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Dia: 26 de Abril, 2018

26 de Abril, 2018 Carlos Esperança

9.º aniversário da canonização de D. Nuno Álvares Pereira (26- 4-2009)_2

Há nove anos D. Nuno foi criado santo, não por pelejar contra mouros, judeus ou outros infiéis, nem, certamente, pelo desembaraço com que matou cristãos castelhanos, atitude que comprometeria a Igreja e a santidade, mas por desejo do episcopado luso.

Enquanto Espanha se ajoelhava a Franco e ao Papa de turno, nunca foi possível elevar à santidade o herói nacional. Nem o opúsculo do Sr. Duarte Pio, especialista em solípedes pios, o investigador que descobriu que os cavalos de D. Nuno se ajoelharam em Fátima, antes da batalha de Aljubarrota e muitos anos antes de o Sol ter ali bailado, logrou com tão árdua pesquisa e tão transcendente milagre, fazer do herói um santo.

O patriarca Policarpo bem quis que o Vaticano usasse outro pretexto para a canonização que ansiava, mas o cardeal Saraiva Martins, então o Prefeito que certifica milagres, nem o Papa dispensavam um milagre obrado. A tradição exige contrariar as leis da Física ou o estado da arte médica para criar santos.

Como os milagres estão cada vez mais difíceis e os grandes acontecem sempre longe do País, recorreu-se a um milagre pífio, mas autóctone, aquém da dimensão do santo, mas em zona de prodígios e, em breve, com 3 santos no espaço de uma só aldeia.

O milagre foi encomendado à Sr.ª Guilhermina de Jesus, a desmazelada cozinheira que, em Ourém, expôs o olho esquerdo a salpicos do óleo fervente com que fritava os peixes e que, em vez do colírio, recorreu à súplica a D. Nuno, com mais eficácia terapêutica e menor custo.

O País devoto deve à cozinheira de Ourém e ao risco em que colocou o olho esquerdo, o milagre que possibilitou ao mais insigne dos 26 filhos conhecidos do prior do Crato, Álvaro Gonçalves Pereira, filho do bispo de Lisboa, D. Gonçalo Pereira, ser elevado aos altares no escalão máximo.

De futuro, quando um crente for atingido no olho esquerdo, não há experiência no olho direito, com salpicos de óleo fervente, incluindo o azeite Santo Condestável, não mais se recordará daquelas expressões que aliviam, mas perigam o destino da alma, e rezará, valha-me o Santo Condestável, Ave-maria… E o olho ficará curado.

26 de Abril, 2018 Carlos Esperança

9.º Aniversário da canonização de D. Nuno Álvares Pereira

D. Nuno e D. Guilhermina

Há nove anos, D. Nuno foi posto a render ao serviço do obscurantismo e da superstição. Não se referiram as leis da época, as lealdades a que os cavaleiros medievais eram obrigados nem as circunstâncias políticas das batalhas, e, por lapso, não foi referido que do lado de Castela também se ajoelhavam os cavaleiros, como era hábito.

Se houvesse exigência de rigor em alguma afirmação, alguém devia ter sido explicado como se tornou D. Nuno o homem mais rico do reino e como exigiu a fortuna. Mas isso são coisas alheias à santidade e à cura do olho da D. Guilhermina.

Só do lado de D. Nuno se genufletiram os cavalos, é certo, a fazer fé num opúsculo do Sr. Duarte Pio, especialista em cavalos devotos e tolices avulsas, não se percebendo o esquecimento dos cavalos com o precedente de S. Guinefort, o cão injustamente morto pelo dono e feito santo. Os historiadores ignoraram o espetáculo e deixaram ajoelhar consolados os escuteiros, bispos e beatos que foram agradecer a cura do olho esquerdo de D. Guilhermina, órgão que devia ser protegido com grades, não vá um especulador de relíquias arrancar-lho em vida.

O Patriarca Policarpo acusou o Estado de conviver mal com a Igreja, sem compreender a separação e a laicidade a que o Estado é obrigado. O Sr. Duarte Pio, com vocação para a asneira, considerou que a canonização «tem mais importância para Portugal do que os «prémios Nobel».

Apostila – Este texto foi escrito na data da canonização e ora adaptado para a efeméride.
Dada a importância da cura do olho esquerdo de D. Guilhermina para a santidade de D. Nuno, trarei aqui, a este mural, os textos da época.