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Dia: 14 de Julho, 2006

14 de Julho, 2006 Ricardo Alves

Blair entrega o sistema de ensino a fanáticos religiosos

O sistema de ensino do Reino Unido sempre segregou os alunos segundo a religião. As consequências são conhecidas: na Irlanda do Norte, por exemplo, a existência de escolas separadas para filhos de pais protestantes e filhos de pais católicos tem ajudado a perpetuar uma hostilidade comunitária que poderia ser atenuada se as crianças frequentassem escolas laicas, independentemente da confissão religiosa dos pais. Não contente com a situação que encontrou, o Governo clericalista de Tony Blair, que gosta de lidar com os britânicos de origem muçulmana através de líderes religiosos não eleitos (de preferência a desvalorizar as suas pertenças religiosas no trato político), tem incentivado a abertura ou integração estatal de escolas anglicanas, católicas, muçulmanas, judaicas e sikhs, generosamente financiadas pelo Estado. Não admira portanto que, segundo uma sondagem recente, 81% dos britânicos muçulmanos se considerem mais muçulmanos do que britânicos, enquanto apenas 7% se consideram mais britânicos do que muçulmanos. (Entre os britânicos cristãos, as percentagens correspondentes são de 24% e 59%, respectivamente.)

O sistema de ensino britânico permite aliás que algumas escolas, embora subsidiadas pelo Estado, seleccionem os alunos à entrada em função da religião. Alguns pais, para garantirem a admissão dos filhos nessas escolas (que até podem ser as únicas na localidade em que vivem) vêem-se constrangidos a frequentarem a igreja local, mesmo sendo ateus. Muitas desta escolas religiosas aproveitam para negar a inscrição aos alunos mais pobres, o que lhes permite garantir melhores resultados nos exames finais, e manter a segregação de classe tão típica da Inglaterra.

O governo de Blair não hesita sequer em financiar escolas muçulmanas que separam os alunos segundo o sexo, ou escolas católicas que obrigam à participação em cerimónias religiosas. No último caso, há relatos de alunos obrigados a participar em procissões com a «Virgem Maria», sessões obrigatórias de doutrinação anti-aborto com imagens terroristas de fetos, e expulsões da escola para quem faltar à missa. O secretário de Estado da Educação garantiu, numa resposta à National Secular Society, que o governo clericalista a que pertence tenciona continuar a apoiar as escolas com «oração colectiva obrigatória», porque tal actividade recreativa «desenvolve o espírito de comunidade».

Como se não fosse suficiente, existem também escolas financiadas pelo Estado em que o criacionismo evangélico é quase matéria obrigatória, e em que cada criança recebeu uma Bíblia, para desespero dos encarregados de educação que acham (veja-se lá o descaramento…) que há matéria mais importante para aprender.

Só uma escola pública laica, aberta a todos os alunos independentemente das suas opções em matéria religiosa, e que faça uma distinção clara entre conhecimentos universais e crenças particulares, poderá superar as divisões culturais de origem e preparar os alunos para a vida moderna.
14 de Julho, 2006 jvasco

Sacrificar um inocente para ilibar um culpado, é errado

Esta afirmação não choca ninguém.
Pelo contrário, dificilmente encontrarei quem dela discorde.

Os valores vão evoluindo com os tempos. Muitas vezes para melhor. Hoje parecer-nos-ia absurdo que os tribunais aceitassem, por exemplo, prender a Srª Constança porque o seu filho Pedro matou alguém, mesmo que fosse esta a vontade expressa da Srª Constança (ser presa em lugar dele).

Claro que nem sempre foi assim. Diferentes culturas consideravam aceitável que as culpas passassem de geração em geração, por exemplo (que as acções de alguém fossem tão graves, que, além do criminoso, os seus descendentes fossem também punidos ao longo de várias gerações). Chegou mesmo a existir, em certas sociedades, o costume de sacrificar animais inocentes a Deus, esperando que o sacrifício de animais inocentes fizesse Deus perdoar os camponeses pelas suas falhas.

Curioso é pensar que esta moral absurda é a base do Cristianismo. A crença fundamental do Cristianismo é que Jesus deu a vida pelos nossos pecados (deu mesmo?) e ressuscitou três dias depois. O ponto fundamental do Cristianismo parte do princípio que é legítimo e justo que um inocente se sacrifique pelos culpados, e que um ser supostamente infinitamente justo (Deus Pai) teria aceite esse ímpio sacrifício.