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Dia: 8 de Novembro, 2010

8 de Novembro, 2010 Carlos Esperança

Madre Bárbara Maix* corre para a santidade

Beatificação da Madre Bárbara Maix reuniu milhares pessoas em Porto Alegre, no sábado. Rito só foi possível por força de um milagre atribuído à religiosa em 1944, no interior de Caxias do Sul. Homem que teria sido curado participou da beatificação e de uma missa especial no domingo em Santa Lúcia do Piaí.

A partir de agora, a Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria busca um nova graça para o projeto de canonização de Bárbara.

* Morta disputa maratona da santidade.

8 de Novembro, 2010 Ludwig Krippahl

Treta da semana: anticlericalismo.

Ontem, em Santiago de Compostela, Joseph Ratzinger lamentou que «Tragicamente, sobretudo no século XIX, cresceu na Europa a convicção de que Deus é de certa forma um antagonista do homem e um inimigo da sua liberdade», afirmando que «a Europa tem de se abrir a Deus e aproximar-se dele sem receio». Avisou também da agressividade do anticlericalismo moderno, que disse parecer o que se vivia em Espanha na década de trinta (1).

A Guerra Civil Espanhola foi um confronto sangrento que matou quase um milhão de civis (2), entre os quais padres e freiras, vítimas como os outros. Talvez se tivessem safo melhor se a Igreja Católica não tivesse apoiado Franco de forma tão explícita e entusiástica (3). Ou talvez não, que guerras como essa não são eventos ordeiros e bem planeados. Mas, seja como for, esse “anticlericalismo” da guerra civil não tem nada que ver com o que se passa hoje.

O Joseph tenta assustar o seu rebanho dando ao ateísmo umas pinceladas de nazismo se está em Inglaterra e uns salpicos de guerra civil quando vai a Espanha. A ironia deve escapar aos muitos que já não sabem em que equipa jogava a Igreja dele. Tenta que, com medo do bicho papão, deixem de se pôr a pensar. É isso que o Joseph quer evitar porque, ao contrário desses conflitos de ódio cego e burrice, o ateísmo de hoje nasce da educação, da liberdade e da tolerância.

Quem cresça na Europa contacta com muitas culturas, ideologias e crenças, tendo de praticar desde cedo uma tolerância céptica, pois tem de aceitar a diversidade de opiniões sem poder adoptar mais que uma minoria. Beneficia também de um sistema educativo que, apesar dos defeitos, é o melhor de toda a história. Nunca a educação média foi tão boa como é agora. Isto é relevante porque aprender, compreender, e ter contacto com outras ideias torna as pessoas menos religiosas. É um antídoto poderoso contra a uniformização de crenças que qualquer religião quer impor, como se vê nas preocupações que os representantes religiosos manifestam acerca da educação. Quase sempre são por se ensinar às crianças algo que eles não querem que elas aprendam e, na educação religiosa, tem de ser cada um com a sua não vão as crianças ter ideias.

Além disso, somos livres de assumir a descrença. É uma liberdade ainda rara, da qual a maioria dos povos não beneficia. E é muito recente. Eu nunca senti qualquer constrangimento social, cultural ou institucional por ser ateu, mas a minha geração é a primeira com esta liberdade. Quando os meus pais eram novos não podiam dizer que a religião é treta sem arranjar sarilhos.

É por estas razões que, na Europa moderna, muita gente protesta quando se gasta milhões de euros com as magias de um senhor de vestido e sapatos Prada. Os protestos não são motivados pelo racismo nazi nem pelo ódio que levou nacionalistas e republicanos a matarem-se uns aos outros. Por um lado, muita gente não fica convencida que o Joseph fala mesmo com o criador do universo, ou que este, depois de ter feito milhares de milhões de galáxias, agora passa os dias preocupado com preservativos ou rezas. Para muitos, o Joseph Ratzinger faz o mesmo que a Maya ou o “professor” Bambo. Inventa umas coisas e convence umas pessoas mas não é nada que se deva levar a sério.

E, por outro lado, damos valor às liberdades que o Joseph e os seus companheiros querem reduzir. A «Europa tem de se abrir a Deus e aproximar-se dele sem receio» parece um pedido de tolerância, mas é o contrário. Cada europeu é que deve decidir por si a aproximação que julgar melhor e se é ao deus do Joseph ou a outro qualquer. E, apesar de dizerem haver só um deus com a qual todos se relacionam, não é isso que revelam nos actos. Por exemplo, no século VIII os muçulmanos construíram uma mesquita em Córdoba. A mesquita passou a catedral quando os cristãos a conquistaram, quinhentos anos mais tarde, e ficou conhecida até hoje por “mesquita-catedral”. Mas agora o bispo de Córdoba quer mudar a designação só para catedral para não “confundir” as pessoas e, apesar do deus ser supostamente o mesmo, os muçulmanos não podem rezar nesse santuário da sua religião (4).

Deus não é o inimigo da liberdade pela mesma razão que o Super-Homem também não é o seu defensor. Mas dá jeito a quem quer ganhar poder tirando liberdade aos outros. A gravidez da mulher violada ou o fim prolongado do doente terminal são problemas desagradáveis de considerar. A homossexualidade, o divórcio, a contracepção e as crenças dos outros exigem de quem discorda o esforço da tolerância. Quem diz vir a mando de um deus pode aproveitar-se destes preconceitos e cobardia moral para convencer as pessoas a desligar o cérebro e confiar. A ter fé, como costumam dizer. A ter fé no testemunho do Joseph e confiar que é ele quem melhor sabe que leis que devemos ter, com quem podemos casar e se podemos mudar de ideias depois. Porque lho disse o deus dele. Quem se puser a pensar tem mesmo de protestar contra isto.

1- Deutsche Welle, Pope urges Spain, Europe to open up to God
2- Wikipedia, Guerra Civil Española
3- Franco lutou contra “o ateísmo e o materialismo”, tendo sido descrito pelo Cardeal Gomá como sendo o “instrumento dos planos de Deus para a Pátria, como citou a Palmira neste post.
4- New York Times, Name Debate Echoes an Old Clash of Faiths. Obrigado pelo email com esta notícia.

Também no Que Treta!

8 de Novembro, 2010 Carlos Esperança

“Bote, bote, bote, pederasta el que no bote”! …

Por

E – Pá

Homenagem ao papa homofóbico

Em Barcelona uma centena de activistas homossexuais protagonizaram um “beijão colectivo” [ver foto], numa insólita manifestação de protesto contra a hierarquia católica, quando o cortejo papal passou na Praça da Catedral.
Segundo afirmou Jordi Petit, dirigente do movimento homossexual da Catalunha “a hierarquia eclesiástica desde há muitos anos que ataca os direitos humanos básicos…” la vanguardia

Os grupos homossexuais coreografaram vários skecths de rua com palavras de ordem como:
“Bote, bote, bote, pederasta el que no bote” [título do post], “la Iglesia que ilumina es la que arde”, …etc.
As manifestações de protesto contra a visita papal à cidade condal [rima!] também contaram com os[as] integrantes da “Plataforma de Mulheres contra o Papa” que surgiram na Praça da Universidade de Barcelona com um curioso slogan: “Fuera los rosarios de nuestros ovarios”…

Todavia, esta visita teve outros incidentes. Como vem sendo habitual nestas deambulações pontifícias. As gaffes são quase sempre oriundas da falta de tacto, da ausência de senso político e de uma perturbada visão histórica que persegue Bento XVI…

Num encontro com a imprensa, no início desta visita, ainda a bordo do avião onde viajou, “comparou o aniclericalismo espanhol dos anos 30 com o secularismo actual”. link
Chegou a Espanha a chafurdar nas feridas histórias, ainda não cicatrizadas. Não respeita, nem usa de rigor interpretativo, quando se abeira de um País que sofreu na carne um mortífera guerra civil… Arribou de costas voltadas para a História.

Os ingleses tem uma interessante expressão idiomática para este tipo de enfabulações [inculcações]: Nonsense!