Loading

Dia: 22 de Dezembro, 2011

22 de Dezembro, 2011 Ricardo Alves

Solstício

No dia em que esta coluna é publicada, o Sol atinge o ponto mais baixo de todo o ano, no horizonte de quem o vê do hemisfério norte. Este será o dia mais curto do ano, precedido ou seguido pela mais longa noite.

Em tempos menos civilizados, a escuridão das noites longas e frias causaria uma angústia compreensível, e entre gregos e romanos esta era a época de beber vinho e abater os animais que não teriam alimento nos meses seguintes. Na era do frigorífico e dos sulfitos, o desperdício mantém-se.
O cíclico “renascimento” do Sol originou, em vários povos e longitudes, festividades que assinalavam o início do alargamento dos dias. Um desses festivais, o Sol Invicto dos romanos, celebrava-se (aparentemente) a 25 de Dezembro. Foi apropriado pelos cristãos para data de nascimento da forma humana da sua divindade, numa manobra de marketing bem sucedida, por associar o ciclo da reprodução humana ao das estações.
O solstício de Inverno, evento astronómico e inalterável pela cultura humana, é um facto científico e portanto de todos. O “natal” é dos cristãos, que ligam estes ciclos a uma religião e a uma hierarquia autoritária que nesta semana conseguem sempre boa imprensa para valores específicos e discutíveis (como o perdão incondicional e total, ou a obediência). Muitos preferimos aceitar que ninguém nasce (nem morre) por nós. E que há muitas formas de festejar mais um ano.
22 de Dezembro, 2011 Carlos Esperança

Um piedoso embaixador no Vaticano

Embora estranhando a presença de duas embaixadas em Roma, em época de contenção de despesas, não me pronunciei sobre a decisão do Governo português de manter uma embaixada acreditada junto do Estado de Itália e outra, a poucas centenas de metros, junto do Estado do Vaticano.

O que não compreendo é a participação do embaixador português na missa pela América Latina, a que Bento XVI presidiu no Vaticano, no passado dia 12 do corrente mês, reunindo responsáveis eclesiais e governamentais da região.

A presença do embaixador Manuel Tomás Fernandes Pereira na referida missa foi, aliás, noticiada como sendo em representação de Portugal, um país constitucionalmente laico, onde a liberdade religiosa é uma exigência democrática pouco consentânea com participações em cerimónias litúrgicas de uma religião particular.

 

A participação do Sr. Embaixador em missas do Vaticano, não fazendo parte das suas funções, é um mero acto particular de um devoto que abusou, nas suas genuflexões, do nome do país que representa ou, o que seria inaceitável, cumpriu instruções do Governo.

Portugal é um Estado laico, não um protectorado do Vaticano. Por isso, ateus, cépticos, agnósticos, crentes de outras religiões e, quiçá, até católicos, rejeitam a genuflexão em nome de Portugal, uma vassalagem que fere a consciência de muitos portugueses que o Sr. Embaixador tem a obrigação de representar.

Obrigando a Constituição da República Portuguesa à separação do Estado e das Igrejas, é difícil aceitar que a presença na missa tenha sido em nome do Estado Português mas, a esse respeito, seria interessante conhecer o pensamento do Sr. Ministro da tutela, o que enviou um navio de guerra, quando ministro da Defesa, a proteger as costas portuguesas do eventual ataque de um barco municiado com pílulas abortivas.

Somos um país rico. Temos uma embaixada para negociar favores celestes.