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Mês: Julho 2010

27 de Julho, 2010 Ricardo Alves

Novos embustes de Fátima

Em Fátima, para o espectáculo de 13 de maio em que a estrela principal era Ratzinger, a organização anunciou que previa um grandioso meio milhão de pessoas. No dia 14 de maio, corrigiram: teriam estado presentes 350 mil pessoas. Agora, sabe-se que uma contagem a partir das fotografias estima o número de pessoas presentes entre 35 mil e 40 mil.

Fora concedida tolerância de ponto, naquele dia, a 740 mil pessoas.

26 de Julho, 2010 Fernandes

Infância perdida

Quando penso na minha infância, fico impressionado pela exiguidade das recordações que tenho de meu pai. Por causa do casamento minha mãe mudara-se para longe da sua terra natal. Era “um bicho do mato” e só tinha verdadeiros contactos com o pároco da freguesia.

Estou convencido que decidiu muito cedo que seu único filho havia de ser padre. Enfeitou-me e destinou-me ao sacrifício.

Recordava-me muitas vezes a frase de Lapérine: «quando temos de escolher entre dois caminhos, devemos tomar o caminho mais duro: o medo é o sinal do dever.»

Comecei muito cedo a ter pesadelos, via-me queimado pelas chamas do Inferno, e gritava, ao que parece, como condenado. O médico tranquilizava a minha mãe dizendo-lhe que se tratava de febres de crescimento. Na realidade o pecado mortal foi a obsessão de toda a minha infância e eu confessava-me muitas vezes com medo de não ter dito tudo. Recordo-me de um texto do meu catecismo, que se intitulava: «Pelos meus pecados mereci o Inferno.» Li-o e reli-o tantas vezes que ainda o sei de cor:

«Oh! Como são terríveis as torturas dos condenados no Inferno. Estão privados para sempre da visão de Deus. Sofrem num fogo mil vezes mais ardente do que todos os fogos da terra. Ouve constantemente blasfémias, gritos de raiva e de desespero. Estão rodeados de demónios. E por quanto tempo dura este suplício atroz? dura para sempre, para sempre, dura toda a eternidade. Oh como é terrível o Inferno! E é isso que nós merecemos pelo pecado mortal. Neste momento, talvez até eu próprio tenha pecados mortais a pesar-me na consciência. Se morresse agora, seria, portanto, precipitado no Inferno. Oh meu Deus, não permitais que eu morra neste estado. Arrependo-me sinceramente de todos os meus pecados e prometo nunca mais Vos ofender.»

Minha mãe evitava qualquer gesto de ternura para comigo, porque era preciso endurecer-me. Beijava-me na testa e, em seguida, apresentava-me a sua face direita. Nunca me lembro de ter estado sentado nos seus joelhos. Só uma vez me pegou nos braços: o dia da minha primeira comunhão. No fim do almoço, o prior da freguesia anunciou que eu ia entrar para o seminário, porque tinha vocação. Jesus tinha-me dito, no íntimo do meu coração, que fosse padre.

Fiquei estupefacto e inquieto, pois nunca tinha ouvido nada disso. Mas a alegria da assistência, o sorriso e a ternura da minha mãe, o facto de ser uma vedeta que teria direito à primeira fatia do bolo, apaziguaram um pouco a minha inquietação e as minhas dúvidas. Foi assim que entrei para o seminário menor. A minha primeira impressão foi desagradável. Era um grande edifício, triste, de estilo napoleónico, com longos corredores sombrios e dormitórios enormes. Quantas vezes os percorri em forma e em silêncio, com as mãos atrás das costas, sob o olhar severo de um padre, que espreitava ao mais pequeno murmúrio. Éramos vigiados com extrema severidade e o grande receio de todo o corpo docente, era que houvesse entre nós amizades particulares. No recreio, tinhamos de brincar juntos. Se um de nós ficava de lado a reflectir ou a brincar sozinho, era imediatamente acusado de ter maus pensamentos. Quando, em vez de um só, eram dois, o caso era ainda mais grave. Era impossível ter um companheiro, um amigo, pois qualquer relação preferencial era considerada como doentia. No dormitório tínhamos de dormir com as mãos fora da roupa…

– Tens pensamentos maus?

Silêncio interrogativo da minha parte.

– Deixas divagar o teu espírito?

– Sim, às vezes isso acontece. Penso naquilo que gostaria de fazer. Gosto de trabalhos manuais. Gostava de ser carpinteiro.

– Tocas no teu corpo?

Após um silêncio que eu pressenti como ameaça, o padre mandou-me embora, dando-me por penitência rezar duas ave-marias.

 Durante todo este período trabalhei muito. Era o primeiro da turma. Isso granjeou-me alguma consideração por parte dos meus condiscípulos e dos meus superiores. Quando voltava a casa, tinha a impressão de ser um ser à parte. A minha mãe beijava-me na testa, o meu pai apertava-me a mão. Nunca cheguei a saber se ele estava de acordo com a minha vocação. Ele nunca dava a sua opinião. Durante as minhas estadas em casa, o prior da freguesia vinha visitar-nos regularmente. Interessava-se muito pelo bom resultado dos meus estudos e felicitava-me apertando-me a orelha.

Conservo a recordação de uma infância solitária; não tinha um amigo no seminário menor; não tinha um amigo quando vinha de férias. Via com nostalgia as crianças da vizinhança baterem-se entre si, correr, gritar no jardim. A minha dignidade de seminarista não me permitia participar nessas coisas. Dava grandes passeios solitários pelos campos. Por vezes meu pai acompanhava-me. Ia sempre calado a apertava-me a mão com força. Apontava com a bengala algumas flores ou arbustos e dizia-me o nome deles em latim. Nunca tivemos uma única conversa.

Quando os meus primos vinham a minha casa sentia que eles me admiravam, mas não se sentiam à vontade comigo. De quando em quando, tínhamos direito a jogar ao dominó ou à batalha naval. Para mim era um ponto de honra ganhar todas as partidas. Na verdade não tinha qualquer outro meio de exprimir a minha agressividade.

As férias grandes eram para mim uma provação particularmente penosa. Todas as manhãs ia ajudar à missa das sete e depois ajudava o sacristão a arrumar os paramentos. O sacristão era um velho militar reformado. Foi ele talvez o único juntamente com meu pai, a perceber a minha tristeza e o meu mal-estar. Depois da missa levava-me muitas vezes a sua casa, para me mostrar algum troféu que trouxera das suas campanhas. Tinha um magnífico sabre que deve ter cortado algumas cabeças. Via-me no recreio do seminário menor a cortar a cabeça dos meus condiscípulos, mas acho que nunca dos meus profesores.

Ao domingo fazia o peditório em todas as missas. No fim da função, o prior apreciava com uma olhadela o conteúdo do saco e manifestava muitas vezes o seu descontentamento: – Unhas-de-fome, no próximo domingo eu lhes direi.

Os peditórios rendiam muito mais quando vinha algum missionário pregar e pedir para as missões. Para o seminário ou para os padres idosos. A sua abundância era directamente proporcional à veemência e às imprecações do pregador.

Eu divertia-me a apreciar quais os argumentos mais rendíveis (ajuizava da rendibilidade pelo número de notas que caiam no saco). A acumulação dos bens materiais, sinal de torpeza e egoísmo e injúria feita à pobreza de Cristo, tinha um êxito nitidamente superior. Mas o mais rendível de todos era a culpabilidade e a angústia: lembro-me de um missionário, robusto e bronzeado, que tinha o dom de encher o meu saco até ao cimo. Utilizava sempre o mesmo género de argumentos: O vosso apego ao dinheiro há-de-vos perder e levar para o Inferno. Estais certos de que o adquiristes honestamente e de que não explorastes o vosso semelhante? Muitos de vós devem ter grandes pesos na consciência. Sabei repartir os vossos bens para obterdes a indulgência do Senhor.

Todas estas verificações me deixavam vagamente inquieto. Este apelo à má consciência provocavam em mim um certo mal-estar. Sentia que havia ali algo que não estava certo, mas não conseguia saber bem o quê. Conservei sempre um complexo de culpa em relação ao dinheiro, e penso que a isso não são estranhas estas diatribes ao domingo.

– Soglinac, Pierre. – A neurose cristã.

26 de Julho, 2010 Fernandes

Diálogos de um Ateu

Comprei um pequeno livro na livraria Cervantes em Salamanca. Achei-o tão divertido que decidi partilhá-lo.

Um ateu e um crente encontram-se num café. O ateu é um homem educado e com sentido de humor; o crente também mas carece de algum sentido de humor. O ateu, como acontece com a maioria dos ateus, lê bastante; o crente lê menos, mas como costumam dizer, não precisam ler, basta-lhes acreditar. Os diálogos inclinam-se a favor do ateu porque entre os crentes não é fácil encontrar uma pessoa excessivamente culta. Com hábito de leitura, talvez, mas não excessivamente culta. Porque a cultura, a ilustração e o conhecimento, derrubam a fé. Receio que se aplique o aforismo: «Reflictamos, disse o crente, e se fez ateu».

Há dezenas de teólogos, sobre tudo católicos, que gastam as suas vidas buscando provas da existência da Deus. É uma pena porque a sociedade ficaria grata se os seus trabalhos tivessem melhor fim, ou seja, um fim prático. Escritores ateus não abundam porque como se recordarão, o ateísmo nunca se constituiu em escola e muito menos em igreja ou facção. Os ateus andaram ao longo da história de um lado para o outro, sem instituição que os acolhera, quase sem pai nem mãe. De vez em quando escreviam um livro, de vez em quando eram queimados, os livros e os autores. Eram tempos difíceis que ainda se mantêm em certas latitudes.

Os crentes não queimavam só ateus, também se queimavam e matavam entre si. Vamos aos diálogos:

O ateu oferece um livro sobre ateísmo ao crente .

– Consegue demonstrar-me que Deus não existe? – pergunta o crente.

– Não tenho que demonstrar uma inexistência, pelo contrário, o que é preciso é demonstrar a existência.

– Então não acredita em Deus?

– Eu sou ateu! Você não?

– Claro que não, eu acredito em Deus, sou crente.

– Um crente!? Maravilha. É difícil encontrar um crente.

– Há muitos crentes.

– Olhe que não, há muitos que crêem que acreditam, mas não são crentes.

– Pois eu acredito em Deus.

– Então ofereço-lhe este livro, afinal foi escrito a pensar nos crentes.

– Agradeço mas não aceito.

– Não me surpreende, os crentes sempre se negam a ler livros ateus.

– Não me recuso, mas acredite não o necessito. Eu acredito em Deus.

– Atreve-se então a discutir comigo a inexistência de Deus?

– Atrevo-me a discutir sobre a existência de Deus, que não é a mesma coisa.

– Bom, então vamos discutir um livro que demonstre a existência de Deus, não a sua inexistência porque essa salta à vista a partir dos milhares de livros que foram escritos tentando provar a sua existência. Estou a falar-lhe como compreenderá, de séculos e séculos de Teologia.

– Eu não vou aqui defender os santos padres, um crente de hoje não se parece em nada com um crente de antigamente.

– Quer então dizer-me que se acabou com a proclamação de milagres, aparições, profecias e outras coisas parecidas?

– Penso que não devemos abordar factos que de alguma maneira são inexplicáveis.

– Mas se me diz que são inexplicáveis, nunca chegará a explicá-los!

– Explicar um milagre parece um contracenso.

– Não tenha dúvida que assim é. Eu nunca vi um milagre, seguramente você também não, mas mesmo que o visse, ou seja; mesmo que presenciasse um facto que escapasse ao meu raciocínio, nem por isso negaria a racionalidade.

– Negaria então o facto milagroso?

– Os factos meu caro, não podem negar-se, não são discutíveis, discutível é a sua interpretação. E os crentes, explicaram sempre o que não tem explicação, a partir da fé em Deus. Por isso, e perdoe-me que lhe diga, um crente não pode ser razoável.

– Mas eu não nego a razão. Já lhe disse que sou um crente moderno.

– Não há crentes modernos nem antigos, sempre houve crentes e descrentes, e você é um crente, ou seja; coloca-se fora da razão, e por conseguinte, fora de tempo.

– Está chamar-me atemporal!?

– Claro que sim, tal como as religiões que só subsistem por isso, porque se colocam fora de tempo.

– Bom, gostava de continuar esta conversa mas tenho pressa.

– Pois sim, outro dia será. Gosto de conversar com um crente que tenta ser razoável.

– Sou razoável, não duvide. Até à próxima, adeus.

– Dizer adeus a um ateu, é correcto. O prefixo «a» é negação, logo você vai embora e deixa-me como me encontrou, sem Deus.

*Ignacio Ferreras, Juan. – Diálogos del Ateo.

25 de Julho, 2010 Ludwig Krippahl

Treta da semana: vinte porcento.

Tenho lido algumas críticas à sugestão do Carlos Azevedo, o bispo auxiliar de Lisboa, para que os políticos cristãos contribuam 20% do seu ordenado para um fundo social. Há quem o acuse de demagogia, populismo ou até de hipocrisia. Não digam isso, coitado do homem. A ideia dele é boa. Contribuir uma parte do ordenado para um fundo comum de onde se financia aquilo de que todos precisam é uma excelente prática.

É verdade que não é novidade nenhuma para a maioria de nós, e quem ganhar mais que 600€ por mês já paga 23,5% só de IRS, sem contar com o resto. Os 20% do Carlos Azevedo são uma estimativa modesta. Mas penso que não se deve criticar tanto o bispo auxiliar porque ele é um dos poucos adultos portugueses que é inocente em matéria de impostos. Falta-lhe a nossa prática nisto. Há duas coisas que quase todos reconhecemos como inevitáveis; o fisco e a morte. De uma dessas os padres só dão promessas vagas de salvação, mas da outra estão bem protegidos.

Carlos Azevedo pede este dinheiro aos políticos católicos «para um fundo que vai ser criado junto da Caritas para atender às situações mais criticas e que serão veiculadas através das paróquias»(1). Ou seja, para os católicos darem dinheiro à Igreja Católica para ajudar outros católicos. Mais uma vez, é uma boa ideia. Mas, talvez pela falta de prática com isto dos impostos e por ter passado uma vida a julgar que justiça social é dar esmola aos pobrezinhos, falta ao bispo auxiliar uma visão mais abrangente do problema.

A crise não é por os políticos católicos não darem dinheiro à igreja do bispo (auxiliar). A crise é, em boa parte, por não conseguirmos pagar a educação, infraestrutura, saúde, segurança, administração e outros serviços dos quais o país precisa. Não cada um de nós, individualmente, mas todos em conjunto. E com isso vamos afundando o país em dívidas. A sopa dos pobres, no meio disto, é uma fatia mais pequena do que as tolerâncias de ponto há uns meses atrás.

Por isso aqui vai a minha contra-proposta para o bispo auxiliar. A ver o que ele acha. Em vez desse tal «testemunho de modo voluntário» que pede aos políticos católicos, de mais uma esmola para a Igreja distribuir pelos pobres que julgue merecer, proponho que todos façamos a nossa parte. Todos. E não é só 20%. Eu, contando com IRS, CGA e o resto, já vou nos 35%. Não peço mais ao senhor bispo auxiliar nem à sua Igreja, mesmo que não tenham filhos para criar. 35% dos vossos ordenados e do negócio da fé já era uma ajuda para o país.

E mesmo os padres que já dêem parte do seu salário à Igreja Católica deviam pensar neste problema de forma mais abrangente. Não é para os fundos desta ou daquela organização que devemos contribuir, que os fundos sociais não devem ser de uma religião, clube ou empresa. Devemos contribuir, por justiça e não por pena ou caridade, para o fundo que é de todos.

Já agora, um conselho. A Igreja Católica tem tido algumas dificuldades em preservar a sua imagem, metendo o pé na boca em quase todas as oportunidades. Para contrariar essa tendência sugiro que, em tempo de crise, foquem mais em tentar contribuir e menos em pedir dinheiro.

1- RTP, Igreja pede parte dos vencimentos aos políticos católicos, via este post do Carlos Esperança.

Em simultâneo no Que Treta!

25 de Julho, 2010 Carlos Esperança

A ICAR e a demagogia

O bispo Carlos Azevedo, em busca da púrpura e do solidéu vermelho, atrai o ridículo e a demagogia para agradar à sua Igreja, favorecida com privilégios que o pudor obrigaria a enjeitar.

Ao desafiar os políticos católicos a abdicarem de 20% do salário a favor de um fundo social que aumentaria os recursos com que a ICAR exerce o seu enorme poder sobre as populações mais desfavorecidas, o Sr. bispo esqueceu  os banqueiros católicos que têm a graça de receber o triplo do vencimento do Presidente da República, após alguns anos a cuidar do vil metal em instituições financeiras. Esqueceu igualmente os recursos que vão de Fátima para Roma e os católicos que amontoam reformas como quem acumula indulgências.

Podia o influente prelado sugerir, nesta época de crise por que passamos, a abolição das isenções e benefícios fiscais que a Lei da Liberdade Religiosa concede à Igreja de forma injusta e imoral. Mas a demagogia manda que se ataquem os políticos porque desperta os instintos mais primários que sobreviveram à ditadura salazarista de que a Igreja católica foi cúmplice.

Enquanto persistirem os benefícios fiscais da ICAR e as pessoas obcecadas pelo Paraíso deixarem bens à Igreja, o poder do clero aumenta e a dependência das pessoas em relação às instituições eclesiásticas não deixa de se fazer sentir. Uma sociedade mais laica, fraterna e igualitária é uma exigência ética que dispensa as sugestões dos bispos e a ganância do clero.

25 de Julho, 2010 Carlos Esperança

Rússia – Grupo ateísta online é fechado

O grupo “Antireligion” [Antirreligião] na rede social “Vkontakte“, com mais de 8000 membros, foi fechado e seu conteúdo apagado, relata [Ru] ru_antireligion.

O gabinete do procurador, que estava acusando o grupo de extremismo [Ru], considerou as fotos de camisas com slogans como”Orthodoxy or Death” [Ortodoxia ou Morte, en] como “extremistas” e obrigou o administrador do “Vkontakte” a fechar o grupo.

Comentário: A Rússia, quanto à liberdade de expressão, segue o modelo do Vaticano.

25 de Julho, 2010 Carlos Esperança

Se não fossem guardiães da moral…

Padres vão a bares gay

A Igreja Católica enfrenta um novo escândalo sexual. Segundo a revista ‘Panorama’, propriedade do primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, alguns padres e seminaristas de Roma misturam a vida religiosa com festas nocturnas em bares gay.

24 de Julho, 2010 Fernandes

Os prodígios de Jesus

A detenção do presumível homicida de Torres Vedras e as suas atitudes algo insanas, levou-me a pensar em Jesus. Não esse Jesus da tradição rabínica a quem se atribui o “discurso da sabedoria”, mas o outro Jesus, o mago que faz prodígios de veracidade duvidosa e escassa inteligência, com pouca ou nenhuma utilidade.

Prodígios que o mesmo “Jesus Profeta” negou ter realizado, quando afirma: «Esta gente malvada e infiel pede um sinal milagroso, mas não se lhe dará outro sinal que não seja o do profeta Jonas» – Mateus XII,39. Marcos VIII,12. Lucas XI, 29. E prodígios que nem o populacho achava convincentes, dado que João se lamenta que «apesar de Jesus ter realizado tão grandes milagres diante deles, não acreditavam nele». – João XII,37.

O primeiro milagre, das três dezenas registadas nos evangelhos canónicos, é como se sabe o da transformação da água em vinho nas bodas de Caná, contado apenas por João. Sabemos hoje que não passa de uma metáfora da primeira praga do Egipto, inventada para sugerir um paralelo entre o Jesus do Novo Testamento e Moisés do Antigo.

Além de algumas pescarias milagrosas, agradecidas evidentemente pelos pescadores, também brilhou na culinária ao multiplicar pão e peixe que da primeira vez saciaram cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças, com cinco pães e dois peixes, apenas; e da segunda quatro mil, com sete pães e “alguns peixes”, sempre sem contar com as mulheres e crianças. Conseguindo uma melhor relação quantidade/preço, no primeiro milagre que no segundo. Quiçá Jesus estivesse mais cansado da segunda vez, pois nessa ocasião já tinha curado coxos, aleijados, cegos, surdos e muitos mais enfermos. – Mateus XV 32,38. Marcos VIII 1,9.

Naturalmente que as curas constituem o cavalo de batalha de qualquer um que queira atrair multidões. Entre as curas já citadas cabem ainda os leprosos, epilépticos, e endemoninhados. O qual dado o seu número podemos deduzir que a Palestina da altura não era um lugar muito saudável.

Entre estas curas, o exemplo talvez mais desconcertante seja o dos dois “endemoninhados” (ou apenas um, segundo as versões), em que Jesus não está com meias medidas, e faz entrar os demónios que os possuíam, numa vara de dois mil porcos, para logo de seguida os fazer precipitar e morrerem afogados.

Esta história é uma autêntica anedota. Com ela aprendemos que:

1º Um endemoninhado está mesmo possuído por demónios, que podem entrar e sair do corpo.

2º Jesus demonstra pouca consideração pelos animais que podiam ser facilmente salvos. Se fosse hoje, seria processado pela Associação Protectora dos Animais. Não será por acaso que depois do milagre, a gente do povoado lhe implora que se vá embora.

3º Revela escassos conhecimentos dos lugares do suposto “testemunho ocular” de Mateus, uma vez que situa o episódio na cidade de Gadara, que a mesma edição oficial reconhece estar a 12 quilómetros do lago, em vez de sensivelmente «sobre a outra margem».

Pode parecer mentira, mas é graças a estas e outras “curas” milagrosas de Jesus, que a Igreja no século XXI continua a acreditar na possibilidade de expulsar demónios através de ritos de exorcismo. Estes não são praticados apenas em películas de duvidosa qualidade cinematográfica, por padres de duvidosa saúde mental, mas até no Vaticano por Sua Santidade: a última vez foi Paulo II a 6 de Setembro de 2000, parece que sem êxito. Os exorcismos são definidos desta bonita maneira no Catecismo:

O exorcismo acontece, quando a Igreja com a sua autoridade, ordena em nome de Jesus, que uma pessoa, ou objecto, seja protegido do Maligno e salvo do seu domínio. Praticado de forma ordinária no baptismo (sic), o exorcismo solene, também chamado “grande exorcismo”, só pode ser realizado por um presbítero autorizado pelo bispo.

* Fonte: – Odifredi, Oiergiorgio. – Por que no podemos ser cristianos e menos aun catolicos.