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Dia: 16 de Junho, 2006

16 de Junho, 2006 Carlos Esperança

A ICAR é um laboratório…

A ICAR é um laboratório onde não faltam teopatas à espera de psicanálise. Compreendo os padres cujos traumas e conflitos sexuais estão na base da insegurança íntima que os arrasta para a violência e intolerância com que pregam os castigos do seu Deus.

Percebo pior os devotos que vão à missa convencidos de que a farinha se transforma em rodelas de Cristo e não descortinam na acidez gástrica o efeito conjugado do jejum e do ódio. Acabam alucinados por um placebo como se de puro alcalóide se tratasse.

Deus é um subproduto dos medos e rancores dos homens. Os timoratos veneram-no como eles próprios gostariam de ser adorados; receiam-no como desejariam fazer-se temer e tentam suborná-lo como se existisse e fosse tão venal.

No meu tempo de criança o padre rezava pelos «pérfidos judeus» e pedia a Deus Nosso Senhor que rasgasse o véu que os impedia de ver, para que também eles pudessem reconhecer Nosso Senhor Jesus Cristo. Quando João XXIII acabou com a manifestação de anti-semitismo primário já eu estava livre da missa, das velas e da água benta.

Nessa altura já eu sabia que Pio IX rejeitara como «erro» a noção de que «o Pontífice de Roma pode, e deve, resignar-se e chegar a um acordo com o progresso, o liberalismo e a civilização moderna» (Enc. Quanta Cura). Só não previa que o patife, a quem se deve o dogma da infalibilidade, consumaria 1 milagre pela mão de um falsário polaco – JP2.

O Papa que nessa encíclica designava por «sinagoga de Satanás» o local de culto dos judeus, nome que a Bíblia regista, só podia ser um anti-semita violento. Mas alguém pode negar o conteúdo anti-semita do Novo Testamento? Quem estranha, pois, o apoio da ICAR ao nazismo e regimes seus aliados – Itália, Vichy, Eslováquia, Croácia, etc.?

A alienação da fé e o temor de Deus transformam homens tímidos e bondosos em rancorosos e prosélitos. Surpreende ver pessoas cultas e inteligentes – temos provas nos nossos leitores -, possuídas por Rätzingerolatria uma síndroma virulenta para a qual não se conhece antídoto.

O ateísmo confia no avanço científico com as células estaminais.

16 de Junho, 2006 Palmira Silva

Religião e obscurantismo: um esclarecimento

Estátua de Giordano Bruno no Campo dei Fiori (Roma) erigida no local onde este foi queimado vivo pela Igreja Católica em 17 de Fevereiro de 1600. O cardeal Bellarmino, que ordenou a morte de Bruno, ornamenta o panteão de santinhos católicos pela mão de Pio XI. O epicurista Bruno, para além de atomista, mantinha que o Universo era infinito.

O post do João Vasco sobre a objecção do finado Papa a que se estudasse a origem do Universo, relatada por Stephen Hawking no seu best seller «A Brief History of Time» (página 116 da edição inglesa) deu origem às expectáveis (e habituais) reacções dos beatos que frequentam estas páginas. Que, nomeadamente, ulularam ser esta uma infame mentira, uma calúnia a um «santo» homem que já cá não estava para se defender.

Acusações perfeitamente infundadas já que o livro é um recorde de vendas há quasi 20 anos e nunca foi refutado o que Hawking relata: que após a conferência os participantes foram «homenageados» com uma audiência com o Papa, em que este lhes disse estarem à vontade para estudar a evolução do Universo após o Big Bang mas não deveriam debruçar-se sobre o o Big Bang em si uma vez que este era o momento da Criação e como tal o «trabalho» de Deus.

Para os que, falaciosamente, querem que as afirmações de Hawking sejam confirmadas no discurso proferido pelo Papa a 3 de Outubro de 1981 na Pontifícia Academia de Ciências que antecedeu a audiência privada relembro que se trata de uma audiência (mais ou menos) privada. Mas Hawking desde essa altura que, para além de a relatar no livro, conta a história dessa audiência nas muitas conferências que dá em todo o mundo. O episódio é ainda relatado no filme de 1992 com o nome do best-seller de Hawking. Parecer-me-ia estranho que dada a recorrência com que o episódio vem a lume ainda ninguém que tenha estado na audiência o tivesse denunciado como empolado ou distorcido.

De qualquer forma, o próprio discurso do Papa deixa antever que o que Hawking relata é plausível uma vez que João Paullo II, para além de elogios ao pensamento sobre o tema de Pio XII, o Papa do Holocausto, adverte os físicos presentes de que não podem investigar as origens do Universo porque essa é competência exclusiva dos teólogos:

«Qualquer hipótese científica sobre a origem do Mundo (…) deixa em aberto a questão que concerne ao princípio do Universo. A ciência não pode resolver sózinha este problema: aqui é necessário aquele conhecimento humano que se ergue acima da física e da astrofísica e que se chama metafísica; aqui é necessário acima de tudo o conhecimento que vem da revelação de Deus.»

Para além do mais o que Hawking relata é perfeitamente concordante com o que o finado Papa debitou sobre ciência, por exemplo, na mensagem enviada por João Paulo II aos Membros da Pontifícia Academia das Ciências reunidos no Vaticano de 22 a 26 de Outubro de 1996 em Sessão Plenária dedicada aos temas: «As origens e a primeira evolução da vida», e «Reflexão sobre a ciência no alvorecer do terceiro Milénio».

Discurso esse que merece per se uma análise detalhada que se seguirá durante este fim de semana, conjugada com a opinião do actual Papa sobre as ciências biológicas em geral e a evolução em particular.