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27 de Março, 2007 Carlos Esperança

A Música de Ratzinger

O Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Sagrada Congregação para a Fé (ex-Santo Ofício) num ensaio consagrado à liturgia, em 11 de Fevereiro de 2001, criticou severamente a música rock e pop e manifestou reservas em relação à ópera que acusa de ter “corroído o sagrado” de tal modo que – cita – o papa Pio X «tentou afastar a música de ópera da liturgia», donde se deduz que ela é claramente desajustada à salvação da alma.

Eu já tinha desconfiado que certa música é a «expressão de paixões elementares» e que «o ritmo perturba os espíritos», estimula os sentidos e conduz à luxúria. Salvou-me de pecar a dureza de ouvido que tinha por defeito e, afinal, era bênção.

Mas nunca uma tão relevante autoridade eclesiástica tinha sido tão clara quanto aos malefícios da música, descontada a que se destina à glorificação do Senhor, à encomendação das almas ou a cerimónias litúrgicas, outrora com o piedoso sacrifício dos sopranistas.

Espero que o gregoriano, sobretudo se destinado à missa cantada, bem como o Requiem, apesar do valor melódico, possam ressarcir-nos a alma dos danos causados pelo frenesim da valsa, a volúpia do tango ou a euforia de certos concertos profanos.

Só agora, mercê das avisadas palavras de Sua Eminência, me interrogo sobre a acção deletéria do Rigoleto ou da Traviata, dos pensamentos pecaminosos que Aida ou Otelo poderão ter desencadeado em donzelas – para só falar de Verdi – ou dos instintos acordados pela Flauta Encantada, de Mozart, ou pelo Fidélio, de Beethoven! E não me venham com a desculpa de que há diferenças entre a ópera dramática e a cómica, ou entre esta e a ópera bufa.

A música, geralmente personificada na figura de uma mulher coroada de loiros, com uma lira ou outro qualquer instrumento musical na mão, já nos devia alertar para o pecado oculto na harmonia dos sons.

Sua Eminência fez bem na denúncia. Espera-se agora que, à semelhança das listas que publicou com os pecados veniais e mortais e respectivas informações complementares para os distinguir, meta ombros à tarefa ciclópica de catalogar as várias músicas e os numerosos instrumentos em função do seu potencial pecaminoso.

Penso que a música sacra é sempre de louvar (desde que dispensados os eunucos), enquanto a música de câmara, a ser executada em reuniões íntimas, é de pôr no índex. Na música instrumental, embora o adjectivo seja suspeito, talvez não haja grande mal, mas quanto à música cifrada não tenho dúvidas de que transporta uma potencial subversão.

Nos instrumentos há-os virtuosos, como o sino, o xilofone, as castanholas e quase todos os de percussão, deixando-me algumas dúvidas, mais por causa do nome, o berimbau.

Nos de corda, excepção para o contrabaixo e, eventualmente, o piano (excluídas perigosas execuções a quatro mãos) quase todos têm riscos a evitar. A lira, o banjo, a cítara, o bandolim e o violino produzem sons que conduzem à exacerbação dos sentidos.

Mas perigosos mesmo – a meu ver – são os instrumentos de sopro. Abro uma excepção para os órgãos de tubos que nas catedrais se destinam a glorificar o Altíssimo. Todos os outros me parecem pecaminosos. A flauta, o clarim, o fagote, o pífaro e a ocarina estimulam directamente os lábios e, desde o contacto eventualmente afrodisíaco aos sons facilmente lascivos, tudo se conjuga para amolecer a vigilância e deixar-nos escravizar pelos sentidos. Nem o acordeão, a corneta de pistões ou a gaita-de-foles me merecem confiança.

Apreciemos o toque das trindades dos sinos dos campanários e glorifiquemos o Senhor no doce chilrear dos passarinhos. Cuidado com a música e, sobretudo, com os efeitos luminosos associados. Estejamos atentos às palavras sábias do Cardeal Ratzinger.

Nota: Este texto já foi publicado no Diário Ateísta mas justifica-se a repetição com a recente proibição de música profana, nas igrejas da ICAR, por B16. Nisso, os talibãs estão mais avançados – proibiram qualquer tipo de música.

26 de Março, 2007 Ricardo Alves

Notícias (26/3/2007)

26 de Março, 2007 jvasco

O cristianismo é uma mitologia?

Quando comparo a religião cristã às religiões do passado, algumas pessoas sentem que a comparação é patética. «É absurdo comparar o cristianismo a mitologias», é uma objecção com que me vou deparando com frequência.

Se eu responder com uma pergunta, estou certo que não me será respondida. A pergunta resume-se a uma palavra: «Porquê?».

A verdade é que os crentes das religiões antigas (os gregos com o seu Zeus, Poseidon, Afrodite e por aí; os romanos com Júpiter, Neptuno, Vénus; os egípcios com Isis, Hórus, Seth, Amon-Rá; os escandinavos com Odin, Thor, etc…) não eram atrasados mentais. Não eram inferiores. Não eram limitados.

Não.

Eles simplesmente acreditavam.
Acreditavam nos seus pais. Acreditavam nos seus sacerdotes. Acreditavam nos textos antigos que tinham ao seu dispor, relatando as aparições e proezas dos seus Deuses. Acreditavam por vezes naqueles que diziam ter testemunhado milagres, ou falado com os Deuses.
E alguns sentiam. Sentiam vividamente a presença destes Deuses.

Era isto que os levava a acreditar em Amon-Rá, ou em Zeus, ou Júpiter, ou Odin, ou tantos outros.
Foi isto que levou tantos povos da terra a acreditar em tantos Deuses diferentes.

Se tais crenças são assim tão absurdas, teremos de concluír que estas são razões insuficientes para se estar certo que Deus existe. Insuficientes para se estar certo que é exactamente aquele que os nossos pais adoram, aquele a quem os sacerdotes que nos rodeiam prestam culto.

Mas o cristianismo não apresenta nenhuma razão adicional.
Vejo-o assim indistinguível de qualquer outra religião. Se estas crenças são absurdas, terei de ser claro: o cristianismo (ou islamismo, ou judaísmo, ou hinduísmo, ou tantas outras) não é menos.

25 de Março, 2007 Carlos Esperança

Bento XVI – Perigoso talibã

Diário Ateísta/Pitecos – Zédalmeida

Bento XVI acusa União Europeia de renegar origens cristãs

Bento XVI aguardou o 50.º aniversário do Tratado de Roma para surpreender a Europa com um discurso agressivo e imiscuir-se nos assuntos internos da União Europeia.

A acusação de que a Europa renega as origens cristãs, corrobora o ressentimento que se agravou com a progressiva tendência dos Estados laicos de descriminalizarem o aborto, legalizarem as uniões homossexuais, aceitarem a eutanásia e facilitarem o divórcio, ao mesmo tempo que a Igreja católica vê a sociedade secularizar-se.

As uniões de facto aumentam e os casais prescindem cada vez mais da festa religiosa e da bênção eclesiástica para os seus projectos comuns. A sexualidade emancipou-se da reprodução e o clero romano envelhece e reduz-se.

O rancor e a vocação teocrática de um Papa que quer regressar ao latim e ao cantochão, que deseja integrar a Fraternidade Sacerdotal S. Pio X, do falecido e excomungado bispo Lefebvre, e que odeia a modernidade, estão na origem do insólito discurso e na obsessão de impor os critérios morais da Igreja não apenas aos católicos mas a todos os europeus e, se as condições se tornarem favoráveis, ao mundo.

Voltaríamos à evangelização e às cruzadas, ao cristianismo tridentino, à contra-reforma, às monarquias absolutas e confessionais e à submissão do poder temporal ao espiritual, com a Europa transformada em protectorado do Vaticano e a esquecer o Renascimento, o Iluminismo, a Revolução Francesa e a Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Não há anticlericalismo sem clericalismo. Esta recidiva teocrática de Bento XVI põe em perigo a tolerância e o pluralismo que as democracias consagraram. No seu proselitismo Bento XVI vem perturbar a paz e abrir feridas numa Europa que sacrificou milhões de vidas às lutas religiosas.

Se não houver firmeza na defesa da liberdade religiosa – o direito de cada cidadão ter a religião que entender, não ter religião, ser anti-religioso ou apóstata -, criar-se-ão as condições para o regresso às guerras religiosas que dilaceraram a Europa e se limitaram a produzir santos, mártires e bem-aventurados.

Diário Ateísta/Ponte Europa

25 de Março, 2007 Carlos Esperança

Consagração da Universidade Católica fora de prazo

A Universidade Católica portuguesa foi a Fátima renovar a consagração. Nada temos com os gestos gratuitos ou desvarios de quem tem alucinações. Se alguém ousasse proibir uma tal manifestação teria o meu activo repúdio na defesa da liberdade religiosa que muito prezo.

Mas não se confunda o respeito e a defesa da liberdade religiosa com a solidariedade na mentira e na demência mística.

Algumas considerações:

1 – Se a Universidade Católica foi a Fátima é porque não acredita que fosse ouvida a partir de Lisboa;

2 – Se renovou a consagração é porque o prazo de validade da anterior estava a esgotar-se ou tinha sido mal feita;

3 – Ao agradecer à Virgem toda a ajuda ao longo da existência e pedir-lhe que continue, é uma injustiça enorme para o Governo, que a subsidia, não constando que a Senhora de Fátima desembolse um único euro;

4 – «O docente João César das Neves, no final da Eucaristia, explicou a presença de Cristo na vida da Universidade Católica» – segundo se lê -, sem explicar se integra o corpo docente, se tem currículo académico e que disciplinas lecciona, ou

5 – Se faz parte do pessoal menor (pouco provável, dado o relevo que lhe deu), se é chefe da secretaria ou o chantagista de serviço para obter benefícios do Estado.

Mais importante do que Cristo e a Mãezinha têm sido os sucessivos Governos que, ao arrepio da laicidade a que estão obrigados, têm constituído a caixa de esmolas da referida instituição particular. Uma vergonha.

24 de Março, 2007 Carlos Esperança

Alemanha – O Corão e uma juíza idiotas

Uma alemã, de origem marroquina, teve a desdita de numerosas mulheres ao longo da história, casar com um homem violento que a agredia e ameaçava de morte.

Com 26 anos, mãe de dois filhos, a vítima pediu ao tribunal de família de Frankfurt para que lhe concedesse um divórcio rápido. A pancada e as ameaças não são violências que se suportem num país civilizado. E a jovem mãe, casada em 2001, há mais de um ano que era vítima de espancamentos e ameaças.

Imagine-se que lhe saiu uma juíza, Christa Datz-Winter, que entendeu não ser urgente o seu caso pois ela tinha casado «segundo as leis islâmicas» e que, segundo o Corão, ela devia saber que «Não é invulgar que o homem exerça o direito de castigar a mulher».

A título excepcional, essa juíza devia ser obrigada a viver um ano com um muçulmano violento e piedoso, despojada das vestes forenses, vergastada na rua e, a seguir, repudiada pelo homem.

Talvez aprendesse que, acima dos preconceitos religiosos, estão os direitos humanos, mais importante do que um livro sagrado é a igualdade de direitos entre os sexos.

A integração da sharia na jurisprudência dos países democráticos é o caminho mais rápido para a introdução do direito canónico e o regresso ao estado totalitário de raiz confessional.

Apostila: Recordo o saudoso Francisco Salgado Zenha, de quem fui delegado na Lourinhã, em 1965, na farsa eleitoral promovida por Salazar. Foi ele, quando ministro da Justiça, que reintroduziu o direito ao divórcio que a Concordata abolira. Tal como no Islão, vigoravam as piedosas leis cristãs de Salazar e Cerejeira.