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Enviesamentos Cognitivos IV – A Ilusão de Controlo

Entre outros, os estudos de Ellen Langer mostraram que as pessoas tendem a considerar que acontecimentos puramente aleatórios podem estar sob o seu controlo. Nos casinos, por exemplo, as pessoas tendem a lançar os dados com mais força para obter números mais elevados, e com emnos força para obrter números mais baixos.
No lançamento de uma moeda, aqueles que começam por adivinhar mais se cai cara ou coroa, acreditam que têm uma habilidade «adivinhatória». À medida que futuros lançamentos mostram que estão erradas, o fenómeno da negação já descrito fá-las atribuir os fracassos à falta de concentração ou qualquer outro factor do tipo.
Este fenómeno tem o nome de «ilusão de controlo» e aplica-se a muitos outros casos. Desejar com força que a selecção portuguesa vença a final para que as suas probabilidades melhorem, ou ir de joelhos a Fátima para que o irmão que está no hospital melhore, são tudo manifestações deste enviesamento cognitivo.

A razão pela qual esta tendência está presente em todos os seres humanos é fácil de entender: como em qualquer animal, o nosso cérebro tem a função de se adaptar e tirar proveito do seu ambiente, e com milhões de anos de selecção natural em tribos, ele está adaptado para processar processar intenções, parentescos, favores, amizades, inimizades, direitos, obrigações… Os nossos neurónios estão habituados a descortinar intenções em tudo, mesmo naquilo que é casual, e identificar como estando no nosso controle algo que não está poderia ser menos grave, em tal sociedade tribal, do que o erro oposto, criando uma pressão evolutiva que promoveria tal enviesamento cognitivo.

Isto poderia ser verdade numa sociedade primitiva, mas não é verdade na sociedade actual. Uma série de estudos vieo demonstrar que maior propensão para este tipo de ilusão tende a resultar em decisões menos sensatas, má gestão de risco, e maior dificuldade em aprender com a experiência. Um destes estudos focou-se nos analistas de um banco de investimento, concluindo que os mais susceptíveis a estas ilusões tendiam a ter uma pior performance e ganhar menos.

Assim sendo, é natural esta propensão para a ilusão de controlo, mas é também perniciosa. Não só temos de tomar uma série de opções importantes na nossa vida pessoal e profissional, as quais só terão a ganhar com a sensatez e sabedoria no processo de decisão, como, enquanto eleitores, temos de tomar decisões importantes para a gestão da comunidade em que estamos inseridos.

Um fenómeno que tira proveito deste tipo de ilusões é a religião. Algumas, até encorajam, e a Doutrina Católica não se opõe a fenómenos como Lourdes ou Fátima, optando ao invés por promovê-los. As danças da chuva são substituídas por procissões, e as orações dos fieis pedem a cura de doentes, etc… Muitas pessoas em vez de serem educadas a evitar este tipo de ilusões, crescem a acreditar que rezar as pode ajudar a resolver os problemas que estão para além do seu controlo directo.