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A ética é natural?

Parece-me evidente que o nosso sentido ético, a nossa consciência do que podemos ou não fazer aos outros, é inato. Tenho a certeza de que a ética não caiu do céu aos trambolhões, atirada pelo «Grande Manitu» ou pelo «Deus» de Moisés; e sei também que os filósofos se limitam a teorizar conceitos que encontraram na rua. As ciências da natureza explicarão um dia como desenvolvemos o nosso sentido ético. Começam a aparecer estudos com esse objectivo.

A diferença mais relevante entre o nosso comportamento social e o de outros primatas não é a propensão para cooperar: os leões também cooperam quando vão à caça. Não é sequer a expectativa de reciprocidade na interacção entre indivíduos: os chimpanzés também esperam que se devolvam favores. A diferença é que os humanos armazenam a informação suficiente para recordarem o comportamento pretérito dos outros membros do grupo, e portanto para decidir (ou não) cooperar em função da experiência acumulada.

A parte inata da ética humana talvez seja um dia estabelecida. O facto de termos desenvolvido uma cultura complexa que codificou essas regras e muitas vezes as tentou inverter (através da religião, por exemplo), não facilita o trabalho. Uma parte da nossa «ética natural» poderá ser inata, e outra parte poderá resultar inevitavelmente da lógica de grupo. Em qualquer dos casos, é uma linha de investigação que acabará por explicar muitas regras sociais de que a religião se apossou.