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Categoria: Não categorizado

28 de Junho, 2013 José Moreira

Para descontrair…

O vigário de um vilarejo tinha um pinto (franganote…) como mascote, a que apelidou de Valente.
Certo dia, o pinto Valente desapareceu e o Padre pensou que algum paroquiano o havia surripiado.
No dia seguinte, na missa, o vigário perguntou à congregação:
– Algum de vocês aqui presentes tem um pinto?
Todos os homens se levantaram.
– Não, não, disse o vigário, não foi isso que eu quis dizer.
– O que eu quero saber é se algum de vocês viu um pinto?
Todas as mulheres se levantaram..
– Não, não, repetiu o vigário… o que eu quero dizer é se algum de
vocês viu um pinto que não lhes pertence.
Metade das mulheres se levantou.
– Não, não, disse o vigário novamente muito atrapalhado.
– Talvez eu possa formular melhor a pergunta:
– O que eu quero saber é se algum de vocês viu o meu pinto?
Todas as freiras se levantaram.
– Esqueçam, esqueçam ….e vamos continuar a missa!

28 de Junho, 2013 José Moreira

Deve estar esquecido…

Alguém diga ao papa Francisco o que aconteceu ao seu antecessor, o João Paulo I; porque por este andar, o Espírito Santo não tarda a ser chamado, novamente, a inspirar o colégio cardinalício.

24 de Junho, 2013 Luís Grave Rodrigues

Apostasia

23 de Junho, 2013 David Ferreira

Hóstia dominical – I

A atitude mais perversa que se pode ter para com uma pessoa ignorante é convencê-la da existência indubitável de verdades estanques e invioláveis. O pensamento autocrítico tende a desvanecer-se progressivamente em todos os que julgam conhecer o essencial e o orgulho narcísico que o privilégio dessas verdades despoleta cega-os demasiado para que o possam reconhecer.

23 de Junho, 2013 Carlos Esperança

A Ivone ou de como o ódio se transformou em amor – Crónica de fim de semana

Em meados do século passado transbordava a fé nas aldeias de Portugal. O terço era, em Maio, uma obrigação quotidiana, exortada pela Irmã Lúcia, a rogo da Senhora de Fátima. Agradecia-se a ausência de Portugal na guerra de 1939/45 e o Salazar que a Providência nos designou.

Ninguém suplicava já o regresso do rei, implorava-se a conversão da Rússia.

As festas religiosas tinham data certa e regozijo garantido com um bailarico profano que amofinava o padre e alvoroçava a juventude e o acordeonista. As procissões reuniam os paroquianos e as missas diárias tinham boa clientela apesar da faina agrícola. As mulheres arranjam sempre tempo para a devoção por mais tarefas que lhes caibam ou solicitações domésticas que não possam alijar. Até nas rezas substituem os maridos e os filhos.

No mês de Maria o terço não se resumia aos cinco mistérios e respectivos padres-nossos e ave-marias. Havia cantoria litúrgica para seduzir o divino e desimpedir o caminho do Céu, quando a hora chegasse, à alma dos executantes. Para isso servia a igreja e para evitar que a fé desse lugar ao sono domiciliário onde, à lareira, chegava no primeiro mistério.

Ao excesso de fé, à pressa das orações ou a ânsias mais profanas se deveu a velocidade com que umas raparigas da aldeia passavam pela igreja, sem parar a tempo, indo cair na vinha em frente. Não lhes escasseava compaixão pelo martírio do seu Deus a avaliar pelos gemidos.

A aldeia murmurava que fora enganada a Pedra, desonrada a Ivone e muitas já não estavam como deviam. E não sabiam as pessoas, da missa, metade.

Andavam muitas na boca do mundo que é como quem diz nas conversas de quem gosta de falar da vida alheia. Honrava-se quem casasse e perdiam-se as enjeitadas.

Intimidaram-se com ameaças alguns mancebos e cuidaram de arranjar papéis, limitaram-se outros a ouvir gritos de coitanaxas ensinadas à porrada a conter o alvoroço e as hormonas. Mas, para as que encheram, vinha tarde a pedagogia e o sermão.

O Zé Ferreira preferiu a PSP ao enlace, e abalou para Lisboa deixando prenha a Ivone. Acabou polícia e casado, sem a Ivone que o pai prometera matar. Assustei-me ao escutar a ameaça e os nomes que lhe gritava para que a aldeia ouvisse. Adivinhei as lágrimas e a vergonha da cachopa, enganada e cheia, dentro das paredes da casa térrea.

Nem todas encheram mas foram sete as que em Fevereiro do ano seguinte deram à luz, unidas, umas, pelos santos laços do matrimónio e pela obrigação de continuarem a parir, ficando outras com a vergonha e um único filho.

Quando nas férias grandes voltei à aldeia roía-me a curiosidade e o medo de que a Ivone tivesse acabado às mãos do pai, vítima da honra que soía lavar-se. Passei várias vezes à porta para saber se vivia. Não a via e temi o pior. O Zé Ferreira – disseram-me – abalara para Lisboa.

No dia em que tive a certeza de que a Ivone vivia rejubilei. Era uma criança sensível que não me conformava com a morte embora soubesse que as famílias tinham, nesse tempo, códigos de honra que não permitiam que alguém fizesse pouco das filhas sem vingarem a afronta. Se a desgraçada tinha irmãos cabia a estes sangrar o machacaz, caso contrário a rapariga era posta na rua, levava uma malha ou as duas coisas.

A caminho da Fonte do Vale não vi a Ivone, mas, nos braços do avô, sentado na soleira da porta, uma criança de meses era embalada ternamente. Compreendi então que a vida vale mais do que os preconceitos e que uma criança é capaz de transformar em amor o ódio que explode em momentos de exaltação e de vergonha.

In «Alembranças» (A publicar)

20 de Junho, 2013 Carlos Esperança

Vaticano reconhece segundo milagre de João Paulo II

«Em abril, os médicos do Vaticano reconheceram a cura inexplicável de uma mulher.»

Julgava-se que, com o papa Francisco, chegara ao Vaticano uma pessoa normal, que não podendo evitar o lóbi gay e a corrupção que o aguardavam, poderia ainda suspender os milagres já preparados para a indústria da santidade.

É um truísmo banal afirmar que «o que pode ser afirmado sem provas, pode igualmente negar-se sem provas», mas surpreende que no século atual ainda se inventem milagres para alimentar o comércio da fé.

Quando «a cura inexplicável de uma mulher» se transforma em milagre e se descobre logo o autor, há uma boa dose de superstição ou uma deliberada encenação do embuste.

Esqueçamos o Papa que perseguiu os teólogos da libertação, que os reduziu ao silêncio e que deixou à solta a Opus Dei, o negócio dos milagres e o encobrimento dos casos de pedofilia. Fica ainda a cumplicidade com Reagan e a proteção a Pinochet, cujos crimes silenciou ao contrário dos esforços para lhe evitar o julgamento. Não houve ditador sul-americano católico que não tivesse a sua bênção e ações contra o comunismo que não tivessem a sua subvenção pia sem escrúpulos sobre a origem do dinheiro.

A proteção ao arcebispo Marcinkus, cuja extradição impediu, para evitar o julgamento e a condenação que esclareceria a lavagem de dinheiro no Vaticano e a falência do banco Ambrosiano, era suficiente para manchar o pontificado de João Paulo II.

Quem protegeu os mais reacionários movimentos católicos, Opus Dei, Legionários de Cristo e Comunhão e Libertação, grandes contribuintes dos cofres do Vaticano, todos envolvidos em escândalos à escala planetária, apenas porque lutou contra o comunismo, não merece que lhe adjudiquem um milagre para o colocarem nas peanhas das igrejas e nos santinhos que distribuem pelos garotos do Terceiro Mundo.

Afinal, o Papa Francisco apenas continua o negócio por outros meios.  A santidade é o estado civil e a profissão do velho celibatário, à semelhança dos seus antecessores.

19 de Junho, 2013 Ludwig Krippahl

A (in)compatibilidade.

O Alfredo Dinis e a Palmira Silva debateram, no Contraditório, a compatibilidade entre ciência e religião (1). O Alfredo defendeu que são compatíveis, a Palmira defendeu o contrário. Como já escrevi aqui várias vezes, estou do lado da Palmira nisto. No entanto, não me parece que a Palmira tenha argumentado bem em suporte desta tese e, por isso, não resisto meter o bedelho. Vou só despachar o Alfredo primeiro.

O Alfredo defende que a ciência e a religião, em que “religião” quer dizer a dele, parecem ser incompatíveis apenas porque muitos interpretam mal os livros religiosos, em que “livros religiosos” quer dizer a Bíblia. Interpretando a Bíblia correctamente, em que “correctamente” é como o Alfredo diz interpretá-la, já fica tudo resolvido. Assim, o Alfredo pode dizer que «Nunca senti que o conhecimento científico abalasse a minha crença em Deus». Mas a questão não é se é possível definir e redefinir as crenças religiosas de forma a evitar contradições com o conhecimento científico. A questão é se a ciência é compatível com a religião. Inadvertidamente, o Alfredo demonstra que não: «A religião representa a recusa de acreditar que a vida humana não tem qualquer importância num universo que teria surgido por acaso e onde a Humanidade teria aparecido igualmente por mero acaso.» Esse cliché de ser preciso acreditar num deus para dar valor à vida é um disparate que, espero, já não exige refutação. Mas, à parte disto, o Alfredo afirma que a religião exige “a recusa de acreditar” em certas hipóteses. Categoricamente, e sejam quais forem as evidências que possamos vir a ter, o religioso recusa acreditar, por exemplo, na hipótese de não existirem deuses. Esta rejeição categórica de uma hipótese é incompatível com a ciência. QED.

A Palmira foca os conflitos históricos entre ciência e religião, dá exemplos interessantes e não diz nada que me pareça errado. No entanto, falha o fundamental. Afirmações como «a religião assenta na fé […] e a ciência em factos» ou «todas as “verdades” religiosas nas respectivas áreas de estudo foram refutadas cientificamente» enfraquecem o argumento porque não são consensuais. O crente dirá que há factos religiosos e factos científicos e que as verdades mais importantes da religião são inatacáveis. É verdade que isto exige usar os termos de forma subtilmente diferente, mas primeiro que se deslinde o que se quer dizer com “factos”, “verdade” e “científico” atolamos num lamaçal de desculpas onde é quase impossível progredir. Já lá estive; sei como é. Afirmar que a ciência assenta «no método científico» também adianta de pouco e até ajuda a ideia, falsa, de que a ciência é um jogo que se pode jogar num canto sem interferir com a religião que se joga no outro. Eu proponho uma abordagem diferente.

Por um momento, deixemos de parte a conversa da ciência e da religião. Em vez disso, vamos considerar um objectivo simples: quero que a minha concepção da realidade corresponda, o melhor possível, ao que a realidade é. Ou, parafraseando um professor de filosofia que tive, ninguém gosta de ser enganado*. Se é isto que quero, então o ponto de partida em qualquer questão acerca da realidade não pode ser acreditar, ter fé, desejar ou recusar alguma hipótese. Isso iria subordinar a resposta a um preconceito, precisamente o contrário do objectivo inicial. Se quero moldar, tanto quanto possa, as minhas ideias à realidade tenho de começar sempre por “não sei”. No ponto de partida tenho de ter as opções em aberto e só depois, com informação que o justifique, posso seleccionar entre as várias alternativas.

Isto, feito com afinco, é ciência. Se não sei a resposta tenho de considerar várias hipóteses. Como não sei, à partida, qual delas é a correcta tenho de encontrar forma de as testar, de as confrontar umas com as outras e de confrontar todas com a informação que obtenha acerca do que quero saber. Mesmo que uma hipótese sobressaia como claramente melhor do que as outras, tenho de manter em aberto a possibilidade de mudar de ideias por encontrar dados que a contradigam ou me ocorrer outra hipótese ainda melhor. Também tenho de estar sempre atento aos erros e garantir que a justificação para optar por uma hipótese em detrimento das outras não depende de crenças ou preferências pessoais. É isto, grosso modo, a que chamamos ciência.

A religião não é incompatível com a ciência no sentido de um cientista não poder ser crente. É possível abordar uns problemas com fé e outros com vontade de saber. Também não é incompatível no sentido dos produtos de uma serem forçosamente inconsistentes com os produtos da outra. Como o Alfredo explica, pode-se sempre reinventar os relatos religiosos de forma a resolver esse problema. Não se vê o escaravelho gigante que rebola o Sol pelo céu? Pois claro que não se vê. É um escaravelho invisível. Amén. A religião é incompatível com a ciência porque o objectivo e o ponto de partida são diferentes. O objectivo da fé religiosa não é mudar de ideias conforme as evidências. É agarrar um dogma com toda a força e nunca o largar. Por isso, o ponto de partida da religião não pode ser “não sei”. Pela fé o crente tenta convencer-se de que já sabe o mais importante. Não há consenso entre os crentes acerca do que isso seja. Pode ser o que está no Korão ou no Novo Testamento, pode ser lido à letra ou como metáfora, pode ser um deus ou vários. Mas, seja como for, o ponto de partida de cada religião são os dogmas que a fundamentam e o seu objectivo é nunca abdicar deles. É isto que é incompatível com a ciência.

* A disciplina era Filosofia Contemporânea mas a matéria que ele deu foi só sobre Kierkegaard, um teólogo protestante do século XIX. Daí que a coisa que mais vivamente me lembro dele foi dizer que ninguém gosta de ser enganado…

1- Contraditório, É possível conciliar ciência e religião?

Em simultâneo no Que Treta!