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O céu fica interdito por causa do Papa

Um decreto oficial divulgado nesta Sexta-feira proíbe sobrevoos, de 11 a 15 de Setembro a região de Lourdes pela visita de Bento XVI.

O Papa B16 vai visitar uma das mais lucrativas agências de milagres do catolicismo. A burla de Lourdes é antiga e continua a atrair multidões de pessoas que sofrem e vão em peregrinação a pedir a Deus um milagre que podia ser feito ao domicílio, um alívio que dispensasse a excursão, uma cura que se tornaria desnecessária se o deus de B16 não tivesse enviado a doença.

A ICAR tem o monopólio dos milagres e do ridículo, a propriedade dos locais e templos onde deus montou o escritório, para ouvir os pedidos dos créus, e a propriedade da água que os peregrinos levam em embalagens de vários tamanhos, consoante as posses.

Se uma religião nova aparece a explorar a credulidade das pessoas simples, é uma seita; se uma cigana se propõe fazer um milagre para caçar uns euros, para dar de comer aos filhos, é intrujona; se a ICAR alimenta a ingenuidade das pessoas e recolhe o óbolo, presta assistência espiritual.

Nos milhões de anos que o mundo leva de existência foi preciso que uma virgem parisse um deus (truque que já era velho à época) para que nascesse uma religião verdadeira. E há quem se preste a explorar a ingenuidade, a fomentar a superstição e a viver à custa da aldrabice.

Surpreende a comédia que rodeia o ditador do Vaticano. Enquanto adeja os paramentos pela cidade de Lourdes, B16 tem o direito de ver o Céu interditado à circulação aérea. É porque não acredita em anjos. Doutro modo não permitiria que o Estado laico francês, embargando a circulação aérea, impedisse que o arcanjo Gabriel ou o Espírito Santo, duas aves de longo curso, voassem sobre o palco dos espectáculos pios. Durante quatro dias.

E o Papa, sem o Espírito Santo, não passa de um primata de vestidos exóticos e ditador vitalício de um bairro de 44 hectares – o Vaticano.