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24 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Direitos na mulher no Paquistão

Siraju-ul-Haq, um dos membros mais proeminentes da aliança Muttahida Majlis-e-Amal, MMA, constituida por 6 partidos religiosos, acusou o governo do seu país de «seguir uma agenda ocidental para secularizar o Paquistão».

A medida execrada como «secularização» pelos fundamentalistas islâmicos pretende alterar legislação de 1979, a «Hudood Ordinance», que inclui a disposição em relação à Zina (ofensas sexuais). O governo pretende que as «ofensas» ao Islão cometidas por mulheres sejam não só passíveis de fiança (isto é, que as mulheres não apodreçam nas prisões até a lenta justiça paquistanesa se mover) como tornar mais fácil às vítimas a prova em crimes como a violação. Em resumo, o governo paquistanês pretende cometer a blasfémia inadmíssivel de conceder alguns direitos às mulheres.

O termo «hudood», plural de hadd, refere-se a punições «islâmicas», isto é mencionadas no Corão, para crimes como adultério e fornicação, assim como para o consumo de álcool e roubo. Todos os casos hadd requerem condições muito específicas para que a acusação ou defesa seja confirmada. No caso da zina, é estritamente necessário o testemunho de 4 piedosos islâmicos do sexo masculino.

Isto é, na prática uma mulher paquistanesa violada não só vê o seu agressor impune – se este for muçulmano, claro – como na maioria dos casos se arrisca a pelo menos um tempo indeterminado de prisão «preventiva» por «fornicação» se denunciar o caso. Como Hasina e Sumera Mai, duas irmãs de 16 e 14 anos, violadas por 5 homens, que se arriscam a ir para a prisão, uma vez que o seus testemunhos não contam e não têm os 4 devotos necessários para confirmar a violação.

Quando a lei foi implementada em 1979 o número de mulheres nas prisões paquistanesas era de 70. Na década seguinte inúmeras mulheres foram chicoteadas ou condenadas a penas de morte por apedrejamento, felizmente uma pequena percentagem das dezenas de milhares acusadas, como Jehan Mina, de 13 anos, grávida na sequência de violação, que foi condenada a 100 chicotadas pelo «crime». A sentença foi alterada para 15 chicotadas dada a tenra idade da «criminosa».

Actualmente das cerca de 6000 mulheres nas prisões paquistanesas, 4621 aguardam julgamento por violações da «hudood», das quais 1300 podem sair sob fiança se a proposta do governo de Pervez Musharraf for aprovada.

O que não é certo dada a oposição dos partidos religiosos, que consideram reconhecer quaisquer direitos à mulher uma abominação anti-islâmica!

23 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Ratzinger despede o evolucionista George Coyne

O jesuíta George Coyne, director do observatório do Vaticano, foi demitido por Bento XVI que o substitui no seu posto pelo argentino Jose Funes.

A demissão de Coyne, um cientista de facto, era algo que eu já esperava há quasi um ano. Mais concretamente desde as primeiras posições públicas de Coyne sobre o Desenho Inteligente coincidentes com a sua dissensão com o bispo de Viena. De facto, Coyne foi muito vocal contra as declarações do bispo Christoph Schönborn. Schönborn, que não só se doutorou com Ratzinger como fez um post-doc com ele, um dos autores do actual catecismo e uma figura muito influente na hierarquia católica, afirmou num artigo no New York Times que a teoria da evolução não é compatível com o catolicismo. Artigo imediatamente contestado por Coyne.

A notícia vem a lume umas escassas duas semanas antes do seminário que Bento XVI conduzirá em Castel Gandolfo, devotado a examinar a teoria da evolução e o seu impacto no catolicismo. O seminário é a última edição do Schulerkreis, um encontro anual de Ratzinger com os seus ex-alunos de doutoramento. Christoph Schönborn não só fará parte do encontro como será um dos principais oradores…

Não é muito complicado prever o que vai sair do seminário… um retorno ao dogmatismo anti-científico e obscurantista indispensável para a recuperação do integrismo católico. Agora sem contestação interna já que a voz mais vocal contra a IDiotia foi silenciada.

Bruce Chapman, o director do Discovery Institute, já manifestou publicamente o seu júbilo pela decisão papal!

23 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Bush sobre a guerra no Iraque

Um excerto elucidativo de Bush sobre a guerra do Iraque (e sem tradução, as… er… peculiariedades linguísticas de Bush tornam a tradução complicada)

BUSH:You know, I’ve heard this theory about, you know, everything was just fine until we arrived [in Iraq] and … you know, the stir-up-the-hornet’s- nest theory. It just doesn’t hold water, as far as I’m concerned.

The terrorists attacked us and killed 3,000 of our citizens before we started the freedom agenda in the Middle East. They were …

QUESTION: What did Iraqi have to do with that?
BUSH: What did Iraq have to do with what?

QUESTION: The attacks upon the World Trade Center.

BUSH: Nothing. . . . .Except for it’s part of …. and nobody’s ever suggested in this administration that Saddam Hussein ordered the attack. Iraq was a …. Iraq …. the lesson of September the 11th is: Take threats before they fully materialize,

Ou seja, o Iraque foi invadido porque não tinha armas de destruição massiva nem qualquer ligação ao 11 de Setembro. Mas certamente em obediência ao desígnio «divino»! É interessante comparar estas declarações do Presidente sobre o Iraque com as certezas num passado não muito distante da administração Bush, nomeadamente de Dick Cheney, Condoleezza Rice e do próprio Bush sobre o envolvimento do Iraque no 11 de Setembro…

A não perder igualmente Jon Stewart sobre Bush e a política externa americana no Médio Oriente!

23 de Agosto, 2006 Palmira Silva

É Bush um idiota?


Joe Scarborough, um republicano que foi membro do Congresso norte-americano, agora analista político na MSNBC, isto é, dificilmente classificado como um «liberal» esquerdista, devotou 10 minutos do seu programa «Scarborough Country» na semana passada a tentar responder à pergunta difícil «É Bush um idiota?».

Uma colagem de alguns «bushismos» foi a base de Scarborough para discutir com os convidados John Fund e Lawrence O’Donnell Jr. se Bush, já classificado como o pior presidente da História, o cristão devoto que afirma ser Jesus Cristo o seu «filósofo» favorito, é suficientemente inteligente para ser Presidente. A resposta é óbvia, mas vale a pena assistir a estes 10 minutos!

23 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Misoginia cristã em acção

A First Baptist Church em Watertown, New York, uma igreja que resolveu seguir à letra o livro «sagrado», despediu uma catequista, Mary Lambert, que lá ensinava há 54 anos, com base no facto de… ser mulher.

De facto, na carta que acompanhava o despedimento o reverendo Timothy LaBouf explicava a sua decisão com base na interpretação literal da Bíblia que proibe que uma mulher ensine um homem. Mais concretamente, a carta continha uma citação da 1ª epístola de Paulo a Timóteo que diz:

«Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o homem, mas que esteja em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão».

Em pleno século XXI, quando a ciência demonstrou o rídiculo da mitologia da criação em que assenta o cristianismo, os devotos cristãos continuam a usar as «revelações» de alucinados misóginos para continuar a tratar a mulher como um ser de segunda, sem direitos.

Mas, como demonstra a declaração de crença do oxímero Creation Research, «A descrição da criação especial de Adão e Eva como um homem e uma mulher e a sua subsquente queda no pecado é a base da nossa crença na necessidade de um Salvador para a humanidade», sem a aceitação dos disparates bíblicos sobre a criação todo o cristianismo deixa de fazer sentido.

Assim, este reverendo foi apenas coerente com a sua religião misógina, assente na menorização e demonização da mulher, sem tentar «dourar a pílula» como algumas versões do cristianismo tentam fazer!

22 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Moral em tempo de SIDA

Durante a recente XVI Conferência Internacional sobre Sida, que decorreu em Toronto, Canadá, o ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton não foi o único mas certamente foi o mais proeminente dos oradores a criticar a política da administração norte-americana em relação ao combate à SIDA, mui cristamente focada em programas exclusivamente de abstinência.

Bill Clinton afirmou o que todos os que trabalham na área sabem:

«As evidências apontam que os programas de abstinência não têm sucesso. Os programas de abstinência são um erro».

Na realidade, as afirmações de Bill Clinton são corroboradas por Beatrice Were da ActionAid Uganda, e de Leigh Anne Shafer do Medical Research Council. Esta cientista reportou o aumento das infecções com HIV no Uganda, um exemplo de sucesso no combate à disseminação do HIV graças ao programa ABC (abstem-te, sê fiel e, se não seguires as duas primeiras, usa preservativo), até à intervenção dos fundamentalistas cristãos.

Os moralistas cristãos, nomeadamente da Casa Branca, usaram falaciosamente os excelentes resultados ugandeses no combate à SIDA assumindo que apenas o A&B (abstinência e fidelidade) do programa era seguido. O que está longe da realidade! E G.W. Bush conseguiu que fosse aprovado um plano de combate à SIDA no continente africano em que os programas exclusivamente A&B recebem a fatia grande do orçamento. Pondo em perigo o combate à disseminação deste flagelo.

Os grupos que receberam a quase totalidade do financiamento, como o «True Love Waits», em colaboração com várias igrejas organizaram orgias ululantes de fé destinadas a promover a abstinência e a fidelidade, difundindo, como é habitual nos fanáticos cristãos, desinformação e mentiras óbvias como «Os preservativos são completamente ineficientes». O resultado desta tão cristã actuação, que execra o uso de preservativos e os comportamentos «imorais», traduz-se no aumento das taxas de infecção com o HIV e na estigmatização dos infectados.

A imoralidade criminosa cristã pode ser apreciada na sua real dimensão se considerarmos que, de acordo com as declarações do Cardeal Javier Lozano Barragán, cerca de um quarto, mais concretamente «26,7% dos centros no mundo para tratar os enfermos de HIV/Sida, pertencem à Igreja Católica». Ou seja, que a prevenção da SIDA, especialmente em África, está nas mãos de devotos cristãos, evangélicos e católicos, unânimes na condenação do preservativo.

Segundo Barragán «As principais acções que realizamos na formação referem-se aos profissionais da saúde, aos sacerdotes, religiosos e religiosas, aos próprios enfermos, às famílias e à juventude. Na prevenção insistimos na formação e educação para comportamentos destinados a evitar a pandemia».

Claro que de acordo com a (i)moral católica o preservativo é um anátema nunca admitido como medida de prevenção. Assim, a somar aos grupos com financiamento federal americano temos mais de 1/4 dos centros de atendimento a infectados com o HIV em que os pacientes são devidamente informados da ineficácia do uso do preservativo e desaconselhados a usá-lo, mesmo no caso de casais em que apenas um membro está infectado.

A prevenção e controle desta catástofre só será possível quando a religião, pelo menos a cristã, for totalmente eliminada dos programas e centros a ela devotados. Todos os cientistas presentes na Conferência foram unânimes na recomendação do abandono de programas, não só completamente ineficazes como contraproducentes, focados na abstinência. Faltou dizer que enquanto as instituições cristãs forem financiadas, com dinheiros públicos ou contribuições particulares, não há quaisquer hipóteses deste flagelo ser controlado!

22 de Agosto, 2006 Palmira Silva

O gene do altruísmo

Há uns tempos tinha referido que em determinados casos as bactérias sacrificam a sua individualidade ao grupo social e toda uma colónia se comporta como um macro organismo. Ou seja, mesmo organismos unicelulares têm «consciência» social e são capazes de comportamentos morais em prol da comunidade.

Como indicado no post anterior, o comportamento moral humano não tem nada a ver com religião e é apenas um efeito colatateral da nossa evolução biológica, não sendo necessário invocar qualquer impossibilidade lógica e suas «revelações» para o entender.

Alguns artigos recentes reforçam a origem biológica da moral ao lançar luz sobre a evolução da generosidade e cooperação entre elementos de uma espécie.

No artigo «The Evolutionary Origin of an Altruistic Gene», publicado em Maio último na revista Molecular Biology and Evolution, os autores sugerem que pelo menos alguns genes altruistas evoluiram de genes que suprimiam actividades biológicas como resposta a alterações no meio ambiente, nomeadamente escassez de recursos.

Os cientistas identificaram um gene altruista de uma espécie primitiva multi celular, Volvox carterii, e o equivalente num organismo unicelular semelhante ao que lhe deu origem.

A alga Volvox, que graças à sua simplicidade é considerada o melhor exemplo de um acontecimento evolucionário determinante, o advento da multi celularidade, é constituida por cerca de 2000 células ligadas numa forma globular. Dessas 2000 células apenas 16 se reproduzem. Isto é, como em muitos organismos multicelulares, há uma divisão das células em «germ cells» -que se reproduzem – e células somáticas que não se reproduzem.

Esta divisão corresponde a uma forma profunda de altruismo. Ao não se reproduzirem as células somáticas «suicidam-se» evolucionariamente para beneficiar o grupo. Algo muito semelhante ao que acontece em colónias de insectos com as suas obreiras estéreis.

Na Volvox, o gene RegA, presente nos dois tipos de células mas activo apenas nas células somáticas, é o causador deste altruismo reprodutivo inibindo o crescimento celular.

Um gene muito análogo ao RegA foi encontrado na alga unicelular Chlamydomonas reinhardtii, que se considera muito próxima do ancestral da Volvox. Este gene, identificado como Crsc13, inibe o crescimento celular – impedindo a reprodução – quando há escassez de recursos, nomeadamente é activado quando não há luz, necessária à fotossintese.

No organismo multicelular este gene funciona como um gene altruista simplesmente por alteração do mecanismo de activação e desactivação do gene. Em termos evolucionários, como indica uma das autoras do texto, não deve existir uma diferença fundamental entre o altruísmo da Volvox e a generosidade humana. Ambos devem ter origem em mecanismos similares, ou seja, resposta a alterações no meio ambiente.

O mesmo mecanismo que transforma membros anti-sociais da bactéria Myxococcus xanthus em «cidadãos» exemplares, dotados de uma elevada consciência social. Como escreve Kevin Foster da Harvard University num comentário a este artigo, publicado na Nature em Maio deste ano, quando a sociedade ameaça desintegração devido a comportamentos anti-sociais, a evolução favorece mutações que recuperem o trabalho de equipa necessário à sobrevivência da espécie.

Ou seja, a ciência, mais uma vez, demonstra a vacuidade das pretensões das religiões, que reinvidicam estes comportamentos como indissociáveis da crença, ululam os perigos do ateísmo afirmando que sem crença em Deus não há moral. Pessoalmente considero exactamente o contrário, isto é, um comportamento justificado com a «lei divina» é um comportamento amoral – sem valores morais. Por exemplo, dizer que matar é errado porque Deus o condena é amoral porque valoriza não a vida humana mas a obediência a Deus. Assim, quando a obediência a um mito colide com a preservação da vida humana é a obediência a esse mito e às suas supostas «revelações» que prevalece. Um exemplo flagrante desta amoralidade, para além do terrorismo de inspiração religiosa, é a posição criminosa da Igreja católica em relação ao uso profiláctico do preservativo ou em relação ao aborto em qualquer circunstância…

Assim, a ciência reforça o perigo que as religiões constituem para a sobrevivência da espécie humana já que, vociferando contra o «modernismo» relativista e os comportamentos «contrários à lei divina», tentam impor a todos as suas aberrações anacrónicas e impedem efectivamente o desenvolvimento de comportamentos necessários não só à evolução como à sobrevivência da espécie.

21 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Encefalização e evolução do homem: moral

Durante muito tempo pensou-se que, embora a anatomia humana, nomeadamente a encefalização, tenha evoluído muito lentamente ao longo de milhões de anos, a evolução cultural e social apresentou um ponto de viragem há cerca de 40 000 anos, sem se perceber bem o que despoletou tal alteração cultural e inovação muito rápidas.

Na realidade, se analisarmos os dados da tabela do post anterior, verificamos que durante o Pleistoceno Inferior (1.8 milhões de anos a 750 000 anos) até ao Pleistoceno Médio (750 000 a 400 000 anos), o cérebro duplica de 440 para 900 cm3– modificando igualmente a forma do crânio, especialmente o frontal e o occipital. No Pleistoceno Superior, 400 a 100 mil anos, período em que viveram os últimos Homo erectus e os primeiros Homo sapiens, ocorreram as maiores alterações na reorganização das proporções cranianas. Desde há aproximadamente 100 000 anos que os nossos esqueletos cranianos e dimensões cerebrais não sofreram mudanças significativas.

No entanto, até recentemente, parecia que o homem moderno, isto é, não só moderno anatomicamente mas moderno em termos de comportamento, só apareceu há aproximadamente 40 000 anos, como parecia sugerir a datação dos primeiros artefactos que evidenciavam uma interpretação simbólica da realidade e a incorporação desse simbolismo no comportamento humano. Os artefactos simbólicos mais antigos encontrados até finais do século XX – de que as grutas de Lascaux, Chauvet ou de Altamira, todas com menos de 35 000 anos, são exemplo – pareciam de facto indicar que esta competência cognitiva surgiu relativamente tarde na evolução humana.

Mas recentemente, como já indiquei, com a descoberta da caverna de Blombos na África do Sul e as descobertas arqueológicas em Skhul, Israel, e Oued Djebbana, Argélia, começa a ser aceite que esta capacidade cognitiva evoluiu com o próprio homem, tendo estado presente no Neanderthal e nas populações Sapiens mais antigas.

Os estudos comparativos entre o comportamento social humano e o de primatas não humanos, se por um lado revelam traços comportamentais que nos distinguem, revelam igualmente semelhanças impressionantes. De facto, a primatologia evidencia que os primatas não humanos apresentam padrões de socialidade onde se podem reconhecer a empatia, a reciprocidade e a simpatia, o altruísmo, a obediência a normas sociais – que incluem evitar conflitos dentro de um grupo – o tratamento especial de inválidos e de doentes, entre outros elementos que tínhamos reservado para um dos nossos comportamentos mais específicos: a moral.

Assim, é possível observar noutras espécies comportamentos que evocam alguns dos fundamentos tradicionalmente imputados à moral humana, nomeadamente regras morais reinvidicadas por inúmeras religiões como revelação «divina». Do ponto de vista científico, é óbvio que a moral humana é uma consequência da evolução do homem, um sub-produto da evolução do cérebro humano, não só em dimensões mas em «qualidade», que permitiu o desenvolvimento de mecanismos cognitivos únicos ao homem. Não faz sentido postular mecanismos diferentes para o desenvolvimento de comportamentos semelhantes. Ou seja, não faz sentido postular a existência de um Deus, que nos criou «à sua semelhança», criação essa que justifica a diferença no ser do Homem em relação ao ser de outros animais.

Tal como as capacidades cognitivas, as capacidades comportamentais, nomeadamente morais, únicas aos humanos decorrem da nossa evolução biológica, igualmente única. Ou seja, evoluiram connosco ao longo de milhões de anos, não nos foram concedidas por especial favor de um qualquer implausível Criador!

(continua)
21 de Agosto, 2006 Carlos Esperança

O catolicismo nazi ou o nazismo católico

O nazi/fascismo foi a lepra que corroeu a Europa e a mancha cruel que alastrou a outros continentes antes da brutal carnificina a que daria origem.

A guerra de 1939/45 ou, mais exactamente, desde 1936 com o assassinato de quase um milhão de espanhóis, a maior parte dos quais da responsabilidade do devoto católico, Francisco Franco, provocou um mar de sangue e horror que ainda hoje arrepia.

Foram cerca de 60 milhões de vítimas, repugnando, pela violência racista e crueldade, o Holocausto que matou nos fornos crematórios seis milhões de judeus, além de ciganos, homossexuais, deficientes e outras minorias.

No século XX era impensável uma espiral de violência e orgia de sangue que mudaria a face do mundo e deixaria traumas para a posteridade.

Da Alemanha de Hitler tem-se dito quase tudo e é conhecida a máquina de extermínio que foi meticulosamente posta em marcha.

Esquece-se, porém, o violento e cruel Holocausto levado a cabo pelo nazismo católico da Croácia, ainda hoje lembrada como «croástica», com 487 mil sérvios ortodoxos e 27 mil ciganos assassinados. Dos 30.000 judeus assassinados na Jugoslávia, 20 a 22 mil morreram nos campos de concentração ustachis e os restantes nas câmaras de gás.

Resta dizer que o arcebispo de Zagreb, Stepinac, foi sempre solidário com os princípios do novo Estado da Croácia e se esforçou para que Pio XII reconhecesse o carrasco Ante Pavelic como um dos pilares essenciais da Igreja católica na Europa eslava.

Para Stepinac, Pavelic era um católico sincero e, do alto dos púlpitos exortava-se a população a rezar pelo algoz e pelos padres, quase todos franciscanos, que cooperavam nos morticínios.

As orações teve-as o Vaticano em conta quando, após a guerra, participou activamente na colossal operação de salvamento de criminosos contra a humanidade, conduzindo-os à América do Sul, depois de ocultar em igrejas, mosteiros e outros pios refúgios, incluindo o complexo de Castelgandolfo, a mais abjecta e repelente corja de assassinos.

Stepinac, arcebispo-primaz da Igreja Católica da Croácia, enviou uma carta ao ditador Ante Pavelic na qual referiu as opiniões favoráveis de todos os bispos às «conversões forçadas». Foi esse patife que JP2 II beatificou denunciando a verdadeira face da ICAR.

Os horrores são tantos e tão hediondos que dói recordá-los. Só não podemos deixar de execrar a cumplicidade da Igreja católica no horror nazi, primeiro, e, depois, na ajuda à impunidade dos mais sinistros dos seus carniceiros.

Os cardeais Montini (futuro Papa Paulo VI), Tisserant e Caggiano, definiram as rotas de fuga e alguns prelados, Hudal, Siri e Barrieri, concretizaram os trâmites necessários para criar documentos e identidades falsas para os criminosos. Foram padres, cujo nome se conhece, que assinaram pelo seu punho os pedidos para a concessão de passaportes da Cruz Vermelha a criminosos como Josef Mengele, Adolfo Eichmann, Ante Pavelic e Klaus Barbie, entre outros.

Fonte: A Santa Aliança – Ed. Campo das Letras, de Eric Frattini