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31 de Janeiro, 2009 Raul Pereira

A senha [sic.] continua…

Afinal, a inteligência e a razão acabam sempre por vencer, ainda que demore: Génova sempre vai ter um autocarro ateu. A «União dos Ateus, Agnósticos e Racionalistas» italiana pensou uma nova frase depois da anterior (que por acaso era brilhante) ter sido recusada. Em vez de: “A má notícia é que Deus não existe. A boa é que também não lhe faz falta” (trad. livre), os genoveses poderão ler nos autocarros: “A boa notícia é que em Itália há milhões de ateus. A óptima é que acreditam na liberdade de expressão“. Com a atitude de reprovação a que já fomos habituados, as hierarquias da sotaina apenas fizeram com que os ateus saíssem reforçados. Estes têm agora uma frase que condena a censura a que foram sujeitos e jogam com a polémica anterior, acrescentando-lhe ironia. Acresce ainda o facto de não ser possível novo lápis azul, pois as palavras desta vez são cândidas e inocentes, embora doam mais.

Pelo que me foi dado ver aqui, isto preocupa a Dr.ª Maria José Nogueira Pinto. Agora, ir buscar São Paulo? Por amor de ([vazio])! São Paulo? O homem que uniu os MORES (e até o direito) romanos à religiosidade judaica – a base do sucesso do proto-cristianismo, que se viria a tornar no caldo da destruição dos avanços civilizacionais da Antiguidade. Um dos grandes responsáveis, no fundo, por dois milénios de obscurantismo. Certo, Roma não era perfeita, mas ficou bem pior 300 anos depois, cristã e Constantiniana, moribunda e agarrada ao SIGNO. Coisas há que me deixam parvo. Se quiser ler obras desse período fico por Ovídio, Horácio ou Séneca. Bem mais interessantes que Paulo de Tarso e, seguramente, de valor literário bem superior. Faria bem a Dr.ª Maria José Nogueira Pinto em ler Catulo, sobretudo alguma da sua poesia erótica, para entender o que por essa altura escrevia quem tinha o espírito e mente abertos e vivia segundo as leis de Epicuro e não de Javé. Muito mais refrescante e poético.

Depois, chama à Europa, um «parque jurássico entregue a movimentos infantilizadores e primários». Alto aí! Então, afinal acredita na Evolução. Não se pode invocar o santo nome do Jurássico em vão! Foi um período muito sério e… lírico. Mais: «infantilizadores»? Deve estar a falar a falar das religiões, só pode, são os únicos movimentos conhecidos que fazem as pessoas acreditar em amigos imaginários até à idade adulta.

Por último, claro, tinha que vir uma citação e, nessa citação… Bach. Aqui vamos mesmo parar. Eu ouço Bach. Eu adoro Bach. Eu sinto Bach em todos os neurónios. Eu considero a «Paixão Segundo São Mateus» (BWV 244) uma das maiores obras da História da Humanidade. Eu continuo ateu. Quantas vezes teremos que martelar neste argumento?… Bach também compôs obras seculares e não me parecem inferiores às religiosas, antes pelo contrário, se pensarmos, por exemplo, no Das Wohltemperirte Clavier (BWV 846–893) ou no Musikalisches Opfer (BWV 1079). Eu não consigo atingir o divino na música, acho-a divinal como adjectivo apenas, mas empenho-me em perceber a sua profundidade intelectual e complexidade harmónica ou de execução. Daqui, deste exercício, retiro sensações de fruição únicas e verdadeiro prazer mental e até físico, mas a última coisa em que penso é na hóstia ou num ser a olhar para mim sabe-se lá de onde. Fosse o séc. XVIII um tempo de total secularização da sociedade e Bach teria certamente ido buscar outras fontes de inspiração para saciar o seu voraz génio criativo.

Don DeLillo! Muito má escolha de citação, Dr.ª Maria José Nogueira Pinto. Até posso perceber, pela amostra do Antigo Testamento, que se encontre deus no «sofrimento» e no «terror» apontados na frase; eles estão lá bem explicados: a homofobia, a misoginia, as lapidações, a xenofobia e os massacres. Agora, eu quando vejo isto, sinto é «terror» da gente que acredita e adora um deus assim e, Dr.ª Maria José Nogueira Pinto, vou lutar durante a minha vida inteira – com todas as forças e com as limitadas capacidades cerebrais com que a evolução me dotou -, para que o «sofrimento» que eles causam aos outros seja diminuído.

Entretanto, tome lá mais um autocarro em Génova. E vá ficando à espreita, porque pode ser que um dia destes uma frase interessante apareça estampada no 92, que passa na Rua do Arsenal a caminho do Bairro Alto.

28 de Janeiro, 2009 Carlos Esperança

Novo patriarca da Igreja ortodoxa russa

Moscou, 27 jan (EFE).- O metropolita Kiril, de Kaliningrado e Smolensk, guardião do trono patriarcal, foi eleito hoje o novo patriaca da Igreja Ortodoxa Russa.

Nota: Também aqui o Espírito Santo é que ilumina os eleitores. Nunca uma pomba foi tão responsabilizada pelos interesses em presença.

27 de Janeiro, 2009 Carlos Esperança

Autocarro ateu circula em Madrid

Saúdo a União de Ateus e Livres Pensadores de Espanha e congratulo-me com a chegada do autocarro ateu a Madrid onde os madrilenos podem ler: “Provavelmente Deus não existe. Então, deixe de se preocupar e desfrute a vida”.

Sendo pacífica a manifestação de cidadania, ao contrário das homilias homofóbicas do cardeal Rouco Varela ou dos mullahs islâmicos contra os infiéis, espero que a população madrilena tenha mantido o civismo, sem se deixar instrumentalizar pelos fundamentalistas que consideram a Espanha um protectorado do Vaticano.

Perante numerosas solicitações e ofertas de  dinheiro, algumas aqui no DA, para importar esta iniciativa dou a minha opinião pessoal:

1 – Não temos ainda meios humanos e financeiros para, neste momento, pôr de pé uma iniciativa desta natureza em Portugal;

2 – As ofertas reiteradamente feitas impedem a sua aceitação por não se poder assegurar o êxito da iniciativa e não haver condições para, em caso de fracasso, devolver as importâncias recebidas;

3 – Saúdo todos os ateus e livres-pensadores e acompanha-os na inquietação com a agressividade das três religiões do livro – judaísmo, cristianismo e islamismo –, frequentemente detonadoras do ódio e fomentadoras de guerras.

O ateísmo tem rodas para circular contra o pensamento único e a intolerância religiosa porque « provavelmente Deus não existe» e não há motivos para temer o que não existe nem razões para o medo que  impede as pessoas de desfrutarem a vida.

25 de Janeiro, 2009 Carlos Esperança

Momento de poesia

Dissertação sobre a existência de Deus…

Ao Carlos Esperança,
pelo seu esclarecido empenhamento
na causa ateísta

Hoje trago-vos uma boa notícia
Deus não existe
ou, pelo menos, não existe
tal como os sacerdotes o inventaram
procurei-o por toda a parte
nas cidades, nos palácios, nos muceques,
nas favelas e em todos os bairros da lata
procurei-o por montes e vales
na infinidade do Céu e da Terra
nas intimidades da natureza humana
e não o encontrei
nem a matéria o revelou
assim como não tropecei
nas asas de um qualquer arcanjo
a arengar as palavras divinas
também não me apareceu no Sinai
embora eu tivesse levado as tabuinhas
a gruta de Meca estava interdita aos infiéis
e já nem foi preciso ir a Jerusalém
visitar o Muro, o Sepulcro
e o Pátio das Mesquitas
na esperança de provar a sua existência
ali só iria sentir o cheiro intenso dos incensos
e o ódio em todas as bocas
nas horas das lamentações
e no coro de todas as orações.

Alexandre de Castro

24 de Janeiro, 2009 Carlos Esperança

Laicidade a menos. Opinião de um leitor

God bless America?

Por: Renato Soeiro

(Publicado em: O Gaiense, 24 de Janeiro de 2009)

Os EUA e o mundo chegaram ao fim de um pesadelo. Bush partiu, sem honra nem glória, detestado pelos seus e odiado pelo mundo.

O fim de um pesadelo não é necessariamente o início de um sonho. Mas é certamente o início de um novo ciclo, que não poderá ser pior do que o anterior.

O discurso inaugural de Obama, que o mundo ouviu com emoção e esperança, teve inúmeros aspectos positivos, absolutamente diferenciadores da retórica e da estratégia do seu antecessor. Embora tenha acabado mais ou menos com as mesmas palavras: “God bless the United States of America”.

Apesar de referir que “somos uma nação de cristãos e muçulmanos, de judeus, de hindus e de não-crentes”, apesar de apelar à unidade de todos os norte-americanos, o seu juramento foi feito sobre o livro sagrado de apenas uma daquelas religiões e o seu discurso esteve repleto de referências a Deus e às Escrituras. Até a igualdade e a liberdade foram referidas como dádivas de Deus, a fonte do chamamento para forjar um destino incerto.

Já antes do discurso do presidente, o controverso pastor evangélico Rick Warren tinha feito uma invocação usando citações judaicas e cristãs. E depois do seu discurso, o reverendo Joseph E. Lowery abençoou Obama com as suas palavras (no mais progressivo de todos os discursos da cerimónia, referindo mesmo a transformação dos tanques de guerra em tractores).

Foi Deus a mais para a sensibilidade política dos europeus, que não vêem com muito bons olhos esta mistura de política com religião, que tantos problemas continua a gerar no conflituoso mundo em que vivemos. Até porque, em princípio, se trata do mesmo Deus invocado por Bush em cada um dos seus discursos, nomeadamente naqueles em que fez as desastradas declarações de guerra que marcaram tragicamente o seu mandato. Invocado em vão, como se provou.

24 de Janeiro, 2009 Ludwig Krippahl

Extremismo, só com moderação.

Foi marcado o julgamento do casal Neumann, do Wisconsin (1). Cristãos dedicados, sempre trataram a sua filha Kara com oração em vez de medicação. Infelizmente, a criança tinha diabetes e morreu em Março do ano passado. Tinha 11 anos de idade e nenhuma culpa pelos genes e pais que o deus dos seus pais lhe dera. Se condenados, os devotos Neumann podem cumprir até 25 anos de prisão. Não ajuda a Kara mas talvez evite que façam o mesmo a outro filho.

Felizmente, a maioria dos crentes não é idiota e a maioria das crianças não tem doenças mortais. Por isso a conjunção dos dois é rara. Mesmo assim, só nos últimos 25 anos a estupidite religiosa matou trezentas crianças nos EUA. É muito menos rara do que devia ser.

Mas também é preocupante que as crenças dos fundamentalistas e dos moderados sejam as mesmas. Ambos crêem que os filhos nascem com a religião dos pais, que as coisas acontecem segundo a vontade divina, que um livro sagrado é a palavra do seu deus e assim por diante. A grande maioria de crentes sensatos distingue-se da minoria de doidos apenas por levar as mesmas crenças menos a sério.

Pode bastar. Há muita gente que bebe bagaço ou fuma haxixe sem ser alcoólico ou drogado. Mas tem que ser pouquinho de cada vez. Também as crenças religiosas são para consumir com moderação por serem tão fortes. Há poucas religiões light. Um deus algo-poderoso que dê uns toques aqui e ali não satisfaz. Os crentes querem um Deus Todo-Poderoso, com maiúsculas e tudo, capaz de controlar todo o universo. Uma crença que os aqueça por dentro. Mas disso só se pode tomar um calicezinho aos domingos e dias de festa. E nunca quando se tem crianças doentes em casa.

1- New York Times, Trials for Parents Who Chose Faith Over Medicine

Em simultâneo no Que Treta!