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Dia: 28 de Janeiro, 2010

28 de Janeiro, 2010 Carlos Esperança

João Paulo II e a autoflagelação

A notícia de que JP2 se autoflagelava não surpreende quem conhece os hábitos do Opus Dei e a concepção do deus cruel do Antigo Testamento que se baba de gozo quando os crentes se mortificam.

Não se conhecem os pecados de JP2, um papa supersticioso que acreditava em deus, e que, certamente, julgava redimi-los com a dor física e actos cruéis sobre si próprio.

O papa polaco escreveu, em 1986, na sua carta anual aos padres.: «O que temos de ver nestas formas de penitência – às quais, infelizmente os nossos tempos não estão habituados – são os motivos: amor a Deus e a conversão dos pecadores».

Que haja um deus que se suborne com o sofrimento para converter aqueles que o Papa considera pecadores, diz bem da impiedosa imaginação dos homens da Idade do Bronze, que criaram o deus abraâmico à sua imagem e semelhança. Que um papa, por mais primário e supersticioso que fosse, acreditasse no método e em tal deus, só revela o primarismo da fé no ambiente rural e crédulo da Polónia da sua infância.

O hábito de dormir nu, no chão, é outro acto de masoquismo de quem pensava que deus existia e o veria na ridícula postura e impudica exibição. E o facto de desfazer a cama para enganar quem tinha a tarefa de a voltar a fazer é de quem não hesita em iludir para agradar ao seu deus.

A deriva retrógrada do Vaticano, em acelerado regresso ao concílio de Trento, vê-se, não só no exemplo pouco recomendável de Karol Wojtyla, mas na divulgação dos actos ridículos no livro da autoria de monsenhor Slawomir Oder intitulado «Porque ele é um santo, o verdadeiro João Paulo II».

Aquele santo, João Paulo II, precisava de companhia que lhe aquecesse os pés, não de um martírio que o conduzisse ao delírio místico de dormir nu, no chão. Necessitou de quem o tivesse levado ao médico para o medicar e evitado que se autoflagelasse.

Enfim, que a demência seja equiparada à santidade, para efeitos de canonização, é um direito de quem tem alvará para fabricar santos, mas não pode esperar de um deus que se regozija com as figuras tristes de quem acredita nele, que convença alguém a levá-lo a sério.

O deus cruel, vingativo, violento e xenófobo do Antigo testamento continua vivo na demência mística de quem julga representá-lo e a ser apontado como exemplo de infinita bondade.