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Dia: 4 de Agosto, 2006

4 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Apocalipse now – o papel de Israel


A proximidade de Ahmadinejad à Hojjatieh Society, para além das fontes iranianas, tem sido referida na imprensa internacional, do Washington Times ao Christian Science Monitor. Proximidade confirmada desde a sua eleição pelo discurso e acções de Ahmadinejad.

Assim, para além de um escalar da opressão dos baha’i e sunitas no Irão, do investimento de milhões de dólares na preparação da capital para a vinda do messias (em 2004, quando ainda era presidente da câmara de Teerão) Ahmadinejad financiou um Instituto dedicado a estudar e antecipar a chegada do Mahdi. «Este tipo de mentalidade é fortalecedor», observa Amir Mohebian, editor de política do jornal Resalat. «Se eu acredito que o Mahdi virá em dois, três ou quatro anos, por que deveria agir com moderação? Agora é o momento de ser firme, inflexível.»

Enquanto os apocaliptícos cristãos americanos debatem se é necessária a destruição de Damasco antes do Arrebatamento, o presidente iraniano não tem dúvidas: a destruição de Israel anunciará a vinda do Messias. Algo que ele espera acontecer num prazo de dois anos. E de facto praticamente desde que tomou posse Ahmadinejab clama pela erradicação de Israel.

Ontem, numa reunião de emergência da Organização da Conferência Islâmica em Kuala Lumpur, Malásia, Mahmoud Ahmadinejad afirmou que a solução para a crise seria limpar Israel do mapa.

Que o presidente do Irão aguarda ansiosamente a volta de Mahdi é evidenciado ainda pelo seu discurso na ONU em Setembro do ano passado, encerrado com uma prece pela antecipação do evento: «Oh Senhor Todo-Poderoso, eu vos peço que antecipeis a chegada do vosso último enviado, o Prometido, o ser humano puro e perfeito, o que trará justiça e paz a este mundo.»

Posteriormente Ahmadinejad recordou o efeito de seu discurso na ONU:

«alguém do nosso grupo contou-me que, quando comecei a dizer ‘em nome de Deus, o Todo-Poderoso e Clemente’, ele viu que uma luz me rodeava, e eu estava no meio dela. Eu também a senti. Senti a atmosfera mudar de repente e, por esses 27 ou 28 minutos, os líderes mundiais nem pestanejaram. (…) E eles ficaram extasiados. Foi como se uma mão os prendesse nos seus lugares e lhes mantivesse os olhos abertos para receberem a mensagem da República Islâmica».

Diria que o presidente iraniano confundiu choque com êxtase mas o que ressalta desta e outras intervenções de Ahmadinejad é a fixação apocalíptica que este denota. O que preocupa muitos iranianos que não apreciam que «o seu novo presidente não tenha receio de causar um tumulto internacional, que o considere simplesmente um sinal de Deus».

Em relação ao conflito sem fim anunciado entre Israel e o Líbanoem que muitos analistas vêem a mão do Irão – se por um lado temos um devoto cristão a apoiar Israel, por outro temos um igualmente devoto islâmico a apoiar o Hezbollah. Ambos convictos da iminência do Apocalipse e do papel fulcral de Israel na respectiva superstição mitológica!

Termino com uma citação de Ingersoll:

«Eu não quero a destruição da teologia. Eu quero evitar que a teologia destrua este mundo»

4 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Apocalipse now – versão islâmica

Os quatro cavaleiros do Apocalipse de Albrecht Dürer

Via outro blog ateísta americano fiquei a saber não só que existe uma versão islâmica do Apocalipse como o actual presidente do Irão, Mahmoud Ahmadinejad, é um crente fervoroso na proximidade do Yawm al-Qiyamah, o dia do Juízo Final.

O dito juízo final, quando os crentes serão ressuscitados e os infiéis enviados para as profundas do Inferno, é precedido pelo Armagedão e pela volta do messias, Mahdi – para os shiitas o décimo segundo iman, uma espécie de D. Sebastião em animação suspensa, ou antes, ocultação divina, desde finais do século IX.

O Mahdi derrotará Dajjal (o anti-cristo) e estabelecerá o império de Allah na Terra. Uma versão decalcada da escatologia cristã, a única diferença, para além da identidade do messias e da versão das religiões do livro que dominará a Terra, reside em quem são os «justos» que serão arrebatados e quais os infiéis castigados.

Assim, para além dos fanáticos cristãos que rejubilam com o actual conflito entre Israel e o Líbano, temos ainda outros fanáticos apocalípticos do livro que o enunciam igualmente como augúrio vaticinado da volta do respectivo Messias.

De facto, no shiismo radical, a crença na vinda do Mahdi tornou-se um dos aspectos centrais da fé, tendo o termo Mahdaviat, «a crença e o esforço de preparação para a chegada do Mahdi», assumido proporções inimagináveis há uns escassos anos. Especialmente nos membros da Hojjatieh Society que pretendem dar uma ajudadinha a Allah no estabelecimento das condições propícias ao regresso do Mahdi.

A Hojjatieh, Hojatiyeh ou Hojatiyeh Mahdaviyeh Society, antes da revolução islâmica a Anjuman-í-Tablighat-í-Islami, acredita que o regresso do 12º imam pode ser apressado pela «criação do caos na Terra».

Fundada em 1953 essencialmente para combater os Baha’i no Irão [para os Baha’i, Mahdi é Báb o percursor de Baha’u’llah, o fundador desta variante do islamismo] esta sociedade foi banida no Irão nos primórdios da Revolução Islâmica, em 1983.

Embora a sociedade permaneça semi-clandestina, Ahmadinejad tem deixado claro o seu imenso respeito pelo Ayatollah Mohammad Taghi Mesbah-Yazdi, ligado à escola teológica Haqqani, uma escola Hojjatieh em Qom. De igual forma, desde que tomou posse praticamente todos os seus discursos estão recheados de referências à volta do 12º iman.

(continua)


4 de Agosto, 2006 Carlos Esperança

Considerações sobre o «sagrado»

O sagrado é um estado de espírito em relação a uma ideia, pessoa, mito ou sistema.

A tentativa de proteger o sagrado através da censura é uma obsessão recorrente do Papa que, de sapatinhos vermelhos e camauro, dirige um exército imenso de freiras, padres, monsenhores, bispos, cardeais, núncios apostólicos e vassalos laicos, através do mundo.

O objectivo é comum aos dignitários de todas as religiões e chefes de partidos políticos que se julgam detentores da verdade única. Quando conseguem, é o poder totalitário que instalam.

O sagrado de uns é blasfémia para outros. Quando os islamitas apedrejam o diabo em Meca são um bando de dementes para outros. Os cristãos, ao celebrarem a eucaristia, são infiéis capazes de beber vinho que, como é sabido, provoca um acesso de raiva e descontrolo a Maomé.

O próprio toucinho é motivo de rivalidades teológicas e ódios mortais, tal é a demência da fé e a perturbação dos crentes.

Há quem tenha crenças profundas em Jesus, Maomé ou Jeová tal como outros adoram Mao, Estaline ou Hitler. «Cada doido com sua mania» – como diz o adágio.

Imagine-se a sociedade repressiva que se criava se o direito à blasfémia – a ofensa a tais criaturas -, fosse proibido. Se o direito de vexar, condenar ou satirizar figuras históricas, sinistras ou excelsas, fosse postergado, apareceriam, ditaduras de geometria variável e contornos impossíveis de definir.

Se é assim para pessoas reais ou prováveis, imagine-se a condenação de alguém por ter difamado o Pai Natal ou posto em causa a sua virtude ou existência! A Pantera Cor-de-rosa, Deus e o menino Jesus gozariam de protecção contra qualquer crítica ou zombaria.

Há na alma dos crentes uma vocação totalitária que é preciso combater com o laicismo.

4 de Agosto, 2006 Palmira Silva

De anjos e outras tretas

Ainda ontem escrevi que os IDiotas não produziram um único modelo, uma única hipótese para a sua suposta teoria «científica», que reclamam nada ter a ver com religião e rebate completamente o «ateísta» (e para alguns satânico) evolucionismo. Na realidade tenho de fazer uma retractação: via o blog Pharyngula descobri que afinal existe um modelo completamente IDiota, da autoria de Robert Newman.

O autor deste modelo genuina e absolutamente IDiota colaborou com William Dembski, Michael Behe, Philip Johnson e congéneres no livro «Mere Creation: Science, Faith & Intelligent Design». É ainda co-autor de «What’s Darwin Got to Do with It?: A Friendly Conversation about Evolution» um livro de banda desenhada que pretende introduzir os conceitos (?) da IDiotia aos mais jovens. Ou seja, é um reputado ideólogo do desenho inteligente.

Não obstante pertencer ao multi-oxímero Instituto de Investigação Bíblica Interdisciplinar, Robert Newman pretende ser, como todos os IDiotas, um proponente «científico» e não teológico da IDiotia. Aliás, escreveu um artigo hilariante, sobre má ciência, que recomendo e do qual transcrevo o significativo resumo:

«Devido à tensão que se desenvolveu entre as comunidades científica e evangélica no último século e meio, os crentes na Bíblia têm muitas vezes (com ou sem razão) suspeitas acerca das descobertas e teorização da ciência moderna. Isto levou a uma atracção bastante generalizada por teorias que são vistas como tretas por cientistas e outras pessoas cultas. Neste artigo são discutidos alguns exemplos e propostas estratégias que protejam os cristãos de parecerem desnecessariamente cretinos aos olhos do mundo».

Apesar de ser louvável o seu reconhecimento no anterior artigo do ridículo em que incorrem os cristãos que acreditam literalmente na Bíblia, infelizmente Newman não segue o seu próprio conselho e elabora o modelo mais cretino de explicação da origem e evolução das espécies de que já ouvi falar.

Num artigo francamente hilariante e imperdível o autor elabora sobre IDiotia e um facto «científico» que tem sido descurado pelos ateus cientistas na explicação do mundo: a acção dos anjos e outras tretas, que por outro lado, tem como objectivo explicar o «mau desenho» de algumas espécies, nomeadamente parasitas, vírus e outros agentes do mal, que segundo o autor foram «desenhados» por Satanás e seus acólitos.

O artigo, intitulado «Using ID to Detect Malevolent Spiritual Agents», discute o tema anjos (o que inclui os «caídos») como explicado pelo resumo:

«Desde 1900, a maioria das discussões sobre a acção de Deus na natureza ignora a actividade angélica, talvez em reacção à História da Guerra da Ciência com a Teologia na Cristandade de Andrew Dickson White [finais do século XIX e leitura recomendada]. Neste artigo olhamos com uma perspectiva diferente para os dados bíblicos sobre anjos e depois consideramos que dados científicos podem ser relevantes [?] à luz do recente interesse no desenho inteligente».

O artigo desenvolve-se com base nas seguintes premissas:

(1) Os antigos que acreditavam serem os anjos os responsáveis por fenómenos como a meteorologia, doenças e insanidade mental estavam errados [uau!];
(2) Mas igualmente errados estão os modernos que acreditam que os anjos são ou seres mitológicos ou incapazes de produzir efeitos no mundo natural;
(3) Na realidade, os anjos existem e são capazes de, e fazem-no de facto, interagir com a natureza.

Mas como então «podemos encontrar evidência científica para a actividade angélica? A nossa proposta é que a actividade angélica não se assemelha às leis naturais, que operam continuamente. Na realidade, é mais como a actividade humana, que é esporádica. Mas temos a complicação adicional de não podermos ver os actores».

Dada esta complicação adicional de agentes invísiveis o autor propõe-se usar na pesquisa da actividade angélica a metodologia proposta por William Dembski para a «detecção» do desenho inteligente (igualmente de autores invísiveis e indetectáveis).

Mas «As acções dos anjos bons podem ser facilmente confundidas com aquelas de Deus, excepto que a qualidade pode não chegar aos padrões divinos [isto é, trabalho rasca é da autoria dos anjos, não de Deus]. E o desenho que nos pareça ser malevolente pode ser o trabalho de seres pecadores acima do nosso nível – anjos caídos, demónios ou Satanás.»

Para explicar o «desenho malevolente» encontrado em muitas espécies o «cientista» elabora sobre a predação, afirmando «como eu leio o registro geológico a predação estende-se até ao período câmbrico» o que permite concluir que «a queda de Satanás é muito anterior à de Adão e a criação já não era tão boa na altura em que Adão é criado». Simplesmente delicioso!

Mas há inúmeras pérolas no indispensável artigo, alguns dados quantitativos sobre quantos porcos podem ser possuídos simultaneamente por um demónio (com base nos dados científicos da Bíblia, claro), asserções sobre os vírus HIV e Ebola (desenhados pelo Demo, como seria de esperar) e algumas dúvidas sobre a malevolência no desenho de alguns insectos.

Enfim, um mimo da superstição e obscurantismo cristãos!