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Valha-nos Epicuro!

O «Antigo Retiro Quebra-Bilhas», um dos marcos da gastronomia lisboeta, vai ser transformado em retiro do Opus Dei. Parece uma anedota de mau gosto, mas é verdade.

O Quebra-Bilhas era um templo do prazer. Comiam-se peixinhos da horta, morcela e outros enchidos, favas com entrecosto e pataniscas com arroz de feijão, tudo bem acompanhado com um bom tinto. O espaço era agradável, até contava com um espaço ao ar livre nas traseiras, e por vezes cantava-se o fado. A casa tinha duzentos anos de tradição.

Agora, este templo do prazer servirá como templo da seita dos seguidores de Josemaría Escrivá, famosa pelas suas práticas aberrantes e pelo seu culto da dor.

Nas salas onde as famílias celebravam alegremente aniversários, os eremitas passearão agora a sua tristeza de solitários que entregaram a vida a uma entidade abstracta, cruel e perversa. Onde os amantes diziam «em tua casa ou na minha?», a conversa agora será mais do género «o teu cilício está bem apertado?». Onde as pessoas se divertiam, agora só haverá sofrimento deliberadamente procurado.

Deveríamos manifestarmo-nos à porta do defunto templo do prazer. Sugiro os seguintes slogans e frases para cartazes: «Epicuro salva»; «Antes morcela que cilícios»; «Vinho bom não tem sangue»; «Hóstia não, pataniscas sim» ou ainda «Ide mortificar-vos longe do meu prato». O que dizeis, caros leitores?