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Dia: 20 de Maio, 2006

20 de Maio, 2006 Carlos Esperança

O Código Da Vinci queimado em Itália (2)


A intolerância faz o seu caminho. Depois das caricaturas de Maomé que foram pretexto para desacatos da horda imensa de árabes ociosos, acicatados pela demência de mullahs, regressou à Europa o gosto pirómano contra a cultura.

As religiões monoteístas mobilizam crentes embrutecidos para protagonizarem cenas que julgávamos exclusivas da Idade Média. Na própria Europa, um romance e o filme que sobre ele foi realizado são alvos da ira eclesiástica e da fúria de crentes exaltados.

A queima em praça pública de exemplares de «O Código Da Vinci», uma iniciativa da extrema-direita italiana patrocinada por Stefano Gizzi, da Democracia Cristã, e Massimo Ruspandini, da Aliança Nacional, remete-nos para os totalitarismos do séc. XX que ensombraram a Europa.

As fogueiras são a dolorosa memória dos tempos do Santo Ofício e um perigoso indício do retrocesso civilizacional que dignitários de diversas religiões estimulam.

A ira beata contra um romance policial (bem interessante, por sinal) e respectivo filme, é uma ameaça às liberdades europeias, conquistadas através de um longo processo de secularização.

Se não formos vigilantes perante os detentores das verdades absolutas seremos vigiados de novo e a liberdade é um bem demasiado precioso para que a deixemos sacrificar no altar da intolerância e do fanatismo.

Quando se celebra o Ano Mundial do Livro há quem se excite com as fogueiras que queimam livros e incite à proibição de filmes.

Quando das caricaturas de Maomé, encontrei no PSD e no CDS aliados na defesa da liberdade de expressão. Espero achá-los de novo a execrar o comportamento violento dos díscolos que queimaram o romance de Dan Brown e querem proibir o filme.

Diário Ateísta/Ponte Europa

20 de Maio, 2006 Palmira Silva

Código da Vinci queimado em Itália

A produção de 100 milhões de dólares baseada no romance homónimo de Dan Brown, O Código da Vinci, chegou aos cinemas propulsionada pelos acéfalos protestos das religiões do livro, que se uniram a uma voz para tentar (e conseguir em muitos pontos do globo) censurar e proibir o filme. Acéfalos porque a polémica e os protestos encenados pelos devotos de todos os flavours serviram apenas para garantir que o filme baterá recordes de audiência.

Algumas das iniciativas de protesto são francamente grotescas. Um exemplo é a queima em praça pública de exemplares do livro, uma iniciativa sob os auspícios da extrema-direita italiana através de Stefano Gizzi da Democracia Cristã e de Massimo Ruspandini da Aliança Nacional, que em reminiscências nostálgicas dos tempos «gloriosos« da Inquisição e dos totalitarismos que ensombraram o século XX pretendem purificar na fogueira as «ofensas graves» do livro.

A orgia de fé, a realizar hoje, numa altura em que se celebra o Ano Mundial do Livro, pretende incitar os cristãos a «reagir com força e convicção a este ataque horrível à pessoa santissima de Jesus».

Incitando a reacções que se repetem um pouco por todo o mundo, como a de María Raquel Mendioroz que, armada de um rosário, arrancou os cartazes das portas da sala de um cinema argentino que exibia o filme, enquanto gritava que tinha sido enviada por Deus para impedir a estreia do filme.

Ou o aviso de uma onda de violência na Rússia, onde a Igreja Ortodoxa denunciou o filme como «uma perigosa provocação» que não deixará de merecer resposta «apropriada» dos cristãos deste país. Aparentemente a devoção pela purificação de blasfémias na fogueira é comum a todas as religiões do livro e um grupo de devotos ortodoxos queimou cartazes do filme em Pushkin Square, no centro de Moscovo. Já na Bielorrússia, a agência Interfax informou hoje a decisão das autoridades de Minsk em suspender a projecção do filme devido à «reacção negativa dos fiéis».

Uma vez que o Directorado Espiritual Central dos muçulmanos russos considera difícil «conter» os muçulmanos e impedir que estes venham para as ruas protestar o que consideram uma injúria análoga à que despoletou a recente guerra dos cartoons parece que de momento estão esquecidas as divergências com os cristãos ortodoxos. As duas religiões maioritárias na Rússia parecem ter aproveitado o pretexto para desencadearam uma cruzada conjunta contra a famigerada «cultura laica»!

20 de Maio, 2006 Palmira Silva

Defesa da laicidade na Turquia

Dezenas de milhares de turcos compareceram ao funeral de Mustafa Yucel Ozbilgin, o juíz assassinado na quarta-feira for um fanático muçulmano no que foi considerado pelo presidente Ahmet Necdet Sezer, ele próprio um juíz, «um ataque à república laica».

Dezenas de milhares de turcos encheram as ruas de Ankara simultaneamente em homenagem ao juíz assassinado em nome de Deus e em defesa da constituição laica do país. As Forças Armadas, as guardiãs da laicidade na Turquia, compareceram em força ao funeral, precedido por uma marcha ao mausoléu de Mustafa Kemal Ataturk, o fundador da Turquia moderna e do estado laico.

Os membros do Governo que compareceram ao funeral foram apupados e recebidos com cânticos de «assassinos fora» e exortações à sua resignação.

O ataque aos juízes da segunda câmara do Supremo Tribunal Administrativo está ligado à defesa intransigente da laicidade do estado por estes juízes, nomeadamente no que respeita à estrita independência da religião e do ensino e à proibição do lenço islâmico em Universidades e instituições públicas.

De facto, o uso do lenço islâmico tem sido transformado num símbolo do Islão radical, um braço de ferro entre aqueles que pretendem transformar a Turquia num estado islâmico e os que defendem a laicidade deste país. O primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, que conta no currículo uma estadia na prisão por ter declamado versos anti-laicidade, tem estado na frente dos que pretendem que a proibição do seu uso seja removida, medida que os fundamentalistas islâmicos consideram o primeiro passo para a restauração de um regime islâmico.

Sumru Cortoglu, o presidente do Conselho de Estado, que declarou Ozbilgin um mártir da laicidade, afirmou perante a imensa multidão que homenageou o juíz:

«A bala que foi disparada contra o seu cérebro foi disparada contra a República turca. Mas a vida de pessoas como ele ajudar-nos-ão a manter a República viva eternamente».

Ahmet Necdet Sezer, muito aplaudido no funeral, avisou que «ninguém será capaz de derrubar o regime laico».

Esperemos que de facto assim seja! A bem da paz e dos direitos humanos, palavras desconhecidas dos fundamentalistas de qualquer religião! Porque como tão bem disse o Carlos, a deriva fundamentalista que varre as religiões do livro, os ódios acumulados pelos dignitários eclesiásticos que vêem na secularização a perda de prestígio e influência, a falta de cultura e excesso de fanatismo que exalta os crentes, estão na origem de guerras cujo fim não se vislumbra. E de constantes atropelos dos direitos humanos, especialmente das mulheres, sub-humanos de terceira categoria para estas religiões.