As insuficiências do agnosticismo
Existem algumas razões para me definir como ateu e não como agnóstico. O agnosticismo, nas suas diversas interpretações, presume pelo menos um dos seguintes princípios:
Sobre a insolubilidade de deus
Quanto a deus ser insolúvel, parece-me que se trata de um princípio filosófico bastante razoável. Afinal, o conceito de deus (ou deuses) é movido e justificado pela fé, não pelo conhecimento. Tentar racionalizar crenças da mesma forma que se criam representações matemáticas da realidade é absurdo.
Existe, depois, uma armadilha perigosa que é procurar responder à questão de deus quando esta engloba em si própria uma variedade de personalidades e representações quase infinitas. Deus não terá sido o primeiro a sofrer de personalidade múltipla, mas é seguramente o paciente desse distúrbio mais famoso da história. Tentar argumentar racionalmente contra essa multiplicidade é, uma vez mais, infrutífero e inconsequente. A própria multiplicidade de representações encerra em si todos os argumentos de contradição, se não mesmo, de absurdo.
Resumindo, reconheço que é, de facto, impossível provar racionalmente a existência ou inexistência de qualquer deus ou deuses. Claro que teremos que colocar todos no mesmo saco: o deus de Abraão, Zeus, Osíris, Thor, Shiva ou o adorável Baco. Resta-me, portanto, a convicção de que face à ausência de demonstrações credíveis de qualquer deles, todos, sem excepção, são apenas fruto de mentes criativas impregnadas de fé.
Sobre a irrelevância de deus
Considerar a tarefa de questionar a existência de deus uma tarefa desnecessária é outra linha do pensamento agnóstico. Opinar que é irrelevante para a nossa experiência – enquanto seres vivos conscientes do mundo que nos rodeia – parece-me demasiadamente insustentável por duas razões essenciais.
Antes de mais, questões fundamentais como “o que somos?”, “porque somos?” ou até mesmo “somos?” terão respostas e significados totalmente diferentes consoante deus exista ou não. Logo, na elaboração das respostas a essas perguntas o valor da variável “deus” terá que ser sempre equacionado e poderá ter um peso determinante nas respostas obtidas.
Por outro lado, as organizações religiosas sempre tiveram – e continuam a ter – uma influência nas diversas sociedades demasiado grande para que os argumentos basilares das suas doutrinas não sejam questionados.
Assim, discordo em absoluto desta corrente agnóstica que considera de menor importância a questão de deus.
Outras considerações que descredibilizam o agnosticismo
O processo de dúvida inerente à maior parte do ideal agnóstico é, claramente, do ponto de vista filosófico, um processo eficiente. Mas, do ponto de vista prático as suas limitações são evidentes. Se não fossem seria, então, possível viver com esses princípios de dúvida em todos os aspectos da nossa vida. Não é o caso. Questionar sempre que acordamos se é o último dia de vida que temos, se a Terra vai suspender o seu movimento de rotação espontaneamente ou se seremos um alvo preciso na queda de um meteorito são também dúvidas válidas, questões insolúveis. Se vivermos em função dessas dúvidas o mais provável é sermos considerados lunáticos ou esquizofrénicos. Aplicamos, implicitamente, a probabilidade experimentada. Sabemos que a probabilidade de responder acertadamente é muito maior num caso do que noutro, de tal forma que simplesmente ignoramos a probabilidade menor – muito menor – e agimos em conformidade. Não encontro justificação possível para se agir de maneira diferente na questão de deus. Se, face aos conhecimentos adquiridos, não existe a mínima evidência de deus (qualquer deus), então porque viver em função da sua possível existência?
Finalmente, o agnosticismo comete o “pecado” da imparcialidade absoluta. Permite-se dar tanta credibilidade à possibilidade de deus como à sua impossibilidade. Por outras palavras, dá tanto crédito à fé e à crença como à ciência; estranho, pois é esta última que utiliza os mesmos processos racionais em que o próprio agnosticismo se sustenta!
Na próxima parte abordarei a separação entre o Estado e a Igreja.
Parte 1 – O que o meu ateísmo não implica
(Parte 3 – brevemente)
A polícia italiana deteve, perto de Palermo, Salvatore o Pequeno, chefe da organização criminosa «Cosa Nostra», que há 25 anos andava foragido. (EFE – ROMA)
O que o meu ateísmo não implica
Conforme prometi neste post, pretendo escrever uma série de artigos que me ajudem (e aos leitores deste blog) a organizar a apresentação dos motivos, preocupações e objectivos do meu ateísmo. Serão uma série de artigos onde abordarei diversos aspectos do que considero ser basilar no meu ateísmo.
Neste primeiro artigo, vou optar por deixar claro aquilo que o meu ateísmo não significa. Espero, assim, contribuir para uma leitura mais imparcial daqueles que visitam este blog.
Ser ateu para mim não significa ser anti-fé. Respeito a liberdade de cada um para acreditar naquilo que muito bem entender. Contudo, isso deverá acarretar duas responsabilidades: a de assumir os compromissos com essa mesma fé, por um lado, e a de viver essa fé na sua privacidade ou em local (templo) apropriado.
Não sou anti-clero; não encontro razões para acreditar que o exercer do sacerdócio traga consigo uma maior dose de criminalidade ou que existe um maior índice de padres criminosos do que padeiros, informáticos, ateus ou engenheiros civis criminosos. Hipocrisia não é um crime; será, quanto muito, uma questão de consciência.
O meu ateísmo não é politizável, ou seja, não sou ateu por ser deste ou daquele partido nem vice-versa.
Não sou particularmente anti-cristão; o meu ateísmo é absoluto e equidistante de todas as religiões, divindades, fadas, duendes ou unicórnios. Se, porventura, existir uma maior exposição do cristianismo nas páginas deste blog isso é facilmente explicável pela minha também muito maior exposição ao cristianismo, tanto cultural como socialmente, uma vez que nasci, cresci e vivo num país cuja religião maioritária é cristã.
O meu ateísmo não é recente, sempre fui ateu, nunca tendo sentido qualquer necessidade de procurar estímulo espiritual no sobrenatural. Música, um bom livro, observar as minhas filhas a dormirem ou olhar o céu à noite sempre foram suficientes para me encher de prazer, satisfazer quaisquer necessidades de contemplação, imaginar e concluir que o mundo é, afinal, tão belo. Respeito (embora me custe a compreender) que outros tenham outro tipo de necessidades espirituais.
Finalmente, o meu ateísmo não é estanque. Estou sempre disponível para uma boa argumentação sobre o tema. Não estou fechado sobre mim mesmo, nem sou dogmaticamente ateu. Muito pelo contrário, reconheço que filosoficamente é arriscado ser-se ateu; mesmo assim, considero que, na prática, faz muito mais sentido. Mas isso fica para a segunda parte. Nela abordarei as razões porque sou ateu e não agnóstico.
(parte 2 – brevemente)
(Publicação simultânea: Diário Ateísta / Penso, logo, sou ateu)
O embuste do padre Pio, conhecido pela Igreja Católica Romana que através do infalível João Paulo, o segundo, posteriormente o santificou, não foi apenas exposto a público aquando do livro “Padre Pio, miracles and politics in 20th century Italy” de Sergio Luzzatto, o embuste foi detectado no dia em que o padre sucumbiu, retiradas as luvas nada de feridas, hipóteses dementes para o ar como a cura aquando a morte pelo ser superior cristão e aldrabices nos mesmos contornos e lá foi o Pio para santo e mais uns factos para a Igreja Católica Romana esconder. No vídeo seguinte, retirado do excelente documentário Stigmata da National Geographic, pode-se aprender a brincar aos estigmas, nada melhor para angariar fundos de maneio através da crendice dos outros.
Também publicado em LiVerdades
Ora bem, quem não tem nada para dizer de novo, escreve livros sobre o trabalho dos outros.
As «pulgas» do ateísmo: em grande forma, como se pode ver.
Para ver mais «pulgas» visite o NOVA
O mundo está cada vez mais inseguro. As ogivas nucleares estão ao alcance de qualquer ditador e de todos os alvos. Não há boas mãos nem países de confiança, mas o perigo é maior quando a fome, o desespero e a fé se juntam numa mistura explosiva potenciada pelo ódio.
No Paquistão, o presidente Pervez Musharraf acaba de declarar o estado de excepção para evitar que, dentro de dias, o Supremo Tribunal se pronunciasse sobre a legalidade da sua recente reeleição e promete, a partir das próximas eleições gerais, previstas para Janeiro de 2008, a restauração das liberdades democráticas, como se pudesse restaurar o que nunca existiu e acaba de impedir.
No Paquistão só existe um poder – o militar -, acossado por bandos tribais que detêm armas sofisticadas, relações de poder medieval e a convicção inabalável de que podem destruir os infiéis. É aqui que a civilização, os países democráticos e os bem instalados cidadãos do hemisfério Norte se encontram desafiados.
A cumplicidade das democracias com as ditaduras é o pecado original do pragmatismo. No Paquistão o general Musharraf está tão intranquilo como a União Europeia e os EUA. Não há tempo para esperar que das montanhas onde floresce a papoila e o Corão brote o Iluminismo, a Reforma e a Revolução Francesa, e que a cultura helénica e o direito romano influenciem o plágio grosseiro do cristianismo que guia os líderes tribais e religiosos do Islão.
Na Europa, a Guerra dos Trinta Anos foi há quase quatro séculos e terminou, depois de sangrentos combates, com a Paz de Westfália onde nasceu a liberdade religiosa e a modernidade.
Não podemos esperar tanto tempo e nem eles nos deixam esperar.
DA/Ponte Europa
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.