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6 de Agosto, 2006 Palmira Silva

A crucificação de Madonna – actualização

Alguns dos nossos leitores informaram-me que a encenação da composição «Live to tell», em que Madonna aparece numa cruz de espelhos e com uma coroa de espinhos na cabeça, tem a finalidade de alertar os seus espectadores para as vítimas da SIDA em África. Na realidade, o objectivo de Madonna é angariar pelo menos 3 milhões de dólares para auxiliar os quase 1 milhão de orfãos da SIDA no Malawi. A cantora anunciou os seus planos numa entrevista à Time.

Considerando a posição criminosa da Igreja católica em relação ao preservativo, reiterada pelo actual Papa ainda no ano passado, quando recebeu os bispos africanos, acho francamente oportuna esta encenação de Madonna.

No Malawi, como nos restantes países africanos em que a Igreja detem uma influência não despicienda, e não obstante os apelos do governo local para que a Igreja reveja a sua posição em relação ao preservativo, os representantes do Vaticano continuam a opôr-se a qualquer programa de prevenção da SIDA que envolva preservativos.

6 de Agosto, 2006 Palmira Silva

A crucificação de Madonna


O deus etrusco Ixion crucificado
Prometeu acorrentado

A imprensa católica especialmente mas praticamente todas as agências noticiosas reproduzem a reacção da Igreja Católica ao espectáculo que Madonna leva hoje a Roma, a uns escassos metros do Vaticano. Durante o «Confessions Tour», há uma cena em que Madonna, usando uma coroa de espinhos, desce para o palco numa gigantesca e cintilante cruz de espelhos.

O Cardeal Ersilio Tonino ululou que a cena é «um acto de hostilidade aberta» enquanto o bispo Velasio De Paolis verberou que o espectáculo «representa os frutos podres da laicidade e do absurdo do mal».

Não se percebe muito bem porque razão a devota da Kabbalah, um ramo místico do judaismo, que afirma estar mais próxima de Deus desde o seu acidente no ano passado, é um fruto podre da laicidade. Só se o bispo se estiver a referir ao facto de que foi o advento da laicidade que impediu a perseguição e queima na fogueira de todos os que não seguissem escrupulosamente a «única» religião verdadeira.

É também a famigerada laicidade que impede que este perigo para a «verdadeira» fé, como o Vaticano descreveu a Kabbalah em 2004, seja erradicado. O facto de De Paolis considerar implicitamente a Kabbalah um fruto do mal é apenas expectável de uma Igreja que cada vez mais mostra as suas verdadeiras cores e cada vez mais dá mostras da rejeição do ecumenismo do concílio Vaticano II.

E mais uma vez, os representantes de todas as religiões do livro, que são incapazes de apelar à paz no conflito entre Israel e o líbano, uniram-se a uma só voz, desta vez contra a cantora e o seu uso «blasfemo» da simbologia da cruz.

Não percebo muito bem os fundamentos das estridentes objecções à utilização da cruz, introduzida na simbologia cristã pelo mitraista Constantino, um dos símbolos mais antigos e mais ubíquos que existem. Desde o Neolítico que a simbologia da cruz está presente em todas as mitologias jamais inventadas. Até Prometeu, o criador dos homens na mitologia grega, é representado nalgumas versões acorrentado a uma cruz, e não a uma rocha, no monte Cáucaso.

A cruz, e posteriormente o crucifixo, só aparece regularmente na arte cristã a partir do século V. E era vulgar em todo o mundo muitos séculos antes. Na realidade, o termo stauros, que aparece na Bíblia e foi traduzido como cruz, significa apenas estaca.

As cruzes solares, muito frequentes, representam o círculo do zodíaco (do grego zoidion que significa círculo animal) com uma cruz que marca as quatro estações. No centro era muitas vezes representado o Sol «crucificado». As cruzes eram assim comuns como representações da crucificação do Sol, simbolizando a passagem das estações e a sua ressureição no equinócio da Primavera (a Páscoa na mitologia cristã).

O sol e o deus Sol não são os únicos deuses encontrados crucificados em antigas cruzes. Muitas figuras de mitologias sortidas morreram na cruz e foram ressuscitados; desde Osiris e Hórus no Egipto, Krishna na India, Mitra na Pérsia, Quetazlcoatl no México, Hesus dos druidas, Attis na Frígia, etc.. Os paralelos entre as míticas vidas destes Messias pagãos com o que é descrito na Bíblia são inúmeros, e são apenas mais uma indicação que Cristo, tal como os seus antecessores, é apenas mais uma figura mítica.

Nomeadamente, inúmeras figuras da mitologia pré-cristã «nasceram», de mães «virgens», pouco depois do solstício de Inverno, mais ou menos a 25 de Dezembro. O Natal cristão é apenas mais um ritual pagão recuperado que festeja o solstício do Inverno e o «nascimento» do Sol.

5 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Os criacionistas, Epicurus e a mecânica quântica

«O Mundo como o conhecemos foi criado por uma colisão fortuita de átomos»
Titus Lucretius Carus, De Rerum Natura (Da Natureza das Coisas), Livro V

A refutação de dados científicos pelos criacionistas da Terra jovem são hilariantes de tão cretinos. Por exemplo, pretendem que todos os métodos de datação que indicam muitos milhões de anos para a idade da Terra, são falíveis já que assentam em pressupostos errados, isto é, não são assentes nas Escrituras.

Mas a estrela da cretinice diz respeito à mecânica quântica que parece exercer um fascínio especial nos criacionistas. Uns pretendem que o desvio para o vermelho é um «efeito quântico»*, logo não prova que o Universo está em expansão – isto é, o Universo mantem-se tal qual a impossibilidade lógica Deus o criou. Este «efeito quântico» sempre tem um certo ar científico, no «Criation World View» pretendem que, à luz da 2ª lei da Termodinâmica, que segundo eles diz que todas as «coisas» se degradam espontaneamente com o tempo -o enunciado desta lei mais imbecil que já vi – então a luz degradou-se, isto é, «cansou-se» nos 6 000 anos que distam da criação o que se traduz numa diminuição da sua frequência e aos ateus cientistas parece um desvio para o vermelho!

ainda outros, que sem perceberem raspas do que é a mecânica quântica, tentam de certa forma – e divertida, rebolei-me a rir entre outras com a parte «mistério envolve estes passos computacionais» – conciliar a mecânica quântica com religião (embora afirmando que muitos cientistas não acreditam na «coisa», o que é completamente falso).

Mas a «ciência» criacionista mais hilariante pode ser encontrada no Common Sense Science, um site criacionista, consequentemente sem alguma ciência, devotado a combater a mecânica quântica e a relatividade geral. E especialmente devotado a combater (artigo em pdf) um filósofo morto há 2 500 anos, Epicurus, e o seu principal divulgador, Lucretius, que morreu há 2100 anos. Epicurus, e não Darwin, é por eles considerado, correctamente, o pai do evolucionismo.

Epicurus foi o primeiro filósofo ateísta de que há registo histórico, na minha opinião o pensador mais brilhante da História. Foi a redescoberta da sua obra na Renascença, transcrita em poema por Lucretius, que permitiu a génese e desenvolvimento do actual pensamento científico, ético e humanista. O ódio a Epicurus e a perseguição dos epicuristas é uma constante da História do cristianismo. Até Pierre Gassendi o ter cristianizado, professar sequer o atomismo – que deixa pouca ou nenhuma margem para a intervenção divina e nega a transmutação do pão e do vinho no corpo e sangue do mítico Cristo durante o ritual canibalístico cristão – era equivalente a uma sentença de morte às mãos da Inquisição.

Para os 5 devotos cristãos sem resquício de senso comum a mecânica quântica é anti-ciência e anti-biblíca. Consideram que o atomismo «é incompatível com os princípios judaico-cristãos porque o atomismo apresenta a matéria independente de Deus, seja porque existe por toda a eternidade e nega a criação por um Desenhador Inteligente seja porque os seus movimentos e acontecimentos são independentes do controle por um Ser Soberano».

Assim, os pseudo-cientistas, que apenas publicam em algo chamado Creationist Research Society Quarterly – que descrevem como uma revista «científica» com referees (!!)- vendem disparates tais como tudo é electromagnetismo, incluindo a gravidade, e as forças nucleares (forte e fraca) são invenções ateístas, ou seja, ignoram toda a ciência do século XX, ficando-se por pouco mais que as equações de Maxwell.

Propõem uma «teoria» unificada de inspiração biblíca, puramente electromagnética, que reverte para anacronismos como o modelo atómico de Bohr (artigo em pdf) e a existência do éter (até Einstein – tirando Epicurus, claro – pensava-se que as ondas electromagnéticas precisavam de um meio para se propagar e assim o espaço interestelar teria de ser preenchido por um material invisível a que se chamava éter).

Este artigo é especialmente hilariante (em formato pdf), já que apresenta um modelo «bíblico» das partículas elementares que de uma penada «arruma» a teoria de cordas, a mecânica quântica e a relatividade geral (perfeitamente desnecessárias e uma invenção ateísta).

A idade do Universo, que os ateus cientistas, só para contrariar a palavra de Deus e a «verdade absoluta» das Escrituras, estão sempre a propor mais velho, é o ponto fulcral para os criacionistas da Terra jovem. Os argumentos «científicos» que apoiam a hipótese que a Terra tem apenas 6 000 anos são ainda hoje fornecidos pelo «trabalho» de Thomas G. Barnes, um dos «cientistas» sem senso comum. Barnes concluiu em 1971, com base, mais uma vez, em ciência do século XIX – que mesmo assim deturpa -, que a idade da Terra é inferior a 25 000 anos. Os disparates de Barnes sobre o campo magnético da Terra, em que assenta a sua conclusão, são magistralmente desmontados aqui.

* Na realidade a mecânica quântica diz-nos que os electrões de uma determinada espécie química só podem assumir valores discretos de energia, quantificados. O chamado estado fundamental electrónico dessa espécie corresponde ao estado de menor energia ao qual ela regressa quando excitada para estados de maior energia. A relaxação para o estado fundamental pode ser acompanhada por emissão de luz de energia igual à diferença de energia entre os estados envolvidos.

Assim, o espectro de emissão de um átomo ou de uma molécula, os comprimentos de onda, λ, emitidos pela espécie, é uma espécie de código de barras que a identifica inequivocamente, como este esquema indica. Tal como o som de um carro que se aproxima é mais agudo (menor λ) que quando se afasta (maior λ), o espectro da luz recebida de uma fonte apresenta um desvio para o vermelho quando esta se afasta (maior λ) ou desvio para o azul (quando se aproxima, menor λ) como esquematizado aqui. Como a luz recebida das estrelas apresenta um desvio para o vermelho concluiu-se que o Universo está em expansão!

5 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Criacionismo puro e duro

Adão, Eva, a serpente e a árvore do conhecimento. Foi a dentadinha no seu fruto a origem da «Queda». O conhecimento, para os cristãos fundamentalistas, é assim a origem de todos os males, que eles evitam como ao Demo.

Enquanto a IDiotia ou neo criacionismo tenta disfarçar os seus propósitos religiosos sob uma capa de pseudo ciência – que poderá convencer apenas os mais ignorantes (ou os mais fanáticos) – os criacionistas puros e duros pelo menos são mais honestos intelectualmente. De facto, não só assumem abertamente o seu cristianismo (jurássico) como não escondem o seu desprezo pela ciência que «que está a virar inúmeras mentes contra o evangelho de Cristo e a autoridade das Escrituras».

Embora me divirta com as cretinices que debitam, merecem-me algum respeito pessoal estes criacionistas que pelo menos são sinceros na sua ignorância, coerentes com aquilo em que acreditam e não embarcam nas jogadas de pura desonestidade moral e intelectual dos IDiotas. Aquilo que me irrita profundamente é a desonestidade intelectual, são os malabarismos retóricos daqueles que deliberadamente manipulam e deturpam factos (científicos ou históricos) de forma a impingir de forma desonesta a sua mundivisão religiosa (e institucional, no caso dos revisionistas históricos em nome da ICAR) aos restantes.

Voltando aos criacionistas puros e duros, nomeadamente os da terra jovem, fui informada por um dos nossos leitores que o Museu do Disparate está quase pronto e abrirá as portas ao público, como previsto, em 2007. O Museu, como o seu fundador, Ken Ham, afirma não engana ninguém: «A Bíblia é a palavra de Deus, a sua história é realmente verdade, esses são os nossos pressupostos ou os nossos axiomas».

Importa recordar que, embora intelectuamente mais honestos, estes criacionistas são tão intolerantes e totalitários como os restantes fundamentalistas. Assim, neste Museu são exibidos os habituais preconceitos cristãos, que estes se acham no direito de impor a todos, nomeadamente uma das exibições culpa os homossexuais pelo flagelo da SIDA (Ken Ham no seu site Answers in Genesis atribui ainda a tragédia no liceu de Columbine ao ensino da evolução) . As tragédias da humanidade, como doenças e fome, são atribuídas aos pecados da humanidade.

Mas sobretudo poder-se-ão apreciar neste museu os disparates sortidos da criação segundo o Genesis, incluindo terem a Terra e o Universo sido criados em seis dias há cerca de 6 000 anos, a asseveração que todos os animais existentes (incluindo os dinossauros) foram criados simultaneamente e passaram por uma temporada na arca de Noé sendo o registo fóssil, «mal» interpretado pelos ateus evolucionistas, consequência do dilúvio.

4 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Apocalipse now – o papel de Israel


A proximidade de Ahmadinejad à Hojjatieh Society, para além das fontes iranianas, tem sido referida na imprensa internacional, do Washington Times ao Christian Science Monitor. Proximidade confirmada desde a sua eleição pelo discurso e acções de Ahmadinejad.

Assim, para além de um escalar da opressão dos baha’i e sunitas no Irão, do investimento de milhões de dólares na preparação da capital para a vinda do messias (em 2004, quando ainda era presidente da câmara de Teerão) Ahmadinejad financiou um Instituto dedicado a estudar e antecipar a chegada do Mahdi. «Este tipo de mentalidade é fortalecedor», observa Amir Mohebian, editor de política do jornal Resalat. «Se eu acredito que o Mahdi virá em dois, três ou quatro anos, por que deveria agir com moderação? Agora é o momento de ser firme, inflexível.»

Enquanto os apocaliptícos cristãos americanos debatem se é necessária a destruição de Damasco antes do Arrebatamento, o presidente iraniano não tem dúvidas: a destruição de Israel anunciará a vinda do Messias. Algo que ele espera acontecer num prazo de dois anos. E de facto praticamente desde que tomou posse Ahmadinejab clama pela erradicação de Israel.

Ontem, numa reunião de emergência da Organização da Conferência Islâmica em Kuala Lumpur, Malásia, Mahmoud Ahmadinejad afirmou que a solução para a crise seria limpar Israel do mapa.

Que o presidente do Irão aguarda ansiosamente a volta de Mahdi é evidenciado ainda pelo seu discurso na ONU em Setembro do ano passado, encerrado com uma prece pela antecipação do evento: «Oh Senhor Todo-Poderoso, eu vos peço que antecipeis a chegada do vosso último enviado, o Prometido, o ser humano puro e perfeito, o que trará justiça e paz a este mundo.»

Posteriormente Ahmadinejad recordou o efeito de seu discurso na ONU:

«alguém do nosso grupo contou-me que, quando comecei a dizer ‘em nome de Deus, o Todo-Poderoso e Clemente’, ele viu que uma luz me rodeava, e eu estava no meio dela. Eu também a senti. Senti a atmosfera mudar de repente e, por esses 27 ou 28 minutos, os líderes mundiais nem pestanejaram. (…) E eles ficaram extasiados. Foi como se uma mão os prendesse nos seus lugares e lhes mantivesse os olhos abertos para receberem a mensagem da República Islâmica».

Diria que o presidente iraniano confundiu choque com êxtase mas o que ressalta desta e outras intervenções de Ahmadinejad é a fixação apocalíptica que este denota. O que preocupa muitos iranianos que não apreciam que «o seu novo presidente não tenha receio de causar um tumulto internacional, que o considere simplesmente um sinal de Deus».

Em relação ao conflito sem fim anunciado entre Israel e o Líbanoem que muitos analistas vêem a mão do Irão – se por um lado temos um devoto cristão a apoiar Israel, por outro temos um igualmente devoto islâmico a apoiar o Hezbollah. Ambos convictos da iminência do Apocalipse e do papel fulcral de Israel na respectiva superstição mitológica!

Termino com uma citação de Ingersoll:

«Eu não quero a destruição da teologia. Eu quero evitar que a teologia destrua este mundo»

4 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Apocalipse now – versão islâmica

Os quatro cavaleiros do Apocalipse de Albrecht Dürer

Via outro blog ateísta americano fiquei a saber não só que existe uma versão islâmica do Apocalipse como o actual presidente do Irão, Mahmoud Ahmadinejad, é um crente fervoroso na proximidade do Yawm al-Qiyamah, o dia do Juízo Final.

O dito juízo final, quando os crentes serão ressuscitados e os infiéis enviados para as profundas do Inferno, é precedido pelo Armagedão e pela volta do messias, Mahdi – para os shiitas o décimo segundo iman, uma espécie de D. Sebastião em animação suspensa, ou antes, ocultação divina, desde finais do século IX.

O Mahdi derrotará Dajjal (o anti-cristo) e estabelecerá o império de Allah na Terra. Uma versão decalcada da escatologia cristã, a única diferença, para além da identidade do messias e da versão das religiões do livro que dominará a Terra, reside em quem são os «justos» que serão arrebatados e quais os infiéis castigados.

Assim, para além dos fanáticos cristãos que rejubilam com o actual conflito entre Israel e o Líbano, temos ainda outros fanáticos apocalípticos do livro que o enunciam igualmente como augúrio vaticinado da volta do respectivo Messias.

De facto, no shiismo radical, a crença na vinda do Mahdi tornou-se um dos aspectos centrais da fé, tendo o termo Mahdaviat, «a crença e o esforço de preparação para a chegada do Mahdi», assumido proporções inimagináveis há uns escassos anos. Especialmente nos membros da Hojjatieh Society que pretendem dar uma ajudadinha a Allah no estabelecimento das condições propícias ao regresso do Mahdi.

A Hojjatieh, Hojatiyeh ou Hojatiyeh Mahdaviyeh Society, antes da revolução islâmica a Anjuman-í-Tablighat-í-Islami, acredita que o regresso do 12º imam pode ser apressado pela «criação do caos na Terra».

Fundada em 1953 essencialmente para combater os Baha’i no Irão [para os Baha’i, Mahdi é Báb o percursor de Baha’u’llah, o fundador desta variante do islamismo] esta sociedade foi banida no Irão nos primórdios da Revolução Islâmica, em 1983.

Embora a sociedade permaneça semi-clandestina, Ahmadinejad tem deixado claro o seu imenso respeito pelo Ayatollah Mohammad Taghi Mesbah-Yazdi, ligado à escola teológica Haqqani, uma escola Hojjatieh em Qom. De igual forma, desde que tomou posse praticamente todos os seus discursos estão recheados de referências à volta do 12º iman.

(continua)


4 de Agosto, 2006 Carlos Esperança

Considerações sobre o «sagrado»

O sagrado é um estado de espírito em relação a uma ideia, pessoa, mito ou sistema.

A tentativa de proteger o sagrado através da censura é uma obsessão recorrente do Papa que, de sapatinhos vermelhos e camauro, dirige um exército imenso de freiras, padres, monsenhores, bispos, cardeais, núncios apostólicos e vassalos laicos, através do mundo.

O objectivo é comum aos dignitários de todas as religiões e chefes de partidos políticos que se julgam detentores da verdade única. Quando conseguem, é o poder totalitário que instalam.

O sagrado de uns é blasfémia para outros. Quando os islamitas apedrejam o diabo em Meca são um bando de dementes para outros. Os cristãos, ao celebrarem a eucaristia, são infiéis capazes de beber vinho que, como é sabido, provoca um acesso de raiva e descontrolo a Maomé.

O próprio toucinho é motivo de rivalidades teológicas e ódios mortais, tal é a demência da fé e a perturbação dos crentes.

Há quem tenha crenças profundas em Jesus, Maomé ou Jeová tal como outros adoram Mao, Estaline ou Hitler. «Cada doido com sua mania» – como diz o adágio.

Imagine-se a sociedade repressiva que se criava se o direito à blasfémia – a ofensa a tais criaturas -, fosse proibido. Se o direito de vexar, condenar ou satirizar figuras históricas, sinistras ou excelsas, fosse postergado, apareceriam, ditaduras de geometria variável e contornos impossíveis de definir.

Se é assim para pessoas reais ou prováveis, imagine-se a condenação de alguém por ter difamado o Pai Natal ou posto em causa a sua virtude ou existência! A Pantera Cor-de-rosa, Deus e o menino Jesus gozariam de protecção contra qualquer crítica ou zombaria.

Há na alma dos crentes uma vocação totalitária que é preciso combater com o laicismo.

4 de Agosto, 2006 Palmira Silva

De anjos e outras tretas

Ainda ontem escrevi que os IDiotas não produziram um único modelo, uma única hipótese para a sua suposta teoria «científica», que reclamam nada ter a ver com religião e rebate completamente o «ateísta» (e para alguns satânico) evolucionismo. Na realidade tenho de fazer uma retractação: via o blog Pharyngula descobri que afinal existe um modelo completamente IDiota, da autoria de Robert Newman.

O autor deste modelo genuina e absolutamente IDiota colaborou com William Dembski, Michael Behe, Philip Johnson e congéneres no livro «Mere Creation: Science, Faith & Intelligent Design». É ainda co-autor de «What’s Darwin Got to Do with It?: A Friendly Conversation about Evolution» um livro de banda desenhada que pretende introduzir os conceitos (?) da IDiotia aos mais jovens. Ou seja, é um reputado ideólogo do desenho inteligente.

Não obstante pertencer ao multi-oxímero Instituto de Investigação Bíblica Interdisciplinar, Robert Newman pretende ser, como todos os IDiotas, um proponente «científico» e não teológico da IDiotia. Aliás, escreveu um artigo hilariante, sobre má ciência, que recomendo e do qual transcrevo o significativo resumo:

«Devido à tensão que se desenvolveu entre as comunidades científica e evangélica no último século e meio, os crentes na Bíblia têm muitas vezes (com ou sem razão) suspeitas acerca das descobertas e teorização da ciência moderna. Isto levou a uma atracção bastante generalizada por teorias que são vistas como tretas por cientistas e outras pessoas cultas. Neste artigo são discutidos alguns exemplos e propostas estratégias que protejam os cristãos de parecerem desnecessariamente cretinos aos olhos do mundo».

Apesar de ser louvável o seu reconhecimento no anterior artigo do ridículo em que incorrem os cristãos que acreditam literalmente na Bíblia, infelizmente Newman não segue o seu próprio conselho e elabora o modelo mais cretino de explicação da origem e evolução das espécies de que já ouvi falar.

Num artigo francamente hilariante e imperdível o autor elabora sobre IDiotia e um facto «científico» que tem sido descurado pelos ateus cientistas na explicação do mundo: a acção dos anjos e outras tretas, que por outro lado, tem como objectivo explicar o «mau desenho» de algumas espécies, nomeadamente parasitas, vírus e outros agentes do mal, que segundo o autor foram «desenhados» por Satanás e seus acólitos.

O artigo, intitulado «Using ID to Detect Malevolent Spiritual Agents», discute o tema anjos (o que inclui os «caídos») como explicado pelo resumo:

«Desde 1900, a maioria das discussões sobre a acção de Deus na natureza ignora a actividade angélica, talvez em reacção à História da Guerra da Ciência com a Teologia na Cristandade de Andrew Dickson White [finais do século XIX e leitura recomendada]. Neste artigo olhamos com uma perspectiva diferente para os dados bíblicos sobre anjos e depois consideramos que dados científicos podem ser relevantes [?] à luz do recente interesse no desenho inteligente».

O artigo desenvolve-se com base nas seguintes premissas:

(1) Os antigos que acreditavam serem os anjos os responsáveis por fenómenos como a meteorologia, doenças e insanidade mental estavam errados [uau!];
(2) Mas igualmente errados estão os modernos que acreditam que os anjos são ou seres mitológicos ou incapazes de produzir efeitos no mundo natural;
(3) Na realidade, os anjos existem e são capazes de, e fazem-no de facto, interagir com a natureza.

Mas como então «podemos encontrar evidência científica para a actividade angélica? A nossa proposta é que a actividade angélica não se assemelha às leis naturais, que operam continuamente. Na realidade, é mais como a actividade humana, que é esporádica. Mas temos a complicação adicional de não podermos ver os actores».

Dada esta complicação adicional de agentes invísiveis o autor propõe-se usar na pesquisa da actividade angélica a metodologia proposta por William Dembski para a «detecção» do desenho inteligente (igualmente de autores invísiveis e indetectáveis).

Mas «As acções dos anjos bons podem ser facilmente confundidas com aquelas de Deus, excepto que a qualidade pode não chegar aos padrões divinos [isto é, trabalho rasca é da autoria dos anjos, não de Deus]. E o desenho que nos pareça ser malevolente pode ser o trabalho de seres pecadores acima do nosso nível – anjos caídos, demónios ou Satanás.»

Para explicar o «desenho malevolente» encontrado em muitas espécies o «cientista» elabora sobre a predação, afirmando «como eu leio o registro geológico a predação estende-se até ao período câmbrico» o que permite concluir que «a queda de Satanás é muito anterior à de Adão e a criação já não era tão boa na altura em que Adão é criado». Simplesmente delicioso!

Mas há inúmeras pérolas no indispensável artigo, alguns dados quantitativos sobre quantos porcos podem ser possuídos simultaneamente por um demónio (com base nos dados científicos da Bíblia, claro), asserções sobre os vírus HIV e Ebola (desenhados pelo Demo, como seria de esperar) e algumas dúvidas sobre a malevolência no desenho de alguns insectos.

Enfim, um mimo da superstição e obscurantismo cristãos!

3 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Cristianovitimização IDiota

Como já referi, inúmeras vezes, o neo-criacionismo ou desenho inteligente é simplesmente uma nova forma, menos acéfala, de introduzir o criacionismo bíblico nas salas de aulas de ciência. Não obstante o cuidado que os IDiotas têm em não referir Deus, apenas um misterioso «designer», e em expurgar qualquer citação bíblica dos seus textos, é óbvio que a «guerra» em que estão envolvidos é a mesma dos criacionistas puros e duros, aqueles para os quais «A evidência final e conclusiva contra a evolução é o facto de a Bíblia a negar. A Bíblia é a Palavra de Deus, absolutamente inerrante e verbalmente inspirada.»

Quando se fala em IDiotia fala-se inevitavelmente nas bacoradas publicadas (em livro e em editoras não científicas, claro) por Phillip Johnson, William Dembski, Michael Behe e Stephen Meyer. Bacoradas que obviamente não são aceites por quem de direito, a comunidade científica, porque são apenas isso, bacoradas. Não há uma única hipótese IDiota, um único modelo, que possa ser falsificável ou investigado de forma científica. Só há um afirmar inconsubstanciado de que tem de existir um «criador».

Isto é, como Philip Jonhson, autor do livro «Darwin on Trial», um dos «pais» da IDiotia e o seu porta-voz não oficial, deixou muito claro numa entrevista, o objectivo da IDiotia é vender o criacionismo (mal)disfarçado de «teoria» científica.

E, como o próprio afirmou, a polémica em relação à evolução «Não é de facto, nem nunca foi, um debate sobre ciência. Apenas sobre religião e filosofia».

De facto, ciência e a IDiotia são diametralmente opostas, não se vislumbrando na IDiotia qualquer resquício científico que contamine a pureza do pensamento cristão dos seus proponentes; sequer qualquer resquício da honestidade intelectual indispensável ao pensamento científico. Aliás, os IDiotas não produziram um único modelo – ou artigo científico – sobre o que pretendem ser uma «alternativa» científica á teoria da evolução biológica.

Tudo o que os IDiotas se limitam a debitar são protestos de que o mundo biológico é demasiado complexo para ter evoluído e como tal é necessário postular um criador. E, claro, debitam estridentemente lamúrias de cristianovitimização em que carpem supostas teorias da conspiração urdidas pelos «satânicos» darwinistas para impedir o progresso teológico científico da «teoria».

Um bom exemplo de cristianovitimização é a carpição ululante (e pouco credível) de Dembski, que ulula no seu blog contra os «fascistas» darwinistas que o pressionam tanto (?) que o pobre Dembski em 5 (cinco) anos de sabática da sua posição no Center for Science and Theology do Southern Baptist Theological Seminary não conseguiu produzir um único artigo, um único modelo, enfim, nada tirando vacuidades IDiotas.

Ou seja, para o devoto cristão, a única razão porque a IDiotia continua a ser de facto idiota e escarnecida como tal por todos os cientistas, a única razão porque os IDiotas não publicam em revistas científicas é devido não à má qualidade do que debitam mas… aos «fascistas» darwinistas! Santa petulância!

3 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Mistificações cristãs

Ao ler os meus blogs americanos favoritos, essencialmente blogs de ciência escritos, como seria previsível, por cientistas ateus, nomeadamente o Panda Thumb e os blogs constantes da rede Scienceblogs, que agora inclui os Despachos das guerras culturais de Ed Brayton e o excelente Pharyngula, descubro que afinal a desonestidade intelectual que alguns comentadores demonstram nas nossas caixas de comentários não é apanágio dos fundamentalistas católicos nacionais.

De facto, PZ Myers, professor associado na Universidade de Minnesotta e autor do Pharyngula, comenta que não só o seu nome foi usado por um devoto cristão para conspurcar os comentários do blog de outro ateu americano (uma táctica recorrente no nosso espaço de debate) como, outra estratégia católica muito nossa conhecida, um blogger cristão pretendeu ser ateísta – e um ateísta supostamente com dois doutoramentos, um por Oxford e outro por Cambridge (!) – e criou um blog para classificar os muitos blogs ateus americanos num ranking de bons, maus e horríveis.

Ou seja, num deja vu para os nossos leitores habituais, que lêem frequentemente críticas dos pretensos ateístas, que se apresentam como intelectualmente superiores a qualquer dos humildes escribas do DA, e as suas «sugestões» sobre os tópicos que deveríamos escrever, o dito cristão pretende distinguir o «bom» ateísmo, isto é aquele que não é incómodo para a mitologia cristã, do «mau» ateísmo – aquele que o é.

Claro que as «inspiradas» e mui cristãs estratégias não surtem o efeito desejado. Do outro lado do Atlântico como cá as desonestidades cristãs são rapidamente desmascaradas. Mas não deixa de ser mistificante como aqueles que pretendem ser os detentores da «moral absoluta» recorrem a tácticas tão baixas (e pueris) para desacreditar os «relativistas morais» ateus! E a necessidade que evidenciam do recurso a falácias Argumentum ad Verecundiam (Apelo à autoridade) na tentativa de negar o que os ateus escrevem…