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Dia: 15 de Setembro, 2006

15 de Setembro, 2006 Ricardo Alves

Jónatas Machado e a Genética de Populações

«No texto publicado no dia 8 no jornal «O Público», Jónatas Machado afirma:

«Os criacionistas não confundem variação adaptativa e especiação (que todos podem ver) com evolução (que nunca ninguém viu)».

Esta é uma afirmação curiosa se tivermos em conta que evolução é a variação das frequências dos genes numa população ao longo das gerações. Ou seja, aquilo que JM chama «variação adaptativa e especiação» são exemplos de evolução. Penso que é por não quererem confundir evolução com evolução que os criacionistas acabam por ficar tão confusos.

Mas vejamos esta afirmação no contexto do que JM escreve mais atrás:«Os criacionistas não disputam os resultados das observações científicas feitas no presente. Todavia, o passado distante não é observável nem repetível.»

Talvez o que JM queira dizer é que apenas devemos aceitar aqueles aspectos da evolução que conseguimos observar no presente e repetir, e que devemos recusar tudo no que pretende explicar o passado. Mas há duas falhas graves neste argumento.

Primeiro, JM levanta o problema de não conseguirmos observar nem repetir o passado. Eu observei que os meus filhos nasceram, e o nascimento de um ser humano é algo repetível e observável no presente. Mas pelo argumento de JM eu nunca podia inferir que a minha avó nasceu, porque o seu nascimento não é nem observável nem repetível. Isto é absurdo. O que importa é que o processo de nascimento é observável e repetível, e por isso posso usá-lo para explicar a origem da minha avó, mesmo que o seu nascimento em particular não seja nem observável nem repetível.

A evolução é um caso análogo, pois a especiação, que é o nascimento de uma nova espécie, é observável e repetível como processo. O nascimento da minha avó, ou de uma espécie há centenas de milhões de anos, já não é observável nem repetível. Mas é legítimo explicar estes acontecimentos pelos processos que observamos repetidamente no presente. E isto é essencialmente o que a genética de populações nos diz, que a evolução não é mais que o acumular destas variações, adaptações, e especiações, tal como a minha família, por muitas gerações que tenha, é uma longa sequência de nascimentos.

O outro problema no argumento de JM é a premissa implícita que para que o criacionismo seja aceitável basta apontar erros na teoria da evolução. Por muito arriscado e falível que seja explicar acontecimentos passados com base no que se observa no presente, é ainda mais arriscado e falível explicá-los com base em histórias escritas por pessoas que também não os observaram. O que é que os antigos Hebreus sabiam acerca dos trilobites e dinossáurios que nós não sabemos hoje em dia?

Em conclusão, e apesar da tentativa de JM de nos persuadir do contrário, a genética de populações explica a origem e evolução das espécies duma forma bastante mais fiável que a interpretação bíblica

15 de Setembro, 2006 Ricardo Alves

Joseph Ratzinger: «Deus aparece nas contas sobre o homem e sobre o universo»

Na homilia de terça-feira em Ratisbona (já mencionada pela Palmira), Ratzinger não evitou criticar a ciência, uma das suas preocupações assumidas nos tempos mais recentes. Deve, porém, notar-se que o texto divulgado foi lido numa missa, e por isso tem sobretudo uma função litúrgica, ao contrário do discurso de Wojtyla que analisei recentemente, e com o qual JP2 pretendia interpelar os cientistas.

As presumíveis reflexões de Castelgandolfo emergem em dois parágrafos. Ratzinger começa por preocupar-se porque «uma parte da ciência se dedicou a buscar uma explicação sobre o mundo na qual Deus seria desnecessário». Acrescenta que «se isso fosse assim, Deus seria desnecessário em nossas vidas». Arrisca muito, porque liga a necessidade de «Deus» na vida das pessoas (que eu aceito, como «conforto emocional») à necessidade na ciência (que já não é aceitável). O pior vem imediatamente a seguir: «Mas cada vez que parecia que este intento havia conseguido êxito, inevitavelmente surgia o evidente: as contas não batiam. As contas sobre o homem, sem Deus, não batem, e as contas sobre o mundo, sobretudo o universo, sem Ele, não batem». Esta passagem presta-se a ser ridicularizada: Ratzinger ganhará um lugar na História como o Papa que meteu «Deus» nas contas da física e da biologia. Só é pena que não nos diga que contas são: serão as equações de Einstein? Ou serão diagramas de Feynman? Termodinâmica? As equações diferenciais que se usam em certos ramos da biologia ou da neurologia? Contas de mercearia? Que eu saiba, a cosmologia não necessita de «Deus» para calcular a idade do universo ou a distância a que se encontram as galáxias. E não é necessário «Deus» algum para compreender o que é a tuberculose ou para estudar as funções do córtex cerebral. Portanto, não se compreende do que fala Ratzinger, se é que ele próprio compreende do que está a falar. Para a próxima, é melhor que explicite em que parte das «contas» teve que inserir «Deus» (coisa que nenhum cientista alguma vez reportou ter feito, já agora…).

Mas continuemos com o (confuso) arrazoado de Ratzinger: «apresentam-se duas alternativas: O que existiu primeiro? A Razão criadora, o Espírito que faz tudo e suscita o desenvolvimento, ou a Irracionalidade que, carente de toda razão, produz estranhamente um cosmos ordenado matematicamente, como o homem e sua razão. Esta última, contudo, não seria mais que um resultado casual da evolução e, portanto, definitivamente, também racional. Como cristãos, dizemos: «Creio em Deus Pai, Criador do céu e da terra», creio no Espírito Criador». As alternativas apresentadas são essencialmente um jogo de palavras, mas Ratzinger parece querer dizer que a «irracionalidade» (seja lá isso o que for no contexto de uma interrogação sobre as origens) não pode «produzir» a racionalidade (idem). É um argumento do género «o complexo não pode produzir o simples» ou «a ordem não pode surgir da desordem». Porém, existem vários exemplos do contrário nas ciências da natureza (e é no contexto da ciência que Ratzinger coloca as suas «alternativas»…).

Resumindo: aparentemente, Ratzinger não meditou tão profundamente nas questões epistemológicas como Karol Wojtyla. Se só tem para oferecer jogos de palavras e raciocínios tão pobres, não merece a reputação de intelectual culto que lhe têm construído.
15 de Setembro, 2006 Palmira Silva

O planeta Éris e a sua lua Disnomia


Certamente que todos recordam a reunião em Agosto da União Astronómica Internacional (UAI) onde foi proposta uma nova definição de planeta. Esta nova definição, que resultou na «despromoção» de Plutão para planeta-anão, não foi aceite unanimemente pela comunidade científica, e já existe numa petição assinada por mais de 300 astrónomos contestando esta nova definição.

A polémica em torno da definição de planeta, embora presente desde a descoberta de Plutão, foi catapultada com a descoberta de um corpo maior que Plutão por Michael Brown, do Caltech. Esse corpo recebeu a designação provisória 2003 UB313, designação atribuída automaticamente de acordo com as regras da UAI.

No entanto, como existiam dúvidas sobre se o UB313 seria classificado como planeta, a UAI não autorizou um nome «comum», já que como planeta deveria ser nomeado a partir do panteão de deuses greco-romanos. Brown chamou-lhe Xena para consumo interno – em homenagem à série televisiva Xena, A Princesa Guerreira – e embora o nome tenha «pegado» nos media internacionais, não era um nome aceitável pela UAI de forma que Brown submeteu dia 6 de Setembro o nome oficial Éris.

O nome foi aceite há 2 dias e assim Éris – a deusa grega da discórdia, famosa na mitologia grega via guerra de Tróia – é o nome oficial do planeta-anão anteriormente conhecido como Xena. O nome proposto para a lua de Éris, Disnomia – a filha de Éris que simbolizava a desordem civil e falta de lei – foi igualmente aceite. Lucy Lawless (Lucy sem lei), a Xena da série televisiva, é assim homenageada de forma indirecta.

Vale a pena ler sobre o tema este artigo de Phil Plait, um astrónomo que, como muitos outros cientistas nos Estados Unidos, segue atentamente os dislates e a guerra anti-ciência dos dominionistas cristãos. Plait desmistifica no Huffington Post mais um ataque acéfalo dos devotos cristãos, neste caso uma diatribe imbecil de um devoto criacionista que vê nos nomes escolhidos por Brown um manifesto político óbvio, isto é, mais uma manobra dos ateus e «canhotos» cientistas para criticarem Bush e a guerra do Iraque…

15 de Setembro, 2006 jvasco

Água

Estreou ontem, e felizmente fui ver.

O filme é lindo e aconselho-o vivamente a todos.

O sofrimento causado por preconceitos religiosos (hindus) e o impacto que estes têm entre as viúvas é algo que o filme foca com grande proeminência, e é o meu pretexto para deixar neste espaço este conselho.

15 de Setembro, 2006 jvasco

A qualidade técnica não está das melhores, mas…

…cá está a minha contribuição.

A uma causa que deveria merecer muito mais preocupação do que aquela que existe. O silêncio dos media e a indiferença das pessoas são quase criminosos.

Por favor, não deixem de tomar contacto com esta causa.
Não deixem de divulgar esta mensagem: