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Dia: 19 de Março, 2007

19 de Março, 2007 Carlos Esperança

A homilia de segunda-feira de João César das Neves

Diário Ateísta/Pitecos – Zédalmeida

João César das Neves (JCN) acha que a Europa gasta o tempo na promoção do «aborto, homossexualidade, eutanásia, pedofilia, divórcio».

JCN deve ter a consciência pesada. Por penitência do confessor ou remorso dos pecados que precisa de exorcizar, todas as segundas-feiras é o paladino da virtude e dos bons costumes, a lembrar os sermões de um padre rural, com ameaças apocalípticas e horrores perpétuos no azeite fervente do Inferno.

JCN obceca-se pelo sexo. Aborto, homossexualidade, divórcio e sexualidade que não tenha em vista a prossecução da espécie, são pecados que execra com o vigor de um beato e a raiva de um inquisidor. O adultério e o deboche são temas recorrentes, que não faltam na homilia de hoje.

Para dar colorido à obsessão, junta-lhe a eutanásia e a pedofilia, sendo a primeira um assunto sério a discutir e a segunda um crime a punir, sem se dar conta da desonestidade intelectual de confundir as duas.

JCN, quando fala sobre economia, parece civilizado e urbano, mas quando lhe dá para o proselitismo torna-se um talibã que a extinção da Inquisição deixou sem emprego.

Quererá o devoto criminalizar o aborto, a homossexualidade e o divórcio e condenar a prisão o adultério? A homofobia era uma obsessão salazarista e o divórcio, que tanto apoquenta JCN, era interdito aos casamentos católicos, de acordo com a Concordata.

Mas será legítimo impedir o divórcio e condenar um casal cujos cônjuges se detestam à manutenção do vínculo contratual que o une, sem possibilidade de tentarem de novo a felicidade? Quanto à homossexualidade, teme JCN a sua insegurança ou a impensável obrigatoriedade?

Quanto ao aborto deve estar feliz com a decisão de Daniel Ortega, um velho comunista que conseguiu o apoio da Igreja católica graças à proibição do aborto terapêutico, mas é lícito tornar obrigatória uma gravidez que mate a mulher ou traga um filho deficiente?

Essa é a vontade de JCN, mas quem tem alguma clemência deixa a opção à grávida.

DA/Ponte Europa

19 de Março, 2007 Ricardo Alves

A ofensiva clerical e obscurantista na Comissão de Liberdade Religiosa

«A mesa redonda «Religião e Educação», integrada no 2º colóquio «A religião fora dos templos», organizado pela Comissão de Liberdade Religiosa, foi marcada por um documento de Esther Mucznick intitulado «A religião nos manuais escolares».

A generalidade das intervenções, tanto da mesa como do público, foram no sentido de apoiar a linha de actuação proposta por Mucznick, e que passa por, numa primeira fase, reivindicar a criação de uma comissão junto do Ministério da Educação dominada por religiosos e que zele pela correcção religiosa dos manuais escolares; numa segunda fase, pela inserção no currículo escolar de uma disciplina multi-religiosa obrigatória.

Desde o início da existência da Comissão de Liberdade Religiosa, criada pela Lei da Liberdade Religiosa (Lei 16/2001), que a Associação República e Laicidade exprimiu a sua apreensão pela composição deste organismo estatal e pelo papel que poderia vir a desempenhar. Essa apreensão revela-se, infelizmente, cada vez mais justificada.

Se a actual Comissão de Liberdade Religiosa levasse avante as propostas apresentadas por Esther Mucznick, os estragos feitos à laicidade da escola pública e à difusão da ciência em Portugal seriam tremendos e duradouros.

1. Sob os pretextos, assumidos por Esther Mucznick, de combater o carácter que ela entende «excessivamente laicista» dos manuais escolares, e de garantir que os manuais escolares não ofendem a religião judaica por acção ou omissão, a comissão atribuiria a grupos confessionais a possibilidade efectiva de rever os programas escolares e de decidir sobre o que pode ou não ser ensinado em matéria religiosa (e não só) na escola pública, ferindo decisivamente a liberdade de ensino e a não confessionalidade da escola pública.

2. Mais grave ainda seria a «inserção no currículo escolar do estudo obrigatório das grandes religiões e doutrinas religiosas», que atingiria a liberdade de consciência dos alunos, e o direito dos pais a educarem os filhos segundo as suas convicções em matéria religiosa.

3. Finalmente, é preocupante que o deputado Vera Jardim tenha manifestado a sua abertura à correcção religiosamente orientada dos currículos, e é gravíssimo que esteja disponível para aceitá-la mesmo no caso, levantado por um elemento do público, do ensino da teoria religiosa da «criação cristã do mundo e da vida» a par da teoria científica da evolução. A escola pública não pode ser, de forma alguma, o local para a transmissão de teorias obscurantistas.

A Associação República e Laicidade reafirma que a própria existência da Comissão de Liberdade Religiosa, com a orientação actual, é um perigo para a laicidade do Estado e para a difusão do conhecimento científico em Portugal, e lamenta a complacência que a postura anti-laicista e a propaganda anti-ciência encontram no referido elemento do partido no governo.»

[Publicado originalmente no blogue da Associação República e Laicidade.]