Mafioso sepultado ao lado do corpo de papas lavava dinheiro com auxiliares de João Paulo II e é acusado de sequestrar e matar a mando de um cardeal.
É preferível morrer de insolação, cair inerte desidratado ou errar por caminhos desertos do que entrar em casa ou num café onde nos espera sempre uma televisão com imagens de uma estrela pope, o Papa, perante o delírio místico de cariocas alucinados ou notícias sobre a cria de uma princesa inglesa.
À falta de um deus, cada vez menos provável, encena-se um espetáculo gigantesco em torno de uma estrela que não canta, não dança, não toca bateria e que usa como único instrumento as mãos e como adereço uma batina branca.
Em Inglaterra, a cria real, cujo desconhecimento do nome provoca apoplexias e calores nas senhoras e subida de tensão arterial nos cavalheiros, chegou bem, sabe-se o peso do animal vivo, imagina-se o futuro inútil e decorativo a que o destinam e garante à Igreja anglicana um futuro chefe cujos bispos são nomeados pelo poder político sem que Deus seja chamado para os negócios da fé.
Que interessam milhões de crianças com fome, os inúmeros mortos que a loucura da fé e a maldade dos homens produzem, o ambiente que se degrada, a água contaminada e o ar irrespirável no mundo cada vez mais injusto e nas mãos de cada vez menos pessoas?
O circo, mesmo sem pão, é o soporífero que anestesia os povos e mantém calmos os que apenas têm a morte como horizonte. É preciso embrutecer antes que acorde a energia de quem nada tem a perder.
Portugal não é um país católico, tal como não é um país benfiquista. Não
é a maior percentagem de adeptos de uma determinada organização que define a
identidade do que se conceituou ser o conjunto de todas as realidades
socioculturais existentes num determinado território delimitado por fronteiras.
AS NOVAS INDULGÊNCIAS DO PAPA FRANCISCO
Por
João Pedro Moura
A afirmação do papa Francisco de que concederia “indulgência plena” aos seus seguidores no Twitter, embora a troco de “terem feito a sua confissão a um padre, recebido a absolvição e participado da missa“ é uma incongruência teológica, que deita abaixo a auréola de seriedade e simplicidade que este papa já granjeou, para quem for católico sério e analisar seriamente tal ideia…
Com efeito, o papa Francisco faz o que o papa Leão X fez, “in illo tempore”, que é o de transformar o “perdão dos pecados” num ato de tipo comercial: tu dás-me e/ou fazes o que eu quero; em troca dou-te a remissão dos pecados.
Isto é, mesmo o maior bandido e criminoso, que desse dinheiro à Igreja, no séc. XVI, recebia indulgência plenária, detraindo a necessidade religiosa e concetual do “arrependimento”, questão eminentemente do foro individual e de sinceridade do indivíduo.
Isto é, um qualquer indivíduo, seguidor do papa no Twitter, desde que diga que foi à confissão, que foi absolvido e que foi à missa, recebe “indulgência plena” do papa…
… Mas não a recebe, quem não seguir o papa no Twitter, ou porque não liga a essa rede, ou porque não sabe, mesmo que se sinta um sincero e devoto católico… de confissões e missas… e reconhecimento público e eclesiástico paroquiais…
A Questão das Indulgências, que o frade agostinho, Martinho Lutero, levantou, afixando “95 teses contra as indulgências” na porta da igreja de Wittenberg, na Alemanha, em 31 de outubro de 1517, traçou a linha demarcativa, que levaria ao maior cisma da Igreja, até hoje: a Reforma Protestante.
E a Questão das Indulgências foi o mote dessa crise fundamental.
Com efeito, o papa Leão X, promoveu a venda de indulgências, a partir de 1515, na Alemanha do norte, a troco de dinheiro para a construção da basílica de S. Pedro, em Roma.
Lutero, uma daquelas pessoas muito sinceras na sua devoção e avessas a situações de corrupção ideológica e material, detetou logo a incongruência entre tal venda e a “salvação da alma”.
A tese fundamental de Lutero, nessa matéria, é a de que o indivíduo se salva pelo arrependimento sincero e vontade de se corrigir e não por uma aquisição de perdão, ainda por cima conseguido por dinheiro…
O que o papa Francisco quer estabelecer agora, é uma recorrência da essência da atitude papal de outrora: conseguir não já dinheiro, mas o apoio de seguidores duma rede social, desde que cumpram formalidades de missas e confissões, recebendo tais sequazes, em troca, uma “indulgência plena”, diferenciando-os, numa situação discriminatória e arbitrária, de todos aqueles católicos que, mesmo sem seguirem o papa no Twitter, são devotos do papa e do catolicismo.
Com esta atitude, o papa Francisco, determina categorias de remissão dos pecados e, consequentemente, de crentes, não pela aplicação teológica do conceito de arrependimento e de fé salvífica, mas sim pela mera e formal inscrição numa rede social informática.
A cobrança de indulgências, no séc. XVI,
pela Igreja católica visava arranjar dinheiro para a
construção da basílica de S. Pedro, em Roma,
durante o papado de Leão X (1513-1521)
Eis alguns extratos significativos da argumentação teológica de Lutero contra as indulgências papais:
“1. Dizendo nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo: “Arrependei-vos” etc., certamente quer que toda a vida dos seus crentes na terra seja contínuo arrependimento.
2. E esta expressão não pode e não deve ser interpretada como referindo-se ao sacramento da penitência, isto é, à confissão e satisfação, a cargo do ofício dos sacerdotes.
5. O papa não quer e não pode dispensar outras penas, além das que impôs ao seu alvitre ou em acordo com os cânones, que são estatutos papais.
6. O papa não pode perdoar dívida senão declarar e confirmar aquilo que já foi perdoado por Deus; ou então faz nos casos que lhe foram reservados. Nestes casos, se desprezados, a dívida deixaria de ser em absoluto anulada ou perdoada.
21. Eis porque erram os apregoadores de indulgências ao afirmarem ser o homem perdoado de todas as penas e salvo mediante a indulgência do papa.
27. Pregam futilidades humanas quantos alegam que no momento em que a moeda soa ao
cair na caixa a alma se vai do purgatório.
28. Certo é que no momento em que a moeda soa na caixa vêm o lucro e o amor ao dinheiro, cresce e aumenta; a ajuda porém, ou a intercessão da Igreja tão só correspondem à vontade e ao agrado de Deus.
32. Irão para o diabo juntamente com os seus mestres aqueles que julgam obter certeza de sua salvação mediante breves de indulgência.
35. Ensinam de maneira ímpia quantos alegam que aqueles que querem livrar almas do purgatório ou adquirir breves de confissão não necessitam de arrependimento e pesar.
36. Todo e qualquer cristão que se arrepende verdadeiramente dos seus pecados, sente pesar por ter pecado, tem pleno perdão da pena e da dívida, perdão esse que lhe pertence mesmo sem breve de indulgência.”
Martinho Lutero, “95 Teses contra as Indulgências”
Segundo informação de Leopoldo Pereira:
Igreja Católica aposta cada vez mais nas novas tecnologias para manter ligação com fiéis
Os católicos já não precisam de ir ao Vaticano para receberem o perdão do Papa. A partir de agora, os seguidores da conta @pontifex no Twitter vão receber os perdões ao pecado através da rede social.
As “indulgências 2.0” chegam na altura em que os jovens que não puderam participar na Jornada Mundial da Juventude, que vai decorrer no Brasil, e onde o Papa vai estar têm uma outra forma de manter contacto com o chefe máximo da Igreja Católica.
Sobre esta novidade, o presidente do Pontifício Conselho para a comunicação social disse: “Não se obtêm indulgências como se consegue um café de uma máquina de venda automática”. Para que o perdão exista, os «tweets» e imagens partilhados pelo Papa Francisco do encontro no Brasil têm que produzir um efeito espiritual genuíno no coração das pessoas”.
A obtenção de indulgência através do Twitter foi aprovada e decretada pela Penitenciária Apostólica no dia 24 de Junho. No final de Abril, o Papa contava já com seis milhões de seguidores na rede social.
Revolta contra bispo de Viseu por substituir padre que não cobra dinheiro
De vez em quando, e surpreendentemente, dos lados da ICAR vão surgindo vozes com intervalos lúcidos, a confirmar que notícia não é um cão morder um homem, e sim o contrário, o homem morder o cão.
Da pena do insuspeito cónego Riu Osório, pio plumitivo do periódico de inspiração católica “Jornal de Notícias”, saiu o pedaço de prosa que abaixo transcrevo, e cujos comentários deixo ao sabor dos que tiverem a pachorra de me ler.
Ei-lo, em cuidadoso “copy/paste”, tal como foi publicado hoje, dia 14 de Julho de 2013, ano da Era Comum:
Notas marginais sobre a primeira missa do novo patriarca de Lisboa, na igreja dos Jerónimos.
Com menos pompa, bastaria a circunstância da beleza para que a simplicidade fosse verdadeiramente pedagógica e catequética.
Se a RTP tem obrigações de serviço público, então deve cuidar a sua agenda, não vá falhar na cobertura em direto quando outro bispo, noutra qualquer das 20 dioceses portuguesas, celebrar a sua primeira missa, para se apresentar aos seus diocesanos.
A que título participaram, em Lisboa, os presidentes da República e do Parlamento, o primeiro-ministro e outros ministros?
Nunca é de mais dizer que não há uma Igreja Católica portuguesa e o patriarca de Lisboa nunca foi nem é o “chefe” da Igreja em Portugal.
Se os titulares dos poderes temporais desconhecem a natureza da Igreja Católica, bem como a sua imagem e a sua mensagem, então cabe à própria Igreja recusar, com bons modos, cumplicidades e equívocos.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.