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4 de Março, 2016 Carlos Esperança

A Escalada Beata e as Agressões Religiosas

Enquanto os judeus ortodoxos se agarram à Bíblia e à faixa de Gaza, os muçulmanos debitam o Corão e se viram para Meca e os cristãos evangélicos dos EUA ameaçam o Irão e a teoria evolucionista, os conflitos religiosos e o terrorismo regressam à Europa.

A emancipação do Estado face à religião iniciou-se em 1648, após a guerra dos 30 anos, com a Paz da Vestefália e ampliou-se com as leis de separação dos séc. XIX e XX, sendo paradigmática a lei de 1905, em França, que instituiu a laicidade do Estado.

A libertação social e cultural do controlo das instituições e símbolos religiosos foi um processo lento e traumático que se afirmou no séc. XIX e conferiu à modernidade ocidental a sua identidade.

A secularização libertou a sociedade do clericalismo e fez emergir direitos, liberdades e garantias individuais que são apanágio da democracia. A autonomia do Estado garantiu a liberdade religiosa, a tolerância e a paz civil.

Não há religiões eternas nem sociedades seculares perpétuas. As três religiões do livro, ou abraâmicas, facilmente se radicalizam. O proselitismo nasce na cabeça do clero e medra no coração dos crentes.

Os devotos creem na origem divina dos livros sagrados e na verdade literal das páginas vertidas da tradição oral com a crueza das épocas em que foram impressas.

Os fanáticos recusam a separação da Igreja e do Estado, impõem dogmas à sociedade e perseguem os hereges. Odeiam os crentes das outras religiões, os menos fervorosos da sua e os sectores laicos da sociedade.

Em 1979, a vitória do «ayatollah» Khomeni, no Irão, deu início a um movimento radical de reislamização que contagiou Estados árabes, largas camadas sociais do Médio-Oriente e sectores árabes e não árabes de países democráticos.

Por sua vez, o judaísmo, numa atitude simétrica, viu os movimentos ultraortodoxos ganharem dinamismo, influência e armas, empenhando-se numa luta que tanto visa os palestinianos como os sectores sionistas laicos.

O termo «fundamentalismo» teve origem no protestantismo evangélico norte-americano do início do séc. XX. Exprimiu o proselitismo, a recusa da distinção entre o sagrado e o profano, a difusão do deus apocalíptico, cruel, intolerante e avesso à modernidade, saído da exegese bíblica mais reacionária. Esse radicalismo não parou de expandir-se e já contamina o aparelho de Estado dos EUA.

O catolicismo, desacreditado pela cumplicidade com regimes obsoletos (monarquias absolutas, fascismo, ditaduras várias), debilitou-se na Europa e facilitou a secularização. O autoritarismo e a ortodoxia regressaram com João Paulo II, que arrumou o concílio Vaticano II e recuperou o Vaticano I e o de Trento.

João Paulo II transformou a Igreja católica num instrumento de luta contra a modernidade, o espírito liberal e a tolerância das modernas democracias. Tem sido particularmente feroz na América Latina e autoritária e agressiva nos Estados onde o poder do Vaticano ainda conta, através de movimentos sectários de que Bento XVI foi herdeiro e protetor, se é que não esteve na sua génese.

A recente chegada ao poder de líderes políticos que explicitam publicamente a sua fé, em países com fortes tradições democráticas (EUA e Reino Unido), foi um estímulo para os clérigos e um perigo para a laicidade do Estado. Por outro lado, constituem um exemplo perverso para as populações saídas de velhas ditaduras (Portugal, Espanha, Polónia, Grécia, Croácia), facilmente disponíveis para outras sujeições.

A interferência da religião no Estado deve ser vista, tal como a intromissão militar, a influência tribal ou as oligarquias, como uma forma de despotismo que urge erradicar. A competição religiosa voltou à Europa. As sotainas regressam. Os pregadores do ódio sobem aos púlpitos. A guerra religiosa é uma questão de tempo a que os Estados laicos têm de negar a oportunidade. Só o aprofundamento da laicidade nos pode valer.

In Pedras Soltas (2006) – Ortografia atualizada

3 de Março, 2016 Carlos Esperança

Os cartazes do Bloco de Esquerda (BE)

Os cartazes do BE não são felizes nem originais, mas, em vez de se discutir o bom ou o mau gosto, é a liberdade que se contesta.

Não são felizes, por trazerem ruído e virem perturbar o debate sobre a eutanásia, que se quer sereno; e não são originais, porque ‘Jesus tem dois pais’ é o slogan do movimento internacional cristão pela igualdade, deixando implícita a aceitação do mito, herdado de outros deuses, sobre a virgindade da mãe de Jesus, a crença pueril que Pio IX converteu em dogma; mas o que está em causa é a liberdade de expressão, conquista irrenunciável perante quem se sente ofendido. Seria horrível viver num país onde fossem proibidos os cartazes ou o direito ao protesto de bispos e crentes.

Grave é a convergência de partidos políticos, da Conferência Episcopal, do patriarca de Lisboa e de outros grupos da Igreja católica numa petição para a “retirada dos cartazes blasfemos e ofensivos”, num apelo à censura. A blasfémia é um crime medieval, do foro da Inquisição, que não pode estar sujeito aos humores do clero e às sanções penais.

A liberdade de expressão existe para se poder dizer publicamente o que desagrada e não para se dizer o que é consensual. A Igreja ofendeu-se mais com Giordano Bruno do que com o BE, mas custou demasiado sangue evitar a reincidência no método de dissuasão.

Umberto Eco entendia que “se os católicos se ofendem por lhes ofenderem a Virgem, devem respeitar-se os seus sentimentos e pode sempre escrever-se um ensaio histórico sensato que ponha em causa a reencarnação, e se os católicos dispararem sobre quem ofenda a Virgem [então] combatam-nos por todos os meios.”

Apesar do respeito pela dimensão cultural, ética e intelectual do notável pensador, não o acompanho, porque é difícil perceber, numa sociedade pluriétnica, como a europeia, que valores de uns não ofendem outros, e só há uma forma de manter a paz – a exigência de respeito pela laicidade.

Hoje, os católicos ofendem-se com a troça à virgindade da mãe do seu Deus e, ainda há poucos anos se ofendiam com o planeamento familiar, o uso da pílula, o casamento gay ou a IVG. Nunca se sabe o que ofende ou não os crentes de cada religião.

Em nome da liberdade e, sobretudo, da civilização, é um dever combater a lapidação de adúlteras, o esclavagismo, a desigualdade de género, a excisão do clitóris, a decapitação de infiéis, a moral herdada da Idade do Bronze e todas as formas de superstição que nos envenenam. Exige-se respeito pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e não se podem aceitar limitações à liberdade de expressão que excedam as do Código Penal e, mesmo essas, desejavelmente, cada vez mais brandas e escassas.

Censura, Não! Obrigado.

Jesus

2 de Março, 2016 Carlos Esperança

Poesia popular

Não há luar como o de janeiro

Amor como o primeiro

Pau como o azinho.

Não há como filho de padre

Que ao pai chama padrinho.

2 de Março, 2016 Carlos Esperança

Surpresa!!! Quem diria!

Pe. Zollner: Bispos recomendam assistir o filme Spotlight

Bispos recomendam que filme Spotlight seja assistido – AP

Cidade do Vaticano (RV) –  “Papa Francisco: é hora de proteger as crianças e restaurar a fé”. Assim manifestou-se Michael Sugar, Produtor do filme “O caso Spotlight”, vencedor do Oscar de melhor filme, ao retirar a estatueta na noite de 28 de fevereiro no palco da Academy Awards. O filme é dedicado aos jornalistas do Boston Globe, que há 14 anos revelaram o acobertamento de numerosos casos de abusos contra menores cometidos por sacerdotes nos Estados Unidos. A este respeito a  Rádio Vaticano entrevistou o jesuíta Padre Hans Zollner, membro da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores e Presidente do Centro para a Proteção de Menores da Pontifícia Universidade Gregoriana:

1 de Março, 2016 Carlos Esperança

Alfredo Barroso e a Igreja católica

PARA A IGREJA CATÓLICA, TUDO O QUE DIZ E FAZ É INDISCUTÍVEL, MESMO QUE CONTRADIGA OS TEXTOS SAGRADOS
– comentário de Alfredo Barroso (em 28/02/2016)

Em verdade vos digo que, quando começamos a calcular o que dizemos distorcendo ou escondendo o que pensamos – só porque tememos as consequências de falar claro, sem ambiguidades nem equívocos – acabamos, regra geral, por claudicar perante qualquer diabo que a Igreja Católica ou a direita mais reaccionária nos façam sair ao caminho, a chantagear-nos, a insultar-nos e a ameaçar-nos com as penas do Inferno.

Quando se trata de enfrentar a Igreja e a direita católica mais reaccionária, o pior que pode suceder a um homem de esquerda – ainda por cima agnóstico, como eu – é recuar com medo das consequências. Esquecendo que, para a Igreja Católica, textos como, por exemplo, a Bíblia ou o Catecismo – por mais que convoquem a discussão e a crítica em relação a muitas das suas passagens – são textos sagrados que, como tal, «revelam» uma «verdade absoluta» e, por isso, indiscutível.

Vejamos, através de um simples exemplo, a hipocrisia de tudo isto.

Existe uma organização católica muito poderosa reconhecida pelo Vaticano ao mais alto nível, concretamente, pelo Papa João Paulo II: a Opus Dei. Trata-se de uma organização que congrega gente muito rica – banqueiros, gestores, empresários, em suma, plutocratas em geral – cujo objectivo é serem bem sucedidos nos negócios, acumulando lucros e riquezas. Pergunta: será legítimo chamar-lhes «fariseus, hipócritas»? Reposta: parece que não! No entanto, bastará folhear os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, e reflectir sobre o que, às tantas, Jesus diz aos seus discípulos:
– «Filhos, quão difícil é para os que confiam nas riquezas, entrar no reino de Deus!

– «É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus!».
Mas este é apenas um dos muitos e flagrantes exemplos das contradições e hipocrisias que caracterizam a Igreja Católica.

1 de Março, 2016 Carlos Esperança

Falta de vigilância policial

  • Extremista islâmico veio ao Brasil aliciar jovens

    Xeique saudita, proibido de entrar em 30 países da Europa, esteve no país em janeiro

    por Jarbas Aragão

    Extremista islâmico veio ao Brasil aliciar jovensMuhammad al-Arifi (à direita) em visita a uma favela paulistana: discurso de ódio e milhões de seguidores na internet(VEJA.com/VEJA)

    Com as fronteiras “abertas” por causa das Olimpíadas no Rio de Janeiro, o Brasil recebeu a visita no mês de janeiro de um xeique saudita que está proibido de entrar em 30 países da Europa.

    Circulou na internet uma denúncia na época, mas havia pouca informação. Contudo, a revista VEJA divulgou esta semana fatos que comprovam que Muhammad al-Arifi, 45 anos, pregou a jovens e crianças muçulmanos em São Paulo, no Paraná e em Santa Catarina entre 18 e 28 de janeiro.

    Está comprovado que o Brasil não está fora do radar dos pregadores radicais. Considerado um dos jihadistas mais influentes do mundo, Al-Arifi é tratado na Europa como uma ameaça.

    Denunciado por organizações que defendem os direitos humanos, ele foi proibido de levar sua “mensagem de ódio” a todos os países signatários do Acordo Schengen, de livre trânsito entre as fronteiras.

29 de Fevereiro, 2016 Carlos Esperança

Onde está a blasfémia

Antes de publicar a minha opinião sobre o cartaz do Bloco de Esquerda, deixo hoje aqui a de Alfredo Barroso, político, jornalista e jurista:

«Sinceramente, não vejo onde está a «blasfémia» neste cartaz do Bloco de Esquerda. Tanto quanto se sabe, e está escrito na Bíblia, o carpinteiro José, marido de Maria, era pai de Jesus Cristo (o menino exposto nas palhinhas do Presépio, em Belém) embora seja dito que Maria, mulher de José, tenha concebido sem pecado (ou seja, sem que José a tenha fecundado num acto sexual).

Por outro lado, a Santíssima Trindade é constituída pelo Pai (sem dúvida Deus), o Filho (que só pode ser Jesus Cristo, que morreu pregado na cruz, isto é, crucificado) e o misterioso Espírito Santo (a quem muitos atribuem a responsabilidade pelo facto de Maria ter sido concebida sem pecado).

Assim sendo, Jesus poderá ter tido, não apenas dois mas três Pais: S. José, o Pai e o divino Espírito Santo. E venha agora alguém explicar-me onde é que está a «blasfémia» em toda esta encenação em torno da paternidade de Jesus…».