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Dia: 30 de Abril, 2007

30 de Abril, 2007 fburnay

Blasfemar em Ciência é bom

Aqui está um bom exemplo para desdizer os que afirmam que a Ciência é dogmática.

Existe um problema em Física que não foi resolvido. Como é sabido, a intensidade da força gravítica F sentida por dois corpos é proporcional às suas massas, m1 e m2 e inversamente proporcional ao quadrado da distância r entre elas.

Quando mais afastadas estão as massas, mais fraca é a força. É a força da gravidade que mantém a coesão da galáxia e por isso a distância entre as estrelas dita a força que mantém a galáxia unida.

Quando David roda a sua funda para atingir Golias, está a exercer uma força na pedra. Quanto maior for a força com que o faz, mais rapidamente a pedra vai rodar e maior velocidade atinge. O mesmo se passa com a Terra e o Sol e com as estrelas na orla das galáxias – é a força da gravidade que mantém a Terra a rodar à volta do Sol e que mantém as estrelas a girar em torno da galáxia.

Mas, como disse, há um problema. É que as estrelas na orla da galáxia estão a rodar mais depressa do que deviam, a julgar pela força gravítica a que estão sujeitas. Conhecendo a luminosidade das estrelas, os astrónomos conhecem a sua massa. Medindo a sua paralaxe, conhecem a sua distância. Conhecendo as distâncias e as massas conhece-se a força gravítica e por estranho que pareça, esta parece ser insuficiente para pôr as estrelas a rodar à velocidade a que estão.

Propôs-se então que talvez exista uma forma de matéria entre as estrelas que fornece a força extra – matéria que, ao contrário das estrelas, não emite radiação tendo sido assim apelidada de matéria escura. Apesar de não ser possivel observá-la directamente pode-se detectar a sua presença porque o seu campo gravítico distorce o espaço-tempo e isso altera a trajectória da luz das estrelas no fundo estelar.

No entanto, há outra possibilidade que alguns físicos tentaram explorar – talvez não seja a massa que está em falta, mas sim a 2ª lei de Newton.

Esta lei diz que uma força aplicada a um corpo vai resultar numa aceleração proporcional à massa desse corpo:

F = m·a

Assim, um corpo parado está sujeito a uma força total nula, um corpo com 1 kg sujeito a uma aceleração de 1 m/s2 estará sujeito a uma força de 1 N, um corpo de 1 kg sujeito a uma aceleração de 2 m/s2 a uma força de 2 N, etc. Portanto, uma função linear.

Esta lei é uma das mais importantes em Física. Já foi posta em causa pela Mecânica Quântica à escala atómica e pela Relatividade nas velocidades próximas da luz e para campos gravíticos muito grandes. Portanto, questionar esta lei foi sinónimo de uma grande revolução na Física. Mas à nossa escala mantém-se perfeitamente válida – sendo que a sua perfeição é a sua adequação à realidade.

Então para quê questioná-la? Para quê questionar aquilo que é tão perfeito? Porque nos apetece. Só se os dados nos derem razão é que temos razões para dar valor à nossa teimosia. E foi isso que alguns cientistas pensaram.

A proposta é que talvez a lei de Newton não seja linear para acelerações muito pequenas. Ou seja, um corpo de massa 0,001 kg sujeito a uma aceleração de 0,000001 m/s2 não resultaria numa força de 0,000000001 N mas numa força superior. Como a aceleração gravítica diminui com a distância isso significaria que as distâncias maiores estariam sujeitas a uma distorção na força que seria suficiente para manter as estrelas a rodar à velocidade observada.

Essa hipótese já foi testada. Mas a 2ª lei de Newton não foi violada… Além desta hipótese não ter dados a suportá-la, a hipótese da matéria escura já tem indícios muito fortes a seu favor. A 2ª lei de Newton resistiu assim a uma tentativa de falsificação.

Publicado também no Banqueiro Anarquista

30 de Abril, 2007 Ricardo Alves

Um milhão de pessoas manifestam-se pelo laicismo

Só há um Estado europeu onde as manifestações pelo laicismo chegam a ter um milhão de pessoas: é a Turquia. (Como se diz no renas e veados: «Nunca se viu nada assim em Varsóvia»…)

Por muita perplexidade que me suscite o dilema entre «islamismo por via eleitoral» e «laicismo militarista», estou de vísceras e neurónios com a multidão que gritou «a Turquia é laica e continuará a ser» e «Nem charia, nem golpe de Estado, viva a Turquia independente». Fossem todos os europeus assim…
30 de Abril, 2007 jvasco

Ateísmo na Blogosfera

  1. «A teologia é de facto complexa. Dá voltas e voltas, mói e remói até responder «porque sim» em quinhentas páginas de argumento tão confuso que o leitor nem sabe o que lhe bateu. E diz que este testemunho é especial por ser revelado. Vejamos então a revelação. O conceito é simples: Deus fala com os homens. Por vezes, raramente, até com as mulheres. Moisés tem um problema com o faraó, Deus explica o que fazer. Moisés precisa de leis, Deus dita e Moisés escreve. Simples.

    Mas levanta problemas, Porquê ir revelando? O sensato seria dotar-nos logo à partida de tudo o que precisamos para cumprir o Seu plano, mas de vez em quando Deus tem que dar umas dicas. Segundo explica a Enciclopédia Católica isto não é mau planeamento. É generosidade divina. Quanto menos revelar, mais sensato é. Quanto mais revelar, mais generoso é. Este tipo é mesmo excepcional… O papel da teologia é inventar desculpas eruditas, complexas, e difíceis de compreender. Quando questionados escondem a careca com a erudição complexa e incompreensível.

    Outro problema é distinguir a «verdadeira revelação». É estranho que seja problema, porque um ser omnipotente e omnisciente não devia deixar dúvidas. Talvez seja generosidade. […]

    Sabemos que a mãe do morto que ressuscitou era virgem porque o Testemunho é Revelado. E sabemos que o Testemunho é Revelado porque está de acordo com o que já sabíamos, que a mãe do morto que ressuscitou era virgem. Preservam-se assim os tipos e a continuidade dos princípios, de acordo com o critério mais fundamental da teologia: o sim porque sim.»(«Testemunho incompreendido.», no Que Treta!)

  2. «”Expliquem-me o Amor”. Antigamente Deus manifestava-se na trovoada e na lepra. Hoje estas são descargas eléctricas e micobactérias, e é superstição acreditar que provêem directamente de Deus. Aquilo que se compreende só pode ter uma ligação vaga e ténue a Deus, mais por abstracção teológica que por fé a valer.

    Como a sensação de amar é ainda misteriosa parece razoável dizer que Deus é Amor.[…]

    E a evidência refuta cabalmente o dualismo. O álcool no sangue baralha os pensamentos. Lesões, AVCs, ou doença de Alzheimer tiram-nos memórias, traços de personalidade, ou mesmo a fala. Não é razoável que uma mente eterna e imaterial seja afectada desta forma, ou que Deus lhe destrua partes sempre que um vaso sanguíneo se rompe no cérebro.» («Mente e fisiologia, parte 1: o dualismo.», no Que Treta!)

  3. «Os seres humanos erram. Pior do que isso, ficam cegos ao erro por causa da autoridade. Uma afirmação dita por quem detém autoridade num dado assunto é mais facilmente aceite do que a mesma afirmação dita por um desconhecido. Ora, isto levanta um problema: as pessoas, pelo facto de deterem mais autoridade, poderão abusar dela e impedir o progresso. Até porque podem usar a sua autoridade de forma deslocada, para falar do que realmente não sabem nem se deram ao trabalho de estudar cuidadosamente, limitando-se a dar largas aos seus preconceitos favoritos. Além disso, as melhores ideias muitas vezes vêm de pessoas que não detêm autoridade na área — mas que ganham autoridade precisamente por terem tido ideias muito boas.

    Logo, qualquer actividade intelectual séria tem de ter mecanismos que façam duas coisas: corrijam erros e neutralizem ou enfraqueçam a autoridade deslocada. Encontre-se uma prática intelectual que desconheça estes dois mecanismos e será sinal seguro de que é uma fraude.» («A autoridade do erro», no De Rerum Natura)