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9 de Março, 2007 Ricardo Alves

Policarpo atira água ao ar na RTP

José Policarpo no momento em que atirava água para o ar no edifício da RTP. Segundo as crenças da confissão religiosa a que pertence Policarpo, esta água «mágica» poderá impedir a transmissão de filmes pornográficos, opiniões despenalizadoras da IVG ou outros pecados graves.
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(Imagem via Associação República e Laicidade.)

9 de Março, 2007 jvasco

Ao Acaso (parte 1 de 3).

Muitos criticam a teoria da evolução dizendo que o acaso não pode explicar a formação das espécies. Isto revela o maior problema para a teoria da evolução: a ideia que não é preciso perceber nada do assunto para poder criticar.

Nesta mini-série vou falar do acaso em processos físicos, químicos, e biológicos. No último episódio pretendo mostrar que a evolução é muito mais que o acaso, mas nos primeiros dois veremos que mesmo o acaso é capaz de muita coisa quando lidamos com o número de moléculas e átomos que há em sistemas macroscópicos.

Um pneu, por exemplo. Lá dentro há moléculas a deslocar-se aleatoriamente e a bater contra as paredes da câmara de ar. Mas com 10,000,000,000,000,000,000,000 moléculas, o acaso do movimento de cada uma torna-se numa pressão constante, regulável, e extremamente previsível.

Um fenómeno mais interessante é a gota de sumo ou de óleo a cair num copo de água. A gota de sumo é quase só água, e as moléculas da gota rapidamente se espalham pelo copo. Por acaso. Há muito mais configurações possíveis para as moléculas quando estão espalhadas do que há quando estão juntinhas numa gota. Se uma configuração é seleccionada ao acaso, o mais certo é cair no grupo das «espalhadas» que no grupo das «juntinhas em gota».

Curiosamente, passa-se o mesmo com a gota de óleo. Mais ou menos. As moléculas de água são como a cabeça do Rato Mickey, com um oxigénio na cara e átomos de hidrogénio nas orelhas. Como o oxigénio atrai mais os electrões, essa parte da molécula é negativa, cada hidrogénio tem uma carga positiva, e os átomos de hidrogénio estão mal presos. Podemos ver um copo de água como um grande número de átomos de oxigénio a roubar átomos de hidrogénio uns aos outros, como miúdos a lutar pelos brinquedos.

Uma molécula de água rodeada por outras moléculas de água pode-se orientar de muitas maneiras diferentes para interagir desta forma com as suas congéneres. Mas se está encostada a uma molécula do óleo, para esse lado já não se pode virar. Uma molécula de óleo restringe as possibilidades às moléculas de água que a rodeiam.

Se por um lado há mais configurações possíveis com as moléculas de óleo espalhadas pelo copo do que com as moléculas de óleo juntas numa gota, por outro lado as moléculas de óleo espalhadas reduzem as configurações possíveis das moléculas de água. O resultado é que há mais configurações acessíveis às moléculas todas com o óleo todo junto numa gota do que com o óleo espalhado pelo copo. Seleccionando aleatoriamente uma configuração o mais certo é calhar numa das «juntinhas em gota».

É o acaso com um cheirinho de interacções que regula todo o metabolismo, a formação de membranas celulares, a regulação dos genes, e tudo isso. Até a cozedura do ovo é principalmente por acaso. Quando aquecemos o ovo damos às moléculas a energia que precisam para aceder outras configurações. Como há muito mais configurações na categoria «ovo cozido» que na categoria «ovo cru», quando arrefece, e por acaso, vai acabar cozido. Tal como o acaso do pneu, são acasos extremamente previsíveis.

——————————–[Ludwig Krippahl]

9 de Março, 2007 Carlos Esperança

Juízo Final

Os supersticiosos do Juízo Final crêem que Deus, no fim dos tempos, viajará até ao Vale de Josafá, para dirigir a batalha do Armagedão contra os homens e dedicar-se, depois, a julgar os vivos e os mortos.

Pensam os prudentes que será impossível ressuscitar Deus da morte lenta que o vai erradicando, de tal modo que será incapaz de ressuscitar outros mortos. Mas os beatos acreditam nas patranhas que alimentam o imaginário dos simples e o estômago do clero.

Não imaginam os devotos os problemas logísticos de uma ressurreição universal, a escassez do espaço para tantos, o caos à hora das refeições, a cólera quando faltasse o vinho e os impropérios quando Deus proferisse as primeiras sentenças.

Começa por não se saber com que idade o Deus abraâmico, de parco juízo e sem hábitos de trabalho, iria ressuscitar os mortos. Por questões de espaço era apropriado convocar os embriões mas era uma idiotice julgar inimputáveis apesar de a jurisprudência divina ser um catálogo de horrores.

Se acontecesse reunir todos os vivos e mortos na idade adulta não conviria a juventude propensa ao exacerbamento dos sentidos e a obrigar à separação dos sexos para bem da castidade e dos bons costumes.

A tolice com que sonham os créus e assustam as crianças desde pequenas, daria origem a cenas caricatas quando um ressuscitado pedisse a outro o coração que lhe sacaram no desastre de moto, para o transplantar num professor de latim, ou o engenheiro mecânico que tinha um rim alheio visse um torneiro mecânico com uma chave de fendas na mão a exigir-lhe a devolução.

Felizmente que Deus não pode ser juiz por falta de habilitações e de experiência. Como é que um aldrabão que, desde o princípio do Mundo, não concluiu um único processo teria condições para, de uma assentada, julgar os vivos e os mortos reunidos no Vale de Josafá?

E quem é que iria obedecer-lhe? Os mortos que teriam de abandonar as «delícias do nada» ou os vivos, deslocados de suas casas, com o reumático e o catarro a apoquentá-los? Deus morreu e essa é a boa notícia. A má é o clero recusar a certidão de óbito.

8 de Março, 2007 Carlos Esperança

Dia Internacional da Mulher

Não, não preciso de expiar ou envergonhar-me dos séculos de exploração feminina, das humilhações a que os homens sujeitaram a mulher, do sofrimento que lhe impuseram. Não sou culpado do anacronismo das leis, do carácter misógino da tradição judaico-cristã, dos preconceitos do clero e da violência das leis que a discriminam.

Não defendo os conteúdos misóginos da Tora, da Bíblia ou do Corão que legitimam a violência de que são vítimas e as penas a que são sujeitas, sem esquecer a lapidação e as vergastadas públicas a que o fascismo islâmico ainda submete as mulheres.

Nos primórdios da humanidade a força física foi determinante, a divisão do trabalho e a apropriação dos incipientes meios de produção conferiram ao homem a supremacia que o tempo se encarregaria de perpetuar e os homens de defender.

Impensável é que a modernidade tenha sido tão lenta no reconhecimento da igualdade, que os preconceitos permaneçam em homens ditos civilizados e a resignação seja aceite por mulheres que sempre foram vítimas da exploração e da violência.

Não aprecio dias internacionais, celebrações impostas pelo calendário, para condenar atitudes que envergonham e permanecer o resto do ano conivente com a tradição.

Abro hoje uma excepção para recordar, não a Idade Média, mas a ditadura salazarista, os valores e princípios que envergonham o passado recente resgatado pelo Portugal de Abril.

Cito de memória algumas ignomínias de que a mulher foi vítima. Aqui ficam algumas proibições:

– Casamento para as professoras do ensino primário, sem autorização superior e com a exigência de o futuro marido auferir maiores rendimentos;
– Administração de bens próprios dentro do casamento;
– Divórcio, para o casamento canónico;
– Magistratura;
– Carreira diplomática;
– Saída para o estrangeiro, sem autorização do marido;
– Justificação de faltas a mães solteira, por motivo de parto (função pública);
– Casamento para as enfermeiras, cuja proibição terminou ainda no salazarismo.

Doutros horrores, dos crimes de honra, das sevícias toleradas dentro do matrimónio, das violações, agressões físicas e reiteradas humilhações que, sobretudo, nos meios rurais e analfabetos eram constantes e impunes, permanece um rasto silencioso não erradicado. E já poucos se lembram do direito do marido a violar a correspondência da mulher.

Hoje, da opacidade das burkas salta a inteligência, o afecto e a criatividade, saem para o sortilégio do amor, soltam-se para a aventura da ciência e a criatividade das artes. Só as mulheres conseguem ser mães sem deixarem de ser tudo o que os homens podem.

Origem do Dia Internacional da Mulher DA/Ponte Europa

8 de Março, 2007 Carlos Esperança

O Diário Ateísta e os crentes

Alguns crentes saem da missa e da hóstia, a trote, e, em vez do Paraíso, onde antevêem a divina fauna e santos patifes que o Vaticano canonizou, como Santo Escrivá, acham o Diário Ateísta onde proliferam ímpios. Vêm grávidos do divino à espera de literatura pia e indulgências plenas e sai-lhes uma prosa blasfema e o desprezo da religião.

Rangem os dentes e espumam de raiva porque, em vez do Cristo a fazer ginástica na cruz e da mãezinha que o teve pelo sovaco para manter a virgindade, tropeçam em ateus indiferentes ao martírio do Gólgota e ao truque de passear sobre as águas do Mar Morto, antes de lhe furarem os pés.

Encontram hereges que delatam a indústria dos milagres e o comércio das indulgências, indiferentes às maratonas dos simples aos santuários marianos e aos passeios religiosos atrás do andor da Senhora de Fátima.

Ficam desolados porque esperam Deus a relinchar de alegria, pelo seu proselitismo, e só encontram heresias que lhes aumentam a raiva e a azia.

Quem os manda andar por trilhos blasfemos se podiam cirandar de joelhos à volta de um oratório, oscular santinhos com as fuças de JP2, passar os dias a rezar orações e as noites a castigar o corpo com um cilício para gozo do Deus que lhes venderam?

O Diário Ateísta não é um órgão paroquial que se distribua à saída da missa ou durante a homilia nem um blog ao serviço das santas aldrabices ou instrumento de propaganda do ditador vitalício do Vaticano.

Escusam os devotos de procurar aqui a salvação da alma, o bilhete de ida para o Paraíso ou a clientela que alimenta os parasitas da fé. Vêm ao sítio errado. O Diário Ateísta é um local asseado onde Deus não entra.

8 de Março, 2007 jvasco

Calculem…

Pelos comentários que recebi (aqui e em privado) parece que não ficou claro porque é que a dificuldade de calcular a estrutura de uma proteína é irrelevante para o argumento criacionista. A proposta criacionista é que se uma célula produz proteínas com formas que nem um supercomputador consegue calcular, então os seres vivos só podem ter sido criados por um ser inteligente e omnipotente.

Este tema interessa-me porque trabalho em modelação, e sei bem o que custa calcular estas coisas. Sei também que a dificuldade de cálculo não tem nada a ver com ser vivo ou não, e que a proposta criacionista é treta.

Imaginem que estão na Lua e atiram uma pedra. A trajectória da pedra é fácil de calcular porque o sistema é simples: uma pedra, aceleração constante (a gravidade da lua), e uma velocidade e posição inicial. É uma parábola, e pronto. Mas se fazem o mesmo na Terra num dia de vendaval estão tramados. A resistência do ar, o vento variável, a pedra com forma irregular a rodar em relação ao vento, e lá se foi a parábola ou qualquer hipótese de resolver o sistema de forma simples.

A alternativa chama-se integração numérica, mas é mais simples de compreender que de pronunciar. Se conseguirmos parar o tempo e medir naquele instante a velocidade e posição da pedra e a velocidade do vento, conseguimos calcular a força que o vento exerce sobre a pedra, e quanto é que essa força vai alterar a velocidade (e direcção) da pedra. Se andarmos um instante de cada vez podemos fazer isto a cada passo e calcular a trajectória da pedra até cair no chão.

A vantagem é que quanto mais pequeno for o passo maior é a precisão. A desvantagem é que quanto mais pequeno for o passo mais passos temos que calcular. Mas com uma pedra e um computador bom se calhar o cálculo acaba antes da pedra cair.

Se em vez da pedra atirarem um balde de areia, o caso muda de figura. O cálculo é o mesmo, mas enquanto que a areia do balde vai toda ao mesmo tempo, o desgraçado do computador tem que calcular um grãozinho de cada vez, passo a passo, e já vocês acabaram de varrer a areia verdadeira ainda a virtual não saiu do balde.

A estrutura das proteínas é difícil de calcular porque são milhares de átomos a interagir de formas complexas. Mas isto não é uma característica única dos seres vivos, nem indicativo de origem milagrosa. Também é preciso muito poder de computação para cálculos de aerodinâmica, para simular reacções nucleares, para prever o estado do tempo e alterações climáticas, e muitas outras coisas.

E se é preciso um deus para explicar uma proteína, o que será preciso para explicar um deus?

——————————–[Ludwig Krippahl]

8 de Março, 2007 Ricardo Alves

O cardeal no protocolo da TV pública

Na comemoração dos 50 anos da RTP, lá estava a sotaina de José Policarpo, sempre um passo atrás do Presidente da República e um passo à frente de dois ministros do governo da República. Como se não bastasse, benzeu o monumento dos 50 anos da RTP, um gesto «mágico» cujas consequências se ignoram.

Tendo em conta que se fez uma lei de protocolo de Estado, há menos de um ano, pela qual o cardeal-patriarca de Lisboa deixou de ter lugar no protocolo de Estado, como deve ser interpretada a atitude de uma das mais emblemáticas empresas públicas, ao colocar o cardeal Policarpo no protocolo da TV pública? Foi uma provocação deliberada?

[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]
8 de Março, 2007 Ricardo Alves

Conferências :«Análise Evolutiva da Religião» (na Gulbenkian)

Um leitor indicou-nos esta informação interessante:
Conferências sobre religião e evolução, na Fundação Calouste Gulbenkian (em Lisboa).

«Evolução e Religião: o secundário e o principal»,
por David Sloan Wilson (12 de Março de 2007, 18 horas, auditório 2).

É o autor de «Darwin´s Cathedral: Evolution, Religion and the Nature of Society».

«A origem evolutiva da religião», por Lewis Wolpert
(13 de Março de 2007, 18 horas, auditório 2).

É o autor de «Six Impossible Things Before Breakfast – The Evolutionary Origin of Belief».

(Deve valer a pena, para quem puder…)

7 de Março, 2007 Helder Sanches

O deus de Darwin

Um recente artigo do New York Times sobre a razão ou razões por que os seres humanos são tendencialmente crédulos no sobrenatural tem dado muito que falar na blogosfera mais atenta a estes fenómenos.

Pessoalmente, independentemente da minha posição ateísta, este assunto fascina-me. Estaremos condenados, enquanto espécie, à superstição e ao sobrenatural? Que aspectos da nossa evolução nos condicionaram e nos predispuseram a acreditar em fantasias?

São referidas muitas experiências e são dadas muitas explicações para o fenómeno. É um artigo extenso mas vale bem a pena. Salvei-o em PDF para futuras referências. No New York Times está aqui.

(Diário Ateísta/Penso, logo, sou ateu)