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Dia: 24 de Junho, 2015

24 de Junho, 2015 Carlos Esperança

Momento de poesia

Noivas da Morte

Partem rumo às distantes terras da Síria

As Noivas da Morte

Embaladas pelas preces mântricas

Que preenchem as cabeças vazias!

Aspiram a um mundo que não compreendem,

Vidas roubadas a todas as possibilidades

Excepto ao fatalismo ignóbil da doutrinação!

Das visões do profeta sem rosto

Fundamenta-se um deus sem alma

Que se alimenta da barbárie

E mata a sede com a vingança!

Entregam-se, em voluntariado,

As Noivas da Morte,

Inconscientes e inconsequentes

Quais porcos rumo à matança,

Corpos vivos em mentes mortas

Sem resquício ou vestígio de consciência!

No sorriso dos seus jovens rostos,

Promessas de um futuro que soçobra,

Marcar-se-ão as rugas da tirania e da subordinação!

Nos corpos, convertidos em malas de parir,

Marcar-se-ão as cicatrizes da violência e da intolerância,

Legando à geração vindoura

Apenas a indignidade da sua condição!

Por entre linchamentos e decapitações

Floresce o Reino do Terror,

A medieval realidade dos nossos tempos,

Enquanto o xadrez da geopolítica

É jogado pacientemente,

Com imaculadas luvas brancas

Que cobrem as mãos podres!

E nos templos de todas as religiões,

Por entre orações devotas

Exalta-se a bondade de deuses,

Inexplicavelmente ausentes!

Tivesse o deus de Espinosa triunfado

E não haveria Noivas da Morte,

Nem ninguém seria Charlie Hebdo,

E ter-se-iam acondicionado os livros sagrados

No sossego das estantes

E as suas verdades não passariam de estórias, metáforas e alegorias!

As distantes terras da Síria

Não teriam a dor nos seus vales,

Nem o sangue nas suas manhãs!

E toda a coluna vertebral da Humanidade estaria ereta!

Todas as noivas seriam Noivas da Vida!

E Deus?

Rir-se-ia dos Homens, que nele não creem,

E teria, finalmente, motivos

Para orgulhar-se dos seus Filhos!

a) Paulo Ricardo Moreira