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Dia: 27 de Novembro, 2019

27 de Novembro, 2019 Carlos Esperança

Ficção, Razão e Fé

Por

ONOFRE VARELA

Michel Houellebecq, francês natural da Ilha de Reunião, onde nasceu em 1958, é escritor. No seu livro Submissão, embora se trate de um romance de ficção que nada tem de racionalmente premonitório, aborda a expansão do Islamismo na Europa, e fá-lo de um modo muito dramático afirmando que a França está a ser islamizada perante a inércia de uma classe política dirigente decrépita, apontando o dedo aos pontos débeis do Cristianismo e a uma Esquerda que navega num mar de erros.

Entrevistado pelo jornal El País (suplemento Babélia, 15 de Abril de 2015) o escritor diz que, na realidade, “a razão não se opõe à fé de uma maneira muito clara. Se tivermos atenção na comunidade científica, encontramos cientistas ateus sobretudo entre os biólogos. Ao contrário, entre os astrónomos encontra-se um grande número de cristãos. A explicação disto está no facto de ser possível encontrar uma boa organização no universo. Porém, quando se trata de seres vivos, a coisa é mais duvidosa. Os seres vivos não estão bem organizados e são, até, um pouco repugnantes. Um matemático não tem grande dificuldade em crer em Deus, porque trabalhar com equações liga bem com a ideia de uma ordem e de um criador dessa ordem”.

O livro está semeado de pessimismo, ao ponto de um seu crítico, Carlos Zanón, autor de um artigo sobre a obra, dizer que Michel Houellebecq “é um moralista que espera algo de um queijo ou de um polvo, mas não espera nada de um ser humano”.

No enredo da novela Submissão conta-se que os franceses acabam por votar maioritariamente no partido de estrema-Direita Frente Nacional, liderada por Marine Le Pen, e num partido islâmico moderado liderado por um tal Mohammed Ben Abbes. O livro alertou (e, principalmente, assustou) a opinião pública para o perigo islâmico de extremismo violento, desrespeitador e sanguinário, já hoje instalado na sociedade francesa.

Neste livro, que embora seja, assumidamente, uma ficção, as mentes mais receosas encontram alguma analogia com os discursos que alimentam medos semeados pela Frene Nacional.

Passando da ficção para a realidade, parece-me que os actos cometidos pelos extremistas islâmicos são de tal modo horríveis e desumanos, o que, por si só, afasta o perigo da vitória dos inimigos da cultura europeia e ocidental, da paz e da liberdade individual. É coisa que ninguém deseja, o que impede a hipótese de um acto eleitoral dar poderes a quem teria como primeira acção governativa, incendiar o Louvre e explodir o Museu do Homem!…

Mas também sabemos que o eleitorado é tão débil e tão facilmente manipulável… o que nos leva, a todos nós, a uma meditação séria sobre este problema… o qual, de facto, existe!

(A sair no jornal Gazeta de Paços de Ferreira, edição do dia 28/11/2019)