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Dia: 27 de Novembro, 2006

27 de Novembro, 2006 Carlos Esperança

Em defesa do Papa Bento XVI

Os milhares de fanáticos que ululam nas ruas da Turquia não são meros manifestantes que detestam um homem de negócios que anda a vender a fé – Bento XVI -, são bandos de intolerantes que se julgam detentores da verdade única e do único Deus verdadeiro.

Impedir a livre circulação de um indivíduo contra quem não existe qualquer mandado de captura, é um acto de proselitismo que a demência da fé alimenta. Não interessa se o Papa é igual aos que o contestam, se o monarca absoluto do Vaticano pensa de Maomé o que este pensava do toucinho, se está igualmente convencido de que as mentiras da sua Igreja são verdades únicas e o seu Deus o único com certificado de garantia.

O que está em causa é a liberdade de circulação de pessoas e mercadorias, direito de que gozam o Sr. Ratzinger e a água benta. As bênçãos que leva, e não precisa de declarar à alfândega, destinam-se apenas a quem aprecia mercadorias sem existência física.

Nenhum país é livre se não assegurar a liberdade de circulação, mesmo aos charlatães, enquanto não transitar em julgado uma sentença de um tribunal independente que os reconheça como tal e os condene.

Não está em causa gostar ou não de um indivíduo de quem Deus, se existisse, também não gostaria. Está em causa a liberdade.

Eis a razão de um ateu para defender o direito do Papa católico, embusteiro de milagres, indulgências e outras trapaças, a viajar pelo mundo e a promover os seus negócios. É, aliás, o direito que os ateus reclamam para denunciar as mentiras da fé.

Combater ideias sem molestar as pessoas é um direito democrático que os beatos não aceitam. É por isso que a laicidade do Estado se torna tão necessária e urgente.

27 de Novembro, 2006 jvasco

Provado cientificamente

A palavra provar tem dois significados diferentes. A demonstração, como na matemática ou na lógica. E testar, como provar um fato ou prestar provas. Parece-me que uma grande dificuldade em compreender a ciência vem de confundir estes dois significados.

Um leitor deste blog (João Silveira) comentou que não posso provar cientificamente que a minha mãe gosta de mim. Engana-se. A minha mãe deu já muitas provas de gostar de mim, em muitas ocasiões que testaram o seu amor por mim. É assim que a ciência prova: testando. Está provado cientificamente que a minha mãe gosta de mim.

O problema é pensar que a ciência prova as coisas como a matemática. A prova dedutiva é útil na manipulação de modelos simbólicos (equações, proposições lógicas, e assim por diante), mas não é uma forma de adquirir conhecimento. Se todos os mafaguinhos são calafráticos, e se o Jibidim é um mafaguinho, então prova-se que o Jibidim é calafrático. Mas o que é que isso adianta?

Para tirar algum partido desta prova tenho que encontrar mafaguinhos, determinar se são todos calafráticos, e verificar se o Jibidim é um mafaguinho. E para isso preciso de provas no outro sentido. Preciso de definir os termos, especificar hipóteses, confrontar previsões com o que observo, para pôr à prova a adequação do modelo à realidade. Sem isto fiz apenas um jogo de palavras sem utilidade nem sentido, mesmo que provado por demonstração lógica. É por isso que a ciência nos dá modelos da realidade que são rigorosos, precisos, e úteis: tudo na ciência é para provar, no sentido de por à prova, e toda a ciência está provada, no sentido de ter prestado provas.

O Bernardo Motta revelou a mesma dificuldade quando propôs que a diferença entre esta abordagem e a fé (a Católica, pelo menos) é uma diferença de «visão do mundo»:

«A virgindade de Maria, para mim, é algo de perfeitamente natural e normal, porque tenho uma visão do Mundo que não é positivista. [… O] crente instruído não acredita num dado dogma “porque sim”. Acredita porque esse dogma faz todo o sentido dentro da “weltanschauung” católica. Perfaz um todo coerente de uma beleza que nos convence da sua veracidade.»

Isto é apenas um passo do processo científico: a construção do modelo. Criar uma representação simbólica coerente, elegante, mesmo bela. Pode ser o dogma Católico, pode ser a economia de Marx, pode ser a psicologia de Freud ou a mecânica Newtoniana ou a Relatividade de Einstein. São modelos; palavras e símbolos encadeados duma forma lógica e estruturada.

Mas, como disse Thomas Huxley, mesmo a teoria mais bela pode ser morta por um facto feio. Podemos dizer que o nosso modelo vem da intuição, ou é revelado, ou é metafísico, transcendente, o que quisermos. Mas enquanto não prestar provas de que corresponde à realidade não é mais que o Jibidim e os mafaguinhos calafráticos.

A crença e a ciência não se distinguem pelas suas visões diferentes do mundo. Visões do mundo tem a ciência às dúzias, e muda-as regularmente. Até o dogma Católico já fez parte da ciência ocidental, e nenhum Católico rejeitaria provas científicas da virgindade de Maria ou da ressurreição de Jesus por virem de outra visão do mundo. Apenas o faria se as provas fossem contrárias à sua doutrina. E aqui é que está a diferença. A ciência quer modelos para compreender a realidade, por isso além de os construir também os testa, corrige, rejeita, melhora, e substitui.

A religião quer modelos para acreditar que são realidade, por isso limita-se a enfeitar um modelo com palavras sonantes. Aceita tudo o que facilite a crença. Rejeita tudo o que indique erros no modelo. Como adora o modelo, nem percebe a necessidade de o pôr à prova. Não se testa; tem-se fé. Mistério. Milagre.

Treta.
——————————–[Ludwig Krippahl]

27 de Novembro, 2006 Ricardo Alves

A proibição do véu na Turquia

«No meu campus, ninguém pode aparecer com uniforme religioso. Se hoje levantássemos a proibição do lenço, amanhã apareceriam de chador e no dia seguinte de burqa. No fim, estariam a bater nas jovens com vestidos modernos. Vimos no Irão como pode acontecer depressa.»

(Ural Akbulut, reitor da Universidade Técnica de Ancara, no Público de 26/11/2006.)