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Dia: 13 de Agosto, 2006

13 de Agosto, 2006 Carlos Esperança

90.º Aniversário do Anjo de Portugal

Terminou hoje em Fátima uma autêntica maratona da fé, uma orgia litúrgica cheia de missas, em vários idiomas, e hóstias suficientes para todas as bocas.

O dia de hoje foi um festim para os créus, uma pândega devota que começou à meia noite, com duas horas de adoração do SS.mo Sacramento e terminou com a «tarde de evangelização para imigrantes ucranianos e da Europa do Leste» que abriu às 15H30.

2H00 – Via-sacra, diversão de hora e meia, seguida de uma hora de Celebração Mariana e, logo a seguir, uma missa para queimar tempo, das 4H30 às 5H30.

Das 5H30 às 7H00 foi servida a Adoração com Laudes do SS.mo Sacramento, seguida de uma procissão eucarística, durante duas horas e quinze minutos, com a imagem até ao altar do Recinto.

Às 9H15, sempre sem intervalos, houve Rosário na Capelinha. Foram três quartos de hora de padres-nossos, ave-marias e respectivos mistérios.

10H00 – Solene celebração da eucaristia presidida por D. Dionísio Lachovicz. Oferta de trigo, bênção dos doentes, consagração a Maria e Procissão do Adeus, com a imagem de regresso à Capelinha, 12H30, onde aguarda novos passeios, nos dias 13, para comoção dos crentes e proveito eclesiástico.

Não é a fé que espanta, é a resistência das bexigas. Doze horas e trinta minutos é mais do que uma pessoa normal pode conter-se. Só depois houve um intervalo de três horas, antes de começar a evangelização dos imigrantes do Leste.

Este ano comemora-se a aparição do Anjo de Portugal aos três pastorinhos, alcoviteiro que precedeu as aparições de «Nossa Senhora do Rosário».

O Anjo de Portugal, como a ICAR lhe chama, deve ter chegado na clandestinidade pois a República não lhe teria reconhecido a nacionalidade. Dele não ficou uma única pena, um simples pelo púbico, um mero vestígio que ponha em causa a maior burla religiosa montada pelo clero para combater a República Portuguesa e, mais tarde, o comunismo.

Fonte: GUIA gente – Edição PCE – Distribuição com o «Diário de Notícias. 5 páginas e um poster com o Anjo de Portugal e os 3 pastorinhos de joelhos (meio de locomoção habitual, em Fátima).

13 de Agosto, 2006 Carlos Esperança

O atentado falhado de Londres

Nova York, Bali, Madrid e Bombaim são os exemplos mais sangrentos e mediáticos do terrorismo global que afecta o sossego e o juízo dos cidadãos habituados à democracia e ao respeito pelos direitos humanos.

Os dementes, cegos pelo ódio e pela fé, quiseram uma vez mais montar um espectáculo cruel com milhares de mortos, certos da retaliação exercida sob o espectro do medo e da incerteza, numa espiral de violência e terror.

Falharam graças à ajuda de quem, sendo irmão na fé, não os acompanhou na demência assassina e na ferocidade mística que os mullahs exaltados pregam nas mesquitas.

O catolicismo expia as cruzadas, a inquisição e a contra-reforma, para seu opróbrio, mas moderou-o laicidade que lhe foi imposta e a secularização.

Detrás de cada credo está a tradição que a uns beneficia e a quase todos lesa. A religião é um assunto particular que não pode ser imposto à força nem servir de pretexto para as guerras que dilaceram o mundo e comprometem o progresso.

O atentado de Londres, a ter êxito, beneficiaria os fanáticos dos dois lados da barricada. O fracasso foi um revés para os trogloditas islâmicos e um balão de oxigénio para Bush e Blair, dois líderes que fazem questão de explicitar as suas convicções religiosas e já mostraram a leviandade de que são capazes.

Desta vez, os deuses contrariaram a vontade de Deus e pouparam à divina crueldade o holocausto de inocentes. Felizmente.

13 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Heresia ao longo da História

A Igreja Católica que hoje conhecemos surgiu pela mão de Constantino numa tentativa de unir pela religião um Império Romano em decadência. Em que todos os créus, pela autoridade divina do braço religioso do Império, a Igreja de Roma, seriam compelidos a lutar pelo Império e espalhar a fé.

Era necessária uma religião suficientemente forte para se impor aos povos dominados por Roma; para consolidar na crendice indissociável dos povos da época o poder conquistado pela força. Uma religião autoritária, rígida, inflexível, estabelecida mediante poderes, leis e morais terrenas. Assim começou o Catolicismo: um expediente político para tornar a Religião Imperial Católica Apostólica Romana a Toda Poderosa, nominalmente predicando o perdão mas de facto imposta e sustentada pela força da espada.

Constantino precisava criar a religião adequada aos seus propósitos hegemónicos e o catolicismo existente no início do século IV não tinha a autoridade suficiente para tal. Era necessário acabar com as grandes controvérsias doutrinais da igreja e estabelecer claramente não só a autoridade em questões de fé de Roma como um conjunto de dogmas em torno do qual se desenvolvesse a teologia necessária a Constantino para cumprir as suas ambições hegemónicas. Assim, Constantino convoca o concílio de Niceia (hoje Iznik, na Anatólia, Turquia), em 325.

O concílio de Arles, em 314, já tinha condenado uma «heresia» desastrosa para a Igreja, a dos Donatistas, que ameaçava alastrar perigosamente e «contaminar» a fé. Os «hereges» Donatos (dois bispos com o mesmo nome: Donato de Casa Nigra, bispo da Numídia; e Donato, o Grande, bispo de Cartago) ensinavam que a Igreja deveria compor-se só de justos, reconhecidos pela sua vida pia e frugal; no momento em que fossem tolerados pecadores no seu seio deixaria de ser a Igreja de Cristo. Pior, diziam que o baptismo administrado por um sacerdote em estado de pecado, é inválido e que um bispo, se com um pecado manchando a respectiva alma, não pode crismar nem ordenar sacerdotes. Esta «heresia», somada à heresia máxima da pregada separação entre Igreja e Estado, era uma ameaça para a ambiciosa, pecadora e faustosa hierarquia cristã de forma que a sua supressão marcou o mote para os restantes concílios, a maioria deles destinados a erradicar pensamentos perigosos para a Igreja, pensamentos identificados como «hereges».

Assim, os pontos a ser discutidos no sínodo de Niceia foram:

  • A questão Ariana,
  • A celebração da Páscoa
  • O cisma de Milécio
  • O baptismo de heréticos
  • O estatuto dos prisioneiros na perseguição de Licínio.

O primeiro ponto era igualmente o mais importante a ser clarificado. De facto, a controvérsia que urgia ser esclarecida tinha a ver com algo que incomodava a cristandade: era o seu mito divino e se sim como conciliar a divindade do Cristo com o dogma de fé num único Deus?

Especialmente porque Ário defendia que o mítico fundador da seita, Jesus, é apenas uma «criatura do Pai», não sendo, portanto, nem eterno nem divino. Insistindo em dizer que «houve um tempo em que o Filho não existia». O arianismo, a que aderiram muitos ilustres prelados, entre eles o bispo Eusébio de Cesareia, conhecido escritor da Igreja, ameaçava atingir proporções inadmissíveis, tão mais inadmissíveis porque sem a natureza divina do Cristo o cristianismo não era mais do que uma divisão do judaísmo.

Aliás, o anti-judaísmo, ou o anti-semitismo cristão, firmou-se com a tomada do controle do Império Romano, sendo o concílio de Niceia um marco neste sentido. Os posteriores Concílios da Igreja manteriam esta linha. O concílio seguinte, o de Antioquia (341) proibiu aos Cristãos a celebração da Páscoa com os Judeus. O estabelecimento da Páscoa foi o 2º ponto decidido em Niceia, em que foi acordado que a Páscoa se celebraria sempre no primeiro domingo a seguir ao 14º dia da primeira lua da Primavera, o 14º Nisan, e não no 14º Nisan, como os judeus e algumas igrejas cristãs o faziam.

O concílio de Niceia ilustra ainda o que acontece quando os teólogos tentam racionalizar o rídiculo. Assim como ilustra algo indissociável da teologia, uma crescente complexidade linguistica que pretende consolidar a autoridade e o poder da Igreja baralhando os mais incautos com uma linguagem hermética e assim pomposamente disfarçar a vacuidade das pretensões em que assenta a religião.

Mais concretamente, foi necessário recorrer a obscura e rebuscada linguagem para estabelecer a divindade de Jesus, conseguida através do recurso à pagã Trindade, ou deus(a) triuno. Faltava resolver como exprimir simultaneamente a unidade e distinção dentro da Trindade, o que foi feito através de uma manipulação judiciosa dos termos ousia (essência) e hypostasis (pessoa). Assim, a Trindade corresponderia a uma única ousia mas as distinções entre Pai, Filho e Espírito Santo eram estabelecidas por três hypostasis. Não era (nem é) claro como estes termos se aplicam na cristologia. Isto é, não só o Cristo para além da baralhação triuna tinha duas essências como falar na ousia divina unida com a ousia humana do mítico Cristo implica que toda a trindade encarnou…

Antes do concílio de Niceia physis e hypostasis eram habitualmente utilizadas para realidades concretas enquanto ousia detinha um significado mais geral e abstracto, sendo as três palavras usadas como sinónimos em muitos casos.

(continua)