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Mês: Dezembro 2011

21 de Dezembro, 2011 Luís Grave Rodrigues

Conto de Natal

Um belo dia apareceu num jornal o seguinte anúncio:

«ALUGO CASA, MAS SÓ A CRISTÃOS»

No dia seguinte, apareceu um interessado.
O dono da casa, muito mal educado, atende-o:
– O que é que o senhor quer?
– Eu quero alugar uma casa!
– Pronto, está bem! E como é que se chama?
– David.
– David quê?
– David Elias!
– Nã, nã, nã! Eu não alugo a minha casa a judeus! Só a cristãos!
– Tudo bem, eu sou judeu, mas também sou cristão…
– Que é isso, homem? Pensa que eu sou parvo? Não há judeus cristãos!
– Mas eu garanto-lhe! Sou judeu e sou cristão!

Perante a insistência, o dono da casa diz:
– Ah, é? Então vou fazer-lhe um teste. Vamos lá a ver se você é mesmo cristão: o que é que há dentro de uma Igreja Católica ?
– A sacristia.
– E que mais ?
– Há o crucifixo, o sacrário, o altar, o confessionário…
– Muito bem… então diga lá de quem é Jesus, filho?
– De José.
– E de quem mais?
– Da Virgem Maria…
– E onde nasceu Jesus?
– Em Belém!
– Eu sei que foi em Belém! Eu quero saber é o local… a casa.
– Não era uma casa, era uma gruta e ele nasceu numa manjedoura.
– Certo. Até aqui tudo bem. Mas então diga-me lá: e porque é que Jesus nasceu numa gruta e numa manjedoura ?
– Porque já naquela época existiam filhos da puta como você que não alugam casas a judeus!

21 de Dezembro, 2011 Carlos Esperança

A política como religião

O Partido Comunista Chinês determina que os seus militantes sejam ateus, isto é, a ideologia política é a sua própria religião.

Não há só totalitarismos religiosos, também os há políticos. E todos são prosélitos.

20 de Dezembro, 2011 Carlos Esperança

Não diz o mesmo dos padres

Bento XVI recebeu hoje no Vaticano algumas dezenas de crianças e adolescentes da Ação Católica Italiana, pedindo-lhes que respondam com “generosidade” ao chamamento de Deus.

“[O Senhor] nunca vos desiludirá”, disse o Papa, neste tradicional encontro para troca de votos de boas festas natalícias.

 

20 de Dezembro, 2011 Ludwig Krippahl

“Conto de Natal”

No de Dickens, Ebenezer Scrooge transforma-se radicalmente. Aprende quanto pode fazer por si e pelos outros e, com isso, torna-se numa pessoa melhor. O João César das Neves não é um Charles Dickens, obviamente, mas também não era preciso fazer o oposto. Num texto apressado, conta como um tal André lida com a crise: «Queres saber o segredo da minha calma? Queres saber como consigo não ficar desesperado? É que o meu Pai é dono disto! […] Estou a referir-me Àquele a quem digo todos os dias ‘Paí Nosso’, que é dono de tudo o que tenho e sou, de tudo o que vejo e existe no universo. Nada me preocupa porque Deus é dono da minha vida. A confiança em Deus é a melhor coisa da existência.»(1) A mensagem parece ser que, ao contrário do que se passou com Scrooge, o melhor para nós é aceitar tudo como é: «esta crise tem me feito muito bem. Ao princípio assustou-me, mas um dia percebi que acima dela está Deus [e] desde que Lhe entreguei, mais uma vez, a minha vida senti uma liberdade e alegria profundas […] ‘Tudo concorre para o bem dos que amam a Deus’ (Rm 8, 28)».

Além de promover a bovinidade, a historieta salienta algumas inconsistências do fatalismo cristão. O André não se preocupa porque o seu “Pai” está encarregue de tudo, mas também não estranha que o “Pai” trate os filhos de forma tão injusta. É difícil imaginar que um pai fique indiferente ao filho que passa fome numa cubata na Somália enquanto outro vive luxuosamente num chalé suíço. Pior, esse tal André diz-se descansado da vida porque «se ao Seu Filho Deus deixou que nós O crucificássemos, tudo o que eu sofrer é pouco». Chiça. Felizmente sou ateu e não acredito ser filho de um pai desses. Senão é que andava aterrorizado.

Isto de aceitar a injustiça com passividade e enaltecer o sofrimento absurdo já é treta antiga. Vê-se na história de Jó, na desculpa de que Jesus se sacrificou para nos “redimir”, na adoração dos mártires e no adoçar dos males com pós de caridadezinha para evitar a chatice de os corrigir. Como se o principal problema da pobreza fosse não ter uma sopa quente no Natal. Como somos intuitivamente sensíveis à injustiça, é preciso este barrete. Quem se diz infalível, vive num palácio e veste roupa bordada a ouro tem de louvar a humildade e a pobreza. Ponham a vida nas mãos deste deus, dizem, e dêem graças pelas migalhas que vos calham. Sobretudo, portem-se bem.

Mas nós somos pessoas, não somos ovelhas, e esta crise não é obra dos deuses. Não é o nosso destino nem um teste para ganhar uma nuvem mais fofa no céu. É um problema humano, de actos e de atitudes. É o problema de estar tudo a mando de Scrooges e não de um “Pai” que nos ama a todos. E nota-se nos detalhes. Quem enaltece os mártires com histórias da carochinha não se martiriza a si próprio; quem elogia a pobreza não vive na miséria; e quem exorta a que cada um aceite, sorridente, a sua condição goza geralmente de condições melhores do que as dos outros. É a estes que convém a crença generalizada do destino como obra divina em vez de tarefa humana. Caso contrário, teriam de se assumir responsáveis por terem ficado com a maior parte daquilo que é de todos.

A crença pessoal num deus, na vida depois da morte ou afins é um direito de cada um e não faz grandes estragos. Mas, à volta disso, há sempre quem invente religiões para controlar os outros, disfarçar injustiças e ir mantendo tudo como lhes convém. Promessas de paraíso além-morte, o pai celestial que criou o universo mas precisa que se gaste dinheiro em igrejas imponentes e luxos para os seus representantes, e a ideia de que os miseráveis têm muita sorte por sofrer, são tudo embustes. O ateísmo tem a grande vantagem de nos inocular contra tais aldrabices, e encorajar-nos a enfrentar os fantasmas dos natais futuros como algo que temos o dever de tornar tão bom quanto pudermos. Se o André da historieta não se preocupa, isso não é sinal de fé. É sinal de irresponsabilidade.

1- João César das Neves, Conto de Natal

Em simultâneo no Que Treta!

19 de Dezembro, 2011 Carlos Esperança

Negócios pios

“A Freira Que Sabia Comungar”, “Me Chame de Vagabunda” e “APros­tituta do Advogado”. Esses são apenas alguns dos títulos eróticos – e satânicos – publicados por uma editora da Igreja Católica na Alemanha.

Ela se chama Weltbild, é o segundo maior grupo editorial do país e foi comprada pelo Vaticano há mais de 30 anos – mas somente na semana passada a Igreja, conforme diz, deu-se conta de que a editora persistia em sua heresia porno.

19 de Dezembro, 2011 Carlos Esperança

Uma pesquisadora de milagres. A indústria não pára

Irmã Célia Cadorin, 84 anos, é uma espécie de detective da fé que conta com o apoio do cepticismo da ciência para encontrar milagres. Seu trabalho, minucioso e de mais de cinco décadas, é reunir documentos, relatos e pacientes que comprovam curas milagrosas creditadas à santidade de brasileiros.

As pesquisas da religiosa já sustentaram, por exemplo, a decisão do Vaticano em canonizar Frei Galvão e Madre Paulina.

18 de Dezembro, 2011 Carlos Esperança

Abraão do caraças !

Abraão levou o filho para o deserto…. amarrou-o a uma árvore e acendeu uma fogueira debaixo dos seus pés.

De repente, uma voz diz:
– Abraão, Abraão, que é isso ????
– Senhor, Senhor eu estou sacrificando o meu filho, conforme a Vossa ordem!!!!
– Não, Abraão, eu só queria medir a tua fé !!
– Mas Senhor….!!!!
– Abraão, solta o menino !!!!!
Abraão soltou o filho. O menino saiu disparado…correu, correu, correu, e
Abraão gritava:
– Filho volte, filho volte, o Senhor libertou-te !!!!
O menino parou, longe, e gritou:
– Libertou o caraças !!! Se eu não fosse ventríloquo, estava bem lixado !!!

17 de Dezembro, 2011 Ricardo Alves

Christopher Hitchens (1949-2011)

A doença que o matou ontem atingiu-o no pico da fama. E portanto será provavelmente mais recordado pelos pronunciamentos anti-teístas dos últimos anos do que pelos ataques anteriores à «Madre Teresa de Calcutá» e a Jerry Falwell, a Henry Kissinger e a Bill Clinton, à princesa Diana e à família real britânica.

Do grupo anglo-saxónico conhecido como os «Novos Ateus», Dawkins é o mais informado cientificamente, Dennett o filósofo, Sam Harris o radical e Hitchens é (era) o melhor escritor. Juntava uma vasta cultura erudita (e política) com um estilo de escrita fluente, preciso e humorístico, combinação só possível para um genuíno produto da região demarcada de Oxford. Após as décadas em que pensadores ateus se dedicavam a refutar a existência de «Deus», e quando o esforço já é mais provar que existe ética e moral fora da religião, devemos-lhe, enquanto ateus, a eficaz difusão da noção «anti-teísta» de que «Deus» não apenas não existe como seria péssimo que existisse (noção muito útil para contrapor aos religionários que aceitam as dúvidas sobre a existência d´«Ele» mas argumentam que a ideia de «Deus» é benfazeja e útil).

Hitchens era também, dos ateus hoje mais mediatizados, o que melhor entendia o papel histórico e político do anticlericalismo no combate a todas as formas de autoritarismo. Numa conferência em Lisboa, começou mesmo por citar Marx, no tal bitaite do «ópio do povo», que realmente significa que o homem (ou a mulher) se deve libertar da «alienação» religiosa para depois encetar o combate pela melhoria das suas condições materiais. Para Hitchens, derrubar ditadores ou derrubar santos dos altares era quase o mesmo. Como disse na última entrevista com Dawkins, «(…) para mim, o totalitário é o inimigo – aquele que é o absoluto, que quer controlar o interior da tua cabeça, não apenas as tuas acções e os teus impostos. E as origens disso são teocráticas, obviamente. O início disso é a ideia de que há um líder supremo, um Papa infalível, ou um rabino chefe, ou seja o que for, que serve de ventríloquo para o divino e nos diz o que fazer». O seu paralelo entre o Natal e a Coreia do Norte compreende-se.

O afastamento de Hitchens do trotsquismo terá começado em Portugal, onde observou em 1975 o nosso período revolucionário, numa das suas muitas reportagens da linha da frente dos conflitos mundiais. Afastar-se-ia ainda mais de alguma esquerda europeia em 1989, quando o aiatolá de Teerão emitiu um apelo ao homicídio de Salman Rushdie e muito poucos reagiram. Mais tarde, muitos se chocaram com o seu apoio à guerra do Iraque (embora esquecendo as suas críticas à tortura e à espionagem interna que a acompanharam), mas a coerência de Hitchens era o combate a todas as ditaduras (espirituais e materiais) e a defesa do pensamento livre e da liberdade do indivíduo. Os seus modelos eram Thomas Paine, Thomas Jefferson e George Orwell, todos eles heterodoxos e cosmopolitas.

Nos últimos meses, sabendo que o fim estava próximo, garantiu que não se converteria. Mais: afirmou que na hora final gostaria de estar «activo» e «olhando-a de frente e estar a fazer algo quando chegasse». Que tenha sido assim.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]