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Dia: 28 de Dezembro, 2006

28 de Dezembro, 2006 Palmira Silva

Diálogo inter-religioso

À esquerda, estátua de Averrois em Córdoba; à direita estátua de Maimonides na mesma cidade.

Como já referi diversas vezes, as bases para a revolução intelectual no Ocidente situam-se na Espanha do século XII, à época ainda um importante centro da ciência árabe, e entre os seus principais mentores encontra-se o cordobês Averrois. De facto, o califado de Córdoba estabeleceu na Andaluzia uma sociedade cosmopolita, elegante e educada – com uma comunidade judaica muito importante de que se destaca um dos seus mais prestigiados filósofos, Maimonides (1135-1204)- em que se privilegiava a ciência e a difusão de conhecimento. Nomeadamente recordo que a biblioteca de Córdoba, fundada em 965, constituiu a terceira biblioteca do mundo islâmico. E foi a semente para a recuperação da ciência proscrita e para o despertar da Europa das longas trevas intelectuais impostas pelo cristianismo.

Catedral de Córdoba

De facto, o contacto com esta civilização cultural e cientificamente muito mais avançada imposto pela Reconquista aos incultos cristãos, não obstante os denodados esforços inquisitoriais da Igreja da Roma, propiciou o Renascimento e o despertar da Europa da longa noite de milénio e meio de obscurantismo.

Córdoba foi berço de intelectuais que marcaram a História – para além dos referidos Averrois e Maimonides, Séneca, Abraham Cohen de Herrera e Marcus Annaeus Lucanus ou Lucan, que Dante no seu Inferno coloca ao lado de Virgílio, Homero, Horácio e Ovídio – e era a maior cidade do mundo no início do segundo milénio. O seu monumento mais importante – numa cidade de que o geógrafo Ibn Hawkal em 948 gabava as suas mais de 1000 mesquitas e 600 banhos públicos – era sem dúvida a Mezquita ou a mesquita Aljama (em tempos a terceira maior mesquita do mundo) cuja construção se iniciou no século VIII e foi transformada num templo cristão, a catedral de Córdoba, quando em 1236 o rei Fernando III de Castela conquista esta cidade aos mouros.

Em 2004, durante o papado de João Paulo II, um grupo de muçulmanos espanhóis enviou uma petição ao Vaticano para que, num gesto simbólico de reconciliação entre as duas religiões, fosse possível aos muçulmanos locais rezar na actual Catedral. Apesar dos esforços muçulmanos, o Vaticano na altura rejeitou o pedido através do arcebispo Michael Fitzgerald, então presidente do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso.

A Junta Islâmica espanhola resolveu repetir o pedido ao novo papa, solicitando a Bento XVI que os muçulmanos pudessem compartilhar com os cristãos as orações na Catedral para «despertar as consciências» de ambas as confissões religiosas e «enterrar confrontos passados».

Mais uma vez o pedido foi negado, desta vez pela voz de Juan José Asenjo, bispo de Córdoba, que afirmou que «esta partilha não contribui para a convivência pacífica dos diferentes credos».

Afinal parece que é apenas em questões mediáticas que são necessários «diálogo inter-religioso genuíno» e «gestos concretos de reconciliação». Ou apenas quando é necessário apaziguar embaixadores muçulmanos irados com Paleólogos sortidos – Paleólogo significa «da razão antiga», um excelente cognome para Ratzinger – se fala em ser «imperativo que cristãos e muçulmanos trabalhem em conjunto».

Excluindo, claro, o «monólogo inter-religioso genuíno» a que corresponde uma união em causas comuns – como sejam a condenação da laicidade, do reconhecimento dos direitos da mulher e de homossexuais!

28 de Dezembro, 2006 Ricardo Alves

A União dos Tribunais Islâmicos abandonou Mogadíscio

O governo da «União dos Tribunais Islâmicos», que se instalara na capital da Somália em Junho, abandonou Mogadíscio durante as últimas horas. A capital está agora a ser ocupada por tropas da Etiópia e dos seus aliados somalis. A ofensiva-relâmpago etíope iniciara-se no fim-de-semana, e põe fim a um governo considerado próximo da Al-Qaeda, em defesa do qual se ouviram apelos à jihad. O governo islamista aplicava a chária e era extremamente repressivo, tendo chegado ao ponto de proibir o visionamento do mundial de futebol. O novo governo interino foi criado pela ONU em Baidoa, há mais de dois anos, mas a sua imposição pela Etiópia poderá criar resistências. A Somália é um dos países mais pobres do mundo e não tem governo reconhecido no exterior desde 1991.
28 de Dezembro, 2006 Palmira Silva

A Guerra ao Natal


Sam Seder da Air America Radio confronta (o ano passado) Bob Knight, director do Culture and Family Institute, (mais) uma instituição teocrata americana, sobre a imaginada e imaginária Guerra ao Natal. A transcrição do debate pode ser encontrado aqui.

De notar o recurso ao reductio ad Hitlerorum pelo cruzado Knight – secundando O’Reilly na falácia -, mais uma vez um tiro no pé já que se em vez de usar o filme «Música no Coração» como manual de História tivesse investigado minimamente o tema, teria verificado que o Natal era a grande celebração da Alemanha nazi, a Volksweihnachten que introduziu muitos dos rituais natalícios que ele lamenta estarem agora sob ataque dos radicais laicistas.

A Guerra ao Natal foi uma invenção velha de dois anos da Fox News, mais concretamente os seus generais contra um exército imaginário foram John Gibson, autor de «The War on Christmas: How the Liberal Plot to Ban the Sacred Christian Holiday Is Worse Than You Thought» e Bill O’Reilly, ambos figuras conhecidas da Fox News, ou, como começa a ser conhecida nos Estados Unidos, a Faux (falsa) News.

Pela invenção da Guerra ao Natal a Fox News foi agraciada pelo meu apresentador norte-americano favorito, Keith Olbermann da MSNBC, com vários prémios: