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10 de Agosto, 2008 Carlos Esperança

Momento de poesia

  QUERO  ENTENDER

 

 

Se me disseres porque morre uma criança queimada na barraca.

Se me disseres porque uma mãe com o filho às costas

                      perde uma perna numa mina,

                      e a criança magrinha ali fica a chorar

                      até secar as lágrimas,

                      e se deixa adormecer abocanhando a mama

                      que já nada tem para lhe dar.

Se me disseres porque é que uma mulher,

                      ali à frente das câmaras e perante o nosso olhar,

     já sem nada para dar, arranhar,

                                 esgravetar nem roubar

                      morre assim, muito antes de morrer.

Se me disseres porque matam e morrem os homens

                      em nome do Criador de todas as coisas.

Se me disseres porque dá Deus os gozos da vida aos

 ricos e  poderosos,

                      e aos pobres só migalhas de afectos,

                      água, ar e restos de alimentação contaminada.

Se me disseres porque é que a violência faz parte

da vida dos  homens

                      e dela têm de sair sempre vencidos e vencedores.

Se me disseres porque é que nestes tempos pós-modernos e globais,

                      como o fora na peste negra,

                      e já antes desta entre assírios, gregos, romanos

                      e outros que tais,

                      só os ricos têm acesso à riqueza

                      e às coisas puras, saudáveis e naturais.

Se me disseres porque é que, mesmo assim,

                      na morte somo todos iguais,

                      ou talvez não,

                      mas sem que daí venha qualquer consolação.

Se me provares que a justiça veio ao mundo

                      e por cá ficou.

Se me provares que a fome atinge só quem não faz pela vida,

                      e que a miséria, seja ela qual for,

                      é o fruto natural de ervas daninhas

               que, se calhar, até deveriam ser mondadas

                                                        à   nascença.

 

Se me explicares porque é que todos os projectos políticos

                      assentam na bondade do povo

                      e apontam a felicidade dos homens.

  Se me explicares como podem os homens entender-se,

                      aceitar-se e amar-se

                      se a sua vida é só representação.

Se me explicares como é que nestas condições

                      valerá de alguma coisa dizer-se

                      que perante a lei os homens são todos iguais.

Se me provares que as terríveis imagens de seres amortalhados

em pele e ossos e com olhos desmedidamente arrega-lados,

                      que nos metem em casa às horas mais inconvenientes

                      mais não pretendem do que alertar-nos

                      para as flagrantes desigualdades do mundo.

Se me disseres porque é que tão arrepiantes despojos

                      são ferozmente disputados entre hienas e abutres

                      nas cadeias de televisão,

                      que as retocam e recompõem com música de fundo,

                      se necessário for,

                      para voltar a servir e a repetir até à saturação.

Se me provares que este jogo não tem qualquer maldade

                      e não almeja a vulgarização destas

dramáticas situações,

                      nem induzir ideias de uma inferioridade natural

 ou de ainda mais preversas e recorrentes inter-       pretações

                     da teoria da evolução,

                     que assim continuará a fazer a selecção.

Se me provares que a ajuda humanitária,

                      agora estruturada em múltiplas organizações

                      não é um instrumento da Globalização,

                      pronta a levar aos indigentes do mundo,

                      em bons empregos e exóticas excursões,

                      o vomitado dos ricos, para os quais,

                      sem pobres, não haveria sossego de consciência

                      nem para a alma salvação..

Se me provares que a melhor maneira de ajudar

                      ainda é dar,

                      e não como o Grande Timoneiro

                      não se cansava de ensinar.

Se me provares que a caridade é melhor que a solidariedade,

                      sabendo nós que esta não amesquinha nem degrada,

                      porque assenta nos princípios da igualdade,

                      não faz curvar o corpo e baixar a cabeça,

                      com que se hipoteca a dignidade.

 

Se me provares que Deus, a Natureza

                      ou seja lá o que for que trata destas coisas,

          a uns deu inteligência, força de vontade e determinação

                      e a outros não.

Se me disseres que o tráfico de drogas e mulheres

                      é um sucedâneo natural da livre iniciativa,

                      da vida em liberdade e da sociedade da abundância.

Se me disseres que Aquele que controla o mais pequenino dos

                                                                               meus cabelos

                      nada pode sobre a vontade dos homens

                      e eu te disser que um Deus assim não me serve

 para nada,

                      e tu ficares calado.

Digas-me tu o que disseres,

                      e por muito que nos possa custar,

                      eu te direi que pior que derrubar o

 World Trade Center

                      com tudo e todos os que ali se cruzaram com o azar,

                      ainda é violar uma criança.

Se me disseres, provares e explicares

                      isto e o mais que falta para tudo,

                      Então, ainda menos ficarei a entender do mundo.

 

 

 

 

 

               a) Diamantino Silva                                              Out2001

8 de Agosto, 2008 Carlos Esperança

BRASIL – Primeira mulher padre mora em Belo Horizonte

Após quatro anos de estudos, Ana Maria de Almeida, de 26 anos, tornou-se a primeira sacerdotisa do Brasil. Ela foi ordenada, no último domingo (3), no salão da comunidade carismática da capela de São Lázaro, localizada na região metropolitana de Belo Horizonte. (Leia mais…)

Comentário: A profissão é tão pouco recomendável como a atitude do Vaticano.

6 de Agosto, 2008 Carlos Esperança

A mentira repetida torna-se menos credível

Um alemão de 28 anos que, acreditando ser a reencarnação de Jesus Cristo, pulou uma barreira de segurança e se pendurou no papamóvel do pontífice Bento XVI, em junho de 2007, no Vaticano. Ele foi condenado ontem a se submeter à terapia, informou a justiça alemã. O rapaz, cuja identidade não foi divulgada, foi condenado a quatro anos de prisão sob fiança e a seguir um tratamento psiquiátrico.

Comentário: Com outro juiz, em vez do manicómio, tinha uma religião à espera.

30 de Julho, 2008 Carlos Esperança

Oferta Pública de Aquisição – OPA amigável

O Vaticano estuda com atenção o pedido do braço dissidente da Igreja anglicana de se unir à Igreja Católica, segundo um documento revelado nesta terça-feira, num momento de crise da comunhão anglicana. ( AFP )

Nota: A tendência é para os monopólios da fé.

28 de Julho, 2008 Carlos Esperança

Algumas reflexões sobre o divórcio

Faltando-me experiência para dar testemunho sobre o divórcio, corro o risco de parecer um padre a falar do matrimónio. Herdei o espírito monogâmico e o hábito de manter os laços conjugais mas sei da vida o suficiente para ter a convicção de que não é o divórcio que interrompe o casamento, é o fim deste que dá origem ao divórcio.

Há almas pias que vêem na consequência a causa e na tentativa de evitar males maiores uma conspiração contra a instituição que os tempos se encarregaram de tornar precária.

Claro que hoje já não é hábito assediar uma divorciada, apontá-la à execração pública e atribuir-lhe a culpa que é apanágio da mulher, uma espécie de complemento do pecado original. Mudaram-se os tempos e as leis, e o divórcio deixou de ser o ferrete vexatório que perseguia a mulher, enquanto o homem, como sempre, gozava de compreensão.

Lembro-me das primeiras divorciadas que conheci e da forma como eram recriminadas pela inépcia na sedução dos maridos, resquícios de tribalismo machista que a sociedade rural e beata se encarregava de perpetuar.

Quando, a seguir ao 5 de Outubro de 1910, a República instituiu o matrimónio, eram vulgares as manifestações de rua com catequistas, celibatárias e padres a condenarem a lei que resolveu situações intoleráveis.

Quando, depois do 25 de Abril, sendo ministro da Justiça Salgado Zenha, se permitiu o divórcio a quem tinha um casamento católico, que a Concordata tinha definido como perpétuo, houve apenas manifestações de júbilo e a faculdade de resolver casos de mancebia, incluindo o do Dr. Sá Carneiro, governante que não via necessidade de uma Concordata.

Agora, 34 anos depois do 25 de Abril, as alterações legislativas para facilitar o divórcio, a fim de o tornar menos traumático, uniram contra si as associações pró-família, vários sectores conservadores, meios religiosos, alguns magistrados e o próprio PR que a idade vai tornando cada vez mais devoto.

Grupos de pressão donde nunca partiu um aviso sobre violência doméstica, pessoas pias que jamais denunciaram maus-tratos conjugais e associações que nunca emitiram uma opinião sobre mulheres assassinadas pelos maridos (são elas as vítimas mais frequentes) vêm agora, tal como aconteceu em Espanha, fazer um enorme ruído sobre uma lei que, na minha opinião, traduz um avanço civilizacional.

É preciso lembrar que o divórcio é a consequência de um casamento falhado e jamais a causa do seu termo. Arrastar pelos tribunais a devassa da vida íntima e a crispação de uma ruptura é acrescentar um sofrimento suplementar para o casal e para os filhos, se os houver. Um tormento inútil por causa de um preconceito.

26 de Julho, 2008 Carlos Esperança

Pílula continua excomungada

Quarenta anos depois da publicação da encíclica do Papa Paulo XI, “Humanae Vitae” proibindo o uso da pílula anticoncepcional, cerca de 60 organizações católicas dissidentes pediram ao Papa Bento XVI que autorize a contracepção em uma carta publicada nesta sexta-feira e imediatamente considerada sem fundamento pelo Vaticano. ( A F P )

22 de Julho, 2008 Carlos Esperança

Adultério e pena de morte

A pena de morte é uma barbárie que repugna ao humanismo e um acto de vingança que envergonha os Estados e os cidadãos. É natural que tenha vindo a ser erradicada dos países civilizados, sobretudo daqueles onde são mais fundas as marcas do Iluminismo e melhor defendidos pelas Constituições os direitos, liberdades e garantias.  

Mas se a rusticidade da violência é já, em si, uma enormidade que afronta a civilização e a decência, há motivos que juntam, à vingança e crueldade, a demência.

No Irão acabam de ser condenados à morte por lapidação, uma pena do especial agrado de Maomé, oito mulheres e um homem acusados de adultério, crimes que resultam sobretudo da violência doméstica e onde os condenados carecem de instrução básica para perceberem o crime de que são acusados.

As teocracias são o contrário das democracias e não se espera contemplações do Profeta ou de quem promulga as suas divinas leis. De pouco servem as circunstâncias em que o crime foi cometido ou a confusão obscena entre crime e pecado, entre o Código Penal dos países laicos e o direito canónico, de sabor medieval, dos países sob tutela clerical.

Camilo e Ana Plácido estiveram presos, ele por ter copulado com mulher casada e ela por adultério, pena exclusiva de mulher. O homem só era punível quando apanhado em flagrante delito «sós e nus na mesma cama» ou por existência de carta ou documento escrito. Foi uma carta que perdeu Camilo. O escritor cumpriu mais de um ano de prisão preventiva e Ana Plácida um pouco mais. Terá pesado a ousadia de retirar do Convento da Conceição, em Braga, uma mulher que devia dedicar-se à contemplação mística e à oração, em vez de dar-se a relaxações eróticas.

Em Portugal já decorreu século e meio. No Irão ainda hoje vigora o crime, com efeitos muito mais arrasadores. Em Portugal resta, como resquício teocrático e vergonha dos legisladores, o crime de blasfémia, punível com prisão, que a jurisprudência ignora perante um bem maior – a liberdade de expressão.

No Irão dos aiatolas a polícia e os tribunais são um mero instrumento do clero de que o mundo civilizado é cúmplice em nome do respeito pela tradição e pela cultura.

Há quem confunda religião e cultura.

12 de Julho, 2008 Carlos Esperança

Factos & documentos

Foi notícia nos média: a diocese de Lisboa perdeu nos últimos sete anos à volta de cem mil fiéis praticantes. O próprio cardeal-patriarca reconheceu que há muita negatividade nas celebrações e na Igreja: inadaptação aos novos tempos; deficiências na formação dos padres; má proclamação da Palavra de Deus; má qualidade e falta de mensagem religiosa dos cânticos; homilias inadequadas e deficientes. (Ler Artigo completo no DN, por Anselmo Borges)

CE

1 de Julho, 2008 Carlos Esperança

Problemas com o meu computador

Por razões desconhecidas não tenho tido acesso ao Diário Ateísta.

Imaginem um beato privado da hóstia!

CE