”, quero dizer, no tempo em que as pessoas eram mais religiosas e frequentadoras das liturgias, os futebolistas não se persignavam, pois que não se viam tais cenas dentro dos campos.

Agora, é em massa!

Esta praga em Portugal foi introduzida pela chegada crescente de jogadores brasileiros, devotos fervorosos e praticantes de persignação, que conseguem contagiar os futebolistas portugueses, também atoleimados e néscios como os brasileiros, pelos vistos…

Mas, analisemos bem a essência da persignação futeboleira e tiremos ilações.

Com esse apelo impetratório, o futebolista visa, principalmente, a vitória da sua equipa…

Ora, rogar à divindade pela vitória da sua equipa, equivale a rogar pela derrota da equipa adversária!…

Ora, se a divindade é universal, não pode “ajudar” uma equipa em detrimento da outra!…

É conhecida a máxima religiosa e popular de “todos somos filhos de Deus”.

Portanto, pedir ou agradecer a um qualquer figurão da corte celestial que conceda a vitória a uma equipa, em desfavor doutra, é uma contradição antitética e doutrinária.

Esses futebolistas não são seres humanos no pleno uso das suas faculdades mentais de raciocínio e inteligência???!!!…

Há uns anos, a senhora Margarida Prieto, extremosa e piedosa esposa cristã do sr. Manuel Damásio, então presidente do Benfica, instalou um altar, perto dos balneários, com as habituais figurinhas estatuais do jardim da celeste corte, para “dar sorte” à equipa benfiquista. Mas, com o “azar” da equipa, que descia na classificação, o altar foi retirado, posteriormente…

E há quem agradeça, em Fátima, pela vitória da sua equipa no campeonato!…

Como é que estes néscios e crédulos têm o desplante de invocar a proteção divina para as suas vitórias desportivas, em prejuízo do interesse das outras equipas???!!!…

A não ser que, ao contrário do que eu disse atrás, não estejam “no pleno uso das suas faculdades mentais de raciocínio e inteligência”…

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