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18 de Maio, 2006 Carlos Esperança

Turquia – Um juiz morto em nome de Deus

Na sequência do artigo «Fundamentalismo islâmico na Turquia», da Palmira, face à gravidade e importância do crime, volto ao assunto.

O assassinato de um juiz turco por um crente exaltado é um sinal de alerta para os perigos que correm as sociedades democráticas.

Ao grito de «Deus é o maior», o facínora de Alá, fanatizado pelos sequazes do profeta Maomé, virou a sua sanha para os juizes do Supremo Tribunal Administrativo, ferindo vários, um deles mortalmente, movido pelo ódio aos que defendem um estado laico.

O juiz assassinado e outro ferido eram conhecidos pela coerência com que defendiam a laicidade. Eram autores da decisão, de acordo com a Constituição, que proibia o uso do véu islâmico nas universidades e na função pública.

A deriva fundamentalista que varre as religiões do livro, os ódios acumulados pelos dignitários eclesiásticos que vêem na secularização a perda de prestígio e influência, a falta de cultura e excesso de fanatismo que exalta os crentes, estão na origem de guerras cujo fim não se vislumbra.

A separação da Igreja e do Estado foi imposta por Mustafa Kemal Ataturk com inaudita violência e radicalismo que colide com as sociedades abertas e multiculturais europeias, mas foi o fundador da Turquia moderna onde a paz religiosa persiste graças à contenção do clero e à proibição pública dos símbolos religiosos.

Perante as investidas clericais, que atacam a democracia e o direito à liberdade religiosa (direito de ter ou não ter religião, de ser crente, agnóstico ou ateu), está criado um clima de terror a que é preciso pôr cobro.

Da Arábia Saudita ao Vaticano, da Al-qaeda ao Opus Dei, do protestantismo evangélico dos EUA à Igreja ortodoxa de Atenas ou de Moscovo, dos bispos espanhóis aos mullahs espalhados pelo mundo, é preciso uma vacina que proteja os cidadãos dos métodos que as religiões usam para conquistar o Paraíso. Essa vacina chama-se laicidade.

«Deus é o maior», mas não é de tiranos que a humanidade precisa.

18 de Maio, 2006 jvasco

Porque sou ateu

Deus pode existir ou não existir.
O Pai Natal pode existir ou não existir.
Em volta de Plutão pode orbitar uma lata de Ice Tea ou não orbitar.

Se Deus não existir, faz todo o sentido que o mundo seja como é.
Há algumas questões profundas cuja resposta não concebo (o mistério da criação) mas às quais a religião também não responde de forma satisfarória.
De resto, se não existisse Deus, como seria o mundo? Como é.
A natureza, regulada por leis indiferentes aos valores e à ética de consciências cheias de sentimentos, desenvolveria aspectos revoltos, harmoniosos, violentos, desenvolveria e destruiria equilíbrios. Na esmagadora maioria dos planetas não existiria vida, e naqueles em que existisse, ela estaria sujeita às leis da selecção natural.
Seria natural que existissem bactérias, fungos, parasitas de toda a espécie. Seria natural que existissem animais que comem os seus filhos; seria natural que existissem gigantescas guerras, uma luta violenta pela sobrevivência; seria natural a doença, a extinção de diversas espécies. Seria natural o carinho, o amor entre animais de consciência mais evoluída (como acontece entre muitos mamíferos e não só).
A aparecerem seres humanos, ou seres vivos similares, seria natural que conseguissem usar instrumentos, inventar a escrita, manipular o mundo em seu redor. Seria natural o altruísmo, o egoísmo, o Amor e a maldade. Seria natural a guerra, a arte, a literatura, o racismo, o ódio, a intolerância, a fome, a entre-ajuda, a Ciência.
E seria natural que surgissem vários mitos, várias religiões. Com crentes convencidos de que as restantes religiões estão erradas, sem se convencerem pelos alegados milagres destas últimas, reconhecendo facilmente a fraqueza de tais indícios.

Mas se Deus existisse… o mundo deveria ser muito diferente.
Imaginemos o Deus da mitologia cristã, por exemplo.
Como explicar que um Deus perfeito que tanto nos ama tenha criado o Inferno onde, segundo está escrito na Bíblia, a esmagadora mairia das pessoas vai sofrer terrivelmente por toda a eternidade? Como explicar que esse castigo é justo, quando nenhum crime merece tal pena?
Raios! Eu até sou contra a pena de morte! Mas consta que o sofrimento no Inferno é bem pior que qualquer tortura física (como as da inquisição…). O criador de tal justiça poderia ser um «Deus de Amor»?

Há crianças que morrem com muito sofrimento à nascença. Deus teria criado um mundo em que a sua experiência de vida foi um grito de dor. A razão das mortes, da doença, da velhice, teria sido a escolha de Adão. Bonita alegoria, essa que condena a humanidade por ter provado o fruto do conhecimento, é do mais obscurantista que pode haver. Mas continua imperceptível a culpa da criança. Essa «culpa colectiva» à luz de um ser perfeito e justo, faz algum sentido? E as catástrofes, terramotos e tsunamis, que matam milhares de ser criados à “imagem e semelhança de Deus”? Também são culpa do pecado que colectivamente cometemos? Que sentido é que isto faz?

Se Deus me deu liberdade para escolher entre o bem e o mal, gostaria que a minha escolha fosse devidamente informada. Que custaria a um ser omnipotente que nos amasse explicar a cada um de nós as consequências dos nossos actos? Mostrar-me o Inferno, e explicar-me com muita clareza o que é o mal.
Sim, porque se eu fosse a seguir os conselhos da Igreja, bem podia ter morto vários soldados árabes no sec XII… Se a Igreja falha porque «é humana» (como os escândalos de pedofilia nos EUA bem o provam), porque é que Deus, que alegamente nos ama tanto, se arrisca a que façamos o mal, pensando que estamos a fazer o bem? Se arrisca a que morram os tais soldados árabes do séc XII? Dá muito trabalho aparecer? Gasta algum combustível?

Imaginemos o trabalho dos missionários quando chegaram a África. Eles acreditavam que estavam a dar àquelas pessoas a oportunidade de se salvar? Que os seus ascendentes arderiam no Inferno porque tinham tido o «azar» de não terem tomado contacto com os missionários? Que um Deus justo procederia dessa forma?

A Bíblia é muito clara: só por Cristo se chega ao Céu. Mas conhecer Cristo é em grande parte uma questão de sorte, e cerca de metade da população mundial não tem essa oportunidade. Que Deus justo planifica as coisas desta forma? Há alguma justiça nisto? Porque é que Jesus não aparece aos Chineses e Indianos? Desde a vinda de Jesus, houve gerações, centenas de pessoas, que nem com missionários tiveram contacto. São menos que os outros? Não merecem o Paraíso? Que justiça é esta?

Não. A Santíssima Trindade não faz sentido. É um excelente exemplo de Duplipensar.

Se um Deus justo e cheio de Amor, o natural seria que a cadeia alimentar não funcionasse como funciona. Que os Leões não tivessem de provocar rotineiramente cruel e derradeiro sofrimento nas gazelas para poderem sobreviver.
O natural seria que as bactérias não existissem, e que a vida consciente não estivesse sujeita a doenças e sofrimento arbitrário.
O natural seria que ninguém sofresse injustamente.

O natural seria que os ateus não existissem. Deus teria encontrado forma de se revelar a todos.
Mas por azar, quando Deus «se dá ao trabalho» de pôr o Sol às voltas em Fátima, em frente a vários milhares de pessoas, esqueceu-se de permitir que as máquinas fotográficas registassem o fenómeno. E esqueceu-se de muitos dos que lá estavam, também, visto que grande parte dos presentes não viu nada, para já não falar no resto da humanidade para quem o Sol (é o mesmo!) ficou quieto no seu lugar. Tudo isto seria fácil de explicar se Deus não existisse…

O natural seria que não existissem várias religiões completamente análogas, todas com mensagens religiosas de ódio em relação às outras – este ódio mútuo, inscrito nos diversos livros sagrados, seria naturalíssimo se nenhum Deus existisse – e é o que acontece!

Enfim…
Se Deus não existisse, o natural seria que o mundo fosse como é.
Se Deus existisse, seria muito bizarro que o mundo fosse como é.
Mas o mundo é como é…

Voltarei a este tema.

17 de Maio, 2006 Carlos Esperança

O santo fundador do Opus Dei

Quando a catequese era obrigatória, sob pena de os pais dos meninos serem acoimados de comunistas, maçons ou judeus, com os riscos que representava, as minhas catequistas falavam-me de um Deus apocalíptico, vingativo e cruel, um indivíduo tenebroso e com grande poder, ansioso de nos enviar para o Inferno.

Os santos eram pessoas de bem que aguardavam séculos para que a santidade lhes fosse reconhecida e as virtudes divulgadas. O tempo abolia defeitos e ampliava as qualidades.

Era assim quando o fabrico de santos era artesanal e a ICAR pouco mais fazia do que apoiar a aclamação popular de pessoas lendárias que preenchiam o imaginário beato e supersticioso dos meios embrutecidos pela fé.

O fabrico industrial e a pressa de canonizar alguns biltres levou à paranóia dos milagres e à elevação aos altares de indivíduos pouco recomendáveis e com defeitos conhecidos.

Santo Escrivá é um caso de sucesso a obrar milagres e uma nódoa caída no pano da igreja romana. Falsificou o nome de José Maria para «Josemaria» e comprou um título nobiliárquico para fazer esquecer a ascendência e a falência paterna nos negócios.

O seu apoio a Franco é uma lástima para quem seguiu a carreira da santidade. O Deus de Escrivá era cruel e o devoto tinha o pio costume de usar um cílio, mortificar-se e salpicar as paredes da casa de banho com sangue. Aceito que merecesse o castigo mas fica a péssima impressão do sadismo do seu Deus e do masoquismo do apóstolo.

Na segunda metade da década de sessenta do século que foi, eram tantos os ministros de Franco, do Opus Dei, que os historiadores têm fundadas razões para pensar que a seita tentou conquistar o Estado espanhol – e quase o conseguiu.

Ruiz-Mateos admitiu ter dado cerca de 4 mil milhões de pesetas à Obra durante os 23 anos de vida da Rumasa, uma empresa (outra foi a Matesa) cuja falência protagonizou o maior escândalo financeiro de Espanha e chamuscou o Opus Dei.

Michele Sindona, um banqueiro com fortes ligações à Máfia, foi envenenado na prisão com uma chávena de café. Roberto Calvi, foi encontrado enforcado debaixo da Ponte de Blackfriers, em Londres. Ruiz-Mateus foi preso e abandonado. O arcebispo Marcinkus só não foi julgado pela justiça italiana porque JP2 o protegeu e impediu a extradição.

Estes e outros nomes estão presentes quando se fala da Obra do santo Escrivá.

17 de Maio, 2006 Palmira Silva

Fundamentalismo islâmico na Turquia

Um fanático islâmico semeou o pânico em Ankara, disparando contra os juízes do tribunal adminstrativo de mais alta instância da Turquia, o Conselho de Estado, ferindo 5 deles, dois em estado grave.

Um dos juízes feridos foi muito criticado pelas alas fundamentalistas deste país por ter decidido contra o uso do lenço islâmico por professoras do ensino público, alas conservadoras que incluem o actual primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan.

O assaltante gritou «Allahu akbar» (Deus é grande) enquanto disparava a sua arma sobre os juízes, e, de acordo com Tansel Colasan, que dirige o Conselho de Estado, gritou «Eu sou um soldado de Deus».

Os juízes atingidos pelo delírio religioso do fanático assaltante faziam parte da segunda câmara do tribunal, que trata de assuntos de Educação, e que tem sustentado a natureza secular do ensino turco não obstante a pressão dos fundamentalistas islâmicos.

17 de Maio, 2006 Palmira Silva

E mais censura católica

Artistas cariocas manifestaram-se contra a censura da obra «Desenhando em Terços», de Márcia X., falecida o ano passado, que integrava a exposição «Erotica – Os sentidos na arte», no Rio Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Os artistas usaram uma t-shirt com uma reprodução da obra de Márcia X. e com a frase «EducaAção/Censura Não».

De igual forma, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, relembrou a Constituição Brasileira, segundo a qual é «livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença» para declarar, em nota oficial enviada ao CCBB, que toda a censura é inaceitável e que esperava que o CCBB reconsiderasse sua decisão

Paulo Rogério Caffarelli, director de Marketing e Comunicação do BB, disse que o banco não pretende retirar qualquer outra peça da exposição, como pede uma acção do grupo católico Opus Christi, que quer a retirada de uma tela de Alfredo Nicolaiewsky em que São Jorge está ao lado de um homem com a mão na roupa interior.

A peça de Márcia X., que foi vista por 56 mil pessoas em São Paulo, foi retirada da exposição por pressão do dito grupo católico Opus Christi que possui 700 membros no Brasil. Isto é, 700 pessoas acham-se no direito de decidir o que os muitos milhões de brasileiros podem ou não ver. Enfim, tiveram uma ajudinha da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que ameaçou passarem os padres católicos a incluir a questão da obra de Márcia X nos seus sermões…

Contra qualquer tipo de fundamentalismo, neste caso católico, pode assinar aqui a petição, Censura Não.

16 de Maio, 2006 Carlos Esperança

Fundamentalismo judeu

Fonte: El País, 15-05-2006

Deus é uma droga perigosa.

16 de Maio, 2006 Ricardo Alves

Hirsi Ali abandona a Holanda,ou… Hirsi Ali abandonada pela Holanda?

A ateísta militante Ayaan Hirsi Ali demitiu-se do parlamento holandês e nunca terá tido a nacionalidade holandesa. Estes desenvolvimentos surpreendentes aconteceram na sequência da exibição na televisão holandesa, na quinta-feira, de um documentário que evidenciava que Hirsi Ali mentira quanto ao seu nome, idade e país de partida com o objectivo de obter asilo político. A ministra da imigração Rita Verdonk (que curiosamente se prepara para concorrer à liderança do seu partido) decidiu entre sábado e segunda-feira retirar a nacionalidade à sua mediática colega de bancada parlamentar, e acrescentou que a teria deportado se fosse ministra aquando da naturalização dela, em 1997.

A agora ex-deputada tornou-se famosa internacionalmente em 2004 como autora do guião do filme «Submissão», por causa do qual o realizador Theo Van Gogh foi assassinado por um fascista islâmico que deixou espetada no seu corpo, com uma navalha, uma carta ameaçando Hirsi Ali.

A vida desta rapariga de origem somali não tem sido propriamente fácil. Mutilada sexualmente na infância, foi educada numa escola wahabita na Arábia Saudita e doutrinada na mais extremista das versões do Islão (no seu livro, conta que quando viu um judeu pela primeira vez ficou espantada ao verificar que era um ser de carne e osso). Fugiu a um casamento forçado (alegadamente) e na Holanda trabalhou como empregada de limpeza e tradutora antes de se tornar colaboradora de um instituto próximo do Partido Trabalhista. Após o 11 de Setembro, radicalizou a sua crítica do islamismo e descobriu que a esquerda holandesa, imobilizada pelo «multiculturalismo», não aceitava a violência dos seus ataques ao Islão. As primeiras ameaças de morte chegaram nesta altura, por ela ter chamado «pedófilo» a Maomé. No ano seguinte, aderiu ao partido conservador holandês (VVD), que agora a abandona, acusando-a de ter «polarizado» o debate sobre o Islão. No dia 27 de Abril deste ano, um tribunal decidiu que tinha que abandonar o seu apartamento até Agosto porque era um alvo do terrorismo e portanto um perigo para os seus vizinhos.

Confesso que não sou um especialista em política holandesa, mas parece-me que Hirsi Ali foi usada e deitada fora pela direita que a acolhera. O facto de ter escolhido ir trabalhar num instituto neoconservador, o American Enterprise Institute, só mostra que continua encurralada. Entre uma esquerda «multiculturalista» que a acusa de estigmatizar os imigrantes, e uma direita anti-imigrantes que lhe dá voz mas que detesta o seu ateísmo militante.
16 de Maio, 2006 Palmira Silva

O Código da Vinci e as mulheres

O código da Vinci (trailer promocional aqui)

A estreia esta semana do filme baseado no livro de Dan Brown tem sido precedida por veementes protestos de praticamente todas as religiões institucionais, inclusive aquelas para as quais não é blasfémia a negação da virgindade do mitológico Cristo ou para as quais é indiferente a forma como a Opus Dei é retratada.

De facto, mesmo em países islâmicos o filme é polémico, tendo sido proibido em países inesperados como o Egipto, Jordânia e Líbano.

Esta proibição parece à primeira vista deveras estranha, já que não se percebe como o filme pode ser ofensivo ao islamismo. Especialmente considerando que para o islamismo, uma religião que teve a sua origem no cristianismo, o Cristo é apenas mais um profeta e, como os múltiplos casamentos de Maomé indicam, não há qualquer obrigação dos profetas serem celibatários. Assim como é obrigação dos crentes combater os «sistemas» de fé concorrentes, como pode ser apreciado neste texto de um site oficial do governo do Egipto ( o Supreme Council of Islamic affairs integra o Ministery of Awkaf).

Na realidade, a oposição ao filme por parte de cristãos e muçulmanos tem a ver simplesmente com o facto de que o livro levanta questões, essas sim blasfémias execradas por estas religiões misóginas, sobre o papel das mulheres nas respectivas religiões.

Uma das razões do sucesso do livro tem a ver exactamente com a recuperação do papel da «deusa», a «heresia» pagã que mais trabalho deu ao cristianismo erradicar dos territórios conquistados. Em boa parte através da fabricação do culto mariano…

Aproveitando o fascínio despoletado pelo livro de Dan Brown, a autora do livro «Faith and Feminism: A Holy Alliance», Helen LaKelly Hunt, organizou um site, HerCode.org, em que são abordadas e contestadas a misoginia e a discriminação das religiões instituídas em relação às mulheres.